Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Ministro Lewandowski suspende despacho do MEC contra comprovante de vacina em instituições federais de ensino

Sexta, 31 de dezembro de 2021

Na decisão, o ministro afirmou que as instituições federais de ensino têm autonomia para decidir sobre a exigência de comprovantes de vacinas no retorno das aulas presenciais.

Do STF

O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta sexta-feira (31) a suspensão do despacho do Ministério da Educação, de 29 de dezembro de 2021, que proibiu a exigência de vacinação contra a covid-19 como condicionante ao retorno das atividades acadêmicas presenciais em instituições federais de ensino. O ministro deferiu tutela de urgência formulada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 756.

Em sua decisão, o ministro Lewandowski afirmou que as instituições em ensino superior têm autonomia e podem exigir a comprovação de vacinação. “As instituições de ensino têm, portanto, autoridade para exercer sua autonomia universitária e podem legitimamente exigir a comprovação de vacinação”, destacou.

POETA GAMENSE LANÇA O SEU PRIMEIRO LIVRO

Sexta, 31 de dezembro de 2021


Joaquim Rodrigues estreia com “CARVOREIROS: Uma Infância Perdida”

Por Juan Ricthelly
A escravidão foi formalmente abolida do Brasil em 13 de maio de 1888, para a nossa vergonha histórica, fomos o último país do mundo a proibir essa prática, que era a base de uma economia essencialmente escravocrata, tanto que o seu fim foi um fator decisivo para a retirada do apoio das elites à monarquia da dinastia Bourbon de Orléans e Bragança.

A República chegou em 1889 com suas promessas de modernidade, mudanças, transformações e a construção de uma nação com ordem e progresso, de lá para cá, algumas coisas realmente mudaram, outras nem tanto, dentre elas a mentalidade escravocrata que ainda persiste.

Só no mês de dezembro desse ano, duas situações de pessoas em condições de trabalho análoga à escravidão foram descobertas em nossa região, no começo do mês, 12 trabalhadores foram libertados de carvoarias em Luziânia e Cristalina, no Natal, mais 10 em uma lavoura de hortaliças no Gama, alguns meses antes, uma centena, em fazendas ligadas à fabricante de cigarros de palha Souza Paiol... E isso em um ano onde o Governo Bolsonaro cortou 41% da verba destinada para o combate ao trabalho escravo.

Se essas situações acontecem tão próximo à capital do país, o que não deve estar oculto nas entranhas do Brasil profundo?

E é nesse contexto que Joaquim Rodrigues (53 anos), lança o seu primeiro livro, “CARVOEIROS: Uma Infância Perdida” pela Editora Viseu, que conta a história de dois garotos de realidades sociais distintas, um de Brasília, em férias na fazenda dos avós no interior, o outro que vivencia a rotina cruel do trabalho infantil numa carvoaria.

Segundo o próprio autor, tudo começou em 2003 quando participou de um curso de serigrafia, que era parte de um Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, onde nasceu o poema Uma Infância Perdida, que foi a centelha inicial do livro que agora se torna realidade.

Joaquim Batista Rodrigues nasceu na cidade de Paracatu, Minas Gerais, em 30 de junho de 1968. Residente em Brasília desde 1977, pai de Antônio Carlos e Ana Carolina, formado em Letras, é escritor, artista plástico, ator, empreendedor no ramo de propaganda visual. Em 1982 escreveu seu primeiro poema intitulado Plenilúnio, foi quando descobriu seu talento para a poesia e nunca mais parou, atualmente escreve poemas, contos, crônicas e romances. Poeta atuante em saraus pelo Distrito Federal, participou da coletânea Um Gama de Poesias – uma cidade, nove poetas, com o Projeto Rabiscos Poéticos, pela Editora Poesias Escolhidas-Belo Horizonte/MG.

O trabalho infantil que é o tema central de sua primeira obra, é uma realidade infeliz ainda muito presente em nosso país, que para além das carvoarias, considera como trabalho infantil, toda e qualquer atividade econômica e de sobrevivência, remunerada ou não, praticadas por crianças ou adolescentes com menos de 16 anos, com exceção da condição de aprendiz, a partir dos 14 anos. 

Segundo dados do IBGE, em 2016, havia 2,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos nessa situação. Em 2019, esse número caiu para 1,8 milhão. E o perfil dessas crianças reflete a mentalidade escravocrata, racista e machista que estrutura a essência do que significa o nosso país, 65% das crianças nessa condição são negras, mais de 90% são meninas e 45% desempenham tarefas consideradas perigosas, por colocarem em risco a saúde, o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes.


“CARVOEIROS: Uma Infância Perdida” é uma obra realista, atual e dolorosamente próxima de nós, que reflete por meio de suas páginas uma fração importante dos problemas que precisamos enfrentar como nação e como continente, já que essa situação se repete por toda a América Latina, sendo inclusive tema da música “Canción para un niño en la calle”, resultado de uma belíssima parceria entre o grupo porto-riquenho Calle 13 e a diva argentina Mercedes Sosa. 

A defesa da infância é um valor absoluto que devemos defender a qualquer custo, todo e qualquer ser humano merece ter a sua infância respeitada, e não podemos de forma alguma admitir que ser criança siga sendo um privilégio condicionado à classe social. Brincar, sorrir, chorar de tanto rir e ter tempo de ser inocente, é um princípio inegociável, que deve ser garantido com unhas e dentes se for preciso.

Tampouco seremos um país livre, enquanto o trabalho escravo e infantil seguir fazendo parte da nossa estrutura econômica, roubando a vida de milhões de pessoas em benefício de uma minoria que segue fazendo fortuna, às custas da miséria e exploração do nosso povo.

Convidamos você a privilegiar esse querido autor de nossa cidade, e adquirir o seu livro, que já se encontra em pré-venda no site da Editora Viseu.


“A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias, é quando ainda não é demasiado tarde, quando estamos disponíveis para nos surpreendermos e nos deixarmos encantar.” MIA COUTO

Vacinar as crianças é dever do Estado brasileiro

Sexta, 31 de dezembro de 2021
                        Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Fátima Sousa*


Colocar em dúvidas a eficácia das vacinas para as crianças de 5 a 11 anos é mais um atentado contra a saúde pública/coletiva. Esta é mais uma das ordens descabidas e cumpridas pelo ministro da saúde sem nenhuma referência científica, inclusive afrontando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que aprovou a vacina Pfizer. Ele também vai de encontro dos gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) e seus conselhos, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS).

