Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 30 de setembro de 2023

A reforma necessária

Sábado, 30 de setembro de 2023

A reforma necessária
 
Roberto Amaral*
 
“O Brasil tem um arremedo de Defesa. Neste domínio, a República fracassou. Para a afirmação da soberania brasileira, precisamos de uma nova Defesa, que revise o papel, a organização e a cultura das Forças Armadas. Chamo essa revisão de reforma militar”.
Manuel Domingos Neto - O que fazer com o militar (Editora Gabinete de Leitura)
 
Graças ao empenho e a coragem de alguns poucos cientistas sociais, e dentre eles destaco o prof. Manuel Domingos Neto, abre-se, ainda restrito, ainda tímido e cauteloso, o necessário debate sobre o papel das forças armadas do Estado brasileiro. Já não era sem tempo, passados quase 60 anos do golpe de 1964 e nada menos de 35 da Constituinte tutelada, restrita, despida de poder originário, costurada sob a vigilância dos generais (um só exemplo é o ameaçador art. 142). Esta nossa democracia limitada, tanto frágil quanto seguidamente ameaçada pela caserna, é o preço do acordo que a possibilitou. Não poderia ser diferente, quando o próprio fim da ditadura foi negociado, e, longe do despejo, os militares ditaram as condições do retorno à caserna. Um dos itens da conciliação foi a impunidade dos torturadores, quando a “correlação de forças”, conceito hoje tão em voga, sugeria o avanço das forças populares. Mas, como sempre, venceu a conciliação liberal, e o avanço foi substituído pelo recuo.

A pequena história da república é a longa narrativa de insurreições e golpes militares, sempre contra o povo: 1937 (“Estado novo”); 1945 (queda de Getúlio Vargas); 1954 (deposição de Vargas); 1955 (tentativa de impedir a posse de Juscelino Kubitscheck); 1956 (intentona de Jacareacanga); 1959 (Aragarças); 1961 (tentativa de golpe para impedir a posse de João Goulart); culminando com o golpe de 1964, que ainda não seria o fecho da preeminência militar sobre a vida civil.

Nessa crônica de autoritarismo e insurgência, um fio de ligação: a impunidade, que ajuda a compreender a morfologia da intentona do último 8 de janeiro. Seus custos são consabidos. Ignorá-los é acumpliciamento. Punir os transgressores, um imperativo cívico.

Este é o pano de fundo das reflexões do professor Manuel Domingos: os fatos e suas implicações, vistos a partir do processo social. Seu laboratório é a caserna, ponto de partida para a indicação de reformas que alterem o presente vivido para construir um futuro imediato distinto. Sua proposta é a reforma militar, a qual, por sem dúvida (e não o ignora o historiador e cientista social), será a decorrência de uma reforma-mãe, a reforma política, revolvente das estruturas arcaicas, dependente do progresso das forças sociais. Mas esta não pode ser uma decisão de Estado, de cima para baixo, pois deverá crescer como uma exigência da sociedade civil sufocada.

O bolsonarismo, filho do militarismo golpista, não deve ser visto como “um raio em céu azul”, pois sua insurgência só terá surpreendido aos que desprezam os ensinamentos da história. Quem não os conhece dificilmente cumpre o papel de sujeito.

No dia 17 de março de 1964 o Partido Comunista Brasileiro, em festa de aniversário no auditório da ABI, no Rio de Janeiro, dizia aos seus militantes que as forças armadas brasileiras, “oriundas da classe média”, eram legalistas e democráticas, o que afastava do horizonte qualquer nuvem de golpe militar, temido, nada bstante o “dispositivo militar do Gal. Brasil”. Poucos dias passados, molhados os pés às margens da revolução social prometida, surpreendemo-nos afogados pela ditadura, que, mesmo naquela altura, não se supunha tão cruenta e longeva. Era o preço de nossa alienação. Como olhar para além do agora imaginado, se não conhecíamos, sequer, o presente? Lamentável que seja, o fato é que nossas lideranças mais respeitáveis teimavam e teimam em tentar interpretar a realidade a partir da contemplação das aparências.

Quando a ditadura, superada como necessidade da classe dominante, cedeu o poder à administração direta do grande capital, nos deixamos vencer pela ilusão de que a democracia havia, finalmente, se consolidado em país fraturado por brutal desigualdade social. Prelibando o poder, renunciámos à revolução, e nos entregamos à  disputa pela administração benfazeja da sociedade de classes.
 
Embalados pelas vitórias do projeto de centro-esquerda, concluímos que as massas populares estavam a poucos passos da consolidação democrática, até que a “surpresa” do golpe de 2016, a prisão de Lula e a eleição do candidato dos militares e da extrema-direita nos mandasse de volta à realidade de uma sociedade conservadora e atrasada.

Em 2018 surpreendemo-nos com o avanço do projeto militar e a emergência da ultradireita; em 2022 muitos setores democráticos, todos observadores das aparências, aliviados com a eleição de Lula, deram como salva a democracia. Em meio às comemorações da posse, o país em festa, fomos surpreendidos pela quase virada de mesa de 8 de janeiro, o 18 brumário que não deu certo. Ao invés da ditadura de Luís Bonaparte, a novidade é um capitão correndo o risco de conhecer a cadeia. 

A surpresa de hoje, para o campo da esquerda – a descoberta de uma direita protofascista com base popular –, começou a ser narrada nos indevassados idos de 2013. Mas então a novidade era muito incômoda para ser reconhecida. 
 
Na sequência de três governos progressistas (os dois de Lula e o primeiro de Dilma, pois o segundo não houve), nos convencemos da emergência, final, de uma social-democracia progressista. O atestado eram as vitórias eleitorais do bloco de centro-esquerda liderado pelo PT. Presentemente nos assustamos convivendo com uma sociedade ainda arraigadamente conservadora. Quanto mais caminhamos, mais  andamos para trás, carregando o passado como destino.

Os que se deixaram surpreender pela insurgência da extrema-direita, fruto histórico impercebido ou negado, dão agora como favas contadas o fim de sua ameaça, como se os apertados números das eleições de 2022 fossem indicadores de uma revolução social, assim nos libertando da autocrítica necessária. Pode ser boa forma de esquecer nossa responsabilidade na aparente inversão dos polos políticos; jamais uma solução. 

O ovo, porém, não gorou; a serpente, viva, apenas se recolheu para melhor sobreviver e permanece na espreita de  oportunidade para novo ataque, se o antídoto não for aplicado de imediato, como é de regra na república tutelada: a punição dos golpistas e a reforma militar, que só terá sentido se fruto de um grande debate nacional, como este apenas inaugurado pelo prof. Manuel Domingos, ainda nos modestos auditórios ao seu alcance. Mas pouco avançaremos se não furarmos os limites presentes, promovendo  os partidos e as instituições democráticas, as entidades de classe, a sociedade civil  um grande debate envolvendo  Congresso, universidade, sindicatos, imprensa, movimento estudantil e mesmo a caserna, retirada de seu casulo. O poder judiciário (sobre o qual não nos é permitido tecer ilusões) ensaia uma reação que precisa  ser sustentada, e mesmo a chamada grande imprensa  já se dá conta do que recusou ver ao aderir irresponsavelmente ao golpismo.

