Quinta, 28 de fevereiro de 2013
Helio Fernandes
Tribuna da Imprensa
Nem seria necessário assinalar, as posições e convicções do repórter
estão aí mesmo, não de hoje mas de sempre: sou “petrobrasista” desde o
primeiro sinal de surgimento do petróleo é nosso. Só que a “minha”
Petrobras era e continua sendo inteiramente diferente.
Desde o início marquei posição com uma Petrobras estatal-total. Que
para início de conversa não teria acionistas particulares privados,
seria administrada unicamente pelo governo. O que significaria isso?
Enriquecimento duplo para o cidadão-contribuinte-eleitor, que eu já
identificava assim. Pois sem corrupção e desadministração, é impossível
ter prejuízo. O lucro certo e colossal iria então para o governo, ou
seja, para o povo. Com a segurança de preços baixos para o combustível, e
a utilização desse lucro para financiamento de empresas igualmente e
obrigatoriamente estatais, única e totalmente estatais. Fizeram
completamente o contrário.
O resultado está aí. Se a Petrobras tivesse sido fundada e preservada
da corrupção e da incompetência, não estaria sendo discutida
negativamente como está. Mas não é apenas o lucro potencial e indireto
do cidadão, que está sendo desbaratado, desperdiçado, desacreditado.
A PROPAGANDA ENGANOSA:
“LUCREM COM A PETROBRAS”
De todos os modos e formas, tentaram o cidadão, ofereceram lucro
fácil e permanente. Jogaram esse cidadão no mais vergonhoso, tumultuado e
corrupto centro de enriquecimento de uns poucos, e no empobrecimento
dos que não têm jeito de se defenderem. Tomando por base apenas 1929,
quantas crises econômicas do mundo (com o terrorismo financeiro)
surgiram de Wall Street e congêneres, e dos bancos, sempre associados ao
que existe de maior enriquecimento privilegiado?
Paul Getty, o homem que mais ganhou dinheiro nas Bolsas, não perdia
nem mesmo no auge das crises (aí ganhava mais e com mais tranqüilidade)
falava muito com jornalistas. E quando lhe perguntavam como ganhava
sempre, respondia invariavelmente: “Compro na baixa e vendo na alta”.
Não estava mentido, era assim mesmo, só precisava “estar lá dentro”.
O INDEFESÁVEL ACIONISTA
DA PETROBRAS
De tanta insistência para que adquirissem essas ações maravilhosas e
lucrativas, foram comprando. E acumulando prejuízos, que não existiriam,
se a “minha” Petrobras fosse totalmente estatal. Agora isso é
praticamente impossível, a empresa teria que ser “despopularizada”, as
ações privadas e particulares precisariam ser compradas pela Petrobras.
Qual seria o total de dinheiro necessário para transformar a
Petrobras no que deveria ter sido desde o início? Não adianta a
repetição, mas é obrigação estatal-total. E não é a preocupação apenas
com o montante de dinheiro, mas como calcular o que deveria ser pago a
cada acionista-cidadão?
Sem pesquisar muito, utilizando números que estão disponíveis. A
partir da ofensiva publicitária “compre ações da Petrobras”, elas
estavam a 52 reais. (Pode até ser mais, o valor armazenado na memória é
esse).
Agora, oscilam enbtre 15 e 17 reais. 15 as ON (Ordinárias
Nominativas, com direito a voto, que voto?), 17 as PN (Preferenciais
Nominativas, que são obrigadas a receber na frente os dividendos, que
dividendos?), mas o cálculo não pode ser feito unicamente pelo valor
atual.
Quem comprou ações há 8 anos, digamos que a 52 reais, está perdendo
nominalmente, 35 reais em cada. Mas e os lucros que poderiam obter com
outros investimentos? A popularíssima Caderneta de Poupança teria
preservado pelo menos o capital inicial e acrescentado alguma coisa. Por
mínimo que fosse, não seria menos zero.
A DISPUTA SELVAGEM PELOS
ROYALTIES DO PRÉ-SAL
Os dividendos do petróleo convencional são pagos rigorosamente aos
três estados produtores, o do Rio, Espírito Santo, São Paulo. E quase
todo dia, jornais, rádios, televisões, internet, divulgam que “a
Petrobras descobriu petróleo de alta qualidade”, nas mais diversas
localidades. E esses estados imediatamente recebem um volume maior de
compensação. É o contrato.
Ninguém briga por esses royalties do petróleo convencional, a
Petrobras não descumpre o que foi acertado. O que se discute
desvairadamente são os royalties do chamado pré-sal, que se pensava que
estaria disponível a partir de 2018-2020. Mas que agora oficialmente
passa constar do calendário a partir de 2030.
E já que estamos falando de royalties, uma revelação: esses três
estados vão entrar no Supremo, reivindicando a garantia do recebimento
dos royalties do pré-sal. Vão perder, talvez até por unanimidade, que só
não será obtida por causa dos ministros “estadualistas”.
ONDE ESTÁ O PETROLÉO
DO PRÉ-SAL?
Foi descoberto (mas ainda não extraído) a 200 quilômetros da costa.
Em áreas rigorosamente da União. Portanto, de propriedade, sem
contestação, da própria Petrobras. Sem distribuição de royalties para
nenhum estado.
Apesar da data estar anunciada para 2030, pode representar um grande
alento e progresso para a empresa, que já foi considerada a maior do
Brasi. E que hoje tem patrimônio menor até do que cervejarias.
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PS – Os acionistas particulares que foram iludidos, podem sonhar com uma recuperação financeira. Mas com 17 anos à frente?
PS2 – De qualquer maneira, temos que “revolucionar” o modelo
administrativo da Petrobras, para que acorde de uma vez, não fique
dormitando miseravelmente.