O que estamos assistindo, mais uma vez, é uma campanha contra a vacina, que salva vidas há décadas, e que, nessa pandemia, tem evitado ampliar ainda mais o número de mortes e de casos do Covid 19 no país. Faltou ao ministro a responsabilidade sanitária que exige o cargo que ocupa; faltou a honestidade científica, se colocando em (na) contramão ao mundo onde pesquisadores/cientistas, autoridades de saúde e chefes de estados de mais de 39 países a autorizaram e/ou iniciaram a vacinação em suas crianças, com a consciência sanitária de que essa é uma estratégia fundamental ao controle da pandemia, evitando assim a transmissão do vírus e das formas graves de adoecimentos e a evolução a óbitos.

Além de ficarem atentos a persistência da variante delta, do avanço da ômicron e dos cuidados que devemos ter com a segurança no retorno às aulas presenciais das crianças, sobretudo aquelas marcadas pelos vírus das desigualdades que se perfilam dia a dia na procissão dos desempregos, subempregos, insegurança alimentar e nutricional, moradias insalubres, transportes precários e pobrezas indignas, entre outros fatores da face da desumanidade, agravados pela tragédia da pandemia.

Faltou ainda ao ministro da saúde, sinceridade ao assumir que a tal consulta pública e audiências (instrumentos necessários à elaboração das políticas públicas e construção de consenso) não se aplicam nessa matéria. Ao contrário, criou incertezas, pânicos junto aos pais, principalmente aqueles que negam a ciência, atentando contra a saúde dos seus filhos e da população em geral. Um ato de obediência à ignorância atrevida e um desrespeito ao juramento que fez ao se comprometer cuidar da saúde das pessoas.

Faltou com a verdade que não se trata de falta de vacinas. Deveria assumir que sequer dispõe de autoridade perante os demais gestores do SUS, que seguirão responsáveis em não seguir uma orientação estapafúrdia e que, mais uma vez, coloca em risco a legitimidade e autoridade técnico-científica do Programa Nacional de Imunização (PNI). 

Ao invés de prorrogar a campanha da vacinação para as crianças, deveria ter assumido que está desistindo de ser uma autoridade sanitária que deveria passar segurança à população em momento tão grave da saúde pública. Mas não, cumpre todas as ordens que lhe chegam de um presidente que só prestou desserviço à população, afinal o Ministério da Saúde deve orientar a nação da importância da vacinação, único caminho para seguir salvando vidas.

Ao contrário, promete que em Janeiro vai vacinar, prorrogando uma ação governamental para ontem. Amanhã, quem assegura que as crianças não vão adoecer ou morrer? Um verdadeiro desmantelo. Ainda bem que existem servidores públicos vigilantes que defendem o PNI, o SUS, a vida e saúde da população brasileira mesmo em meio a um caos que agora alcança diretamente nossas crianças.

Não podemos esquecer que atitude dessa natureza contribui, cada vez mais, para a ampliação do movimento anti vacina, permitindo às autoridades do Governo Federal induzirem as mães a não deixarem seus filhos serem vacinados e assim desacreditarem nas decisões sobre os rumos do PNI, historicamente respeitado no Brasil e no mundo pela sua agilidade e capilaridade em todos os municípios brasileiros, dos centros às periferias das cidades vacinando nossas crianças, foi e é assim que é considerando um dos maiores e mais inclusivos programas de imunização em todas as nações. Podemos citar vários dos seus benefícios, mas destaco a erradicação da varíola nos anos 80 e da poliomielite na década de 90.

Logo, os pais precisam entender a urgência da vacinação porque a pandemia ainda não acabou, e essa é a forma mais eficaz de frear a contaminação e o surgimento de novas variantes do coronavírus. Apenas a imunização em massa nos protege e diminui o risco de contágio. Que os novos ares de Janeiro nos livrem do atraso de mais uma lamentável decisão.

Fonte: https://www.fatimasousa.com/

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*Fátima Sousa
Paraibana, 4 décadas dedicada à saúde e a gestão pública; 
Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília;
Enfermeira Sanitarista, Doutora em Ciências da Saúde, Mestre em Ciências Sociais; 
Doutora Honoris Causa;
Implantou o ‘Saúde da Família’ no Brasil, depois do sucesso na Paraíba e em São Paulo capital; 
Implantou os Agentes Comunitários de Saúde;
Dirigiu a Faculdade de Saúde da UnB: 5 cursos avaliados com nota máxima;
Lutou pela criação do SUS na constituinte de 1988;
Premiada pela Organização Panamericana de Saúde, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.

Em 2022, continuaremos lutando. A Petrobrás é do Brasil

Sexta, 31 de dezembro de 2021


30 Dezembro 
Escrito por Pedro Pinho

Mensagem de Ano Novo do presidente da AEPET aos associados e colaboradores


Caros amigos, colegas e companheiros da AEPET.

Chegamos ao fim de um ano especialmente difícil para nós, para a família petroleira e para todo brasileiro patriota e nacionalista.

Fomos atacados com a incompetência e ímpeto assassino dos governantes no trato do vírus do Covid, e pelo desmembramento e alienação a capitais estrangeiros ou apátridas de nosso maior patrimônio, a Petróleo Brasileiro S.A - Petrobrás, como muitos têm em suas carteiras de trabalho.

Mas mantemos nossa capacitação profissional, tecnológica, que não pode ser assaltada, como demonstramos no final de 2021 com a perfuração do poço Monai, uma vez e um terço mais profundo do que a maior montanha da África, o Monte Kilimanjaro, e em nova fronteira exploratória (bloco ES-M-669).

Continuaremos lutando, a Petrobrás é do Brasil, não de episódicos dirigentes. Contamos com vocês e todos sabem poder confiar na AEPET. Temos uma história de conquistas e de embates, que procuramos não os desmerecer.

Desejamos a todos associados e a suas famílias, a melhor Festa de fim de ano possível, e muita disposição para prosseguir defendendo nossa Empresa e o Brasil.

Por um ano de 2022 bem melhor.

