Hoje pela manhã a corte suprema do Reino Unido anunciou sua
decisão a favor da extradição de Julian Assange para a Suécia, onde é
investigado por crimes sexuais. Mas a batalha ainda não acabou.
A advogada de Julian, Dinah Rose, tem 14 dias para pedir uma última
revisão da decisão. O caso já se arrasta na justiça britânica há um ano e
meio - durante todo este período, Julia está em prisão domiciliar,
podendo sair apenas durante o dia. Ele ainda é obrigado a usar uma
tornozeleira eletrônica que monitora todos os seus movimentos. Desde a
prisão domiciliar ele comanda um programa de entrevistas com pensadores, políticos e ativistas para o canal estatal russo RT, The World Tomorrow.
A Pública conversou com Kristinn Hrafnsson, porta-voz do WikiLeaks, sobre a decisão de hoje:
Como foi recebida a decisão da Corte Suprema?
Há sentimentos misturados na equipe. Ficamos desapontados com a
derrota, mas os advogados ficaram surpresos com os argumentos
utilizados, que eram totalmente novos e não haviam sido usados durante
as audiências anteriores. Foram 5 juízes a favor (da extradição) e 2
contra. Os favoráveis se basearam na Convenção de Viena sobre a Lei dos
Tratados, mas este ponto não havia sido discutidos. É uma decisão
surpreendente e interessante, porque é uma combinação da legislação
europeia com a decisão do parlamento britânico.
Como assim?
O que os juízes disseram é que quando o acordo do tratado de
extradição europeu (European Arrest Warrant) foi assinado, os
parlamentares não entenderam a contradição entre as leis. Pela lei
britânica, um procurador não é visto como uma autoridade judicial. É uma
grande surpresa do ponto de vista legal, e muito interessante.
Quais as consequências legais para outros casos semelhantes?
Em geral, isso significa que um procurador pode pedir a extradição de
alguém que está sendo investigado por um crime, mesmo que ele não
esteja sendo processado formalmente – é o caso do Julian. Mas eu acho
que as implicações legais não podem ser determinadas até depois destas
duas semanas, quando haverá uma decisão final. A corte suprema pode
permitir que nossos advogados contra-argumentem com base neste novo fato
(o Tratado de Viena), e isso pode alterar toda a decisão.
Por que Julian está tão empenhado em não ser extraditado? O que pode acontecer se ele for extraditado para a Suécia?
Olha, vamos ver o que acontece, passo a passo. Mas temos fortes
indícios de que os Estados Unidos podem pedir a sua extradição da
Suécia. Não há nenhum pedido formal ainda, mas sabemos, com base nos
emails vazados da empresa de inteligência Stratfor – o último vazamento
do WikiLeaks – que existe uma acusação secreta contra Julian. Essa
acusação teria sido expedida por um júri secreto que se reuniu durante
meses em Alexandria, na Virgínia. Nem a acusação nem a decisão do júri
foram apresentados ao público.
Dizem que é a possível prisão de Julian é um último golpe ao
WikiLeaks, uma organização que tem sofrido problemas financeiros desde
que os cartões de crédito suspenderam pagamentos. O WikiLeaks tem
futuro?
Se Julian for preso, temos um plano, é claro, mas não vamos discutir
isso em público. Estamos nesta batalha há quase dois anos e continuamos
aqui, continuamos vivos. Então vamos ver o que acontece. No caso dos
cartões de crédito, entramos com uma petição na Comissão Europeia contra
Visa e Mastercard na Comissão Europeia, já que eles estão fazendo um
bloqueio ilegal contra nós. Nas próximas semanas a Comissão vai decidir
se abre ou não uma investigação contra essas empresas.
Quais os próximos passos do WikiLeaks?
Ainda há alguns episódios da série World Tomorrow, e o vazamento dos
documentos da Stratfor ainda não terminou, temos 25 veículos do mundo
todo trabalhando com os documentos e estamos ampliando as parcerias.
Lançamos uma rede social, a Friends of WikiLeaks, para articular nossos
apoiadores.
E haverá mais vazamentos?
Claro! Novos vazamentos devem sempre ser esperados. Sempre temos novos projetos de publicações na fila.