“ Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."
(Millôr Fernandes)
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Esquerda e governo Lula: desafios em um mundo em convulsão
Desvendando o toque de reunir para o fim do mundo ocidental
Pedro Pinho*
O fim da civilização ocidental, descrito há pouco mais de um século (1923) por Oswald Spengler (1889-1936), já estrebucha como organismo vivo, tal qual previa este filósofo alemão. Quais são os sintomas? Há como escapar desta morte? O que virá depois?
É óbvio que não temos as respostas, nem conhecemos quem as tenha.
Mas temos reflexões sobre o fim do ocidente, que o início de governo Donald Trump faz a caricatura, uma charge grotesca e triste do que fizemos conosco mesmo nestes últimos cinquenta anos.
É claro que se compararmos com o “direito” à primeira noite das virgens, residentes em suas terras, pelos senhores feudais já demos grande passo. Porém os movimentos de empoderamento feminino mostram que não fomos tão longe nesta pretensa democracia sexual. A perseguição aos não binários por Trump é um exemplo.
Para facilitar a exposição, dividiremos estas reflexões em três grupos: aqueles relativos à economia, ao convívio humano e ao meio ambiente.
A CONTRIBUIÇÃO DA ECONOMIA
Dois segmentos podem ser destacados como fundamentais para economia, que também são considerados básicos para soberania das nações: controle da moeda e das fontes primárias de energia.
Mas, o que aconteceu com a moeda? Simplesmente desapareceu sem deixar nem mesmo o escambo para substituí-la.
Afinal o que são as criptomoedas? Nada, rigorosamente nada. Nem mesmo um papel pintado pois são virtuais. E é sobre o nada que iremos erigir nosso sistema econômico? Realmente é o “fim do mundo”.
O “meme coin” do Donald Trump, recém-lançado, já proporcionou “lucro” imenso em somente uma semana. Pessoas, que não estão em asilos ou interditadas por incapacidade mental, colocam seus haveres em criptomoeda, ou seja, em nuvens. Minha falecida mãe diria com toda razão que este mundo está louco!
quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
MPDFT presta apoio em operação contra esquema nacional de jogos ilegais. R$150 milhões
Complexo regulador: MPDFT cobra explicações da SES sobre possível ‘terceirização’. Privatiza que piora
Secretaria de Saúde tem cinco dias para informar se existem estudos técnicos voltados para transferir a atividade para a gestão privada
Do MPDFT
A Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) oficiou a Secretaria de Saúde (SES) nesta quarta-feira, 29 de janeiro, solicitando informações sobre a existência de estudos técnicos com objetivo de transferir para a gestão privada a atividade de regulação assistencial, atualmente realizada pelo Complexo Regulador do Distrito Federal (CRDF). A pasta tem cinco dias para se manifestar.
O documento ressalta que a gestão administrativa do acesso dos usuários aos serviços públicos de saúde é competência da autoridade sanitária. “Nosso sistema legal e constitucional não admite a ‘terceirização’ de serviços indelegáveis, como é o caso das atividades de regulação, planejamento, fiscalização e controle do acesso ao serviço de saúde”, destaca um trecho do ofício.
Cidades DIREITO À SAÚDE —Acolhimento e respeito no SUS: conheça o Ambulatório Trans do DF
Direitos Humanos —MPF obtém condenação de Sikêra Jr e Rede TV! por homofobia
quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Trump conduzirá o fim do poder do mundo ocidental?
Quarta, 29 de janeiro de 2025
Trump conduzirá o fim do poder do mundo ocidental?
VIOMUNDO - 29/01/2025Trump inicia as deportações em massa de imigrantes. Charge Plop & KanKr/Cartoom Movement
Donald Trump: conduzirá ao ponto final a queda do poder ocidental?
