Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 31 de julho de 2021

Procura uma tarde de DOMINGO agradável? Então curta MPB, Pop Rock e Groove com Negodai no Nonato Rocks Bar, na Feira Permanente do Gama às 14 hs deste 1º dia de agosto

Sábado, 31 de julho de 2021


Tudo jóia? 👍🏾

Domingo terá música ao vivo e você é nosso convidado(a).🎼🎤

Com o repertório recheado de MPB, Pop Rock e Groove,  o cantor e compositor Negodai irá animar à tarde da galera.

🩸Local- Nonato Rocks Bar (Feira Permanente do Gama)

🗓️Data- 01 de Agosto (domingo)

⏰Horário- 14 HS

BAIXANDO A GUARDA. Covid-19: Japão tem recorde de casos com Olimpíada e Brasil sinaliza "liberou geral"

Sábado, 31 de julho de 2021

Mesmo com mundo em alerta, semana no Brasil foi marcada por anúncios de relaxamento das medidas sanitárias

Nara Lacerda —31 de Julho de 2021

Abertura e relaxamento de medidas vão na contramão do que deveria ser feito.

Embora venha registrando queda no ritmo de crescimento dos óbitos por covid-19 há quase dois meses, o Brasil encerra o mês de julho com mais mortes do que o que foi observado nos meses mais críticos do ano passado. Ainda assim, o relaxamento das medidas de prevenção é o foco atual das decisões governamentais.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Bolsonaro não é um palhaço, é um monstro. É preciso mudar a forma de reagir a Bolsonaro

Sexta, 30 de julho de 2021

Bozo, palhaço que ficou famoso mundialmente. Passou a integrar a programação da TV brasileira em 1980. - Créditos da foto: Reprodução

Brasil de Fato
João Paulo Cunha
 — 30 de Julho de 2021

Nada pior que a naturalização do mal. De repente, o que parecia inaceitável se torna habitual. Há várias circunstâncias que contribuem para essa pacificação da revolta: a repetição, o inusitado da persistência do mal e a análise viciada da realidade. É o que explica que, hoje, se acredite que a covid-19 está relativamente controlada, diferentemente do que ocorria há um ano. Acompanha-se as curvas de morte em decréscimo sem olhar o que elas ainda sinalizam de ameaça real e imediata.

Ministro Alexandre de Moraes determina retomada do trâmite de inquérito que apura suposta interferência de Bolsonaro na PF

Sexta, 30 de julho de 2021

As investigações estavam suspensas desde setembro do ano passado para aguardar julgamento de recurso da AGU.


Do STF
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou hoje (30) a imediata retomada da tramitação do Inquérito (INQ 4831) que apura declarações feitas pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro sobre suposta tentativa do presidente da República, Jair Bolsonaro, de interferir politicamente na Polícia Federal (PF).

Para o relator, em razão da recente prorrogação do prazo do inquérito por mais 90 dias e da necessidade de realização de diligências pendentes para o prosseguimento das investigações, não se justifica mais a manutenção da suspensão da tramitação determinada pelo então relator em exercício do processo, ministro Marco Aurélio (aposentado).

TJDFT aumenta condenações de acusados da “Máfia das Funerárias"

Sexta, 30 de julho de 2021

                                                   Imagem ilustrativa

Do MPDF

A 1ª Turma Criminal do TJDFT, por unanimidade, deu provimento ao recurso do MPDFT para incluir o crime de organização criminosa e falsa identidade (para um dos acusados) na sentença de 1ª instância que condenou investigados da “Operação Caronte”. Os réus haviam sido condenados pelo crime de captação ilegal de rádio restrita à polícia, para obter informações sobre falecimento de pessoas, e com isso, oferecer serviços funerários a suas famílias, incorrendo ainda no crime de indução do consumidor a erro.

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios - MPDFT, no âmbito da “Operação Caronte”, realizada para investigar a chamada “Máfia das Funerárias”, constatou que os acusados formaram um grupo criminoso para interceptar o rádio de comunicação da polícia, de maneira ilegal, e assim ter acesso a dados de pessoas recém falecidas para oferecer seus serviços.

Normativa da Funai que fragiliza proteção de terras indígenas está suspensa em 8 estados da Federação

Sexta, 30 de julho de 2021

Atuação do MPF nos estados garante integridade de áreas protegidas

Arte: Secom/MPF

O MPF considera que a instrução viola direitos constitucionais dos povos indígenas, favorece a grilagem de terras públicas e agrava conflitos agrários. Ao todo, procuradores da República ajuizaram 28 ações judiciais na 1ª instância da Justiça Federal, pedindo a suspensão da IN 09, com 19 decisões judiciais favoráveis. Atualmente, a norma da Funai está suspensa por ordens judiciais em oito estados da Federação: Pará, Mato Grosso, Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Bahia e Rio Grande do Sul, o que garante a proteção de mais da metade das terras indígenas brasileiras.O Ministério Público Federal (MPF) vem obtendo liminares na Justiça Federal que suspendem a Instrução Normativa 9, da Fundação Nacional do Índio (Funai), que alterou os critérios para a emissão de Declaração de Reconhecimento de Limites (DRL) por meio do Sistema de Gestão Fundiária (Sigef), gerido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Com a instrução, proprietários ou possuidores de terras poderiam emitir a declaração para áreas dentro do limite de terras indígenas ainda não homologadas pelo governo federal brasileiro.

DESESPERO: Bolsonaro admite não ter prova de fraudes em eleições. TSE rebate mentiras em tempo real

Sexta, 30 de julho de 2021
Ele acusou Luís Roberto Barroso (TSE), de querer impor a vitória de Lula em 2022

Brasil de Fato com informações da Redação Rede Brasil Atual
30 de Julho de 2021

Inicialmente, Bolsonaro disse que a apuração do TSE é feita de forma secreta e deveria ser pública - Evaristo Sá/AFP

Após quase três anos afirmando que fraudes impediram sua vitória ainda no primeiro turno das eleições de 2018, Jair Bolsonaro realizou nova live nas redes sociais nesta quinta-feira (29) com o anúncio de que apresentaria as provas das suas denúncias.

No entanto, ele apenas repetiu teorias que circulam há anos na internet e que já foram desmentidas anteriormente para justificar sua defesa da mudança do atual sistema eleitoral brasileiro para o voto impresso, com uma proposta de emenda em discussão na Câmara.

Além disso, Bolsonaro mudou o discurso e finalmente admitiu que não pode comprovar se as eleições foram ou não fraudadas. “Não temos prova”, disse o presidente.

Mariene de Castro - Pot-pourri ai que saudades tenho da Bahia

Sexta, 30 de julho de 2021

Por Cida Torneros

Tenho muitas histórias pra contar do que já vivi na Bahia e do quanto aquele pedaço histórico do Brasil me renasce o meu porto seguro. Isso, o Porto seguro de Cabral é tão meu quanto dele. 

A primeira vez que me senti "baioca" mistura de baiana com carioca tinha 7 anos. Meu avô português foi pra lá passear sozinho e trouxe uma pulseira com mini baianinhas penduradas. Não tirava nem pra tomar banho, ficava admirando e balançando a bijuteria até no meio das aulas da primeira série. 

Senti que aquelas bonequinhas tinham a ver com meu futuro de algum modo.