Eleito como fruto de um projeto de estado-maior, o paraquedista Jair Bolsonaro foi sustentado pelo que hoje se sabe ser a última geração dos porões da ditadura, em conluio com o que há de mais reacionário na soleira da pequena política nacional, de que o “Centrão” é paradigma.

As forças armadas, diante do desafio levantado pelo capitão,  dividiram-se em tarefas igualmente comprometedoras, da omissão na defesa da legalidade democrática à ação direta visando à desestabilização institucional.

A Marinha, comandada por um almirante que precisa ser levado às barras dos tribunais, chegou ao cúmulo do abuso de poder com o jocoso desfile de tanques reumáticos e fumacentos na Esplanada dos Ministérios,  no intuito de pressionar o Congresso no dia em que apreciava o tosco projeto do voto imprenso, jogo que interessava ao capitão para desestabilizar o processo eleitoral.

Logo após a derrota nas urnas, o capitão reuniu-se com os comandantes militares para maquinar o golpe derradeiro. Enfrentou resistência do comandante do exército, silêncio cúmplice do comandante da aeronáutica e apoio entusiástico do comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, que permanece impune. 
 
Incapazes de cumprir com suas atribuições constitutivas, nossas forças se formaram no cruento combate às insurreições populares. Desde a colônia seu ofício é combater o “inimigo interno” – e inimigo é quem quer ameace a ordem dominante. O indígena arredio, o escravo rebelde e seus defensores, condenados como inimigos da ordem, a imagem sagrada no altar-mor do civismo castrense. Inimigo é quem ameace o mando. 

Na colônia, inimigo era quem se atrevesse a pôr em risco a Coroa; no Império, os adversários do latifúndio. A República sem povo consolida o poder militar em defesa da ordem reacionária. Instala-se a curatela político-ideológica sobre a sociedade, sob o comando de militares sem autonomia ideológica. Produto do processo histórico, são igualmente o instrumento de construção e sustentação de uma sociedade fundada na desigualdade social, e de um Estado dependente da ordem internacional hegemônica. Na colônia, no Império e na República. 

Desapartados da defesa nacional, fazem-se instrumento dos interesses das grandes potências. Após a segunda guerra mundial se transformam em soldados da Guerra Fria e se dedicam ao combate ao seu irmão interno, os amantes da paz, correntes nacionalistas e progressistas, os trabalhadores e os camponeses sem terra,  os comunistas  e as esquerdas, armadas ou não. Sem saber por que, são contra a reforma agrária e os trabalhadores de modo geral. Em compensação, não têm a mínima condição de enfrentar a ameaça de um inimigo externo. 

Se ainda almejam merecer o crédito público, os militares não devem perder esta oportunidade de autocrítica, e pedir desculpas ao contribuinte. Se o governo tem ciência da bomba de retardo sobre a qual se senta, não pode perder esta oportunidade, de fragilidade momentânea do militarismo, para tentar pôr a casa em ordem. E para isso não dispõe de muito tempo.  
 
***
 
Perseguição a um soldado legalista - No momento, apenas um oficial brasileiro  está, de fato, ameaçado de expulsão  da caserna, e não é o valete do paraquedista.  Trata-se do digno e combatente coronel Marcelo Pimentel que responde a quatro processos disciplinares e um IPM, este aberto em nosso governo pelo qual lutou, como lutou sempre pela dignidade das instituições militares. A perseguição começa sob o comando dos asseclas de Bolsonaro, e prossegue agora, em nosso governo.   O ministro José Mucio Monteiro Filho, faz ouvidos de mercador. Alguém, com acesso ao Alvorada, precisa levar essa ignominia ao conhecimento  do presidente Lula. 

Antirracismo na mira – A pistolagem jornalística segue sendo um serviço que as grandes empresas de comunicação oferecem à classe dominante, de que são porta-vozes, e aos grupelhos beligerantes que travam batalhas intestinas pelo micropoder, na seara da pequena política. O alvo do momento é Anielle Franco, Ministra da Igualdade Racial (que uma articulista reacionária chegou a acusar de deslumbramento). Fará mal o alto comando do Governo Lula se não tratar de defender da fritura em curso a ministra e o recém-criado Ministério, os quais, em meio a políticas de austericídio, privatização de presídios e cooperação com fundações empresariais suspeitas, entre outros opróbrios, ainda mantêm vivo um pouco daquela esperança equilibrista que se renovou com a belíssima subida da rampa, em 1º de janeiro passado.

 


* Com a colaboração de Pedro Amaral

NÃO DÁ PRA MENOSPREZAR OS CONSELHOS TUTELARES

Sábado, 30 de setembro de 2023

Neste domingo estaremos mobilizados com as eleições dos Conselhos Tutelares.

Ao dizer que estaremos, espero que também esteja ao menos toda a parcela da sociedade com consciência e responsabilidade sociais.

Os Conselhos Tutelares são organismos imensamente importantes por serem responsáveis por assegurar o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

E nenhum de nós deixa de acompanhar o que sofrem os nossos filhos e netos em uma sociedade altamente desestruturada, em que estão sujeitos a agressões de toda sorte.

Mas há duas condições que podem distorcer seriamente as eleições deste 1° de outubro.

A primeira é que a função de conselheiro, juntamente pela relevância de sua atividade, é remunerada. E é possível que, no caso do Distrito Federal, ainda tenha influência na indicação de quem comporá a estrutura administrativa de cada Conselho.

A quantidade de candidatos, o seu empenho para eleger-se e até o custo de algumas campanhas dá uma ideia de que haja quem esteja buscando tão somente obter um emprego para um mandato nos próximos 4 anos.

Afinal, mais ou menos na mesma época, ocorrem eleições para os conselheiros de cultura e os de segurança, que não são remunerados, e não se vê a mesma competição entre interessados.

O segundo e não menos importante risco é que os Conselhos Tutelares despertam perceptíveis interesse e mobilização de instituições que pretendem interferir na composição deles para constituírem maiorias artificiais e, assim, poderem direcionar as suas práticas.

O que dizem muitos dos atuais conselheiros e se comprova na incomum mobilização é que é esta a pretensão de instituições religiosas que acabam por levar os conselhos a práticas em muito contrárias ao que recomenda o ECA.

Por tudo isso, é praticamente uma obrigação que não coloquemos em plano secundário as eleições deste domingo. E, além disso, que façamos escolhas extremamente criteriosas das nossas e dos nossos candidatos.

Desejo muito boa sorte a cada uma e cada um de vocês.