Com abraço de toda Diretoria e dos funcionários,

Pedro Pinho - Presidente da AEPET.
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Comentário do Gama Livre: Como realmente 'A Petrobrás é do Brasil', este blog Gama Livre continuará a apoiar e divulgar os textos da AEPET (Associação dos Engenheiros da Petrobrás) em defesa da Petrobrás que, na realidade é essencialmente a defesa da Nossa Pátria (Nossa, não dos que se fantasiam de patriotas, mas que são, na verdade, fieis seguidores de Joaquim Silvério dos Reis, o traidor de Tiradentes).

Os verdadeiros Patriotas são os herdeiros de lutas como as de Joaquim da Silva Xavier, o Tiradentes.

Não confundam Patriotas de verdade com pseudos, com falsos patriotas, isto é, com entreguistas. Esse tipo de "patriota" (entre aspas, tem que ser entre aspas) que defende o entreguismo da Petrobrás, da Eletrobrás, da Nuclebrás, das riquezas naturais do Brasil. Gente que defende os interesses da banca contra os interesses na Nação Brasileira.   

Gasolina fecha 2021 com alta de 46,7% em comparação com ano passado

Sexta, 31 de dezembro de 2021


No Natal, motorista pagou R$ 6,837 por gasolina e R$ 5,680 por etanol, altas de 45,17% e 53,68% respectivamente, ante igual período de 2020.

Do Monitor Mercantil
30 De Dezembro De 2021

Apesar da tendência de estabilidade, o ano termina com a gasolina e o etanol custando mais caro no bolso dos brasileiros, se comparado ao mesmo período de 2020. É o que aponta o último levantamento do Índice de Preços Ticket Log (IPTL). O mês de dezembro fechou com a gasolina custando em média R$ 6,890 nos postos de abastecimento, alta de 46,7% em relação a dezembro do ano passado, quando custava R$ 4,696. No comparativo com o mês de novembro, o combustível ficou 0,52% mais barato em dezembro, passando de R$ 6,926 para R$ 6,890, mantendo quedas identificadas na primeira quinzena deste mês.

Já o etanol, com valor médio atual de R$ 5,779, registrou acréscimo de 56,5% em relação a dezembro do ano anterior. Bem como a gasolina, o combustível vem apresentando queda desde a primeira quinzena de dezembro e o valor, que fechou novembro a R$ 5,853, baixou para R$ 5,779, uma economia de 1,26%.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

Pemex deixará de exportar petróleo em 2023

Quinta, 30 de dezembro de 2021
“Praticamente 100% do petróleo mexicano será refinado em nosso país para garantir o abastecimento de combustível”

Estatal mexicana vai refinar produto internamente.

Monitor Mercantil
28 De Dezembro De 2021


A estatal Petróleos Mexicanos (Pemex) anunciou como meta suspender suas exportações de petróleo cru até 2023 e destinar toda a sua produção ao consumo interno, informou seu diretor, Octavio Romero. Ao apresentar um programa para alcançar a autossuficiência energética, Romero explicou que a estratégia contempla uma redução das exportações de petróleo mexicano até 2022 para 435 mil barris por dia.

“Até 2023 e até 2024, praticamente toda a produção da Pemex será processada, será refinada”, disse o gerente, acompanhado do presidente Andrés Manuel López Obrador.

A capacidade de refino da Pemex aumentará com a entrada em operação da refinaria Dos Bocas, a mais importante obra de infraestrutura do governo López Obrador, iniciada em dezembro de 2018. O aumento também se deve à reabilitação das seis refinarias existentes e à incorporação do recém-adquirido Deer Park, com sede em Houston, Texas.

ADGE entrega cestas básicas para pessoas com deficiência no Gama

Quinta, 30 de dezembro de 2021

Ações de solidariedade durante pandemia deixam legado de esperança para 2021
Israel Carvalho 26 de dezembro de 2021

 
Ações de solidariedade durante pandemia deixam legado de esperança para 2021

No dia (09/12), a Associação dos Deficientes do Gama e Entorno —ADGE, em parceria com o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios— MPDFT e a Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas —VEPEMA e o Núcleo de Gênero Pró-Mulher e do Setor de Apoio a Medidas Alternativas— SEMA do Ministério Público do Gama, entregaram 100 cestas básicas e cestas natalina aos seus associados, na cidade do Gama — Distrito Federal.

A atividade respeitou as regras de distanciamento social como também do uso de álcool gel no local para higienização das mãos.

“A ideia surgiu logo no início da pandemia e conta com uma rede de apoio do MPDFT, que também vem nos ajudando com doações de recursos público para compra de cestas básicas, máscaras de proteção, material de higiene pessoal e limpeza para ADGE”, disse o presidente da ADGE, Helcio Gomes Ferreira.

Governo Bolsonaro rejeita ajuda humanitária da Argentina para vítimas de enchentes na Bahia

Quinta, 30 de dezembro de 2021

Sputnik Brasil
O governo da Bahia informou, nesta quarta-feira (29), que o governo federal dispensou uma oferta de ajuda humanitária da Argentina para vítimas das enchentes no estado.

Por meio diplomático, o governo de Alberto Fernández ofereceu o envio de uma missão internacional com dez profissionais especializados nas áreas de logística, água, saneamento e apoio psicossocial para vítimas de desastres naturais.

O governador da Bahia, Rui Costa (PT), cobrou celeridade na autorização da missão proposta pela Casa Rosada, mas não foi atendido.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

As veias abertas da América Latina — Considerações a partir do livro clássico de Eduardo Galeano

Quarta, 29 de dezembro de 2021
Da AEPET, com informações de resistir.info

29 Dezembro
Escrito por Claudio Katz

Suas palavras convocavam para a construção de um futuro de fraternidade e igualdade

As Veias Abertas da América Latina começa com uma frase que resume a essência da Teoria da Dependência. "A divisão internacional do trabalho consiste em que alguns países se especializam em ganhar e outros em perder. Nossa comarca no mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os tempos remotos"[1]. Esta breve oração oferece uma imagem concentrada e altamente ilustrativa da dinâmica da dependência. Por essa razão, foi citada em inúmeras ocasiões para retratar o status histórico de nossa região.