Depois, já quase adolescente, me apaixonei por Carmen Miranda e Dorival Caymmi. E na juventude, por João Gilberto e Caetano e Gil e Bethânia e Gal. 

A viagem foi adiada muitas vezes. Consegui ir com meu filho pequeno ainda duas vezes a Porto Seguro. O encantamento da Baía Cabrália, a aldeia dos índios pataxós, o gosto de Brasil descoberto em 1500.

Anos depois, sozinha, finalmente, rumei para Salvador. Que aventura maravilhosa. Dias de descoberta do Pelourinho, das igrejas, do místico Bonfim, do elevador Lacerda, da praça Castro Alves, das lembranças dos discursos que estudei de Rui Barbosa e da comida saborosa inesquecível. Praias, amizades novas, um flerte que me levou na lagoa de Abaeté e fui conhecer os Orixás iluminados na noite do Tororó.

Voltei pro Rio abençoada e certa de que iria outras vezes beber duma fonte daquela energia cruzada. Isso aconteceu em 2005 .

Retornando de um trabalho em João Pessoa, parei em Salvador pra visitar minha prima Luciana médica que tinha mudado pra lá.

Tempinhos depois fui no casamento da Lu com Saulo. E quando a primeira filha do casal Bia fez um ano, estive na festa

Ainda não consegui voltar. Bahia está no meu coração. Comemoro o 2 de julho com patriotismo.

Sigo a baianada com tietagem quase infantil. Tive a honra de conhecer Vitor Hugo Soares e escrever para o jornal a tarde, colaboro no site Bahia em Pauta.

Margareth Menezes, Mariene de Castro, os novos velhos baianos. Acompanho todos. Sou fanzoca de carteirinha do Jorge Amado e família. A fase baiana do Vinícius me encheu de orgulho.

O axé daquela terra me entranhou direto. Ai que saudades tenho da Bahia.

Cida Torneros

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Cida Torneros é jornalista aposentada e edita no Rio de Janeiro o Blog Vou de Bolinhas.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Eu e você no Congresso Nacional

Quinta, 29 de julho de 2021

Querida comunidade brasileira,

Acreditar que a união de pessoas diferentes promoverá mudanças é um dos motivos porque você recebe nossos e-mails e semana após semana, com poucos cliques, enfrentamos muitas batalhas no Brasil e no mundo. 

Pela primeira vez, tenho receio de que nossa bela diversidade seja expulsa da política.

Políticos do Centrão —aqueles que se importam apenas com poder e dinheiro— estão tentando mudar as regras da eleição para ficarem no poder e impedir que gente como a gente chegue lá. Como eu, você e seus netos e netas. Essas mudanças farão com que cerca de 30% da população decida todos os nossos representantes. Impedirão que mulheres sejam eleitas. Colocarão apenas pessoas MUITO ricas no Congresso. 

Precisamos impedir que esse sistema - o Distritão - destrua o sonho de tantas e tantos de nós, de construir um Brasil melhor, que cuide de todos e onde caiba cada um de nós. Junte-se nessa campanha para defender uma política para todos os brasileiros e brasileiras, com todas as nossas diferenças:


Cresci ouvindo meu pai dizer que poderia ser tudo que eu quisesse, até presidente. Apostei tanto nesta ideia tanto que hoje sirvo um movimento que representa tudo que acredito: pessoas que pensam diferente entre si movem e mudam o mundo quando se unem em causas comuns. E, se não agirmos, esse sonho de mudança pode acabar.

PRESIDENTE OU PRESTIDIGITADOR: O VOTO QUE PODE NÃO SIGNIFICAR DEMOCRACIA.

Quinta, 29 de julho de 2021

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/blog/jorge-pontes/so-a-terceira-via-nos-salvara-em-2022/       O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Divulgação/Divulgação


Por
Pedro Augusto Pinho*

“Poucas unidades militares têm uma reputação tão ruim quanto os pretorianos, a guarda dos imperadores de Roma, sua privilegiada (cobravam muito mais do que os legionários, e serviram menos tempo) e muitas vezes petulante escolta. O corpo, que também acompanhava o imperador em campanhas, entrando em combate como soldados, teve múltiplas funções, incluindo as de polícia secreta, espionagem e operações clandestinas (como assassinar inimigos do Estado). Foram precursores das unidades de elite e dos guarda-costas dos líderes modernos, influenciaram forças como a Guarda Suíça, a Guarda Imperial de Napoleão e as SS, e seu eco alcança até mesmo o universo de Star Wars, em cujo novo filme, Os Últimos Jedi, o líder supremo do mal conta com uma guarda pessoal inspirada diretamente neles (embora armada com espadas e lanças laser em vez de gládios e pilums)”, escreveu para El País, o jornalista catalão Jacinto Antón (Pretorianos, a força obscura por trás do trono dos imperadores romanos) a respeito de duas publicações recentes (2017) dos historiadores Guy Martyn Huchet de la Bédoyère (Praetorian: The Rise and Fall of Rome’s Imperial Bodyguard) e Arturo Sánchez Sanz (Pretorianos: La élite del ejército romano).

Também, neste artigo de 09/01/2018, lemos: “o momento mais sórdido da história da guarda (e de Roma) foi o leilão feito pelos pretorianos da dignidade imperial no ano 193, após o assassinato de Pértinax, que havia tentado colocá-los na linha, depois que na época de Cómodo tinham se acostumado a fazer o que queriam, incluindo bater em transeuntes. “Ofereceram o trono ao melhor lance, uma oferta indigna e degradante, um dos momentos em que eles e Roma foram ao fundo do poço”. Quem comprou o trono, em ascensão, foi Didio Juliano, que durou apenas 66 dias porque não pôde pagar a quantia acertada com os pretorianos”.

As armas dos pretorianos, em nossos impérios e repúblicas, nem sempre foram as de fogo, muitas vezes foram aqueles papeizinhos, pintados de verde (agora também de azul), que no “Guia do Mochileiro das Galáxias” você é informado que os terráqueos gostam muito. Porém sem esclarecer que cada dia valem menos, pois já são impressos sem lastros – e depois querem culpar os chineses (!?).

Estamos próximos da nona eleição presidencial na Nova República, sob a mesma emendada e rasgada, inclusive pelos que deveriam obrigar o respeito, Constituição de 1988, e ainda aguardamos algum projeto razoavelmente semelhante aos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) da época da “ditadura”.

Sem Projeto para o País, que seja apresentado e discutido, não apenas pelo candidato, mas por todas as forças políticas e, principalmente, estarem na fundamentação dos Partidos Políticos, cujas legendas lhe dão suporte para registro da candidatura.

Vamos então para mais uma farsa ou um ilusionista, que tivemos, por duas vezes, com grande prejuízo para o País, sem contar o último eleito, desde a primeira redemocratização, em 1945, também seguida de uma Constituição (1946): com Jânio Quadros (1960) e uma vassoura, e Fernando Collor (1989), com sua espingarda de caça aos marajás (indianos no Brasil ou homicídio?).

Mas o ano 1989, não foi apenas uma tragédia brasileira, foi também o ano do Consenso de Washington e seu nefasto decálogo que vem desfigurando as realidades nacionais e por todo mundo. Uma globalização financeira que se impõe também como nova cultura, os identitarismos que afastam parcelas das populações do legítimo interesse nacional, para buscar outras “identidades” como a mais marcante.