Fernando Tolentino

Lançamento do documentário "Vargas, a transformação do Brasil"

Sábado, 30 de setembro


A sessão de lançamento nacional será em Brasília no próximo dia 03 de outubro, terça-feira, a partir das 19 horas, no Liberty Mall, seguida de debate conduzido pela AEPET.

Do Jornalismo da AEPET
Publicado em 27/09/2023

A Fundação Leonel Brizola — Alberto Pasqualini (FLB-AP), em parceria com a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), lança nacionalmente em Brasília no próximo dia 3 de outubro, a partir das 19hs, na Sala 2 do Cine Cultura do Shopping Liberty Mall, o documentário “Vargas, a transformação do Brasil” dirigido pelo jornalista Beto Almeida. A sessão de cinema será seguida de palestra e debate sobre os 70 anos de fundação da Petrobrás, criada por Getúlio Vargas, que serão celebrados na mesma data e evento.

O documentário retrata as principais características na formação da personalidade humana e política do ex-presidente Getúlio Vargas que, como o título destaca, realizou a maior transformação econômica, política, social e cultural do Brasil moderno — nas quase duas décadas em que governou o país; abrangendo a sua trágica morte em 1954 para garantir a sobrevivência de seu legado social e político que incomoda a elite entreguista até hoje.

Baseado na trilogia “A Era Vargas”, do escritor e jornalista José Augusto Ribeiro, o filme narra o entorno familiar e regional em que Getúlio nasce, vive, estuda e se constrói como pessoa — um ambiente gaúcho, abolicionista e proto trabalhista — que o leva a ingressar na advocacia e na política após uma tentativa frustrada na carreira militar.

Entrevistas com o próprio José Augusto Ribeiro, com Celina Vargas, neta de Getúlio; com o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães; com a auditora Maria Lúcia Fatoreli; com o sociólogo e escritor Ronaldo Conde Aguiar; com o ex-presidente da Federação Sindical Mundial, Antônio Neto; com a cantora Beth Carvalho e com a ex-primeira dama Maria Tereza Goulart — analisam e dimensionam as transformações estruturais ocorridas na Era Vargas. Época que possibilitou ao Brasil transitar do estágio de país agrário e atrasado para industrializado dotado de direitos sociais, trabalhistas e políticos que, ainda hoje, impactam a realidade nacional.

“Vargas, a transformação do Brasil” inclui também depoimento de Leonel Brizola, trechos de discurso do presidente Lula em homenagem a Getúlio pronunciado em São Borja (RS), depoimento do presidente nacional do PDT licenciado, Carlos Lupi; e fala do presidente da Fundação Brizola – Pasqualini, Manoel Dias. O documentário, que não tem finalidade comercial, destina-se a exibições em ambientes políticos, acadêmicos e veiculação em tevês comunitárias, universitárias, legislativas e públicas — para informar e educar as novas gerações confrontando o esforço neoliberal de destruir as conquistas da Era Vargas.

A sessão de lançamento nacional será em Brasília no próximo dia 03 de outubro, terça-feira, a partir das 19 horas, no Liberty Mall, seguida de debate conduzido pela AEPET. A data coincide com os 93 anos da Revolução de 30 e os 70 anos de fundação, por Vargas, da Petrobrás. Após a exibição do documentário, a TV Comunitária do Distrito Federal transmitirá um debate pelo Facebook.

Jornalismo AEPET

Águas de Oxalá: A celebração maior ao Orixá da Criação

Águas de Oxalá: A celebração maior ao Orixá da Criação

Fotos: Reprodução da internet e gravuras de Pierre Verger e Carybe

Zédejesusbarreto*

Êpa Babá!

Ùltima sexta-feira de setembro é o dia da festa, o ritual das Águas de Oxalá nos terreiros Ketu/Nagô da Bahia.

“Obatalá, Orixaalá, Orixanlá, criado por Olodumaré à sua semelhança, Orixá do pano branco, da cor branca, que reúne em si todas as cores do espectro do arco-Íris em união, que remete à Paz, sim, porque a união induz a Paz e Harmonia. Criador do ser humano e de todas as formas de vida, ordena o pensamento, a inteligência e as ideias. Representa a ética, a moral e os bons costumes, o que é superior, a fidelidade, os valores, a pureza e a ordem espiritual. É a manifestação pura da sabedoria, a síntese de tudo e está presente em todos os seres humanos.

Tem como elemento o ar, e sem ar não há vida. Simplicidade é a sua essência

obatalá

Reflitamos em Obatalá, absorvendo sua mensagem de paz, através da união contida na cor branca, do respeito e do perdão”…

(Texto de  ngela Ferreira, Iyá Kekerê do Gantois, trecho de escrito na contracapa do CD ‘Obatalá, uma homenagem a Mãe Carmem’, filha de Oxaguian, o Oxalá jovem)

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As águas de Oxalá

  Na madrugada da sexta-feira, a última de setembro, o Ilê Axé Opô Afonjá celebra a liturgia das Águas de Oxalá, um ritual de rara beleza que encantou o fotógrafo Verger e o pintor Carybé ainda nos anos quarentas do século passado, quando reinava na Roça de São Gonçalo a lendária Mãe Senhora.

  A cerimônia tem origem na mitologia Iorubá (Ketu/Nagô): O velho pai (babá) Oxalá teria sido preso por engano e humilhado, por artes de Exu, mas foi resgatado por Xangô, o rei de Oyó, que ordenou silêncio absoluto no reino, como expiação, e que o Velho fosse abrigado, banhado três vezes com águas puras e depois envolto em panos brancos.

  O ritual começa logo na meia noite de quinta e só termina na alvorada da sexta. Em cortejo, o silêncio quebrado apenas pelo som do adjá (um chocalho de ritos), os filhos da casa, de torço e roupas brancas novas, vão à fonte encher suas quartinhas, levando-as ao barracão onde estão postas as comidas, água e oferendas a Oxalá. Depois, todos reverenciam o Pai Velho com cantos e danças até os primeiros raios de sol.

Todos os grandes terreiros baianos de nação Ketu/Nagô (como o Gantois, a Casa Branca…) cumprem esse ritual, todos os anos.

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Do livro “Orixás, Deuses Iorubás na África e no Novo Mundo”, de Pierre Verger:

Oxalá e o símbolo da criação – (En)Cena – A Saúde Mental em Movimento

“Oxalá, Orisanlá ou Obatalá. O grande Orixá ou o Rei do Pano Branco, ocupa uma posição única e inconteste do primeiro a ser criado por Olodumaré, o Deus Supremo.

No Novo Mundo, na Bahia particularmente, Oxalá é considerado o maior dos Orixás, o mais venerável e o mais venerado. Seus adeptos usam colares de contas brancas e vestem-se, geralmente, de branco. Sexta-feira é o dia consagrado a ele. Esse hábito de se vestir de branco na sexta-feira estende-se a todas as pessoas filiadas ao candomblé, mesmo aquelas consagradas a outros orixás, tal é o prestígio de Oxalá.