O livro de Galeano é um texto chave no pensamento social latino-americano, que convergiu com a formação da Teoria da Dependência e contribuiu para popularizar essa concepção. A primeira edição desse trabalho coincidiu com o auge da abordagem dependentista. Mas, em todas as suas páginas, demonstrou uma afinidade especial com a vertente marxista dessa teoria, que foi desenvolvida por Ruy Mauro Marini, Theotonio Dos Santos e Vania Bambirra. Essa visão postulou que o subdesenvolvimento latino-americano corresponde à perda de recursos gerada pela inserção internacional subordinada da região.

Galeano difundiu precocemente essa abordagem no Uruguai, e seu livro repassa a história latino-americana em chave dependentista. Ele ilustra de forma muito acabada como "o modo de produção e a estrutura de classes foram sucessivamente determinados de fora... através de uma cadeia infinita de dependências sucessivas... que nos levaram a perder até mesmo o direito de nos chamarmos americanos". Ele lembra que "como parte do vasto universo do capitalismo periférico", a região "foi submetida à pilhagem e aos mecanismos de espoliação"[2].

Essa caracterização do desenvolvimento frustrado da América Latina ligava os anos 70 a uma ampla produção historiográfica de mesmo signo. Esses estudos relacionavam os impedimentos impostos pela dependência com a repetição da expansão alcançada pela economia estadunidense. Galeano retomou uma ótica muito semelhante àquela exposta pelas pesquisas de Agustín Cueva e Luis Vitale[3].

Os alagamentos na Bahia tem sim culpados.

Quarta, 29 de dezembro de 2021

Car@ amig@, 

Vc já notou que após tantas chuvas que assolam a Bahia e outras regiões do país, como nunca visto antes, a mídia comenta exaustivamente sobre a tragédia causada sobre as populações e as cidades mas nenhuma palavra sobre as causas?

Helder Barbosa www.aldeianago.com.br 


Os alagamentos na Bahia tem sim culpados. 
Por Daiana Paris Rodríguez —Trancoso, Bahia

Demorei um tempo pra decidir escrever esse texto. São muitas ideias e sentimentos que me atravessam nesses tempos chuvosos.

Aqui no Brasil ainda se fala muito pouco sobre as mudanças climáticas. O que ouvimos são discursos "importados" e notícias de situações que nos parecem muito distantes da nossa realidade.

Em novembro aqui no litoral da Bahia sempre caem as "chuvas de verão" que refrescam e introduzem nosso bem conhecido verão baiano, retratado por selfies de festas e praias ensolaradas. Mas esse ano foi diferente. Tá tudo debaixo d'água. Muitos dos frequentadores que "amam a Bahia" não vieram. Os que vieram em suas mansões de veraneio reclamam do tempo que não deu pra bronzear. 

Enquanto isso temos casas alagadas e destruídas. Pessoas desalojadas. Comunidades isoladas. Estradas, barrancos, postes de luz, comunidades indígenas, bairros inteiros, tudo devastado. Cidades debaixo d'água. E tudo isso tem culpados, não é meramente culpa da natureza.

Para além das mudanças no clima estou falando de justiça climática. O que implica em justiça social.

O Litoral baiano, conhecido mundialmente, sofre a desenfreada especulação imobiliária. A cada ano que passa — e com um aumento apavorante nos últimos anos em que discursos governamentais incentivam e autorizam a devastação ambiental — o desmatamento cresce. 

Aqui em Trancoso e região (mas não só) imensos condomínios tomaram lugar do que eram áreas de mata, restinga e manguezal. Aterraram cursos d'água naturais e áreas em que naturalmente as chuvas fluíam e formavam lagos e riachos foram substituídas por construções. 

As cidades crescem focando no lucro dos investidores, não na mobilidade, acessibilidade e bem estar da população. Não na preservação da natureza, da cultura, dos biomas. O centro e as praias vão adquirido preços surreais. Classes operárias são obrigadas a ir para as periferias e zonas rurais, que crescem a cada dia sem planejamento, sem infraestrutura. A tal da gentrificação.

E o que isso tem a ver com os alagamentos? Tudo.

Quando chove a água precisa correr e seguir seu fluxo. Mas se o chão está impermeabilizado, se onde a água deveria se acumular existem casas, ruas, construções. Se a mata ciliar não existe mais. Se os lagos e fluxos d'água foram aterrados... É isso que acontece.

E se não existe justiça social então temos um problema de justiça climática. Um estado de calamidade. Porque são os mais pobres que estarão vivendo sem estruturas adequadas para situações de chuva intensa, em zonas de risco de alagamento. Em zonas onde talvez não devessem existir bairros, mas que é o lugar possível em todos esses processos de especulação imobiliária, gentrificação, "desenvolvimento" e "progresso" com foco no lucro e não na Vida. 

Então você que ama a Bahia, ajude a Bahia.

Ajude agora, quando é urgente.

Mas também ajude a mudar esse sistema de turismo exploratório, de destruição ambiental disfarçada de empreendimento.

Nossa terra e nosso povo não são recursos a serem explorados. São a verdadeira riqueza desse lugar e merecem ser pensados no centro antes de tudo.

Não culpe a natureza, tudo isso é consequência da ganância humana, de uma cosmovisão moderna doente.

27 dezembro 2021

Trancoso - Bahia

Daiana Paris Rodríguez

BRB dá carrinho sem bola no Mané Garrincha

Quarta, 29 de dezembro de 2021
Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna


Essa não é a primeira vez que tentam apagar da memória candanga o nome de Mané Garrincha, que por aqui também jogou vestindo a camisa do Ceub. Na gestão de Agnelo Queiroz, tudo foi feito para que o nome não prevalecesse.

Por Chico Sant’Anna

A jogada de marketing entre a Arena BSB e o Banco de Brasília – BRB, mudando o nome do estádio que homenageia o jogador Mané Garrincha para Arena BRB, equivale a uma entrada de carrinho, sem bola, pelas costas. Ação para cartão vermelho, totalmente sem fair play. Não adianta nem apelar para o VAR. Os questionamentos são de natureza legal e econômica. Pelo contrato de rebatismo, “naming rights”, o estádio receberá o novo nome a partir de 2022 e, por três anos, o BRB pagará R$ 7,5 milhões. A quantia equivale à metade do que a Arena BSB deve pagar de volta, no mesmo período, ao GDF pela concessão do estádio, do ginásio Nilson Nelson, o complexo de piscinas e o direito de construir e explorar por 35 anos um shopping aberto na área contígua ao Complexo Desportivo.