Veja, caro leitor, se você é perguntado, em qualquer lugar do mundo, quem você é, o que responde: bissexual?, índio pataxó?, neopentecostal? Ou informa sua nacionalidade? Mas os capitais financeiros apátridas, que residem em paraísos fiscais, têm pavor dos “nacionalismos”, gostam de dividir as nações, os países, de modo a quebrar as nacionalidades em idealizações globais, que nem mesmo são convincentes. Observe se os negros têm todos a mesma etnia em Angola ou Gana ou na Nigéria? Qual a semelhança dos iroqueses ou cherokees com os ianomâmis ou mapuches ou aimarás?

E, por favor, advogo que cada um e todos mantenham orgulho de suas culturas; mas lembrem bem de que foram principalmente os ingleses, que há séculos são dominados pelas finanças, quem mais destruíram culturas e etnias, basta ver onde o inglês é língua oficial. Na África, um amplo continente dominado por estrangeiros europeus, os idiomas locais, exceto o suaíle, não saem de dentro das casas ou da comunidade. Mas o megaespeculador plurinacional George Soros destina bilhões de dólares estadunidenses (que ele melhor do que ninguém sabe ter os dias contados) para movimentos identitários de etnias e sexuais.

Há um aspecto por demais relevante, que obriga a apresentação de projetos nacionais nas eleições do executivo e do legislativo no próximo ano: as perspectivas recém-divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), sediado na capital dos Estados Unidos da América (EUA). Examinemos com maior profundidade o que significam estas “análises” do FMI.

O FMI estava presente na formulação do Consenso de Washington (novembro de 1989), é cúmplice. E, desde então, tivemos nove “crises”, todas que resultaram em transferência de valores dos tesouros nacionais para as finanças apátridas ou na transferência de ativos rentáveis para este mesmo capital.

Recordando: 1990, no Japão, que nunca mais se reergueu; 1992, na Europa, que resultou no “Tratado Maastricht” ou “Tratado da União Europeia” que vigora desde 1º de novembro de 1993, reduzindo as soberanias nacionais que se extinguem com a adoção do euro; 1994, no México, crescendo naqueles últimos sete anos, apesar da abertura econômica, e com adesões à revolta nacionalista de Chiapas; 1997, no sudeste asiático, onde os “tigres” se industrializavam e desenvolviam tecnologias próprias; 1998, na Rússia, mais um empurrão para o desmembramento total da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS – 1991), tirando recursos da Rússia; 1999, no Brasil, para aproveitar a reeleição de Fernando Henrique Cardoso e acelerar a transferência de recursos brasileiros para o controle das finanças apátridas; 2000, nos EUA, limitar a autonomia das empresas de tecnologia digital aos interesses do sistema financeiro internacional, a “bolha da internet”; 2001, na Argentina, o governo Carlos Menem (8 de julho de 1989 a 10 de dezembro de 1999), seguidor do decálogo do Consenso de Washington, arruinou a Argentina, que resultou na declaração de insolvência. Esta “crise” buscou um compromisso e a fórmula para saudar a dívida.

A nona crise, desta amplamente aceita enumeração, exige uma reflexão sobre a evolução dos capitais financeiros após as desregulações dos anos 1980. Ela foi denominada “crise dos subprimes”, que ocorreu nos EUA e na Europa Ocidental de 2007 a 2010. A jornalista Hanna Rosin (israelense, autora de “The End of Men: And the Rise of Women”, de 2012) argumenta que os milhões de adeptos da teologia da prosperidade podem ter influenciado o problema no mercado imobiliário, que causou a crise econômica de 2008-2009. Mais divulgada, no entanto, atribui a causa à falência do tradicional banco de investimento estadunidense Lehman Brothers. E, em efeito dominó, outras grandes instituições financeiras, como a de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, atingindo a Alemanha, a França, a Áustria, os Países Baixos e a Itália, até 2010. Aqui o presidente Lula chamou de “marolinha”, o que foi geralmente denominado “tsunami”.

Podemos entender que os “capitais tradicionais”, assim os denomino para distinguir dos “capitais marginais”, têm início na Inglaterra medieval, com as Magnas Cartas do século XIII. Porém é a partir do século XVI, com a incorporação do “Novo Mundo”, que eles ganham a força econômica: constituição das Companhias das Índias, financiando as guerras anglo-holandesas e culminando com a criação do banco privado, emissor da moeda e da fixação das taxas de juros, em 1694, o Banco da Inglaterra, por séculos controlado pela família judaica Rothschild.

Os “capitais marginais”, assim designo pois andavam em armários, malas, bunkers, sua presença nos sistemas legais, formais, oficiais financeiros não era permitida. Ele tinha origem no que constituía crime: o tráfico de drogas, o comércio de pessoas e órgãos humanos, o contrabando de armas e de outros produtos rentáveis e desejáveis, porém difíceis pelas condições existentes em países e regiões, a prostituição e manutenção dos modernos pretorianos ou milicianos.

As desregulações promovidas pela Margaret Thatcher (Reino Unido) e por Ronald Reagan (EUA) absorveram no sistema legal os “capitais marginais”, que na primeira década desta oportunidade (1990-1999) testaram as vantagens e possibilidades com quatro trilhões de dólares estadunidenses.

Os “marginais” tinham sobre os “tradicionais” a imensa vantagem da liquidez, da pronta disponibilidade de dinheiro; nem estavam imobilizados nem representavam dívidas, eram “cash”, “em espécie”.  Acreditamos que a “crise de 2008-2010” representou o primeiro embate entre estes dois conjuntos de capitais financeiros, do qual não saiu um vencedor nítido (ao menos para quem está apreciando de fora), mas a possibilidade de ter sequência, esperarmos outra crise.

Ao garantir que o mundo todo terá queda nos respectivos Produtos Internos Brutos (PIBs) em 2022, o FMI, que é do ramo e participa de todas as jogadas, está mostrando que haverá uma nova rodada na disputa entre “tradicionais” e “marginais”, talvez já neste final de 2021.

Ora, para a defesa da Pátria, para um mínimo de dignidade nacional, não se pode aceitar outro representante dos interesses estrangeiros ou a manutenção de um escamoteador na condução do País. Precisamos de alguém que tenha suporte político, forme alianças de interesses nacionais e não dos capitais apátridas ou alienígenas, para explicar e convencer o povo a ter um Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), ou um Projeto Nacional Brasileiro (PNB).

Como seria este novo PNB ou PND?

As condições internacionais e nacionais dos anos 1960/1970 e de agora, pós 1991, são bastante diferentes.

O Brasil vinha de uma sequência de transformações e de crescimento, desde o pós-guerra. Esta época que os economistas da Associação Francesa de Economia Política denominaram “os trinta anos gloriosos”, de 1945 a 1975.

A destruição que o neoliberalismo promoveu na estrutura de governo, principalmente após o fim da URSS, para que pudessem ser as finanças o verdadeiro poder, obriga ser das mais urgentes metas, as providências dos 100 dias, uma nova configuração organizacional do Brasil. Algo talvez ainda mais profundo do que fez Getúlio Vargas, vencedor da Revolução de 1930, que a história batizou “Era Vargas”. E durou quase um século!

