Segunda, 18 de julho de 2016
Do Correio da Cidadania
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por Marcelo Castañeda
por Marcelo Castañeda
Muito ainda se fala sobre o golpe. Discute-se se foi golpe ou se não
foi golpe, apenas mero jogo político. Para mim, vou repetir: foi golpe,
do PMDB sobre o PT. Não vou me alongar pois trata-se de uma discussão
cada vez mais estéril mediante a derrocada do principal partido político
que se diz golpeado, o que ficou evidente na disputa em forma de
simulacro para preencher de forma tampão a presidência da Câmara, na
qual se jogou nos braços do PMDB “golpista”, mas também no baixo
engajamento de Lula em prol de Dilma até aqui.
Como disse Tarso Genro, na tarde de quarta (13/07), no Twitter:
“se a bancada federal do PT apoiar a candidatura do PMDB à presidência
da Câmara, a diferenciação entre oposição e governo se dissolve”. A
constatação do petista traz ainda uma pretensão perniciosa: de que sem o
PT não se tem oposição institucional ao governo Temer, o que é
reforçado por muitas posturas do PSOL, que considero o único partido de
esquerda com representação no Congresso, ao estar ao lado do PT em
grande parte dos momentos, em especial os mais delicados desse partido,
como no #NãoVaiTerGolpe e na resistência ao golpe – ouso dizer de forma
mais engajada até do que o PT.
São os jogos de poder que movem o PT, com destaque para a mirada
estratégica de Lula para voltar à presidência da República em 2018,
sendo que para isso vale até mesmo sepultar Dilma. Vale a pena se tornar
oposição a Temer, mesmo que seja somente no discurso vazio do grande
líder dos pobres que resolverá todos os nossos problemas enquanto se
reúne com o mesmo Temer para tramar melhor os lances possíveis.
Dito isso, quero destacar que não podemos confundir a direção do PT
com suas bases sociais sob pena de estarmos nos afastando de possíveis
colaboradores que podem agir em prol das transformações sociais que
almejamos, ainda que essas pareçam cada vez mais distantes. Há poucos
dias, um conhecido entrou em contato dizendo se sentir idiota por estar
plenamente contra o golpe em uma ocupação e ver as posturas assumidas
pelos representantes petistas na grande política. Ninguém é idiota. Já
dizia Michel De Certeau o quanto é perigoso tomarmos os outros como
idiotas.
Para além da megalomania petista pelo poder, o golpe diário é sentido
por todos, em especial no beco sem saída de uma crise que se
intensifica e não dá sinais de recuperação, na agudização do
conservadorismo que pode ser vista na proliferação de crimes de ódio, no
descolamento do sistema político que opera numa lógica própria, na
ausência de uma organização plural capaz de fazer frente aos retrocessos
que se apresentam em vários campos. E quero chamar atenção que para
essa organização poder ser vista como “esquerda” me parece necessário,
cada vez mais, partir das bases sociais que se interpenetram e são alvos
de diferentes tipos de opressão.
O desafio para poder continuar operando como “esquerda” enquanto um
potencial de transformação passa fundamentalmente por entender que o PT
está superado como possibilidade transformadora na via institucional,
mas que as demais organizações precisam cada vez mais se arriscar fora
dos círculos do costume, dos diálogos fraternos entre iguais que se
reconhecem, a fim de se aventurar em territórios existenciais que não
manejam e não controlam, mas podem trazer, através das tensões imanentes
à sociedade, novos caminhos a se trilhar. É preciso buscar o que hoje a
esquerda não apresenta: capilaridade social. Sem isso, a tendência é se
tornar um gueto.