O GDF alegava que era necessário privatizar a gestão do estádio pois ele consumia muito recursos públicos, mas agora ajuda a concessionária a faturar para cobrir seus gastos. “Se fosse pra bancar com recursos públicos a rentabilidade da empresa beneficiada com a privatização do Mané Garrincha, não precisaria privatizar” – questiona a professora Fátima Sousa, que disputou o GDF com Ibaneis, em 2018

Essa não é a primeira vez que tentam apagar da memória candanga o nome de Mané Garrincha, que por aqui também jogou vestindo a camisa do Ceub.

Um novo ano de infelicidades

Quarta, 29 de dezembro de 2021

Escrito por Pedro Augusto Pinho
Qual a força desta estrutura que dura 500 anos e resiste a mudanças?

José Carlos de Assis, economista, professor, autor de dezenas de livros, membro do Conselho Editorial do Monitor Mercantil, escreveu, em 1984, livro de denúncias e de análise do Brasil num período dos governos militares, Os Mandarins da República (Anatomia dos escândalos na Administração pública: 1968–84) (Editora Paz e Terra, RJ, 1984).

Neste livro, minucioso e cuidadoso nos dados, nas análises e na identificação dos envolvidos, Assis coloca, como um tabuleiro de sustentação das desditas, a estrutura orgânica do Estado brasileiro.

Este tema, a construção do Estado Nacional, tem sido objeto de diversos artigos que, com o brilhante doutorando Felipe Maruf Quintas, temos oferecido ao debate nas páginas democráticas do Monitor Mercantil.

Qual a principal e lastimável constatação? Que temos, desde a Carta Régia trazida por Tome de Souza para instalar o governo geral na colônia brasileira (1549), a mesma estrutura de organização colonial, apenas alterada pelas condições da evolução da sociedade e das demandas da economia. Mudaram os colonizadores, mas a estrutura permaneceu.

Fazendo justiça a presidentes e à nossa história, houve dois momentos de tentativa de estruturar diferentemente o Brasil.

Petrobras processará gás para estrangeiras competirem com ela

Quarta, 29 de dezembro de 2021



Estatal brasileira ‘financia’ petroleiras multinacionais.

Do Monitor Mercantil
28 De Dezembro De 2021



A Petrobras assinou com a Shell Brasil, Repsol Sinopec Brasil e Petrogal contratos de compra e venda de gás para operações conhecidas como swap. A estatal brasileira processará o gás produzido pelas três petroleiras multinacionais e, depois, o gás é novamente disponibilizado para as empresas transportarem até seus clientes, viabilizando o acesso direto delas ao mercado.

Os contratos são os primeiros nesta modalidade e permitem que produtores nacionais antecipem o acesso ao mercado e viabilizem o início de fornecimento já a partir de 1º de janeiro de 2022. O ex-diretor da Petrobras Guilherme Estrella escreveu há alguns meses que a estatal estava sendo “financiadora” das petroleiras estrangeiras.

Em nota, a Petrobras informa que “segue adotando medidas que contribuem para o processo de abertura do mercado de gás natural, em linha com os compromissos assumidos do Termo de Compromisso de Cessação firmado com o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica], com a finalidade de alcançar um mercado aberto, competitivo e sustentável no Brasil”.



Fonte: Monitor Mercantil

CONTRASTE —Bolsonaro vai de férias a SC em meio a cheias na BA; estado tem quase meio milhão de afetados

Quarta, 29 de dezembro de 2021

Há cerca de 60 cidades debaixo d'água e 20 mortos; bancada baiana se reúne com Lira nesta terça (28) para cobrar ajuda

Cristiane Sampaio
Brasil de Fato | Fortaleza (CE)
28 de Dezembro de 2021

Bolsonaro com apoiadores em Santa Catarina durante férias no estado - @jairmessias.bolsonaro no Facebook

O presidente Jair Bolsonaro (PL) viajou, nesta segunda-feira (27), para São Francisco do Sul, no litoral catarinense, para passar o período do réveillon. A ida do chefe do Executivo à região se dá em meio à tragédia registrada na Bahia por conta das enchentes, que já afetam quase meio milhão de pessoas (471 mil ) no estado. A população local enfrenta fortes chuvas desde o começo do mês e a situação se agravou nos últimos dias, com 60 municípios debaixo d’água.

“É uma completa inversão de prioridades. Enquanto mais de 400 mil pessoas são atingidas por essa tragédia, ele está pescando. Chega a ser cruel. É a marca da crueldade, da completa falta de sensibilidade com o problema do outro. Não é porque o governador da Bahia é de outro partido que ele deveria agir assim”, contrapõe a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), ao mencionar a conhecida animosidade política entre Bolsonaro e o governador Rui Costa (PT).

Nos bastidores de Brasília, a ausência do presidente da República na região tem chamado a atenção. Parlamentares aliados do governo estariam sugerindo uma passagem do ex-capitão pelo estado durante estes dias, quando a tragédia atingiu números ainda mais alarmantes.

Segundo dados da Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec), há 31.405 desabrigados, 31.391 desalojados, 358 feridos e 20 mortos, sendo os dois últimos destes registrados nesta segunda (27). Ao todo, 116 municípios foram atingidos e 100 deles decretaram estado de emergência.

“Acho que vamos precisar de programas federais e recursos voltados a isso. A bancada baiana se dirige amanhã pra Brasília pra conversar com o presidente da Câmara pra ver se o orçamento pode ser promulgado logo, se há possibilidades de remanejamento de recursos das emendas de bancada, de relator, do que seja, pra atender as populações que estão em grave risco. É uma iniciativa suprapartidária”, afirma Alice Portugal.

Os deputados federais que representam o estado deverão se reunir presencialmente com Arthur Lira (PP-AL) pela manhã. A expectativa é de que o pepista, que é aliado de Bolsonaro, ajude a articular um socorro federal às pessoas afetadas pelas chuvas. A pressão pela edição de uma medida provisória, por exemplo, está no radar do grupo.

A ida dos presidentes da República a locais que vivem situações de emergência e crise humanitária é praxe entre chefes de Estado. Em 2017, por exemplo, Michel Temer (MDB), foi a municípios atingidos por enchentes no Rio Grande do Sul.