… Diz-se na Bahia que existem dezesseis Oxalás. Os mais conhecidos são Oxalufã, o Oxalá velho e sábio, e Oxaguian, o jovem guerreiro”.

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OXALÁ

                     (divindade, orixá do panteón Ketu/Nagô, dos iorubanos d’África)

Dia: Sexta-feira

Cor: Branco leitoso.

Simbolo: Opáxoró

Elementos: Atmosfera e Céu

Domínios: Poder procriador masculino, Criação, Vida e Morte

Saudação: Epa Bàbá

  Oxalá é o detentor do poder procriador masculino. Todas as suas representações incluem o branco. É um elemento fundamental dos primórdios, massa de ar e massa de água, a protoforma e a formação de todo o tipo de criaturas no Aiyê e no Orun.

  Ao incorporar-se, o Orixá assume duas formas: Oxaguiã, um jovem guerreiro, e Oxalufã, um velho sábio apoiado num bastão de prata (o Opaxorô).

  Oxalá é alheio a toda a violência, disputas, brigas; gosta de ordem, da limpeza, da pureza. A sua cor é o branco e o seu dia é a sexta-feira, seus filhos devem vestir branco nesse dia. Pertencem a Oxalá os metais e outras substâncias brancas.

  Nos cultos da África, todos os Orixás relacionados com a criação são designados pelo nome genérico de Orixá Fun Fun. O mais importante entre todos eles chama-se Orixalá (Òrìsanlà), ou seja, o grande Orixá, que nas terras de Igbó e Ifé é cultuado como Obatalá, rei do pano branco. Eram cerca de 154 Orixás Fun Fun, mas no Brasil e na Europa a quantidade reduz-se significativamente, sendo que dois, Orixá Olùfón, rei de Ifón (Oxalufã) e Orixá Ógìyán, o comedor de inhame e rei de Egigbó (Oxaguiã), se tornaram as suas expressões mais conhecidas.

  A designação de Orixá Fun Fun deve-se ao facto de a cor branca se configurar como a cor da criação, guardando a essência de todas as demais. O branco representa todas as possibilidades, a base de qualquer criação. O nome Orisanlá foi contraído e deu origem à palavra Oxalá, e com esse nome o grande Deus-pai passou a ser conhecido no Brasil. Todos os Orixás Fun Fun (África) foram reunidos em Oxalá e restaram no Brasil as suas duas configurações principais: Òsálufón, Osagiyan, sendo este último, jovem e guerreiro, filho do primeiro mais velho e paciente. Todas as histórias que relatam a criação do mundo passam necessariamente por Oxalá, que foi o primeiro Orixá concebido por Olodumaré e encarregado de criar não só o universo, como todos os seres, todas as coisas que existiriam no mundo.

 A maior interdição (quizila) de Oxalá é o azeite-de-dendê, que jamais deve macular as suas roupas, os seus objetos sagrados e muito menos o seu Alá. A única coisa vermelha que Oxalá permite, é a pena de Ikodidè, prova de sua submissão ao poder genitor feminino.

Orixá Oxalá: o criador reverenciado na festa do Bonfim em Salvador! • Guia da Alma

 No Xirê (a roda de dança que reúne todas as divindades), Oxalá é homenageado por último porque é o grande símbolo da síntese de todas as origens. Ele representa a totalidade, o único Orixá que, como Exú, reside em todos os seres humanos. Todos são seus filhos, todos são irmãos, já que a humanidade vive sob o mesmo teto, o grande Alá que nos cobre e protege, o céu.

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   Sobre essa divindade do pano branco, nosso Pai, esse belo texto, feito oração, de autor desconhecido, um irmão de Axé, inspiração sagrada:

  “O ÀLÚFÓN, O SÁBIO

   Aquele que existia antes de o mundo ser mundo, antes dos seres o habitarem.

Aquele que existia antes dos caminhos se desenharem traçando destinos para a humanidade.

  O àlúfón é Òrì à fúnfún, um dos deuses primordiais, o mais velho do panteão yorubá. Velho sábio, sente nas costas o peso do tempo.

   Acumulou experiências, entendeu que a sabedoria não menospreza os sentimentos vitais.  Aprendeu a não desdenhar de È ù.

  O àlúfón ensina que o etéreo e o carnal devem se equilibrar, se completar, se respeitar.

   O àlúfón rege o início e o final de todos os ciclos. O vemos na cor branca.

   No branco do pombo, no branco do traje, no sentimento puro.

   O branco está onde o àlúfón está; no nascimento do iniciado, na despedida do rito fúnebre.

   Com o seu cajado mítico, òpá óró, une céu e terra, homens e deuses, esperança e realidade. Purifica as almas, torna as águas fecundas.

  O àlúfón está na ética, no bom senso, na paciência, na tranquilidade de quem conhece o caminho. O àlúfón rege o dia, a clareza dos pensamentos, a luz da sabedoria. É lento como a prudência, decidido como o caracol.

   O àlúfón está na serenidade do ancião, na verdade absoluta.

   O àlúfón é o bom ouvidor, o grande pai ponderado. Não se exalta, não se surpreende, não tem pressa; sabe que o tempo certo chega quando tem que chegar.

  O àlá, seu manto branco, é símbolo de sua pureza.

 O àlúfón é nosso sentimento mais límpido, é a sinceridade das intenções, é o desejo de acertar.

    Eèpàà Bàbá! (Saudamos o pai!)

   E e é o! (Obrigado!)

  Obrigado, Pai de Bondade, por nos mostrar a dádiva da sabedoria!

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*(texto e pesquisa: Zédejesusbarreto, escrevinhador, e filho de Oxalá)

Set2023


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sexta-feira, 29 de setembro de 2023

Silvio Tendler conta a história do nacionalista Leonel Brizola

Sexta, 29 de setembro de 2023

Silvio Tendler conta a história do nacionalista Leonel Brizola

Menino pobre que se tornou engenheiro e governador de dois estados, Brizola planejou o desenvolvimento regional e, no Rio Grande do Sul, criou um “BNDES para o Sul” , o BRDE. É também recordista na construção de escolas e salas de aula

Publicado em 29/09/2023

24 de agosto, data do suicídio de Getúlio Vargas, e 3 de outubro, criação da Petrobrás, que está completando 70 anos, são duas datas carregadas de simbolismo para o Brasil e para brasileiros que anseiam pela volta de líderes com projeto nacional.

Neste contexto, o AEPET TV foi ouvir o diretor Silvio Tendler, que está preparando seu novo filme, Leonel Brizola, anotações para uma história, no qual o político gaúcho é merecidamente tratado como estadista.