Oswald Arnold Gottfried Spengler foi historiador e filósofo alemão (1889-1936), cuja obra “Der Untergang des Abendlandes” (“O Declínio do Ocidente”), em dois volumes com edição definitiva em 1923, foi referência em debates historiográficos, filosóficos e políticos entre os intelectuais europeus, logo após sua publicação e só não prosseguiu, após a II Grande Guerra, pela intensa batalha, em todas as frentes, inclusive acadêmica, travada pelas ideologias vencedoras: a capitalista, auto referida como liberal e democrática, e a socialista marxista, sintetizada como comunista.
Em resumo, sempre incompleto, o pensamento de Spengler era que as culturas evoluíam como organismos, tendo o florescer, o amadurecimento e o colapso. E acreditava que o Ocidente chegava a seu fim.
No entanto as durações eram distintas, daí ter enunciado oito culturas nos 30 mil anos da História da Civilização Humana: egípcia, babilônica, chinesa, indiana, mesoamericana (maia/asteca), clássica (greco-romana), a do oriente médio não babilônica (juntou a hebraica, árabe, persa sob o título de “mago”) e a ocidental ou europeia.
Procuraremos entender, sob ótica mais coerente à Splengeriana, que foi também compreendida como próxima ao nacional-socialismo, crítica à democracia e pouco confiável em sua comunicação, o que ocorre no mundo do século XXI onde surgem diversos Donalds Trumps em países de culturas distintas.
As transformações no século XX
O eurocentrismo colonizador faz-nos dar à cultura europeia a amplitude que nunca conheceu.
Veja, por exemplo, o idioma, expressivo componente cultural. A historiadora e arqueóloga lituana Marija Gimbutas (1921-1994), no amplo estudo que faz dos eslavos (“Os Eslavos”, tradução para português por António Lavrador da Silva, Editorial Verbo, Lisboa, 1975) identifica três ramos surgidos do proto-eslávico, de regiões asiáticas espraiadas na Europa Oriental, que conhecemos hoje como: checo, sérvio, polonês, eslovaco, esloveno, ucraniano, bielorrusso, russo, servo-croata, macedônico e búlgaro.
Por outro lado, as línguas europeias ocidentais têm, com mais intensa ou simples lembranças, influências do grego e do latim.
O século XX foi de muitos ensinamentos que ainda estão sendo trabalhados para as governanças neste século XXI.
Mas já se mostram alguns frutos importantes como das questões coletivas sobre as nacionais. Veja-se a necessidade de Spencer classificar as culturas dominantes, que seria a das nacionalidades vitoriosas em determinados períodos da humanidade.
Como classificar o BRICS, que é o acrônimo dos países fundadores, com imensas diferenças entre si, mas que têm a mais profunda influência em 2025, quando as nações fazem fila para nele serem admitidas?
Donald Trump é um sauro pré-histórico que ainda mede o poder pela virulência, pela sua força física, quando o mundo descortinou outros padrões de convivialidade.
Apenas quem ainda não entendeu o BRICS ou tem presa sua política ao passado, com critérios inteiramente superados do liberalismo versus socialismo, das religiões e ateísmos, das etnias, pode cair no trumpismo.
O que se dirá, senão como piada, de renomear os acidentes geográficos para demonstrar que é grande e forte?
Mas não se deve desprezar o que os Estados Unidos da América (EUA) ainda representam no mundo, especialmente para os países das Américas, colonizados pela Doutrina Monroe (1823) e pelo Destino Manifesto (1845), frutos da Constituição Plutocrática Estadunidense de 1787, uma séria ameaça.
Examine-se pois, diferentemente, as ameaças de Trump para a América Latina, para a Europa e para Ásia, aí incluída a Rússia que tem sua maior porção territorial na Sibéria.
Ásia, Europa e África
Inicie-se pela Ásia, onde, se não for desinformação tão comum nas mídias contemporâneas, Trump só disse sim às colocações de Xi Jin Ping, inclusive na desnuclearização militar, impossível de se acreditar neste momento de queda de braço.