Gostaríamos de deixar claro que um projeto nacional nem é somente um trabalho intelectual, de gabinete, ainda mais de um único conjunto de especialistas, é um trabalho multidisciplinar, mas, principalmente, que exige um esforço, desde o início, de mobilização e da ampla participação popular em todas as suas etapas. É fundamentalmente um trabalho do povo e para o povo brasileiro

Vamos nos arriscar a apresentar alguns processos, algumas ideias. De início, dividiríamos o trabalho em dois conjuntos, sob gerenciamentos próprios, as questões nacionais dirigidas à SOBERANIA e as destinadas à CIDADANIA.

Quais são as questões da Soberania? Também se subdividiriam nas: 1) da Defesa Nacional, 2) da Gestão e Proteção dos Recursos Naturais, 3) do Desenvolvimento Nacional e 4) da Aplicação e Participação dos Rendimentos Nacionais. Em todas elas há, como é óbvio, o permanente e incentivado desenvolvimento científico e tecnológico.

É necessário, desde logo, excluir qualquer ideia de capitalismo de estado ou de Estado que opera todos os recursos. O papel principal do Estado é o de planejar, conforme as prioridades definidas pelo povo na sua participação direta, e orientar. Toda iniciativa privada, que não seja em área de segurança ou estratégica para defesa e desenvolvimento nacionais, é bem-vinda.

E as questões da cidadania? É o permanente e contínuo trabalho da formação da cidadania, da exclusão da pedagogia colonial, da verdadeira autonomia da pessoa humana. Constituem subdivisões da Cidadania: 1) trabalho, a garantia e proteção ao trabalho, como a forma de dar dignidade e propiciar a realização do ser humano, e, como decorrência, a previdência e a assistência social; 2) existência, as condições de saúde, de habitação e de mobilidade urbana. Como se infere destas ações, a urbanização, o saneamento básico, a interligação da saúde com o desenvolvimento das indústrias nacionais de medicamentos, vacinas, materiais hospitalares, vai demonstrar que esta estrutura tem o funcionamento sistêmico, integrado por sistemas de informação confiáveis, desenvolvidos e mantidos por empresas brasileiras; 3) consciência, que preferimos à designação habitual de educação, pois se quer dar a ideia que é desenvolvida a partir da pessoa, da cultura e perspectivas nacionais. Como se expressou, com verdadeira poesia, este grande construtor do Brasil, geógrafo e humanista Milton Santos: “o conhecimento do mundo vem do meu jardim”; 4) comunicação e vocalização. Tem-se que, sem censura mas com responsabilidade e amplamente, levar a informação a todas as pessoas. Não da forma monopolista comercial de hoje, mas também desta em conjunto com as das redes comunitárias, oficiais dos governos, e mesmo estrangeiras, com definidos tempos e participações máximas. Igualmente tem-se que garantir a todo cidadão o direito de se expressar e dialogar com o Estado, em todos os níveis, e os prestadores de serviços e produtores de bens que estejam disponíveis para todos habitantes; a esta parte denominamos vocalização; 5) participação cidadã, os incentivos para que todos os cidadãos se interessem pela vida da comunidade, do Estado onde more, do País. Devem ser desenvolvidas as estruturas e mecanismos de participação, colaboradores do bem estar geral.

Há, também, um conjunto de atividades próprias do Estado Nacional que as denominamos Garantia dos Direitos, onde se incluem as investigações e julgamentos e as repressões a distúrbios e atos pré-definidos como hostis à pessoa e à sociedade.

Concluindo, sugeriríamos considerar a divisão das competências do Estado Nacional em quatro níveis: o municipal, tratando das questões da cidadania; o estadual, tratando da garantia dos direitos; o regional, do desenvolvimento nacional e da gestão e proteção dos recursos naturais; e da união, com a defesa nacional e a aplicação e participação dos rendimentos nacionais. Parece-nos necessária a redefinição dos espaços territoriais e das populações mínimas e máximas para constituição dos municípios, para que se tornem administráveis com a máxima autonomia e disponibilidade de recursos.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado

Fonte: Site Pátria Latina

Direita e extrema-direita querem o semipresidencialismo para conter Lula.

Quinta, 29 de julho de 2021

Direita e extrema-direita querem o semipresidencialismo para conter Lula.

A história não se repete (a não ser, na conhecida lição de Marx, como farsa ou tragédia), mas no Brasil ela é recorrente, pois está no DNA da república, desde as ditaduras de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto, o recurso ao golpe de Estado, em suas múltiplas e renovadas modalidades. É o velho e castrense instrumento de que se vale a casa-grande para impor diques ao processo histórico, sempre que se lhe apresenta, ainda quando por erro de avaliação histórica, a emergência das massas, que no Brasil a burguesia anacrônica e os militares colonizados confundem, desde o século XIX, como “ameaça comunista”, fantasma sempre trazido à vida para justificar a sustentação do statu quo, naquele então a ordem derivada do escravismo colonial. Joaquim Nabuco (O abolicionismo, 1884). relata que a Sociedade Auxiliadora da Agricultura (a UDR da época) condenava como “comunista” o projeto do senador Souza Dantas, que, elaborado por encomenda do Imperador, previa a abolição da escravatura, associando-a ao acesso do liberto à terra. O projeto “comunista” do senador liberal e do monarca é de 1884! Desde sempre o cerne da vida nacional, a alma do sistema político, é a propriedade privada. Sacralizada pelo poder da terra.

Este é um país que muda e se transforma com a velocidade típica do mundo mineral.

Em 1950, a campanha contra a candidatura de Getúlio Vargas antecipou-se ao pleito. O ex-ditador, dizia a imprensa (nomeadamente O Globo, o Correio da Manhã, o Estadão e os jornais de Assis Chateaubriand) e dizia a UDN (o braço político dos militares, que por seu turno eram o braço armado do reacionarismo golpista), não podia ser candidato. Ficou famosa a sentença do jornalista e futuro deputado Carlos Lacerda, o ex-comunista que se transformou no principal líder da direita brasileira no século passado: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar” (Tribuna da Imprensa, 1º/6/1950).

Eleito Vargas, a UDN e os militares (à frente de todos o ministro da Guerra, general Canrobert Pereira da Costa), tentam impedir sua posse, alegando, sem base constitucional ou legal, a necessidade de maioria absoluta de votos para a proclamação do eleito (Getúlio, em pleito que conhecera vários candidatos, obtivera 49% dos votos, contra 30% dados ao seu principal oponente). Derrotados pelo Tribunal Superior Eleitoral, militares e civis, na caserna, nos jornais, no parlamento, procedem à desestabilização do governo. Ao cabo, instala-se a “república do Galeão” (matriz da frustrada “república de Curitiba” de nossos dias), culminando com golpe de 24 de agosto de 1954. Como se vê, cumpria-se roteiro ditado por Carlos Lacerda.

Nas eleições de 1955 a cena é a mesma, com atores renovados. Os ministros militares, em manifesto à nação, anunciam a inconveniência da candidatura do ex-governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitscheck, à presidência da república; o presidente da república, João Café filho, pede ao candidato que desista de sua candidatura “para evitar um golpe militar”. O general Juarez Távora, candidato da UDN, da direita e dos militares (como o brigadeiro Eduardo Gomes em 1946 e 1950) é derrotado, e as forças golpistas de sempre, visando a impugnar a posse dos eleitos, voltam a arguir a cediça tese da maioria absoluta, levantada antes contra Vargas. Derrotados nas urnas e no pleito judicial, políticos e militares tentam o golpe militar, frustrado pela dissidência do ministro da guerra, general Teixeira Lott.