Nesta entrevista, Tendler pondera que a visão de estadista de Brizola não se restringe a iniciativas como encampar multinacionais que não prestam o serviço contratado ou à reforma agrária, o que já não é pouco. O menino pobre que se tornou engenheiro e governador de dois estados, planejou o desenvolvimento regional e, no Rio Grande do Sul, criou um “BNDES para o Sul” , o BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento Econômico, que existe até hoje, aglutinando Paraná e Santa Catarina ao Rio Grande do Sul, estado que que governava. Brizola é também recordista na construção de escolas e salas de aula.

Confira a entrevista exclusiva no AEPET TV!

Silvio Tendler conta a história do nacionalista Leonel Brizola

Justiça condena homem por divulgar fotos de cadáveres e outros crimes

Sexta, 29 de setembro de 2029

Imagem ilustrativa

Do TJDF

A 2ª Vara Criminal de Santa Maria condenou André Felipe de Souza Alves Pereira a 8 anos de reclusão e 2 anos e 3 meses de detenção pelos crimes de vilipêndio a cadáver (artigo 212 do CP); divulgação do nazismo e racismo de procedência nacional e xenofobia (Lei nº 7.716/1989); uso de documento falso (artigo 304 do CP); atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública (artigo 265 do CP); e incitação ao crime (artigo 286 do CP). A sentença fixou o regime inicial semiaberto e o réu não poderá recorrer em liberdade.

De acordo com o processo, o acusado praticava diversos delitos em espaço virtual na rede mundial de computadores. Os documentos detalham que o réu gerenciava perfis na rede social Twitter para a prática dos crimes. Segundo consta na decisão, o homem utilizou a rede social para disponibilizar links que direcionavam às imagens dos corpos dos cantores sertanejos Marília Mendonça e Gabriel Diniz.

Ademais, o réu também utilizou um dos perfis para divulgar símbolo nazista, praticar ofender nordestinos e estrangeiros, realizar postagens ameaçadoras e com armas de fogo, em alusão ao “massacre de Columbine”, e incitar a prática de homicídio contra desafetos. Finalmente, por ocasião da sua abordagem e prisão, o réu apresentou documento de identidade falso aos agentes.

MPDF (Prourb) consegue suspender etapas da apreciação de projeto sobre parcelamento do solo. A Audiência Pública foi feita na 'galega', foi? Será que foi?

Sexta, 29 de setembro de 2023



Objetivo é que o PLC nº 25/2023 não seja votado pela CLDF sem que as irregularidades sejam corrigidas

Do MPDF

A Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) obteve liminar que suspende os efeitos de duas etapas da discussão do Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 25/2023, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano no Distrito Federal e dá outras providências. De acordo com a decisão, proferida nesta quinta-feira, 27 de setembro, ficam sem efeito a audiência pública realizada em 16 de fevereiro de 2022 e a Decisão 09/2023 do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano (Conplan).

Na ação, a Prourb argumenta que os dois procedimentos não cumpriram a legislação sobre o tema e dificultaram a participação popular efetiva, que é condição para a tomada de decisões sobre projetos e programas relacionados ao desenvolvimento urbano. A audiência pública foi realizada sem que o público tivesse acesso, pela internet, a laudos, estudos técnicos e outras informações que serviram de base à elaboração do PLC, apesar de essa ser uma exigência legal.

Além disso, a audiência, que ocorreu em formato híbrido (virtual e presencial), teve diversos problemas de transmissão, como ruídos, interferências, falta de áudio e tela travada. Em ata, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) reconheceu os erros, mas não tomou nenhuma providência para a realização de nova audiência. No site da pasta, o link para a transmissão não está mais disponível.

O STF NÃO ATROPELA O LEGISLATIVO QUANDO FAZ VALER A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

Sexta, 29 de setembro de 2023


O STF NÃO ATROPELA O LEGISLATIVO QUANDO FAZ VALER A SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO

Aldemario Araujo Castro
Advogado
Mestre em Direito
Procurador da Fazenda Nacional
Brasília, 29 de setembro de 2023

Nos últimos dias, as seguintes manchetes, entre outras, foram observadas em vários meios de comunicação: a) "Prerrogativas do Legislativo estão sendo 'atropeladas', diz Sérgio Moro” (fonte: senado.leg.br); b) "Não podemos deixar o STF tirar o espaço do Legislativo”, diz senador” (fonte: gazetadopovo.com.br); c) “Câmara tem paralisia para pressionar o STF” (fonte: folhauol.com.br); d) “Frentes parlamentares se unem e fazem pronunciamento sobre decisões do STF” (fonte: jovempan.combr) e e) “Demarcação de terras indígenas, descriminalização das drogas, aborto: população brasileira não abraça decisões do Supremo, ao contrário" (fonte: estadao.com.br). A movimentação parlamentar mencionada possui relação direta com debates e decisões do STF sobre: a) o marco temporal das terras indígenas; b) a descriminalização do aborto até 12 semanas de gestação; c) a licitude do porte de drogas para consumo próprio e d) o casamento homoafetivo.

Existe uma explicação fácil, comum e equivocada para a atuação cada vez mais intensa do Poder Judiciário, especialmente do Supremo Tribunal Federal. Afirma-se que o Judiciário ocupa, de forma indevida, um espaço deixado pela inércia do Legislativo. Em outras palavras, na ausência de leis sobre determinados assuntos, a regulamentação termina por ser construída no âmbito da atividade judicial. 

Importa destacar que a verdadeira razão para a atuação mais destacada do Poder Judiciário nos últimos tempos decorre de uma profunda mudança do paradigma de compreensão do funcionamento da ordem jurídica. No passado, até a primeira metade do século XX, quando dominantes os constitucionalismos liberal e social, admitia-se uma supremacia meramente formal da Constituição. Assim, os casos e problemas da vida em sociedade eram resolvidos pela aplicação direta das leis infraconstitucionais. As Constituições, seus valores e princípios fundantes, não experimentavam aplicação direta e funcionavam como meros vetores ou diretrizes a serem incorporados pelo Legislador na construção das regras legais. Esse panorama sofreu radical transformação a partir da segunda metade do século XX. As Constituições ganharam uma supremacia material ou axiológica antes inexistente. A principal consequência prática dessa transformação revolucionária no campo jurídico consiste justamente na possibilidade, e necessidade, de aplicação direta da Constituição, notadamente seus valores e princípios, independentemente de intermediação legislativa (de uma regra específica posta na legislação infraconstitucional). 

O chamado “ativismo judicial”, compreendido no sentido da aplicação direta dos valores e princípios constitucionais pelo Judiciário sem a imprescindível intermediação do Legislativo, é um fenômeno necessário e essencialmente positivo, afastados os desvios e os excessos. São concretizados, por essa via, direitos fundamentais importantíssimos realizadores da dignidade da pessoa humana. “O reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”, conforme define a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. Trata-se de construção internacionalmente consagrada, inclusive como a base mais relevante do Estado Democrático de Direito no Brasil (art. 1o, caput e inciso III, da Constituição brasileira de 1988). 