Mas é indubitável que está neste contexto asiático o maior poder do mundo em 2025. Não somente do mundo produtivo, mas das tecnologias de ponta, da valorização do trabalho, no comércio, e mesmo nas moedas.
Embora bem mais amplo do que à Ásia, o fato das grandes gestoras de ativos e do próprio Donald Trump fazerem propaganda das criptomoeda, apenas demonstram que o dólar estadunidense nada mais vale do que um bitcoin, ou seja, não tem um suporte material para avaliar seu efetivo valor. Tudo, monetariamente tratando, é fantasia!
E quem são os gestores de ativos?
São os verdadeiros proprietários das empresas do mundo ocidental: indústrias mecânicas, petroleiras, eletrônicas, mineradoras, empresas comerciais, de transporte e de serviços.
Basta consultar os votos nas Assembleias de acionistas e se encontrarão: BlackRock, Vanguard, State Street, Fidelity, Capital Group, BNY Mellon, Wellington, Amundi, Invesco, JP Morgan, Alianz, Goldman Sachs, Prudential, T. Rowe Price e outros.
A situação do dólar estadunidense é tão crítica que, publicado no jornal Valor, em 27/01/2025, se encontra declaração de Laurence D. Fink, fundador, Chairman e Chief Executive Officer (CEO) da BlackRock, no encontro em Davos (Suíça), sendo esta empresa o maior gestor de ativos com, há um ano, cinco vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil investidos (cerca de U$ 10,5 trilhões), que “a criptomoeda como hedge vai crescer”.
Veja caro leitor o nível da empulhação: um papel sem existência em ativo real: imóveis, ações de empresas, ouro, metal de grande procura como o nióbio, ou reservas de petróleo é apontado como “ativo” garantidor do dinheiro corrente. O dólar do Trump acabou. Dito por quem foi certamente patrocinador de sua campanha eleitoral.
E a relação de Trump com a Europa?
Há muita incongruência, contradição até, entre o que se observa nas movimentações populares, por relatos de viajantes e outras informações confiáveis, por analistas das mídias e em noticiários, em geral.
Mas os resultados eleitorais deixam clara a insatisfação generalizada, apenas difusamente dirigida.
No entanto, existe, e não se limita à Europa, a falta da compreensão do momento histórico que passa o mundo após a vitória das finanças, na década de 1980, pelo que se chama, habitualmente, de esquerda.
O discurso foi contra as opressões e recaía tanto sobre os países da “Cortina de Ferro” quando sobre ditaduras militares ou mesmo de autoritários civis.
Começa aí o desencontro das esquerdas, uma orfandade, que tinha na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), na China Maoísta, e em movimentos de libertação nas Américas e na África sua referência.
Muitos líderes eram idealistas e se sacrificaram sem deixar continuidade. Pois lhes faltaram construir a ideologia adequada às condições geográficas e culturais que formassem as governanças competentes.
E o neoliberalismo financeiro, dominando as comunicações, muito se aproveitou desta situação. Deixar-se-ão os casos específicos para quanto se tratar das Américas.
Fica apenas um exemplo, da França, que colocou no poder “socialista” um empregado da mais poderosa família banqueira: os Rothschild, e que lá se mantém desde 2006.
A África, ainda dominada pela colonização europeia até o fim do século XX, foi levada aos mesmos problemas dos colonizadores. Apenas agora, neste século XXI, surgem, principalmente em países da região do Sahel, movimentos nacionalistas de libertação nacional, mas pouco se pode analisar de seus líderes, suas ideologias e resultados, além da expulsão dos europeus e dos estadunidenses.
América Latina e Brasil
Emiliano Zapata e Pancho Villa lutaram contra a ditadura de Porfírio Díaz, entre 1910 e 1920. Era movimento camponês pela terra, pelo ensino e pelo respeito à cultura daqueles descendentes dos maias e astecas.