O mesmo ocorreu com Dilma Roussef (PT) em 2016 e 2018, quando a petista visitou cidades atingidas por inundações em São Paulo e em terras gaúchas, respectivamente. Lula (PT) também seguiu esse protocolo em distintas ocasiões, como as das fortes chuvas que afetaram Santa Catarina, Pernambuco, Piauí, e Alagoas entre os os anos de 2008 e 2010. 


“Quando houve as fortes chuvas no Extremo Sul da Bahia, precisamente em Itamaraju e Nova Alegria [no início deste mês], Bolsonaro, pela primeira vez, viajou ao município pra averiguar a situação. Lá ele —em um ato político, e não foi pra prestar solidariedade coisa nenhuma— não visitou nenhuma família ou local onde houvesse pessoas desabrigadas”, resgata o deputado Valmir Assunção (PT-BA), ao criticar a conduta do ex-capitão.

Desta vez, o presidente fez uma postagem sobre as atuais enchentes pelo Twitter. “As fortes chuvas voltaram ao sul da Bahia. Continuam na região todos os meios do governo na desobstrução de rodovias, distribuição de alimentos, resgate, antecipação do Fundo de Garantia, etc. Na região, estão os ministros da Cidadania, João Roma, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho”, disse, nesta segunda (27), sem fazer referência a uma possível ida a Bahia.

Em outra publicação virtual, o presidente postou uma bandeira do Brasil em resposta a um comunicado do Ministério da Defesa sobre a locomoção de pacientes de uma unidade de saúde em Ilhéus (BA). Novamente ele não falou sobre alguma possível ida à Bahia.


“Essa é a característica do governo Bolsonaro: não está preocupado com as pessoas, com o cidadão, a cidadã. E nós que estamos na política temos que ter essa responsabilidade. Um momento como este não é de festa, não é momento de comemorar nada. É o momento de ser solidário. Isso Bolsonaro não é, então, não é surpresa pra mim ele viajar pra Santa Catarina”, reage Valmir Assunção. 

Em entrevista ao UOL, o líder da gestão Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), amenizou a gravidade da situação no estado e disse que “o governo federal já está presente” na região por ter enviado dois ministros e tropas das Forças Armadas à Bahia.

Edição: Vinicius Segalla

Milagre da criação de empregos

Quarta, 29 de dezembro de 2021
Fidelidade aos números não é o forte do Governo Bolsonaro



28 De Dezembro De 2021


Em texto enviado a deputados do Rio de Janeiro, o ministro de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, estava tão entusiasmado com as promessas para os setores naval e de petróleo e gás que garantiu que serão construídos mais de 20 plataformas do tipo FPSO, sendo que 12 já estão em construção e 10 em vias de (opa, 12+10 não daria 22?). “Isso representa a retomada da geração empregos na indústria de petróleo e gás. Mais do que isso, é a retomada da indústria naval brasileira e a geração de mais de 600 mil empregos no Brasil só nesses últimos três anos nesses dois setores”, reafirmou o ministro.

Fidelidade aos números não é o forte do Governo Bolsonaro. Tanto pelo desmonte do setor público (caso do eSocial, substituto do Caged, que estimou haverem sido criados 142.690 vagas com carteira assinada em 2020, números que depois foi revisto para demissão de 191.500 trabalhadores), quanto pelos fake numbers, estatísticas que só existem na cabeça dos integrantes do governo.

Vamos aos números, utilizando os dados oficiais disponíveis. Somando 2019 com 2020 e 2021 (até outubro), foram criados 3.445.477 postos de trabalho com carteira assinada. Para chegar aos 600 mil propagandeados, significaria que pouco mais de 1 em cada 6 empregos foram criados nos setores naval e de petróleo. Impensável. Na sua melhor fase, na década de 2010, a indústria naval alcançou um estoque de 80 mil empregados. A Petrobras, principal empresa petrolífera, vem enxugando o quadro de funcionários. Nem se levar em consideração os empregos indiretos, e mesmo os sem carteira, a conta não passa nem perto.

Para ter uma noção melhor de como os números do ministro são descolados da ralidade, se somarmos todos os empregos com carteira gerados na área extrativa e na indústria de transformação nos 3 anos de governo, e assumindo que estejam corretos, temos 655.641. Ou seja, os “mais de 600 mil empregos” que Bento Albuquerque enxergou só nos setores naval e de petróleo e gás foram gerados em toda a indústria manufatureira. E olhe lá.


Dr. Strangelove

Muito se fala de Meryl “Trump–Bolsonaro” Streep no filme Não Olhe para Cima, mas merece atenção Peter Isherwell (representado pelo britânico Mark Rylance), uma mistura dos trilionários das empresas de tecnologia, sempre prontos a ações altruístas – só que em benefício próprio.


Rápidas

Uma viagem pelas primeiras décadas da história do Maracanã é a proposta da exposição virtual Histórias do Maracanã antigo, criada pelo Arquivo Nacional, que leva os visitantes a viajar pelas primeiras décadas de existência do Estádio Jornalista Mário Filho. São imagens das décadas de 1950, 1960 e 1970, que podem ser visitadas aqui *** A Inloop, holding do mercado imobiliário com foco na cidade de São Paulo, tem um novo diretor financeiro: Sérgio Benini.



Diretor de Redação do Monitor Mercantil

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

TRABALHO ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO NO GAMA

Terça, 28 de dezembro de 2021


10 trabalhadores foram resgatados de propriedade na zona rural do Gama na tarde de Natal

Por Juan Ricthelly

Não sei como foi o natal de vocês, espero que tenha sido bom, pois o meu foi, ao lado de pessoas que amo, com crianças brincando na sala, comida na mesa, vinho na taça, saúde… E chego a me sentir mal ao saber que não foi assim para todos, que há exatamente alguns poucos quilômetros de onde estava com minha família, 10 trabalhadores trazidos do Piauí, passaram aquela noite longe de suas famílias e nas condições mais desumanas possíveis.

Segundo informações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), os trabalhadores estavam sem água potável, alimentação, pagamento, condições de realizarem sua higiene pessoal e impossibilitados de deixarem o local, a refeição de natal deles foi arroz com farinha! Sem reclamações sobre o ponto peru, chester ou pernil, sem queixas sobre a uva passa no arroz, na maionese, no salpicão, na salada, ou na sobremesa… a ceia foi arroz com farinha!