Nessa linha, o papel contramajoritário do Supremo Tribunal Federal é lembrado e afirmado. Esse viés é essencial para a preservação do Estado Democrático de Direito e para evitar que os direitos individuais e as liberdades fundamentais sejam prejudicados pela vontade de uma maioria ocasionalmente formada. Afinal, não é incomum que interesses mesquinhos, equivocados e reacionários sejam mobilizados, num contexto pontual, contra conquistas civilizatórias que consumiram décadas ou séculos de intensa luta social.

O emblemático julgamento da ADIn nº 2797, pelo próprio STF, mostra como sua função de guardião da Constituição do Supremo não pode ser afrontada ou contornada validamente. Eis um trecho da ementa de referida decisão: “3. Não pode a lei ordinária pretender impor, como seu objeto imediato, uma interpretação da Constituição: a questão é de inconstitucionalidade formal, ínsita a toda norma de gradação inferior que se proponha a ditar interpretação da norma de hierarquia superior. 4. Quando, ao vício de inconstitucionalidade formal, a lei interpretativa da Constituição acresça o de opor-se ao entendimento da jurisprudência constitucional do Supremo Tribunal — guarda da Constituição —, às razões dogmáticas acentuadas se impõem ao Tribunal razões de alta política institucional para repelir a usurpação pelo legislador de sua missão de intérprete final da Lei Fundamental: admitir pudesse a lei ordinária inverter a leitura pelo Supremo Tribunal da Constituição seria dizer que a interpretação constitucional da Corte estaria sujeita ao referendo do legislador, ou seja, que a Constituição — como entendida pelo órgão que ela própria erigiu em guarda da sua supremacia —, só constituiria o correto entendimento da Lei Suprema na medida da inteligência que lhe desse outro órgão constituído, o legislador ordinário, ao contrário, submetido aos seus ditames”. 

Não custa transcrever o art. 102 do texto normativo posicionado no ápice da ordem jurídica brasileira. Afirmou o constituinte originário: “compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição”. 

Assim, as maiorias circunstanciais, representadas ou não no Parlamento, não podem afrontar a dignidade da pessoa humana materializada no exercício efetivo de um conjunto básico de direitos fundamentais. Uma pretensão dessa natureza esbarra na supremacia da Constituição guardada, por expressa definição do Poder Constituinte Originário, sem desvios ou excessos, pelo Supremo Tribunal Federal.

Portanto, o cenário atual não se apresenta como uma simples disputa por espaços de poder (entre o Legislativo e o Judiciário). O que está em jogo é o progresso civilizatório a partir da afirmação, ou rejeição, de seus valores e princípios mais nobres.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

20 Anos de História: “Cidade dos Bonecos” celebra duas décadas de arte e cultura popular

Quinta, 28 de setembro de 2023

A Cia. Cidade dos Bonecos, originária do Gama, traz inovações para o público do Distrito Federal, que incluem a inauguração oficial de seu próprio Espaço Cultural e uma ampla variedade de atividades culturais.

Por 
Israel Carvalho, editor do Portal Gama Cidadão —28 de setembro de 2023

 
Domingos Rodrigo com seu personagem Zecão. Foto: Matheus Nascimento

“Cidade dos Bonecos 20 Anos de História” é um marco histórico na cena cultural do Distrito Federal. Promovido pela respeitada companhia teatral Cidade dos Bonecos, nascida e radicada no Gama, o projeto comemora duas décadas de dedicação à arte e à cultura, trazendo uma série de atividades e ações enriquecedoras para o público de todo o DF. Ele chega trazendo atrações diversificadas, desde Ciclo de Roda de Conversas, Oficina de Construção de Bonecos “Máquina Cênica”, Mediações de Espetáculos, Oficinas das Malas Culturais até a criação da web-série Boneco TV, além da Mostra de Repertório, que acontecerá na sede do grupo, na Ponte Alta do Gama. Com a meta de formar plateia, celebrar identidades culturais e favorecer a acessibilidade, o projeto busca unir comunidades diversas em torno da arte.

Uma parte central do “Cidade dos Bonecos 20 Anos de História” é o Ciclo de Roda de Conversas, um espaço de diálogo entre artistas, pesquisadores e o público, que se reúnem para explorar o mundo do Teatro de Formas Animadas. A Oficina de Construção de Bonecos é uma oportunidade bastante interessante para que estudantes de artes visuais e cênicas mergulhem nas técnicas e processos de criação. A Mostra de Repertório traz espetáculos emocionantes à Ponte Alta durante 4 dias de outubro, numa sala de espetáculos da companhia teatral, recém-inaugurada e batizada por “Teatron”, enquanto as Mediações de Espetáculos buscam aprimorar a compreensão e o apreço pelo teatro.

Com um olhar voltado para a educação, o projeto também tem oferecido Oficinas das Malas Culturais, proporcionando ferramentas aos professores de escolas rurais para incorporar o universo dos bonecos em sua prática pedagógica. Além disso, a web-série Boneco TV mergulha nas particularidades do Teatro de Formas Animadas, com depoimentos, técnicas de manipulação e esquetes, oferecendo um mergulho fascinante na arte.

Já em andamento, o projeto deve durar em torno de 12 meses, pois possui um forte compromisso com a inclusão e diversidade, reservando posições significativas para mulheres, pessoas com deficiência e grupos vulneráveis na equipe técnica, que é um grande diferencial. Através de uma mistura de atividades presenciais e virtuais, o projeto “Cidade dos Bonecos 20 Anos de História” busca criar uma experiência cultural profunda e duradoura, fortalecendo a missão da companhia de tornar a arte acessível e transformadora para todos.

Sobre a Cia. Cidade dos Bonecos

Fundada em 2001 por Domingos Rodrigo, a Cia. Cidade dos Bonecos é uma força pioneira na cena artística do Distrito Federal. Comprometida com a educação e a cultura, a companhia tem uma história de projetos inovadores que buscam enriquecer as comunidades através do Teatro de Formas Animadas. Reconhecida nacional e internacionalmente, a Cidade dos Bonecos continua impulsionando a arte e a cultura, contribuindo para um futuro mais inclusivo e vibrante.