Os movimentos pela autonomia e pela cidadania iniciaram, no Brasil, pelos militares, os tenentistas, na década de 1920.
Ainda não é pacífica a origem deste movimento. Os mais sabujos, baba-ovos, buscam no positivismo dos gaúchos, que governaram o Rio Grande do Sul, de 1891 a 1898, tendo a liderança de Júlio de Castilhos (1860-1903), a influência no tenentismo.
Consideramos que os fracassos militares do Império, Guerra contra o Paraguai e dos Canudos, justificaram a ida à Alemanha para treinamento bélico.
“O primeiro contato de oficiais brasileiros com alemães para tratar de uma possível instrução militar ocorreu entre os anos de 1905 e 1906, quando alguns jovens militares brasileiros viajaram para a Alemanha para observar e aprender com aquele Exército que, desde a vitória sobre a França em 1870, era reconhecido mundialmente por sua eficiência” (Carla Cristina Wrbieta Ferezin, citada em Maj Bruno Freitas Rosa, “A influência das missões militares estrangeiras na evolução da Doutrina Militar Terrestre nos séculos XX e XXI”, Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, RJ, 2021).
Efetivamente, os positivistas, os “jovens turcos” (militares que receberam treinamento na Alemanha), os que participaram da Missão Militar Francesa (1920-1940), além da repercussão da Revolução Bolchevista de 1917 de algum modo conduziram à vitória e permanência da Revolução de 1930, o mais duradouro e profundo movimento de transformação social ocorrido na América Latina antes da Revolução Cubana (1959).
Sem desmerecer a altivez, coragem, capacidade de diálogo com o povo e os mais nobres ideais de convivência humana e desenvolvimento, os muitos movimentos, revoluções, golpes, eleições que conduziram lideranças transformadoras foram destruídos pelos EUA e todo seu aparato organizacional para manter a América Latina como quintal, sua fonte de suprimento para manutenção do poder.
Porém, há a “maldição de Spengler”. A atual cultura, europeia ou ocidental, como suas antecessoras, também chega ao final. E Trumpossáurio é forte candidato a enterrar o “líder” ocidental, e, assim, mais uma cultura.
Os avanços, poucos além dos apoios pré-eleição, e os recuos, aparentemente só cantou de galo com a velha colônia colombiana, que se separou do bolivarianismo no passado para seguir o monroísmo, que mereceu do intelectual venezuelano, José Gregorio Linares, a designação do confronto entre a dignidade e a ingerência.
Como se comportará o hesitante Lula em terceiro mandato?
Estamos ainda na primeira semana do aguardado fim do mundo ocidental.
*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
Este texto não representa obrigatoriamente a opinião do Viomundo
Etnia, geologia e disputa de poder: a posse de Trump
Etnia, geologia e disputa de poder: a posse de Trump
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Os habitantes do Lácio, região da Itália Central, origem de Roma, vizinha dos etruscos e sabinos, buscaram poder na miscigenação, antes de partirem para guerra. A história registra este evento como “rapto das sabinas”, porém o que ocorreu foi o intercâmbio sexual e cultural destes povos que tinham no rio Tibre e seus afluentes o supridor de águas para suas existências.
Fortalecidos com a miscigenação, Roma inicia sua expansão militar, cultural, política, que terá sua história como fundadora do mundo ocidental e o Mar Mediterrâneo como “Mare Nostrum”. A presença do latim nos idiomas europeus demonstra a força do poder romano.
A cerimônia de posse de Donald Trump e seus primeiros atos presidenciais mostram que enveredou por caminho inverso dos latinos: a exclusão de não brancos e não bilionários para constituir e usufruir do poder plutocrático, como estabelece a Constituição desde 1787 nos Estados Unidos da América (EUA).
Porém, à semelhança dos latinos, com a pretensão de ocupar o mundo para proveito e engrandecimento dos brancos e bilionários estadunidenses, o Destino Manifesto (1845) foi citado por Trump em seu discurso de posse, dia 20/1/2025.
