Sábado, 27 de janeiro de 2018
Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna
Com traçado de Lúcio Costa, os Combinados Agro-Urbanos foram considerados, no final da década de 1980, um modelo revolucionário de reforma agrária.
Para a Urbanista, Tânia Batella, desconstituir chácaras produzindo para implantar áreas urbanas “é um absurdo!”.
Por Chico Sant’Anna
Não são só os grileiros que ameaçam o meio-ambiente no Distrito Federal. A ação do Estado enquanto empreendedor imobiliário vem reduzindo significativamente as áreas originalmente rurais da Capital Federal. Criados, em 1986, pelo governador José Aparecido, como fórmula revolucionária para assentar o homem no campo, assegurar abastecimento ao DF de hortifrutigranjeiros, frear a especulação imobiliária e preservar o meio-ambiente, os Combinados Agro-Urbanos – Caub estão ameaçados de morte. No lugar de plantações, devem brotar prédios de moradias populares. Uma população de 21 mil habitantes deve passar a morar ali. A ameaça maior recai sobre o Caub 1, no Riacho Fundo 2, próximo ao Balão do Periquito, para onde o GDF desejar levar a Etapa 3 do programa Habita Brasília.
Quando criados, os Caubs eram vistos como uma moderna proposta de reforma agrária. Em cada Caub, cem famílias eram escolhidas via seleção pública. Milhares de pretendentes participavam desse processo. O Caub 1, cuja existência está ora ameaçada, foi fundado em outubro de 1986. Iniciativa do então secretário de Agricultura, Leone Teixeira de Vasconcelos, cada Combinado era composto por lotes de 1000 m² e chácaras de 6 hectares. Os produtores rurais morariam na vila urbana, onde teriam os recursos necessários, tais como escola, comércio e serviços de saúde, e produziriam nas chácaras contíguas. O projeto urbanístico foi de Lúcio Costa. Inicialmente, o projeto visava o plantio de laranjas em 2,5 hectares da propriedade e no restante a exploração de lavouras de subsistência. Com o passar do tempo foram agregadas novas culturas, hortaliças, feijão, milho, mandioca e pecuária suína e bovina, além da criação de pequenos animais, sobretudo aves.
Com a substituição de José Aparecido por Joaquim Roriz no GDF, o projeto ficou no esquecimento e decaiu com a falta de investimentos. Mas, segundo informa a pesquisadora acadêmica Ana Clara Gonçalves Dourado, no artigo As transformações na ocupação e utilização do solo no Combinado Agro-Urbano de Brasília I, desde o início dos anos 2000, vários produtores rurais retomaram as atividades de agricultura, “hoje o Caub ressurgiu, aumentou a produção e consegue entrar em harmonia com o ambiente a sua volta”.