Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 20 de junho de 2017

A esquerda não negocia, enrola

Terça, 20 de junho de 2017
Do Blog do Sombra
A esquerda não negocia, enrola
Não há nada mais difícil para o trabalhador negociar do que governo de esquerda. Parece um paradoxo, já que os canhotos costumam alardear que representam o proletariado, mas não é.
Por Miguel Lucena* 
A esquerda é boa e ativa quando está fora do governo. Ao assumir o aparato estatal, transforma-se, mostrando sua concepção autoritária, passando a ver como inimigo de classe – ou de seu projeto – o trabalhador que se mobiliza por melhores salários.

Como suposta representante do proletariado, a esquerda não admite que este se volte contra ela, mesmo em situação de perdas salariais, e parte para a cooptação dos dirigentes sindicais, aboletando-os no aparato estatal.

Na Bahia, o período mais difícil para os servidores públicos foi no governo Waldir Pires, que marcou a primeira derrota do grupo de Antonio Carlos Magalhães após a redemocratização do País. Houve greve de até 80 dias, sem que nada fosse resolvido ou negociado, com muita conversa e enrolação.

Em Brasília, a mesma situação foi vivida no governo Cristovam Buarque, com os professores e policiais em greves intermináveis e sem conquistas. Valia mesmo era a queda de braço entre os diversos grupos petistas que disputavam os espaços no governo e nas categorias profissionais.

O governo Agnelo, que não chegava a ser de esquerda mas tinha forte influência do PT, só negociou do meio para o fim, com intenções eleitorais e deixando a dívida para o sucessor.

O governo Rollemberg não tem parelha: ou adere a ele ou está contra ele. Só houve algum diálogo com as categorias no período de Hélio Doyle, por insistência deste, mas as mobilizações que prejudicam a vida dos brasilienses são solenemente ignoradas pelo Palácio do Buriti.

Os policiais civis já fizeram de tudo um pouco: greves, paralisações e enterros, mas o governador faz ouvidos moucos. Prometeu antes e enrolou depois, porém nunca pensou em enviar ao Governo Federal a mensagem que garante a paridade vencimental com a Polícia Federal. Ao contrário, chega a incentivar outros segmentos a atrapalhar o pleito da PCDF, numa estratégia de dividir para reinar.

Enquanto Rollemberg brinca de dar cangapé na Campus Party, fazendo rolamento estilo caçote, os servidores públicos sentem saudades dos chamados governos conservadores, principalmente os de Roriz, que tinham até secretário exclusivo para negociações com as categorias profissionais.

*Miguel Lucena é Delegado da PCDF e Jornalista