Buscar-se-á examinar a presença bélica, o que resta do poder econômico e a ocupação territorial que a gestão Trump almeja para seu quadriênio no poder estadunidense. Far-se-ão analogias e serão destacadas as prioritárias conquistas conforme estabelecidas no discurso de posse de Donald Trump.
Um projeto geográfico
O “Mare Nostrum” trumpista será o Oceano Ártico, onde estiveram no passado os povos e cidades italianas, agora estarão representados pela Rússia, e, mais distantes, como antigos gregos e mesopotâmicos, os chineses, a República Popular da China (China).
O estágio em que o planeta Terra se encontra, nesta era interglacial, permite este onírico projeto, pois as geleiras se transformam em oceano/mares, e os novos etruscos já foram apontados por Trump como os canadenses.
Aspecto verdadeiramente importante para consecução do sonho foi a presença e apoio dos “donos” da mídia em sua posse, a começar pelo “ministro” Elon Musk, do Departamento de Eficiência Governamental, a ser criado.
Cabe breve digressão sobre dois pilares nos quais se assentam o Projeto Trump: a comunicação e a energia. Nem há ineditismo nem surpresa, pois estão nestes dois vetores da sociedade do século 21 as mais avançadas tecnologias e as que podem produzir mais um salto, positivo ou regressivo, na civilização humana.
Comunicação
Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Tim Cook (Apple), Sundar Pichai (Google), em negociações Zhang Yiming, do TikTok, serão os construtores das verdades de Washington. E toda gama de comunicação dominada nas Américas, na Europa, no Oriente Médio e África ecoarão em suas “fake news”.
Aqui e ali, surgirão raios de luz sobre as realidades. As revoltas dos povos do Sahel contra os colonizadores europeus e estadunidenses são das mais fundadas esperanças.
Porém o mundo estará inundado das mentiras e falácias que, aliadas à privatização da educação (vide os leilões de escolas públicas em São Paulo promovidos pelo governo bolsonarista de Tarcísio Gomes de Freitas), destruirão quaisquer raciocínios mais elaborados.
Os males provocados pela comunicação são mais duradouros e tendem a se reproduzir na medida em que a ignorância se amplia. E esta é, e sempre foi, um projeto do poder.
Veja-se na História do Brasil. Com o breve interregno devido a Benjamin Constant Botelho de Magalhães, ministro da Instrução Pública, Correios e Telégrafos (abril de 1890 a outubro de 1891), somente quando presidente do Governo Provisório, Getúlio Vargas criou o Ministério da Educação e Saúde Pública (14/11/1930), o ensino passou a ser responsabilidade pública e construtor da cidadania. E quanto suas escolas não foram atacadas, seus ministros tiveram que se submeter aos interesses retrógrados, principalmente das escolas católicas.
O caso mais recente está no ataque virulento e irracional que sofreu Leonel Brizola e seus Centros Integrados de Educação Pública (Cieps). Hoje, quando países, ainda de baixo desenvolvimento econômico, como Cuba, Venezuela e Bolívia, são territórios livres do analfabetismo, o Brasil, conforme o Censo 2022, para pessoas de 15 anos ou mais de idade desponta com 7% de analfabetos.
A Comunicação e a Instrução Pública devem ser analisadas conjunta e complementarmente para que se possa medir o verdadeiro alcance da desinformação.
No que se refere à comunicação, aliada à instrução, se Donald Trump tivesse manifestado alguma cultura literária poder-se-ia suscitar ter sido conduzido pela citação de Machado de Assis: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas” (Quincas Borba 1891). Pois só demonstrou desprezo pelos pobres, humildes, carentes, e tudo que obtiver será destinado a seus pares, os brancos bilionários.
Energia
Energia abre diversos segmentos que afetam intensamente o poder. Vai da apropriação física das fontes primárias à coordenação internacional de vontades numa mesma direção ideológica e no desenvolvimento tecnológico de ponta.
