Quarta, 31 de julho de 2013
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Nádia Pontes (DW Brasil)
O primeiro laboratório nacional com tecnologia mais moderna do mundo
assusta pelo valor, mas vai custar menos que um estádio de futebol. Para
atender às especificidades internacionais, o projeto do Laboratório
Nacional de Luz Síncrotron está orçado em 650 milhões de reais. Ou seja,
menos que um estádio de futebol. Para a dirigente da Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, é a ciência
a chave para o desenvolvimento do Brasil.
Reunidos em Recife na semana passada, durante o 63º encontro da SBPC,
pesquisadores brasileiros discutiram como fazer a ciência avançar no
país, . Helena Nader, bióloga, cientista há mais de 30 anos e presidente
da instituição desde 2011, não quer tirar recursos dos esportes – só
quer que a ciência seja tratada da mesma forma.
Em entrevista por telefone, Nader disse que educação básica no Brasil
é “muito ruim”, mas que, na universidade, o país forma pesquisadores
competitivos, que quase nunca retornam ao país depois de uma temporada
de estudos no exterior.
Qual a maior preocupação da sociedade científica no Brasil de hoje?
Helena Nader: É a legislação vigente hoje para a ciência. Nós estamos
sob a égide de uma lei que não é voltada para a ciência: é uma lei
geral, voltada para compras no sistema público. Para se comprar qualquer
equipamento, ou reagentes, é necessário fazer pregão, diversas
licitações… E às vezes é preciso comprar um equipamento para uma
determinada pesquisa. São legislações que estão travando e
burocratizando toda a ciência brasileira. É o maior entrave na vida do
pesquisador.
Nós temos problemas no sistema de importação – as importações acabam
levando meses, em alguns casos até um ano. Eu até comento que acho que é
fantástico o que o Brasil já conseguiu fazer na ciência apesar de todo o
esforço para o país não andar para frente (risos).
Na opinião da senhora, o Brasil tem condições de formar bons pesquisadores?
Para formação o Brasil está muito bem. Tanto que a grande maioria dos
nossos estudantes que vão para fora do país – seja durante a graduação,
na pós ou no doutorado –, é convidada a permanecer. Isso acontece,
provavelmente, por causa do funil da seleção para se entrar na
universidade brasileira.
Apesar da expansão da universidade pública no Brasil e do
financiamento para estudo em universidades privadas, o número de
brasileiros que chega às universidades é pequeno. A gente tem uma forte
seleção e aqueles que entram são altamente competitivos.
A ciência no Brasil também está sendo feita em institutos de pesquisa
ligados a diversos ministérios, como no Inmetro. O que nós não temos
estruturado ainda como uma norma no país é a investigação no setor
produtivo, nas empresas. Claro que existem exceções, como a Petrobras,
que desenvolveu toda a tecnologia de exploração do Pré-Sal, a Embraer,
que investe em doutores e pós doutores para fabricar aviões reconhecidos
no mundo. Mas ainda não existe uma cultura de se fazer pesquisa na
indústria. Mas está acontecendo uma tentativa de se reverter esse
quadro.
Fonte: Tribuna da Imprensa