Tribuna da Imprensa Sindical
Roger Mcnaught
A incerteza sobre a renúncia ou não do golpista Michel temer
mantém todos apreensivos até a tarde, quando o mesmo se pronuncia alegando que
não irá renunciar. Tal pronunciamento
apenas fez com que as ruas do país todo fossem tomadas em inúmeras cidades
pedindo “Fora Temer” e “Diretas Já”.
O que seria apenas um “déjà-vu” do movimento das diretas já
dos anos 80 acabou tomando uma proporção muito além do imaginado, levando
dezenas de milhares às ruas nesta quinta-feira, após o fatídico pronunciamento
que trazia consigo um tom desafiador e arrogante.
A manifestação logo de início trouxe uma pluralidade que há
muito não se via nas ruas: Pessoas das
mais diversas correntes políticas, transeuntes, idosos, trabalhadores das mais
diversas categorias e profissionais que saíam de seus escritórios ainda em seus
ternos se somavam em uníssono pedindo eleições diretas imediatamente, em
repúdio total às infindáveis manobras do grupo político que infesta os poderes
e todos os níveis da máquina estatal brasileira desde a
“redemocratização”.
Este nefasto grupo vem periodicamente enfraquecendo o
sistema democrático, provocando instabilidades sociais e políticas regularmente
e recentemente trouxe à tona um pesadelo há muito superado: O trabalho
precarizado e a total falta de garantias legais que protejam a população do
abuso de poder econômico das empresas que mantém vínculos promíscuos com a
máquina burocrática instaurada no país.
Esta panela de pressão criada – seja por puro deboche para
com a população ou para causar instabilidade deliberada – está agora prestes a
explodir e com isso um velho ator dos cenários políticos sociais ganha espaço:
O policial sádico e truculento.
Diante de uma manifestação já quase se encerrando, bombas de
efeito (i)moral são lançadas, seguidas de bombas de gás e elastômetro, causando
correria, confusão e vários feridos.
Dentre os feridos estavam idosos que estavam no entorno da Cinelândia –
vários sequer estavam presentes na manifestação, o que não impediu a
intoxicação que levou uma senhora a quase entrar em convulsões devido à forte
inalação de gás tóxico. Outro
manifestante, ferido na perna, foi socorrido no local e houve relatos de mais
feridos, inclusive com a necessidade de atendimento hospitalar.
Após a barbárie inicial, teve início uma tradicional “caçada
humana” pelo centro do rio, em busca de manifestantes para serem detidos porém
as agressões continuaram. Um
fotojornalista que estava devidamente identificado foi alvejado por policiais
sem provocação alguma, tendo ferimentos físicos leves mas sendo ferido
gravemente em seus direitos como profissional de imprensa.
Mais uma vez, vemos a necessidade da autodefesa contra a
barbárie que se instalou no cotidiano do país, barbárie essa muito bem
representada pela polícia militar (que ainda carrega as marcas de um passado
vergonhoso onde café e cana-de-açúcar, presentes no símbolo da corporação,
marcavam o poder dos ruralistas escravagistas sobre a população indefesa) e
suas armas de gás, verdadeiras armas químicas utilizadas contra civis que
muitas vezes estão em situação de risco simplesmente por serem pobres.