*João Vicente Goulart
Jango golpeado pelas “Reformas de Base”
O que
vimos ontem [24/2/2016] na votação do PLS 131 da Petrobras foi vergonhoso,
rasteiro, inoportuno com nossa história de lutas a mercê da traição
governamental da qual tínhamos esperança de resistência.
Estamos, todos aqueles que amamos o
Brasil e nossa nacionalidade, iludidos, magoados e com muita falta de
esperança, roubada no mais indigno e subterrâneo ocaso oportunista da
subtração de nossos princípios de luta, com a atitude do governo ao
negociar por debaixo do tatame a entrega do Pré-sal, e a retirada da
Petrobras do controle dos investimentos de nossas riquezas petrolíferas.
A negociação espúria, ao apagar das luzes, deixou os próprios parlamentares da base a ver navios.Navios
negreiros, navios dos anjos negros, navios das sete irmãs petroleiras
internacionais que naquele momento zarpavam e começavam a navegar a
partir de nossas costas, transportando nossas esperanças como fizeram
portugueses e espanhóis na nossa América Latina colônia. O ouro mudou de
cor, mas não mudou de dono.
Sentimo-nos traídos e pior, desamparados
por quem acreditávamos estar confiando e defendendo o patrimônio público
de nossa Pátria.
A surpresa após a votação no Senado com o
placar de 40 a 26, com duas abstenções, negociados dentro do Planalto
com a oposição na parte da tarde, retirando da Petrobras a primazia do
direito de exploração do Pré-sal, foi um ato de covardia, pois, não
precisava tanto, bastava então, entregar o governo aos grandes bancos,
aos interesses multinacionais, ao mercado ou, se quisessem aos
perdedores da eleição de 2014, para que capitaneassem essas naves junto
aos entreguistas e outros mercadores do destino nacional, terminando
de privatizar o Brasil, ou melhor, continuar a vendê-lo como fez o
príncipe guru das privatizações, FHC, lesando a Pátria, seus filhos e
descendentes, como um verdadeiro Pizarro, sangrando as “veias abertas”
de nosso povo.
Está na hora de repensar nosso destino,
nossos caminhos, reaver nossas esperanças e mergulharmos na história do
trabalhismo; reagrupar as forças, extrair de nossas raízes os exemplos
de lutas e de propostas da resistência nacional. E, para tanto, temos
direito de chão adquiridos ao longo de nossa trajetória.
Temos história de sobra para isto.
O trabalhismo propôs ao país o salário
mínimo, a CLT, o voto feminino, a organização sindical, a reforma
agraria, a reforma tributária, taxando o patrimônio das empresas, não os
assalariados. Propusemos a reforma educacional, a lei do controle das
remessas de lucros, a reforma urbana, a reforma bancaria que nenhum
outro governo se animou a tocar; já desapropriamos empresas estrangeiras
que exploravam e sugavam os trabalhadores brasileiros, já encampamos
refinarias e outorgamos o monopólio à Petrobras, tanto da extração
quanto do refino e já mostramos do que somos capazes, sem temer as
reações dos prepotentes das baionetas e dos donos do capital.
Já é hora de lembrar isto ao povo brasileiro: nossas riquezas são nossas e não de quem tenha mais.
A democracia é a arte política da maioria
de conquistar novos objetivos e não pode ser traída por interesses
pessoais imaginando a eventualidade da ruptura institucional,
arquitetada por manipulações subterrâneas em tribunais não
representativos ou eleitos.
Já sofremos golpes contra nossas
propostas, já amargamos exílio por não trair as conquistas sociais e
políticas do nosso povo. Mas continuamos a almejar a libertação de
nossos trabalhadores, donos reais de todas as riquezas desta terra
miscigenada e brasileira.
A eleição de 2018 está próxima e nós temos história, nela temos propostas e no caminho desafios.
Falta botar a coragem na rua, “nas praças que são do povo e só ao povo pertencem”, e como disse também Jango, alertando os falsos democratas:
-“"Desgraçada a democracia se tiver que ser defendida por tais democratas.
Democracia
para esses democratas não é o regime da liberdade de reunião para o
povo: o que eles querem é uma democracia de povo emudecido, amordaçado
nos seus anseios e sufocado nas suas reinvindicações.
A democracia
que eles desejam impingir-nos é a democracia anti-povo, do
anti-sindicato, da anti-reforma, ou seja, aquela que melhor atende aos
interesses dos grupos a que eles servem ou representam.
A democracia
que eles querem é a democracia para liquidar com a Petrobrás; é a
democracia dos monopólios privados, nacionais e internacionais, é a
democracia que luta contra os governos populares e que levou Getúlio
Vargas ao supremo sacrifício."
Nossa proposta deve ser clara, objetiva e
transformista, na legalidade constitucional, na doutrina que nos
orienta do positivismo, mas além de tudo ampla e nacionalista. Vamos
propor a nossa luta sem dissimulo, vamos propor a retomada e
reestatização da Vale, da Embratel, Telesp, Telemar, CEEE, CSN, BEG,
BEA, etc., etc. e de tantas outras privatarias que não caberiam neste
artigo.
A terceira via está em curso. É o trabalhismo nacionalista.
Tem
cara e tem coragem, tem história e realizações suficientes para a
retomada da Pátria, para a retomada da soberania, da dignidade, da
educação e das oportunidades iguais para todos.
Basta de conversinhas meritocratas em um país tremendamente injusto e sem igualdade de oportunidades.
Basta de discursar pelos pobres
outorgando privilégios para os barões da mídia e para banqueiros.
Fazendo concessões espúrias no apagar das luzes.
O bipartidarismo entre oposição e governo está no fim, está nas mãos do povo brasileiro em 2018, construir a terceira via.
A terceira via é a via trabalhista e nacionalista, vamos abraçar esta luta, vamos abraçar o Brasil.
Com liberdade não ofenderemos, não temeremos e muito menos compactuaremos com os direitos de nossos trabalhadores.
*João Vicente Goulart
Diretor do IPG- Instituto Presidente João Goulart