Serviço:
Local: Sede da Cia. Cidade dos Bonecos
Endereço: Avenida Buritis, condomínio Esquina do Sol, lote 15/17 comercial, Ponte Alta – Norte do Gama
Datas dos espetáculos:
07 de outubro – A Flor do Sertão
08 de outubro – Estação Brasil
14 de outubro – Contos, histórias e canções
15 de outubro – A história do Mané Bocó
Horário: às 16h30

Confira a programação completa no link abaixo:

Entrada: Gratuita
Classificação: Livre

Assessoria de Imprensa: Amanda Guedes @agassessoriaeeventos

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China e Petrobras: Duas datas, mesmo evento e um universo os separando

Quinta, 28 de setembro de 2023
Foto montagem: Paula Morena

China e Petrobras: Duas datas, mesmo evento e um universo os separando

28 de setembro de 2023


Pedro Augusto Pinho*
O início de outubro nos remete a dois eventos separados pelo tempo e pelas consequências. O mais antigo foi o 1º de outubro de 1949, quando Mao Tse Tung mobilizou o povo chinês e venceram séculos de dominação estrangeira e de humilhação. O mais recente foi a 03 de outubro de 1953, com a criação da Petrobrás, empresa brasileira de petróleo, que seria nas décadas seguintes a promotora do desenvolvimento tecnológico, econômico, social e colocaria o Brasil em novo patamar civilizacional. Se Mao Tse Tung foi reconhecido e aclamado como libertador da China, Getúlio Vargas foi levado à auto-imolação pelo atrevimento de enfrentar os capitais estrangeiros e a elite colonizada, que dirigia e, até hoje, governa o Brasil.

CHINA

A República Popular da China (China) tem a área de 9.596.961 km² e população, em 2022, de 1 bilhão e 411 milhões de habitantes.

É das mais antigas civilizações do mundo ocupando o mesmo e altamente diversificado espaço geográfico (planícies, montanhas, planaltos, desertos, rios), com o mesmo idioma, e sua influência chegou ao Ocidente, que deve muito ao que recebeu da China, a começar pela impressão e o papel, a pólvora, a seda e possibilidade de atravessar o Oceano Atlântico.

Na China convivem 56 grupos étnicos, sendo o han constituintes de 91,5% da população.

Politicamente, a China está dividida em 22 províncias, cinco regiões autônomas, quatro cidades dirigidas pelo poder central (Xunquim ou Chongqing, Pequim, Tianjin e Xangai) e duas regiões administrativas especiais (Hong Kong e Macau).

A China é país quase integralmente ateu. Não devido ao comunismo, mas à formação cultural anterior à Era Cristã. Em três pensadores não teístas — Lao Tse ou Lao Zi, Confúcio e Mêncio — está a base do pensamento chinês. Pesquisa realizada em 2010 indicou que 52,2% dos chineses declararam não ter qualquer religião, 21,9% cultuarem seus ancestrais e 18,2% serem seguidores de Sidarta Gautama, o Buda, totalizando 92,3%.

Nos 74 anos da China revolucionária tudo mudou, e para melhor, muito melhor, que a tornou das duas maiores potências da Terra. Mas as raízes desta evolução estão nas lutas que o povo pacífico sempre precisou empreender, construindo muralhas, suportando agressões, para viver sua vida produtiva e reflexiva.

A independência veio com a dupla luta contra os invasores estrangeiros e os que representaram os interesses colonizadores dentro da China. O povo viu no Partido Comunista Chinês (PCCh) o ideal nacionalista, que já lutara contra os japoneses entre 1937 e 1945. Porém os primeiros anos foram difíceis, principalmente pela guerra na vizinha Coreia, o bloqueio estadunidense (por que os Estados Unidos da América (EUA) sempre usam esta forma de ataque aos que não se curvam a seus desejos?) e uma classe que tirava seus privilégios da escravidão de seus irmãos.

Em 1957 lançou-se o Movimento das Cem Flores procurando conciliar o desenvolvimento industrial com a tradição agrária. Em 1958 e 1960, o Grande Salto Para Frente mobilizou ideológica e politicamente o povo para economia e o desenvolvimento industrial. As dificuldades levaram ao programa entre 1962 e 1964 das Quatro Modernizações — indústria, agricultura, defesa nacional e ciência e tecnologia. Em 1966, a China entra na Revolução Cultural.

É necessário entender que, nestas duas décadas de dificuldades, o povo passara a participar das decisões sobre as soluções de seus problemas. Crescia a consciência e o conhecimento sobre os entraves e obstáculos às soluções. Erros se somavam a acertos e a China, diferentemente do que acontecia na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o grande país comunista de então, não se burocratizava. Não criava a classe que pelos séculos III a.C. ao I d.C. dirigiu a China, denominada shi, dos intelectuais, ou da lógica e concepção instrumental dos discursos.

No mundo exterior o capitalismo financeiro inicia a década de 1970 com ataques a mais consumida fonte primária de energia: o petróleo, no que ganhou o rótulo de “crises do petróleo”. Nos anos 1970 e 1980, as finanças derrubam a industrialização do poder e ao fim desta última década impõem seu decálogo: o Consenso de Washington (1989), a Bíblia neoliberal globalizante para o mundo.

Como é natural, a China recebeu toda esta agressão apátrida da banca. Houve momentos de dúvidas, hesitações, mas prevaleceu o desejo de prosseguir no caminho do desenvolvimento e da democracia popular.

Lembremos que Mao, logo no início da Revolução, procurou estabelecer o sistema socialista sem exclusão do capitalismo. Mas os capitais só aceitam participar tendo posição hegemônica no poder. Eles, sim, são os radicais intransigentes!

Desde a invasão neoliberal, a China teve os seguintes líderes na condução do País: Deng Xiao Ping (1978-1992), Zhao Zi Yang (1980-1989), Jiang Zi Min (1989-2003), Hu Jin Tao (2002-2013) e o atual Presidente Xi Jin Ping, desde 2013.

Foram realizados dez Congressos do Partido Comunista Chinês de 1970 (10º Congresso, entre 24 e 28 de agosto de 1973) a 2022, o 20º, último, entre 16 e 20 de outubro de 2022. No 10º Congresso do PCCh, 1.249 delegados representavam 28 milhões de membros do Partido; no 20º eram 2.300 delegados representando mais de 96 milhões de filiados.

As posições ocupadas não foram as mesmas, até porque a China também administrava as consequências da Revolução Cultural e Mao Tse Tung tinha indiscutível liderança e veio a falecer em setembro de 1976. Embora vivendo outros tempos e realidades, a resiliência dos chineses já era encontrada nos textos de Gong Sun Long (325 a.C.), verdadeira percepção sistêmica avant la lettre.

O ocidente capitalista, neoliberal, também tinha interesse em desconstruir o esforço de industrialização e desenvolvimento tecnológico chinês, como se lê em Antoine Brunet e Jean-Paul Guichard (“La visée hégémonique de la Chinie. L’imperialisme économique”, 2012, nomeado para o Prêmio Turgot), imputando ao interesse meramente mercantilista exportador o esforço de desenvolvimento chinês.

Em publicação mais recente, de Isabella M. Weber (2021), “Como a China Escapou da Terapia de Choque” (tradução de Diogo Fagundes para Boitempo, SP, 2023), lê-se: “O XIII Congresso do Partido, em outubro de 1987, marcou a consolidação da agenda de reforma de mercado da China. Ele desencadeou uma tensão crescente entre reformadores como Zhao Zi Yang e Deng Xiao Ping, que estavam dispostos a fazer o que fosse necessário para reformar o sistema econômico chinês, e líderes como Chen Yun, que achavam que a reforma não deveria anular a primazia do planejamento socialista”, e conclui: “O XIII Congresso resolveu esse debate em favor da reforma econômica a todo custo”. Seria mesmo?