O jornalista Thierry Meyssan, na rede Voltaire (Paris, 21/1/2025), discorre sobre a preparação da direita nazista para controle de organismos internacionais e nacionais como já ocorreu no Chile do Augusto Pinochet (1973-1990) e com a Ucrânia, do Volodymyr Zelensky, cujo mandato presidencial teve início em 20 de maio de 2019 e parece que irá se manter indefinidamente.
Também as perspectivas que governam os EUA de Trump e a China, de Hu Jin Tao e Xi Jin Ping, são radicalmente distintas; a primeira atendendo apenas à plutocracia estadunidense, e a segunda buscando no comércio multipolar o bem-estar possível para todas nações.
Trump pretende recolocar a industrialização como alavanca do progresso estadunidense, o que é sem dúvida um projeto louvável, se comparado com o que as finanças fizeram, com os EUA e o mundo ocidental, nestes últimos 45 anos.
Atualmente, energia mais eficiente e barata para indústria é a do petróleo, e Trump, ao sair do Acordo climático de Paris, de 2015, demonstrou que sua industrialização será para valer, com todos os ônus e bônus que comporte.
Certamente Trump recorda os dois períodos em que os EUA foram mais exitosos: após a descoberta do petróleo na Pensilvânia na segunda metade do século 19, que os fizeram definidores da I Grande Guerra; e após a II Grande Guerra, que levou o economista francês Jean Fourastié a cunhar a expressão “Os Trinta Anos Gloriosos”, onde os EUA, a Europa e mesmo o Brasil tiveram seus melhores momentos, no século 20, de desenvolvimento econômico e social.
Recordar o “Destino Manifesto” é assegurar que a expansão territorial está efetivamente no Projeto Trump. As “13 Colônias” ocupavam 970 mil km², e os EUA, excluído o Havaí, se estendem por pouco mais de 9.805 mil km². O Canadá tem território de 9.984 mil km², e a Groenlândia, 2.166 mil km².
Como mencionamos, o “Mare Nostrum” romano é hoje o Oceano Ártico. A Rússia ocupa quase a metade das margens deste Oceano, que, excluídas as porções onde apenas há encontro com outros mares/oceanos, só restam os países nórdicos (Finlândia, Suécia e Noruega), a Groenlândia, o Canadá e o Alasca, os dois últimos na América do Norte. Ou seja, Trump pretende dividir a ocupação do Oceano Ártico com a Rússia.
Por que esta consideração está sob o subtítulo Energia? Porque a maior parte do petróleo produzido pela Rússia está na Sibéria Ocidental e na ilha de Sakhalin, esta situada no Extremo Oriente siberiano. Ou seja, há petróleo, e muito, nas costas do Oceano Ártico. E mais, há também diversos minerais, inclusive os mais importantes para fabricação dos equipamentos e veículos para as novas tecnologias comunicacionais, que lá já foram encontrados.
O Oceano Ártico é um mundo a ser conquistado, mas a Rússia começou bem antes desta deglaciação. E, segundo cientistas do Reino Unido, cujos astrônomos conseguem prever os ciclos do Sol com precisão muito maior que no século passado, o planeta Terra pode entrar em pequena Era Glacial, já a partir de 2030. O tempo urge para Trump e seus comparsas.
E o volume deste petróleo russo pode ser confirmado pela proposta conjunta de Moscou e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em março do ano passado, de reduzir suas produções em 471 mil barris de óleo por dia. Obviamente sem que isto prejudique seus planos de desenvolvimento.
Donald Trump sabe que não há nos EUA nem no Canadá, que pretende ser o 51º estado da Federação, petróleo como o russo e do Oriente Médio, da Venezuela e do pré-sal brasileiro.
