Sábado, 23 de julho de 2016
Akemi Nitahara – da Agência Brasil
Movimentos sociais e organizações de direitos humanos se
mobilizaram para denunciar o que chamam de "jogos da exclusão", em
referência às violações de direitos humanos praticadas no Rio de Janeiro
desde 2007, em nome dos megaeventos esportivos que a cidade recebeu ao
longo de quase uma década. Esta semana foi lançado o Mapa da Exclusão,
que mostra onde ocorreram problemas como remoções, violações ao
trabalho, impactos ambientais, militarização de comunidades e homicídios
decorrentes de ação policial, além dos locais onde houve intervenções
urbanas e construção de equipamentos esportivos.
Integrante da
Jornada de Lutas contra os Jogos da Exclusão, Mario Campagnani explica
que o mapa é colaborativo e reúne dados de diferentes fontes, como o
Instituto de Segurança Pública (ISP), a Justiça Global e o Comitê
Popular da Copa e da Olimpíada. Segundo ele, a ideia do mapa é mostrar o
efeito negativo que os megaeventos causaram à cidade.
“Quando
você coloca esse resultado no mapa, fica bem claro como essa olimpíada é
realmente os jogos da exclusão. Você percebe como afeta uma série de
moradores das áreas mais valorizadas da cidade, ou em valorização, que
são expulsos de suas casas. Você percebe como existe uma grande
militarização das áreas pobres, que trata essa população negra e
favelada como inimiga, é uma política que você ocupa esses territórios
não pensando no benefício dos moradores desses locais, você ocupa na
verdade pensando no controle urbano dessa população”, destacou
Campagnani.
Letalidade
Ele lembra que a
letalidade da polícia também é alta na cidade. “A polícia carioca é uma
das que mais matam e mais morrem no mundo”, disse. De acordo com os
dados do ISP, de janeiro a maio deste ano, foram 322 homicídios
decorrentes de intervenção policial no estado. O número de policiais
mortos no mesmo período chega a 12. Segundo dados do instituto, na
comparação de maio deste ano com maio de 2015, houve um aumento de 135%
das mortes cometidas por policiais militares na cidade do Rio.
“Isso
não aconteceu só agora, aconteceu na Copa do Mundo, aconteceu na Copa
das Confederações. Historicamente, antes desses megaevento, o estado
mata muita gente nas favelas. A gente pode lembrar que antes dos Jogos
Panamericanos de 2007 houve a chacina do Alemão”, acrescentou
Campagnani.
Ele explica que o Mapa da Jornada de Lutas contra os
Jogos da Exclusão também será distribuído nas ruas e nos eventos que a
campanha está organizando, como manifestações, atos, debates, oficinas,
rodas de conversa e intervenções artísticas, entre os dias 1º e 5 de
agosto. “Vamos ter pessoas do Brasil inteiro para debater os efeitos
[dos jogos] e falar sobre o direito à cidade. A gente está disputando o
nosso território, é um debate político sobre os rumos da nossa cidade.”
Abertura da Olimpíada
No
dia da abertura da Olimpíada, 5 de agosto, segundo Campagnani, a
concentração será na Praça Saens Peña, que fica a menos de dois
quilômetros do Maracanã, palco do evento oficial. “Nosso objetivo é
caminhar, a gente tem uma construção política de anos de manifestações
na Praça Saens Peña, desde a época que nós manifestávamos contra a
privatização do Maracanã.”
A prefeitura foi procurada para
comentar o legado social dos Jogos Olímpicos, mas informou que isso é
responsabilidade da Empresa Olímpica Municipal (EOM), que não retornou o
caontato da Agência Brasil até a publicação da reportagem.