Sem condições de conquistar o poder pelo único caminho conhecido pela democracia representativa, as eleições, a UDN e suas adjacências civis e militares passam a defender o parlamentarismo – que, no Brasil, não é um sistema de governo, mas o biombo por intermédio do qual a direita estima manter o poder apartado do humor das massas. Foi empregado como instrumento de golpe civil-militar em 1961, para impedir que a posse inevitável de João Goulart se fizesse acompanhar da plenitude dos poderes que lhe conferia o presidencialismo da Constituição de 1946, sob a qual fôra eleito em 1955 como companheiro de chapa de JK.

Hoje, o que se conhece como “centro” (um saco de gatos onde se arranham Doria, Kassab, Ciro, Amoêdo, Mandetta, Leite et caterva), proclama que a eventual candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República deve ser evitada, pois seu sucesso representará a vitória de um dos “extremismos políticos” da cena político-ideológica brasileira, e, assim, mede com a mesma régua a centro-esquerda e a extrema-direita genocida. No mesmo sentido e com os mesmos objetivos os intelectuais orgânicos do sistema. Citado em artigo na última Piauí (nº 178), o requisitado economista Giannetti adjetiva Bolsonaro e Lula (este, consabidamente uma das lideranças políticas mais conciliadoras da história desta pobre república) como “divisivos”. Porque se o ainda presidente da república e candidato à reeleição em campanha é um extremista confesso, Lula, que a ele se opõe, precisa ser, embora em seus oito anos de governo tenha revelado moderação e capacidade de diálogo à toda prova. É a lógica do autointitulado “centro” que, não mais podendo apoiar a extrema-direita, não quer apoiar a centro-esquerda, para a qual o sistema ainda faz cara feia. Há, mesmo, um candidato desse campo conservador entendendo que o ex-presidente (que, segundo as pesquisas conhecidas, lidera as preferências eleitorais) deve ceder-lhe a vez, e, entre um ataque e outro, apela pela sua desistência. Apresenta-se em pré-campanha vociferando contra Lula, e seu discurso nada fica a dever em virulência à retórica de Carlos Lacerda contra Vargas. Nem fica longe do capitão. Mas ao eleger como alvo de sua iracúndia o ex-presidente, seu ex-ministro termina por se perfilar como linha auxiliar do candidato da extrema-direita. A esta tática chama-se “remar de costas para o objetivo”.

O chamado “centro”, que, no segundo turno de 2018, podendo optar pela moderada candidatura de centro-esquerda, optou pela abominável extrema-direita, suicidando-se, corre agora de seca a meca à procura de quem, com mínimas possibilidades eleitorais, possa representá-lo, e assim conter um possível avanço eleitoral de um Lula extremamente cauteloso.

Como se vê, enquanto faltam à esquerda e à centro-esquerda engenho e arte para a arquitetura de uma frente ampla, centro, direita e extrema-direita avançam em uma coalizão eleitoral de fato.

A hipótese da eleição de Lula, porém, ronda as conjecturas de analistas e atores. Pondo as barbas de molho, direita e extrema-direita refazem as pegadas de seus antecessores para retomar a envilecida tentativa de mudança de sistema de governo. Se a eleição e posse de Lula podem se transformar em realidade, então que previamente se lhe castrem os poderes, como surrupiados foram os poderes de Jango em 1961. Posto que o pleito do parlamentarismo tout court está vedado na atual ordem constitucional pelo pronunciamento do plebiscito de 1993, que ratificou a opção pelo presidencialismo, os juristas da classe dominante inventam o mostrengo do “semipresidencialismo”.

O lamentável presidente da Câmara dos Deputados, porém, a quem foi entregue o comando da operação dessa indecência no Congresso quer ir mais a fundo, pois a fome de poder do “centrão” é insaciável. Ameaça a república com uma “reforma” do sistema político e eleitoral que ofende a ordem constitucional e despedaça a democracia representativa. É o que pretende, por exemplo, com o tal “distritão” para a eleição de deputados e vereadores, o pior sistema jamais imaginado, mediante o qual a escória política espera tão simplesmente conservar o atual controle sobre o legislativo brasileiro, pois, destruindo com os partidos, ensejando a eleição de personalidades de ocasião, desafeitas ao debate público e às questões políticas e de Estado, afasta da campanha e do parlamento a discussão programática e o debate cívico, impedindo ou dificultando ainda mais a eleição de candidatos de formação ideológica. Acaba de vez com o chamado “voto de opinião”, e cria novos “currais eleitorais”, desta feita controlados pela mídia eletrônica e pelas seitas religiosas, regadas com os recursos que o “centrão” tão bem sabe drenar dos cofres públicos.

Esta proposta tem as impressões digitais de Michel Temer, o que vale como atestado de sua peçonha. Ele a apresentou, anos passados, em reunião do conselho político de Lula, de onde sairia para a vice-presidência de Dilma Rousseff, para cumprir o papel de perjuro que havia sido traçado para Café filho, vice de Getúlio Vargas.

O enredo do misto de tragédia e farsa em cena, reservara, contudo, papel de destaque para as hoje desacreditadas forças armadas brasileiras. Coube ao general ministro da defesa sair de seus cuidados e faltar às suas responsabilidades (como fardado e como ministro) para associar-se ao capitão parvo e pulha na trama que visa, na busca do caos político, a denunciar como fraudado um pleito que ainda não se realizou. Cometendo crime de responsabilidade e atentando contra a Constituição, o general faz chegar ao presidente da Câmara, político sem limites, que não haverá eleições, ou seja, haverá golpe militar, se o Congresso não aprovar, como quer o capitão candidato, a adoção do voto impresso. Pego com a boca na botija, o general engendra capciosa nota de desmentido em que termina por afirmar o que pretendia negar, a testemunhada ameaça às instituições democráticas. Volta a defender o voto impresso e o vincula “a maior transparência e legitimidade no processo de escolha” de nossos representantes nos diversos poderes. É o repeteco, agora claramente como farsa, do tweet do general Villas Bôas, então comandante do exército, dizendo ao STF como aquela corte deveria votar para impedir, em 2018, a candidatura do ex-presidente Lula.

Não cabe ao general ministro e a nenhum general ou almirante ou brigadeiro, com comando ou não, enquanto na ativa, dar pitacos na política, ou dizer o que o Congresso deve ou não aprovar, ou como o STF deve julgar; muito menos lhes é permitido dizer, como diz o ainda ministro da defesa em sua malfadada nota, que as forças armadas cumprem a Constituição, como se pudesse dizer que não a cumprem, e muito menos pode dizer que elas sempre cumpriram com seu dever, tantas foram as que vezes em que a violentaram.

Solidariedade – Assino o artigo de Conrad Hübner Mendes, “O STF come o pão que o STF amassou”(FSP. 6/4/2021).

Roberto Amaral

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Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Cultura: profissionais cobram do GDF liberação integral dos recursos do FAC

Quarta, 28 de julho de 2021

Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna

Profissionais da área da Cultura reivindicam os editais para seleção dos projetos a serem financiados. Cerca de R$ 100 milhões estariam em caixa. Essa não é a primeira vez nessa Pandemia que eles são obrigados a pressionar o GDF. No ano passado foi a mesma luta. Foto de Luiza Garonce/G1

O GDF, dizem os artistas e produtores culturais, estaria cogitando em usar os recursos depositados no Fundo para outros fins e cobram da secretaria de Cultura e Economia Criativa, o “minucioso respeito” aos ditames da Lei 934/2017. Em especial o calendário de publicação do segundo bloco de editais referentes ao ano de 2021, da forma que está assegurado na Lei. Ela prevê que até 31 de agosto de cada ano, é lançado o segundo bloco de editais, com todo o saldo financeiro remanescente no ano em curso.