Reflitamos sobre as palavras de Xi Jin Ping, no 18º Congresso do PCCh, em 17 de novembro de 2012:

(O Partido) “delineia um grandioso plano (para) construir uma sociedade moderadamente próspera e acelerar a modernização socialista”, (objetivando) “alcançar o socialismo com características chinesas”. E detalha, “o socialismo é a conquista fundamental obtida pelo Partido e pelo povo, através de luta árdua”. E discorre sobre os elementos e as práticas a serem adotadas, pois “só o socialismo pode salvar a China”.

No mesmo pronunciamento afirma: “O sistema do socialismo com características chinesas integra organicamente o sistema político fundamental”. “Ele integra também organicamente o sistema democrático” e a “posição do povo como dono do nosso País, fornecendo garantia sistêmica fundamental para o nosso desenvolvimento e progresso”.

Vê-se que o socialismo, o planejamento e a democracia participativa formam a governança chinesa.

Após anos de aumentos extraordinários do Produto Interno Bruto (PIB), a governança da China se dedica à maior distribuição da renda e ao desenvolvimento tecnológico. Em esclarecedor artigo, “Nanômetros sobre o PIB: os líderes tecnocratas podem melhorar a política industrial da China?”, os pesquisadores associados da MacroPolo, Rui Han Huang e A. J. Cortese demonstram toda modificação da governança para que, até 2050, a China seja não apenas uma nação próspera, mas domine toda a tecnologia mais avançada aeroespacial, cibernética e termonuclear.

PETROBRÁS

A Petrobrás nasce com a organização do Estado Nacional Brasileiro, graças à conquista do poder pelo movimento civil e militar denominado Revolução de 1930.

Foi um árduo percurso cheio de ameaças, golpes que se intitularam “Revolução”, perseguições e restrições à liberdade para que as finanças inglesas e o industrialismo estadunidense não se apossassem do Brasil e suas riquezas.

A Petrobrás não decepcionou; em três décadas transformou o país que importava todos os derivados de petróleo, e por empresa estrangeira, no país quase autossuficiente na produção de petróleo cru, autossuficiente nos derivados que necessitava, e expandia, por seus profissionais, a tecnologia que dispunha, a mais avançada, para exploração, produção e planejamento energético aos países mais necessitados da África, América do Sul e Oriente Médio.

Nos primeiros 35 anos de existência a Petrobrás cresceu e desenvolveu o Brasil. Ao ser criada, em 1953, a população de analfabetos, com mais de 15 anos, era majoritária no Brasil, 51%, chegando em alguns estados a 65%. Em 1988, cerca de 25%, pelo levantamento da época, não sabiam ler e escrever. A Petrobrás necessitava de técnicos e profissionais e, desde o início de sua atividade, se preocupou com a formação de seus empregados e da educação nas regiões onde atuava. Muitos foram estudar no exterior, outros tiveram professores contratados nos EUA e em países que produziam petróleo há mais tempo.

A Petrobrás logo se deu conta que nas bacias terrestres não encontraria petróleo em abundância que abastecesse o desenvolvimento brasileiro. Assim, na década de 1960, iniciou sua ida para a plataforma continental brasileira, tornando-se pioneira e colecionadora de prêmios por inovações e recordes de profundidade em perfurações oceânicas.

Todos governantes desde 1953, mesmo ideologicamente contrários ao monopólio estatal, mantiveram a Petrobrás como única empresa brasileira de petróleo, até que o entreguismo de Fernando Henrique Cardoso (FHC — 1995-2002), com assessoramento estrangeiro, não apenas extinguiu o monopólio estatal como reorganizou a Petrobrás para ser “empresa de negócios”, não de petróleo. E, assim, permanece até hoje.

Foi FHC quem criou a Agência Nacional de Petróleo (ANP), e designou um de seus parentes, David Zylbersztajn, para presidi-la. Este, em seu discurso de posse, afirmou: “O Petróleo não é mais Nosso, ele agora é Vosso”, dirigindo-se aos representantes das petroleiras estrangeiras ali presentes.

Desde então, com maior ou menor açodamento, a Petrobrás vem sendo fatiada e se descaracterizando como empresa integrada de petróleo, como é o modelo universalmente adotado para este tipo de negócio, o do petróleo.

As atividades de qualquer empresa de petróleo são (1) a exploração e produção, que busca e produz petróleo (óleo e gás natural) no subsolo, (2) a industrialização, que extrai do petróleo uma infinidade de produtos, sejam para a produção de energia, movimentação de transportes, lubrificação, fertilizantes, e tudo que a petroquímica produz, de remédios a armas, (3) o comércio de petróleo e derivados, (4) o transporte dos combustíveis em suas diferentes fases, por dutos, navios e trens, e (5) o armazenamento. Esta é a empresa de petróleo que enfrenta todo tipo de crise, de preço, de falta de matéria prima ou de produtos derivados, pela abrangência da sua ação.

Hoje a Petrobrás está fora do comércio, tendo alienado sua Distribuidora, tem reduzida sua participação na industrialização a algumas refinarias e tentando reerguer uma fábrica de fertilizante, sem os dutos, já privatizados, alguns terminais, e, na área de exploração e produção marítima, onde tem domínio tecnológico, está aceitando parcerias para retirarem parte do lucro, pois as parceiras não têm capacidade de agirem sozinhas.

Mesmo com a descoberta do pré-sal e todo ganho tecnológico que tem adquirido com o trabalho em águas profundas, a Petrobrás chega aos 70 anos, menor na expressão nacional do que a empresa que Ernesto Geisel deixou a seu sucessor, na presidência do Brasil.

Não se vislumbram, fora dos discursos, nenhuma iniciativa de colocar a Petrobrás no século XXI. Muito ao contrário.

Infestado o Estado Nacional pelas Organizações não Governamentais (ONGs), com falácias climáticas e preconceitos ambientais, pela sujeição ao decálogo do Consenso de Washington, em todos escalões do governo, pelos neopentecostais, a Petrobrás volta-se para o passado, para a energia dos ventos, solar, ao invés de agir como suas concorrentes, investindo na fusão nuclear: ENI (italiana), EDF (francesa) e Chevron (estadunidense).

A verdadeira transição energética não nos leva para o passado mas para o futuro. Este não é, no entanto, nem mesmo o discurso do presidente da Petrobrás, nem o do Brasil.

Voltando ao século XIX, estamos também restaurando a escravidão, agora na modalidade do uber, na farsa do microempreendedor individual, do trabalho sem salário, sem horário, sem repouso remunerado, férias ou qualquer direito trabalhista. E vendo se aproximar o fim das aposentadorias e pensões, o fim da previdência social.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, foi membro do Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), é atual presidente da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás.