Sexta, 31 de dezembro de 2021
Joaquim Rodrigues estreia com “CARVOREIROS: Uma Infância Perdida”
Por Juan Ricthelly
A escravidão foi formalmente abolida do Brasil em 13 de maio de 1888, para a nossa vergonha histórica, fomos o último país do mundo a proibir essa prática, que era a base de uma economia essencialmente escravocrata, tanto que o seu fim foi um fator decisivo para a retirada do apoio das elites à monarquia da dinastia Bourbon de Orléans e Bragança.
A República chegou em 1889 com suas promessas de modernidade, mudanças, transformações e a construção de uma nação com ordem e progresso, de lá para cá, algumas coisas realmente mudaram, outras nem tanto, dentre elas a mentalidade escravocrata que ainda persiste.
Só no mês de dezembro desse ano, duas situações de pessoas em condições de trabalho análoga à escravidão foram descobertas em nossa região, no começo do mês, 12 trabalhadores foram libertados de carvoarias em Luziânia e Cristalina, no Natal, mais 10 em uma lavoura de hortaliças no Gama, alguns meses antes, uma centena, em fazendas ligadas à fabricante de cigarros de palha Souza Paiol... E isso em um ano onde o Governo Bolsonaro cortou 41% da verba destinada para o combate ao trabalho escravo.
Se essas situações acontecem tão próximo à capital do país, o que não deve estar oculto nas entranhas do Brasil profundo?
E é nesse contexto que Joaquim Rodrigues (53 anos), lança o seu primeiro livro, “CARVOEIROS: Uma Infância Perdida” pela Editora Viseu, que conta a história de dois garotos de realidades sociais distintas, um de Brasília, em férias na fazenda dos avós no interior, o outro que vivencia a rotina cruel do trabalho infantil numa carvoaria.
Segundo o próprio autor, tudo começou em 2003 quando participou de um curso de serigrafia, que era parte de um Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, onde nasceu o poema Uma Infância Perdida, que foi a centelha inicial do livro que agora se torna realidade.
Joaquim Batista Rodrigues nasceu na cidade de Paracatu, Minas Gerais, em 30 de junho de 1968. Residente em Brasília desde 1977, pai de Antônio Carlos e Ana Carolina, formado em Letras, é escritor, artista plástico, ator, empreendedor no ramo de propaganda visual. Em 1982 escreveu seu primeiro poema intitulado Plenilúnio, foi quando descobriu seu talento para a poesia e nunca mais parou, atualmente escreve poemas, contos, crônicas e romances. Poeta atuante em saraus pelo Distrito Federal, participou da coletânea Um Gama de Poesias – uma cidade, nove poetas, com o Projeto Rabiscos Poéticos, pela Editora Poesias Escolhidas-Belo Horizonte/MG.
O trabalho infantil que é o tema central de sua primeira obra, é uma realidade infeliz ainda muito presente em nosso país, que para além das carvoarias, considera como trabalho infantil, toda e qualquer atividade econômica e de sobrevivência, remunerada ou não, praticadas por crianças ou adolescentes com menos de 16 anos, com exceção da condição de aprendiz, a partir dos 14 anos.
Segundo dados do IBGE, em 2016, havia 2,1 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos nessa situação. Em 2019, esse número caiu para 1,8 milhão. E o perfil dessas crianças reflete a mentalidade escravocrata, racista e machista que estrutura a essência do que significa o nosso país, 65% das crianças nessa condição são negras, mais de 90% são meninas e 45% desempenham tarefas consideradas perigosas, por colocarem em risco a saúde, o desenvolvimento dessas crianças e adolescentes.
“CARVOEIROS: Uma Infância Perdida” é uma obra realista, atual e dolorosamente próxima de nós, que reflete por meio de suas páginas uma fração importante dos problemas que precisamos enfrentar como nação e como continente, já que essa situação se repete por toda a América Latina, sendo inclusive tema da música “Canción para un niño en la calle”, resultado de uma belíssima parceria entre o grupo porto-riquenho Calle 13 e a diva argentina Mercedes Sosa.
A defesa da infância é um valor absoluto que devemos defender a qualquer custo, todo e qualquer ser humano merece ter a sua infância respeitada, e não podemos de forma alguma admitir que ser criança siga sendo um privilégio condicionado à classe social. Brincar, sorrir, chorar de tanto rir e ter tempo de ser inocente, é um princípio inegociável, que deve ser garantido com unhas e dentes se for preciso.
Tampouco seremos um país livre, enquanto o trabalho escravo e infantil seguir fazendo parte da nossa estrutura econômica, roubando a vida de milhões de pessoas em benefício de uma minoria que segue fazendo fortuna, às custas da miséria e exploração do nosso povo.
Convidamos você a privilegiar esse querido autor de nossa cidade, e adquirir o seu livro, que já se encontra em pré-venda no site da Editora Viseu.
“A infância não é um tempo, não é uma idade, uma coleção de memórias, é quando ainda não é demasiado tarde, quando estamos disponíveis para nos surpreendermos e nos deixarmos encantar.” MIA COUTO