Por Chico Sant’Anna

Mais uma vez os profissionais da Cultura do Distrito Federal entram em colisão com o GDF. Movimentos de cultura, fóruns, coletivos, grupos, artistas, produtores, técnicos da cultura do DF divulgaram manifesto de repúdio “às tentativas do GDF, por meio da secretaria de Economia, de contingenciar o Fundo de Apoio à Cultura do DF, usando como base a Emenda Constitucional 109/2021. As estimativas são de que o FAC teria em caixa um montante da ordem de R$ 100 milhões.

Estão na dependência da liberação dessa verba cineastas, cantores, atores, artistas plásticos, escritores, dramaturgos, videomakers…, enfim uma gama bastante diversa de profissionais, bem como daqueles que orbitam em torno da atividade cultural. Os artistas e demais profissionais da Cultura tem no Fundo de Apoio à Cultura a principal fonte de fomento. O setor cultural é responsável por movimentar uma longa e complexa cadeia produtiva, gerando renda e empregos. Essa não é a primeira vez que os artistas e produtores culturais lutam para ver funcionar integralmente o Fundo de Apoio a Cultura. No governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) foram vários os embates.




Supremo reforça nas redes esclarecimento sobre competência conjunta da União, estados e municípios no combate à pandemia; mentira contada mil vezes não vira verdade, viu Bolsonaro?

Quarta, 28 de julho de 2021

Novo vídeo das redes sociais do STF alerta novamente para notícias falsas de que a Corte teria proibido o governo federal de atuar no enfrentamento da Covid-19.


Do STF

O Supremo Tribunal Federal (STF) lançou novo vídeo da série #VerdadesdoSTF, que busca conscientizar a sociedade sobre a importância da checagem de fatos, a fim de evitar a propagação de fake news. A peça divulgada nas redes sociais da Corte reforça o esclarecimento sobre decisão na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6341, que reconheceu a competência concorrente de estados, DF, municípios e União no combate à pandemia de Covid-19.

Notícias falsas deturpam a decisão, alegando que o Supremo proibiu o governo federal de agir no enfrentamento da pandemia. No entanto, a Secretaria de Comunicação Social do STF já havia publicado esclarecimento sobre o caso no início do ano, destacando o entendimento do colegiado. Essa e outras checagens estão publicadas na seção do portal “#VerdadesdoSTF” para alertar sobre a importância da verificação de informações suspeitas.

Na área, é possível conferir a lista com as mais recentes notícias desmentindo boatos e fake news sobre o Supremo.

Confira o vídeo:


Leia mais:

18/1/2021 - #VerdadesdoSTF: Esclarecimento sobre decisões do STF a respeito do papel da União, dos estados e dos municípios na pandemia

COM 30 ANOS DE ATRASO, UNIVERSIDADE DO DISTRITO FEDERAL SAI DO PAPEL

Quarta, 28 de julho de 2021

A UnDF estava prevista na Lei Orgânica do DF, de 1992, e no Plano Distrital de Educação (PDE) (Lei nº 5.499/2015).

Depois de três décadas de luta, o Distrito Federal cria sua primeira universidade pública distrital. Em uma cerimônia no Palácio do Buriti, na manhã desta quarta-feira (28), o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) instituíram a Universidade do Distrito Federal (UnDF) Jorge Amaury, após sanção do Projeto de Lei Complementar 34, de 2020.

A iniciativa de materializar esse projeto foi da atual presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da CLDF, deputada Arlete Sampaio (PT). Ela contou, durante seu discurso na cerimônia, que, ao ser eleita presidente da comissão, analisou os projetos em pauta e considerou que o da criação da UnDF seria fundamental. “A partir daí assumimos a responsabilidade de convocar audiências públicas para debatê-lo para que o texto enviado pelo governo pudesse ser aprimorado a partir das informações que recolhemos das várias contribuições de diversos especialistas”.

Shibata: TRF3 afasta prescrição de denúncia contra ex-agente da ditadura

Quarta, 28 de julho de 2021


Médico Harry Shibata é acusado de falsidade ideológica por omitir em laudo necroscópico sinais de tortura nos corpos de dois militantes assassinados em 1973

Trata-se das mortes de Manoel Lisboa de Moura e Emmanuel Bezerra dos Santos, que foram presos ilegalmente e cruelmente torturados entre agosto e setembro de 1973. Segundo a acusação, o episódio teve supostamente a participação de figuras destacadas entre os oficiais responsáveis pela aniquilação de opositores do regime militar, como o delegado Sérgio Paranhos Fleury, o agente policial Luiz Martins de Miranda Filho e o coronel Antônio Cúrcio Neto, entre outros. Embora os óbitos tenham sido causados por intensas sessões de espancamento e uso de instrumentos de tortura, informa a denúncia que o laudo assinado por Shibata, único ex-agente da ditadura que teve algum envolvimento nessas mortes, omitiu marcas evidentes nos corpos das vítimas e apenas endossou a versão oficial forjada na época, de que os militantes haviam sido mortos após troca de tiros com agentes das forças de segurança.Acolhendo recurso do Ministério Público Federal (MPF), o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) reconheceu não haver prescrição da pretensão punitiva do Estado, em crime de falsidade ideológica cometido por ex-agente da ditadura militar. A decisão ocorreu em denúncia contra o médico legista Herry Shibata, por elaborar laudos necroscópicos falsos que esconderam sinais de tortura de dois militantes políticos assassinados pelos órgãos de repressão.

Deputada evangélica sobre aliança de igrejas com Bolsonaro: "Falta de conhecimento e fanatismo"

Quarta, 28 de julho de 2021

Deputada avalia cenário nacional e avalia gestão do prefeito de Petrolina Miguel Coelho (MDB) - Roberto Soares/Alepe


Pernambucana, Dulcicleide defende Estado laico, cotas, feminismo e quer o PT empenhado na conquista dos evangélicos

Vinícius Sobreira
Brasil de Fato | Recife (PE)

As pesquisas eleitorais de 2018 e as pesquisas de avaliação do governo Bolsonaro nos últimos anos revelaram que os adeptos do protestantismo cristão são os mais “fiéis” ao presidente Jair Bolsonaro.

Não é raro que lideranças de igrejas evangélicas se manifestem publicamente em defesa de Bolsonaro e de suas pautas, sendo contrários à vacinação contra a covid-19 e favoráveis a tratamentos ineficazes. Composto majoritariamente por denominações neopentecostais, esse grupo tem grande influência nas classes C e D. Na contramão desse cenário, no entanto, também em 2018 foi eleita, em Pernambuco, a deputada estadual Dulcicleide Amorim, cristã-protestante e petista.

