Segunda, 30 de março de 2015
A taxa de juros SELIC, a taxa base para títulos do Tesouro
Nacional já estava demasiado alta em 11.25 pontos percentuais em novembro de
2014. Após sucessivas elevações, o COPOM (Conselho de Política
Monetária), “orientado” pelo BANCO CENTRAL a elevou para 12.75 pontos
percentuais.
2. A taxa efetiva, basicamente determinada pelo cartel de
bancos credenciados como dealers desses títulos oficiais, fica, em média, três
pontos acima da taxa básica (hoje quase 16% aa.), ou ainda mais em períodos
turbulentos.
3. Tais juros – sem paralelo em países não submetidos ao
império financeiro, controlado pela oligarquia angloamericana – causam intensa
hemorragia nas finanças públicas, um de cujos efeitos é elevar a conta dos juros
a cada ano e fazer crescer incontrolavelmente o estoque da dívida.
4. Isso se dá em função da capitalização dos juros através
da emissão de novos títulos para liquidar os que vão vencendo, pois as receitas
tributárias (das quais vem o superávit primário) são, de longe, insuficientes.
5. Para uma ideia do estrago desencadeado por poucos
pontos percentuais na taxa, basta fazer simulações com a composição anual dos
juros.
6. Os juros incorporados ao principal – supondo que não se
liquidassem juros e amortizações, em dinheiro, durante 30 anos – fariam
ascender os 3 trilhões de reais, no momento, da dívida interna), para os
seguintes montantes:
1) 12% aa. = R$ 89,9 trilhões, (multiplicaria a dívida por
30);
2) 15% aa. = R$ 198,6 trilhões, (a multiplicaria por 66);
3) 18 % aa. = R$ 430,1 trilhões (a multiplicaria por 144).
7. Portanto, a cada três pontos percentuais de aumento, o
multiplicador mais que dobraria. Do jeito que vai a presente taxa efetiva (18%
aa.), a dívida atingiria quantia equivalente a US$ 143 trilhões, ou seja,
quantia igual a duas vezes a soma dos PIBs de todos os países do mundo.
8. Tenho explicado que os formadores de opinião, montados
no monopólio da comunicação social – cujo negócio é desinformar – fazem a maior
parte do público comprar a ideia de que as elevações das taxas de juros seriam
necessárias para conter a inflação dos preços.
9. As artes da desinformação incluem fazer acreditar
numa entidade misteriosa chamada “mercado”, a que se atribui exigir os
injustificáveis juros estratosféricos. Então, aos olhos do público esses juros
deixam de ser o instrumento do saqueio cometido pelo cartel dos bancos e são
imputados ao abstrato “mercado” e a supostas leis econômicas, igualmente
abstratas.
10. A armação a serviço dos concentradores financeiros
desvia a discussão do terreno dos fatos para o das teorias econômicas e
para o das doutrinas político-filosóficas.
11. A questão não é doutrinária: não são neoliberais nem
necessariamente partidários da direita os defensores e aproveitadores da política
de juros altos, tal como os da política de subsidiar trilionariamente os
carteis transnacionais.
12. Trata-se simplesmente de arrancar do Brasil quantias e
recursos naturais incalculáveis. É pirataria, assalto, extorsão, reminiscente
das proezas imperiais do século XIX, como as guerras do ópio, que o império
britânico desencadeou contra a China, de 1839 a 1842 e de 1856 a 1860.
13. O objetivo inicial dessas guerras foi deixar de pagar
em ouro (mesmo dispondo a Inglaterra abundantemente do metal proveniente do
Brasil e alhures) as importações das manufaturas produzidas na China, bem como
apropriar-se das indústrias e roubar-lhe as técnicas de produção, tal como já
havia feito na Índia.
14. Falando nesta, para produzir o ópio destinado à China,
era só explorar os trabalhadores e a terra da Índia, saqueada de 1757 a 1863,
em recursos equivalentes ao dobro dos investimentos feitos na Inglaterra,
inclusive em imóveis.
15. A Grã-Bretanha havia transformado o grosso de suas
importações da Índia em pilhagem escancarada, deixando de pagar o que quer que
fosse por elas. Vide André G. FRANK, Acumulação Mundial 1492-1789. Rio de
Janeiro, 1977, pp. 178 et segs.
16. Ao contrário do que se imagina, a Índia não era pobre
e só no Século XIX é que afundou na miséria extrema, com milhões com fome,
dormindo na rua em Calcultá. Os incautos admiradores brasileiros do império
angloamericano não percebem que, no curso atual, é para algo assim que o País
se encaminha.
17. Os juros abusivos nos títulos públicos – e mais ainda
no crédito a empresas e a pessoas físicas, bem como os espantosos subsídios às
aplicações financeiras e às empresas transnacionais – são apenas alguns dos
mecanismos montados para tornar falido o Brasil e acelerar sua dilaceração sob
as bicadas de vorazes abutres financeiros.
***
Adriano Benayon é doutor em economia
pela Universidade de Hamburgo e autor do livro Globalização versus
Desenvolvimento.