Muitos de nós ficamos chocados ao assistir ‘Os 7 Prisioneiros’ com Rodrigo Santoro estrelando como o capataz de um ferro velho, que explorava jovens do interior e imigrantes atraídos por promessas de um bom trabalho, um salário digno e a possibilidade de ajudarem suas famílias… Era só um filme né?! Não! Não é!


A realidade é mais chocante que a ficção, pois é cruelmente real, é próxima, é aqui do lado, é na nossa cidade… Ao invés de ‘7 prisioneros’ aqui nós tínhamos 10, ao invés de um ferro velho no meio de São Paulo, era a porra de uma lavoura de hortaliças na zona rural do Gama… Que possivelmente vendia essa produção para os mercados e sacolões da região…

E a partir daqui vários questionamentos começam a pipocar na minha cabeça:

Será que alguma vez eu comprei alguma hortaliça ou qualquer outra coisa fruto de trabalho escravo do Rancho Paixão ou de qualquer outro?

Quantas vezes eu traguei um cigarro de palha da Souza Paiol enquanto contava uma piada ou história sem graça para um amigo no boteco?

Quantos churrascos eu fiz ou participei enquanto acendia a churrasqueira com o carvão de alguma carvoaria que escraviza pessoas e até crianças?

Quantas outras coisas eu comprei ou adquiri sem refletir sobre sua origem? Sobre quem são as pessoas por trás daquilo? 

E as respostas doem! Pois por mais que não saibamos, que não tenhamos noção de nenhuma dessas coisas, a verdade é que somos parte disso tudo! Pois é o nosso dinheiro, que ganhamos honestamente, que compra o alface produzido por esses 10 trabalhadores sem natal do Piauí, o cigarro de palha da Souza Paiol produzido em fazendas por pessoas nas condições mais degradantes, o carvão que rouba a vida, a saúde e infância de outros seres humanos, a roupa produzida por imigrantes bolivianos, haitianos ou venezuelanos em algum galpão imundo, sem ventilação e luz… 

O nosso dinheiro circula por aí, e muitas vezes não paga o salário das pessoas que produzem o que compramos, não vai pra previdência, pro FGTS, pro 13º salário, que não proporciona condições dignas de trabalho e vai parar na conta de algum figurão escravocrata, que vai usar esse mesmo dinheiro para apoiar politicamente pessoas que vão atacar os direitos da classe trabalhadora e defendê-los de terno e gravata. 

Precisamos urgentemente refletir sobre o nosso papel e sobre o que podemos fazer para ajudar a mudar esse cenário, onde o natal, a liberdade e a dignidade seguem sendo negados para parte considerável de nossa população.

E essas situações estão acontecendo exatamente agora, aqui mesmo! Segundo o Ministério da Economia, nos últimos 24 anos, 803 trabalhadores foram resgatados de condições de trabalho análogas à escravidão no Distrito Federal e no Entorno, e infelizmente não é a primeira vez que o Gama aparece em manchetes de jornal relacionadas a esse tipo de situação, não esqueçamos que a Justiça do Trabalho do Distrito Federal condenou a Igreja Adventista Remanescente de Laodiceia a pagar R$ 200 mil em danos morais e coletivos por submeter pessoas a esse regime desumano de exploração, numa chácara aqui da região.

E nesse natal, enquanto muitos de nós trocamos presentes ou simplesmente presenteamos nossas crianças, aqueles 10 trabalhadores passavam fome, não puderam tomar banho, vestir uma roupa limpa, sentir magia do natal, ou acompanhar as crianças discutindo sobre a existência ou não do Papai Noel… E para além deles, quantos ainda estão na mesma situação? Quantos não receberam a liberdade de presente de natal ao serem resgatados pelas autoridades na tarde do dia 25 de Dezembro?

Art. 149. Reduzir alguém à condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: 

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Enquanto o natal não for para todos, não será feliz natal!


segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Inflação alta e menor poder de compra: economista explica o 'pior dos mundos' para o Brasil em 2022

Segunda, 27 de dezembro de 2021
Sputnik Brasil

Especiais
Para Patrícia Costa, supervisora do Dieese entrevistada pela Sputnik Brasil, o governo federal errou ao propor uma política de não intervenção na economia, principalmente no âmbito das exportações, gerando um quadro de recessão para 2022.
Ao final de todo ano, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) estima e reajusta qual o valor ideal para o salário mínimo no Brasil. A pesquisa mais recente, de novembro, revelou que, em 2021, a quantia deveria ser de R$ 5.969,17.
O Congresso, entretanto, aprovou na última semana o valor de R$ 1.211,98, com apenas a correção da inflação, que deve ultrapassar os 10%. Este é o terceiro ano seguido em que o trabalhador não terá aumento real no valor do salário mínimo, o que pode agravar a condição socioeconômica dos mais vulneráveis.
Para o governo que promete uma retomada econômica e um novo ciclo de crescimento a partir de 2022, é preciso entender se o Brasil de fato está neste trilho, e como ficarão as pessoas que recebem tão pouco diante do aumento dos preços. O ministro da Economia, Paulo Guedes, acredita que o crescimento do país incluirá os mais pobres. Ele disse, em novembro, que uma recessão em 2022 só pode ser "estimada por pessimistas".

A pesquisadora Patrícia Costa, supervisora do Dieese, seria uma "pessimista" na avaliação do ministro. Em entrevista para a Sputnik Brasil, ela falou sobre a importância do salário mínimo para impulsionar o consumo e o crescimento econômico, e quais foram os erros do governo na condução da inflação. Ela entende que o cenário econômico do país para 2022 "é o pior dos mundos, com inflação alta e sem crescimento".

Onde foi que erramos?

Embora o prognóstico de Patrícia Costa, ao olhar para o quadro econômico brasileiro a partir do ano que vem, seja de grandes dificuldades (e em especial para os mais pobres), Paulo Guedes avalia que há um pessimismo exacerbado ante as avalições sobre o Brasil. Para ele, é preciso ressaltar que o país "registrará desempenho positivo do PIB (Produto Interno Bruto)".

Além disso, ainda segundo Guedes, "a alta da Bolsa de Valores indica que o mercado não levou a série uma hipótese de nova recessão no Brasil. Entramos em recessão técnica, o PIB caiu 0,1% neste trimestre. Porém, a Bolsa subiu 3%. Se alguém tivesse levado a sério que o PIB vai cair, a Bolsa não estava caindo".