Dulci, como é mais conhecida, recebeu 22,3 mil votos e conquistou seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). Na entrevista concedida ao Brasil de Fato Pernambuco, Dulcicleide disse que considera o alinhamento dos evangélicos com Bolsonaro uma soma de falta de conhecimento com fanatismo religioso. Confira a entrevista:

terça-feira, 27 de julho de 2021

Luedji Luna: “O amor é fundamental para reconstrução da nossa humanidade”

Terça, 27 de julho de 2021

Luedji fala sobre a trajetória, novo trabalho com literatura e faz reflexões da afetividade da mulher negra presentes no álbum "Bom é Estar Debaixo D'Água" - Danilo Sorrino


OUÇA E ASSISTA
Luedji Luna: “O amor é fundamental para reconstrução da nossa humanidade”

A cantora e compositora baiana traz reflexões sobre a afetividade da mulher negra, suas referências e trajetória

Marina Duarte de Souza, Isa Chedid e José Eduardo Bernardes
27 de Julho de 2021
Amor é essencial às mulheres negras para construir um outro imaginário onde possamos superar a dor

No Brasil de Fato Entrevista desta semana tem a presença da cantora e compositora baiana Luedji Luna, que, para além de fazer ecoar a voz das mulheres negras na música, traz mais uma marca como escritora, desta vez, na literatura. Luedji é uma das colaboradoras na obra Quilombellas Amefricanas, Coletânea Poética, em dois volumes, organizada por Ana Rita Santiago, Cláudia Santos e Mel Adún — lançados pela Editora Ogum’s Toques, no final de junho.

Luedji começou a escrever ainda na adolescência, para se expressar no mundo e fazer escoar, em catarse, as dores que sentia com o racismo sofrido em silêncio num colégio particular. Aos 17 anos, a escrita se tornou canção e ela se transformou na artista que canta as próprias letras. Da referência dessa criação, veio o convite para ser parte da coletânea, que reúne mais 22 narrativas de mulheres "amefricanas".

“Conceição Evaristo (escritora e linguista) tem uma expressão que eu acho que diz muito sobre a escrita que eu faço, a música que eu faço e eu acho que diz muito sobre a narrativa das mulheres negras de um modo geral, que é a palavra escrevivência. É impossível ter a nossa arte, a nossa escrita, a nossa produção intelectual, não atravessada pela experiência individual e coletiva ao mesmo tempo. Se eu não tivesse vivendo ali naquele período, da adolescência, um contexto de opressão, de silenciamento, talvez eu não tivesse a necessidade de escrever”, relembra a cantora.

Seja em bases sonoras ou impressas, Luedji traz reflexões sobre a afetividade das mulheres negras, marca que também se faz presente no disco gravado entre o Brasil e o Quênia, Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água.

O trabalho mais recente de Luedji fala com maturidade sobre amor, desejo e prazer como possibilidades de superação do racismo, da dor e da solidão. Entre as referências da obra estão nomes como a própria Conceição Evaristo, Marisol Moabá, Dejanira Rainha Santos Melo, Tatiana Nascimento, Nina Simone.

O álbum veio em um momento de aceitação do amor como base fundamental para reconstrução da humanidade das mulheres negras.

"Falar de amor é essencial para as mulheres negras, construir um outro imaginário e narrativa, onde a gente possa superar o racismo, a dor, a solidão. Quando se pensa em afetividade das mulheres negras, diretamente se associa à solidão das mulheres negras, que é um tema super importante, mas não é só isso. Esta experiência é diversa, plural, está ligada à dor, mas está ligada ao prazer, ao desejo diverso. Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água veio num momento muito importante, onde eu já aceitei que o amor é uma demanda."

Não à toa, o álbum faz referência à água, elemento ligado a Oxum, orixá da matriz africana ligado ao amor, à feminilidade e à maternidade, vivida recentemente pela artista.

"Tem muito esta lógica, quando você não se sente digna de ser amada e incorpora esta lógica de que mulheres negras não são amadas, você acaba estabelecendo uma relação de negação deste amor. Eu vou negar o amor, vou negar experenciar o amor, cantar, escrever de amor. Eu ressignifiquei isso e esse disco é um retrato deste momento onde eu nego a negação do amor e aceito o amor como parte fundamental para reconstrução da nossa humanidade. A primeira coisa que o racismo nos fez foi destituir essa humanidade: não se ama coisa. Então, falar de amor, escrever sobre amor, e cantar o amor é o modo também de dizer que nós somos humanas."



Confira alguns trechos da conversa:

Brasil de Fato: Luedji no teu álbum Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água, você gravou parte dele no Quênia e outra no Brasil. Como essa vivência no continente africano te influenciou nesta produção?

Luedji Luna: A África sempre foi uma busca. Eu estava atrás desta África no álbum Um Corpo No Mundo, me questionando qual daquelas Áfricas que eu pertencia, que eu poderia chamar de minha. Foi um disco com uma composição de músicos da diáspora e da África também. Tinha um músico de Cuba, um violonista que era filho de imigrantes congoleses, que era o François Muleka, tinha Rudson Daniel, que era baiano como eu, tinha o Kato Change, que acabou se tornando o produtor desse meu novo disco e que é o do Quênia, e o Sebastian Notini, sueco, radicado na Bahia, e com essa relação super estreita com a África também. 

Já nesse segundo trabalho, depois de rodar com Um Corpo No Mundo e escutando várias coisas também. Eu percebi o movimento mundial de voltar a olhar pra música moderna africana, para música contemporânea, digo até o pop. Grandes nomes da música norte-americana, por exemplo, estavam voltando o seu olhar para as grandes estrelas do continente africano. 

Tivemos aí o Black is King, da Beyoncé, Jay-Z, enfim, várias personalidades dando atenção pra esse movimento do Afrobeats, do Afrohouse africano. E eu estava ouvindo muito essa galera e estava nessa pesquisa, eu gostava do som também, de dançar, etc. 

E o Kato Change é um músico que eu conheci na Bahia, que participou de Um Corpo No Mundo e que em África trocava com todo esse pessoal, tinha de fato uma expertise para trazer essa modernidade.

Um Corpo No Mundo estava buscando uma África ancestral e o Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água eu queria trazer a África de agora. O que está acontecendo lá? Eu vou pra lá, vou ver e vou chamar o Kato, que nesses anos todos a gente estreitou nossa relação, ele veio pra turnê nacional, foi para turnê internacional e é um irmão, a gente se compreende muito bem musicalmente.

Escutar essa África nesse disco foi intencional, porque eu já estava nesse movimento de escutar muito, de buscar essa África de hoje e fui pra lá, com a banda dele [Kato], inclusive. Montei essa banda base que foi gravada toda lá no Quênia, teclado, bateria, baixo, guitarra e aqui no Brasil eu gravei a minha voz e gravei sopros, percussão. Enfim, alguns elementos que entraram depois. 

Foi uma experiência maravilhosa, eu considero já Nairóbi, meu país, amo demais aquele lugar. E o Kato acabou se tornando um parceiro pra vida.

Um Corpo No Mundo estava buscando uma África ancestral e o Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água eu queria trazer a África de agora.

É importante destacar que você, inclusive, nesse disco, privilegiou as parcerias e a equipe de trabalho é majoritariamente negra. Qual a importância disso também? 

Eu gosto muito de ser coerente, assim, né? Com o meu discurso, com a minha trajetória de vida. Eu sou filha de militantes, sou de Salvador e nunca me imaginei fazendo música de modo diferente.

