Terça, 14 de janeiro de 2014
Especialistas explicam que ações da Polícia, shoppings e classes altas expõem preconceito cruel
A fama dos
"rolezinhos" tomou conta de São Paulo a partir do fim de 2013, quando
jovens começaram a marcar encontros através das redes sociais em
shoppings centers. A juventude da
periferia, em sua maior parte negra, passou a frequentar esses espaços,
antes vistos como exclusivos das classes média e alta. O
colorido dos calçados e blusas de grife contrastaram com o ambiente de
cores neutras
dos shoppings e despertaram o olhar, da mesma forma que a presença
incomum desses jovens saltou aos olhos das classes média e alta
paulistanas.
Ao explicitar desigualdades e incomodar clientes, os
rolezinhos mobilizaram Estado e segurança privada em ações para coibir a
presença dos jovens nesses locais. Para especialistas, as medidas
repressivas expõem uma quadro crônico de preconceitos e, ao mesmo tempo,
medo por parte da classe média, que, em parte, encara com incômodo a
quebra de paradigma.
O professor Marcus Ianoni, chefe
do departamento de ciências políticas da Universidade Federal Fluminense (UFF) e
doutor em ciência social, enxerga os rolezinhos como um ato
político e social, mesmo que inconsciente por parte desses jovens. Para ele, a
necessidade de afirmação, tão cobrada na sociedade contemporânea, gera uma
busca incessante por bens que reiterem a ideia de pertencimento. A ocorrência
desses eventos em shopping centers, espaços consumistas, explicam esse
fenômeno.