A crença do ministro, na avaliação de Patrícia Costa, é equivocada. Ela disse que "o momento é muito complicado". Em seguida, apontou que o principal erro do governo de Jair Bolsonaro para agravar este cenário "foi abandonar a política de valorização do salário mínimo, que é tão importante". Ela disse ainda que "essa é uma das razões para o não crescimento da economia".
Ela avalia que a política de valorização do salário mínimo é importante porque ela sinaliza quando o rendimento dos empresários pode subir, gerando pesquisa, crescimento e investimentos.

"As famílias que ganham menos estimulam o consumo, criando mais desenvolvimento e empregos", comentou.

Paulo Guedes credita o futuro do Brasil, e o seu otimismo sobre o tema, às futuras privatizações que o governo federal pretende fazer em 2022. Ele também conta com o "poder" da chegada do Auxílio Brasil na economia, o aumento dos investimentos em infraestrutura, e os programas de contenção de gastos públicos.
Embora sua estratégia tenha sido aprovada pelo Congresso, o Brasil seguirá como 11ª maior economia do mundo em 2022, conforme previsão do relatório anual do Centro de Pesquisa para Economia e Negócios (CEBR, na sigla em inglês).

Intervenção nos preços: o dilema dos economistas

O instituto do Reino Unido considerou que, "além dos problemas nas cadeias de produção e altos preços da energia, a fraqueza da moeda do Brasil é um fator adicional de pressão na inflação". Em verdade, o real perdeu cerca de um quarto do valor desde o começo da pandemia, em 2020. Outras projeções apontam que a economia do Brasil crescerá até 1,5% em 2022, muito abaixo dos maiores países do globo.

Edifício do Banco Central, em Brasília, no dia 13 de abril de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 18.10.2021
Nível de confiança é alto, mas ainda há 'bastante incerteza' sobre ritmo de crescimento, avalia BC

Para Patrícia Costa, os erros do governo federal para que chegássemos a estes números foram muitos, porém, pesou a ausência de uma política de Estado para controlar os preços de alguns itens que são essenciais para a cadeia de abastecimento do Brasil. A pesquisadora defende uma política de intervenção nas exportações do Brasil, sobretudo para reduzir o constante aumento nos preços do alimentos.
Ela explicou que, desde 2019, o governo federal "abandou políticas que poderiam mitigar o aumento nos preços dos alimentos", em especial as ferramentas "que estimulam os estoques reguladores, assim como a agricultura familiar, apresentando uma proposta [via PEC dos Precatórios] que é fraca para o desenvolvimento deste segmento da economia".

"Estamos em um momento de ascensão de preços, principalmente de itens básicos, como gasolina, alimentação, o gás e a energia. Não há sinalização de que os alimentos terão intervenção governo federal. Portanto, teremos uma inflação ascendente em 2022", comentou a pesquisadora.



A importância do salário mínimo

A supervisora do Dieese comentou que "o governo faz um diagnóstico equivocado e trata essa inflação como problema de demanda, porque o aumento do juros joga a economia em uma recessão, e não resolve a inflação, que está associada ao aumento dos custos em geral". Com isso, explicou, "o brasileiro começa o ano como ele terminou: perdendo o seu poder de compra".

Este problema, na opinião da pesquisadora, é negligenciado pelo Ministério da Economia, que, embora esteja contente com os números da exportação de carne, soja e outras commodities, parece cruzar os braços ante ao aumento considerável da gasolina. Com isso, pequenos reajustes no salário mínimo serão inócuos no orçamento das famílias mais pobres, pois os preços continuarão subindo.

"Estamos dando em janeiro [de 2022] um reajuste passado. Ao longo do ano, o salário mínimo não foi composto pelo seu valor original e foi perdendo valor. Em dezembro, o nosso salário vale 10% a menos do que vali no início do ano. Se não houver controle da inflação, o salário continuará caindo", comentou.


Patrícia Costa apontou que, segundo dados de novembro de 2021, "a cesta básica de alimentos em Santa Catarina, a mais cara do país, custa cerca de R$ 710. Se a gente pensa que essa é a alimentação de uma família para um mês, com dois adultos e duas crianças, é preciso multiplicar essa cesta por três. Com isso, a gente chegaria na conta de R$ 2.100. Colocando outras variantes na conta das famílias, outros gastos, fica claro que isso não sabe no orçamento familiar".
Em Brasília, uma imagem da fachada do Banco Central em 18 de janeiro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 07.12.2021
Notícias do Brasil
Economista: inflação no Brasil é complexa e não se resolve apenas com taxa SELIC
A cesta básica é composta por 13 itens alimentícios e é base para o cálculo do valor do salário mínimo necessário para a sobrevivência de um trabalhador e de sua família. A alta dos preços atingiu todos os setores da alimentação e a desvalorização do real frente ao dólar foi um dos motivos que mais pressionou o indicador.
Apesar do Brasil ser um exportador de alimentos, o fato de ter uma moeda norte-americana muito valorizada faz com que o produtor queira exportar, diminuindo a oferta local. Já o que importamos, com dólar alto, também fica mais caro.

Qual o salário mínimo ideal?

Patrícia Costa explicou que o salário mínimo deveria "garantir alimentação, moradia e acesso a lazer, educação e saúde". Ele é calculado com base nos preços da cesta básica, particularmente sobre a cesta mais cara do país. A pesquisadora disse ainda que o problema é que o "salário mínimo não é importante para este governo, assim como não foi a vacinação".
Ela comentou que a gestão de Paulo Guedes "priorizou os lucros do agronegócio, e os preceitos macroeconômicos, ainda que isso tenha dado errado, pois a inflação não está equilibrada". Segundo ela, o "Brasil é o pior dos mundos, com inflação e sem crescimento", mas este quadro recessivo, vale lembrar, o Ministério da Economia ainda rejeita.
Por questões ideológicas, Paulo Guedes se opõe não apenas às intervenções do Estado nas relações entre empregadores e empregados, como também acredita que o salário mínimo prejudica os pequenos negócios, abaixa a competitividade no mercado, e reduz a quantidade demandada de trabalhadores.
Longe de qualquer consenso, o tema, como se vê, seguirá dominando a agenda política do país nos próximos anos.