O meu trabalho seja ele o artístico, seja o trabalho indireto, que é ser cantor e o tanto de coisa que a gente tem que fazer indiretamente para consolidar essa carreira de cantora, ele é afirmativo por natureza. Obviamente, tem pessoas brancas na minha equipe, mas o fundamento é esse desde o início. 

Minha produtora, gestora, assessora de comunicação, técnicos, músicos, sobretudo, que é o que em tela, todo mundo está vendo, eu faço questão de priorizar pessoas negras, mulheres também. Mas de modo geral, homens e mulheres negras me acompanhando, porque a gente nunca se questiona porque quando a gente vê uma cantora, seja preta, seja branca onde estão os músicos negros?

Para além da percussão, porque na percussão, às vezes, a gente até encontra, por que sempre quando a gente entra no set de audiovisual, de cinema, os profissionais são brancos? Por que quando a gente vai assistir uma apresentação numa banda, os músicos, os técnicos são brancos? Quer dizer que não existem esses profissionais? 

Trabalhar com pessoas negras entra dentro da lógica do afeto também.

Eu sei sim que é desleal, não sei se é culpa do artista necessariamente, mas existe é sem essa falta de iniciativa por contemplar essa cadeia negra faz com que pessoas negras não tenham tanta experiência e não consigam adquirir tanto a técnica. Mas alguém precisa arriscar, ser ponta de lança e dar esta oportunidade para que a gente construa uma cultura diferente. 

Acho que trabalhar com pessoas negras entra dentro da lógica do afeto também. Nós não estamos acostumados a nos relacionar com pessoas negras nesse lugar da hierarquia, e essa lógica da hierarquia é uma lógica que será que cabe pra comunidade negra?

Então, tem uma série de atravessamentos, trabalhar com pessoas negras tem questões, tem traumas, ego, tem um monte de coisa, mas também tem muita competência e muita vontade. E é muito bonito perceber que o meu público e as pessoas, de um modo geral, percebem que por detrás do meu trabalho tem esse viés político de abarcar o meu povo.

Eu percebo que muitas pessoas que trabalham comigo, para além de ser um cachê e ter uma relação, de fato, trabalhista, ela se apropria do trabalho. Isso é muito bonito, porque o modo que a gente está construindo essa cultura diferente, a gente também constrói uma nova maneira de trabalhar, que possa ter mais escuta, que possa ter uma comunicação menos violenta, que essa hierarquia possa ser um pouco mais mitigada, e é diferente o resultado.

Percebo que tudo que eu lanço as pessoas sentem tanto porque tem a alma de cada pessoa ali, seja músico, seja técnico, seja produção e isso é difícil de conseguir quando só se trata de dinheiro, quando é a relação que tá ali só pautada num valor econômico é muita coisa se perde pelo caminho. 

Você pode falar um pouco sobre sua ligação com Salvador, sua terra natal? Mesmo agora, morando em São Paulo, você traz a cidade no álbum e no videoclipe Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água. Como foi crescer ali e próxima da militância dos seus pais na cidade?

Salvador aparece nesse trabalho, aparece no filme, porque foi lá que eu me constituí, constituí meus amores, toda a minha subjetividade e me constituí politicamente. Salvador importa muito na minha construção como um indivíduo. 

Meus pais se conheceram num contexto de militância, seja ela partidária, seja movimento de bairros, os ambos de bairros periféricos vizinhos um do Alto das Pombas, o outro no Calabar, que eram comunidades atravessadas por uma área burguesa que era a Barra.

Então, eles se conheceram nesse movimento negro, movimento de bairro, movimento partidário ambos universitários, estudando e querendo uma vida melhor e uma sociedade melhor também.

E eu fui uma filha super planejada, desde que eles se casaram. Ao ponto de eles me darem o nome africano, eu fiquei um tempinho assim sem nome, porque tinha que ser 'o nome'. Luedji foi uma rainha do povo Lunda, que hoje compreende Angola e Congo, e eu acho que foi muito proposital ter colocado o nome de uma rainha, disputar esse imaginário, disputar, de fato, espaços de poder, uma filha que veio para disputar espaços de poder e fui criada nesta perspectiva.

Estudei em bons colégios, em todo momento vendo meu pai e minha mãe se mobilizando. Meu pai no Steve Biko, minha mãe também. Convivendo muito pequena e vendo toda todo o movimento negro de Salvador constituído, Silvio Humberto, do Steve Biko, Vilmar Reis, Valdeci Nascimento. 

Meus pais são de uma geração em que existiam poucos negros na dentro da universidade. Esses nomes todos que eu citei, foram a primeira geração da família que entrou dentro da universidade. Foi essa geração que instituiu, que lutou, construiu a política de cotas. Eu vi tudo isso acontecer muito pequena, o Ilê Aiyê, enfim, tudo aquilo acontecendo naquela cidade e vivendo a minha vida de criança, de adolescente obviamente, mas sempre com uma consciência muito já consolidada desde muito nova.

Uma filha que veio para disputar espaços de poder. Fui criada nesta perspectiva.

Quando decidi fazer música foi algo assim que pegou todo mundo de surpresa, porque meus pais eram, vêm da profissão formal, ambos funcionários públicos, que agora estão aposentados. E eu também estava me preparando pra seguir essa mesma trajetória do funcionalismo público e me peguei artista. Hoje eu percebo que pé de manga só dá manga, entendeu? Eu não posso fugir de uma história que me formou muito, que é muito constitutiva e importante, que bom e que sorte que eu tive!

Porque quando eu vim pra São Paulo, eu me deparei com muitas pessoas negras que ainda não se sabiam negras. Hoje muitas pessoas negras que só foram descobrir que eram negras já com 20 e poucos anos, já mais velho e eu tive a chance de viver em uma cidade onde ser negro estava dado praticamente, eu tenho a sorte de vim de uma família que tinha uma consciência negra muito grande e me educou para ser, praticamente, uma arma de guerra. 

Tem os prós e os contras de você ser uma criança com tanta consciência. Vvocê perde um pouco a inocência, a ludicidade. Porque meu pai era muito categórico comigo, eu assistia Xuxa, porque todo mundo assistia Xuxa, só que meu pai me fazia refletir porque não tinha nenhuma paquita negra, entendeu?

Nada era tão simples assim. Mas eu agradeço porque eu já cresci velha. Já cresci com esse olhar crítico para o mundo. Agradeço muito, porque nasci nessa família, nessa cidade. 

Eu sou uma cantora negra. Fico pensando qual era o sonho da minha avó? Qual era o sonho dos meus pais? Eles são de uma geração que fizeram o que tinha que ser feito, que era estudar e conseguir um emprego, trabalhar, cuidar dos filhos e fazer militância. Eu sou de uma geração que eu faço o que eu quero, eu vivo um sonho.

Quando eu observo minha própria trajetória eu vejo que a gente evoluiu muito enquanto movimento negro. Tudo que esta geração colhe e que a do meu filho colherá é fruto dessa luta histórica desde quando o movimento negro surgiu até as outras vertentes que foram surgindo no meio do caminho. E, sim, temos que credibilizar a militância de internet, que é tão importante quanto a militância da rua. Não quero ser tão “Poliana” assim, mas a gente está colhendo os frutos de uma luta histórica, nada mais.

Eu tenho a sorte de vir de uma família que tinha uma consciência negra muito grande e me educou para ser, praticamente, uma arma de guerra.

Edição: Rodrigo Chagas

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