O que eles têm são folhelhos betuminosos cuja produção é muito diferente daquela dos reservatórios convencionais. A saída do Acordo de Paris, de 2015, não surpreende e está coerente com a aprovação e ampliação do uso do “fracking”.
Sinteticamente, esta modalidade inicia com a perfuração de poço horizontal de até três quilômetros, por onde será injetado, com grande pressão, um fluido de água e solventes, criando fissuras nas rochas, por onde escoará o “petróleo”. Este betume sofrerá um processo similar ao do refino para que se obtenha o óleo e o gás natural.
Porém os danos ambientais são imensos. Não só pelas infiltrações contaminando aquíferos, como pelo derrame nos terrenos circunvizinhos e, até, contaminando rios, com o pouco interesse que a ação privada dá a tudo que não resultar em lucro máximo.
Tem-se visto o que constitui o Plano Trump e suas razões. Sem dúvida que há a lógica de guerra, da agressão a toda sorte de direito, da vida humana ao respeito às soberanias nacionais. Porém o domínio das comunicações pela sociedade demonstrada por Trump, Musk e demais proprietários e Chief Executive Officers (CEOs) de empresas, plataformas e sites presentes à posse.
A primeira semana de governo Trump se encerra com a divulgação das 78 revogações e ordens executivas assinadas por Donald Trump, que tratam de: Imigração e Segurança Fronteiriça (10), Energia e Meio Ambiente (10), Políticas Sociais e Diversidade (10), Saúde e Políticas Públicas (10), Economia e Comércio (10), Defesa e Relações Internacionais (10), Justiça e Direitos Civis (10) e Administração Pública (8).
Ele mexeu com diversos vespeiros, que nada tem a ver com democracia e direitos humanos, mas do poder que as finanças lutaram desde o fim da I Grande Guerra para reconquistar e, com as desregulações e o Consenso de Washington, ambos na década de 1980, e o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1991, finalmente alcançaram.
Brasil e seus imigrantes
Além dos discursos, há muitas provas desta nova eugenia lançada por Trump, como a seleção das companhias áreas que serão beneficiadas para levar, além das fronteiras estadunidenses, pessoas que se deixaram iludir com o sonho americano (iAero, Eastern Airlines, Kaiser Air, Omni Air International, GlobalX e a que está parada desde sexta-feira, 24/1/25, em Manaus, a Global Crossing Airlines), e do já acordado no primeiro governo Trump e Michel Temer, então presidente em 2017.
O jornal Gazeta do Povo (25/1/25) publica que “o Itamaraty informou que o voo faz parte de um entendimento entre os governos do Brasil e dos EUA que estabeleceu que brasileiros autuados pelas autoridades americanas só podem ser deportados após o esgotamento de todos os recursos possíveis para continuarem lá” (?).
Porém, “ainda segundo o Itamaraty, outros voos ocorrerão sob esse entendimento de 2017 ‘até segunda ordem’ da nova política de imigração de Trump. O Itamaraty ainda não se pronunciou sobre o pouso antecipado em Manaus”.
Já passou da hora de Lula pedir desculpas ao presidente venezuelano Nicolás Maduro, passar a defender a entrada da Venezuela nos Brics e defender a soberania brasileira. É uma vergonha se calar diante da ação verdadeiramente anti-humana e nazista que trata pessoas como gado pelo novo governo Trump. Ou será o bolsonarismo que se entranhou no atual governo petista, com orçamento secreto e outras ações anti-humanas, antipopulares e corruptas?
Examinar-se-ão, proximamente, as lutas antevistas nos planos interno e externo dos EUA de Trump contra as finanças apátridas e as perspectivas abertas com o poder multipolar, defendido pela China e com a grande repercussão que o aumento de países desejosos de pertencer aos Brics e os países da África do Sahel, em luta contra seus colonizadores, vêm demonstrando.
*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.
Artigo postado originariamente no Viomundo
TJDFT confirma ilegalidade do corte de energia por dívidas antigas
Quarta, 29 de janeiro de 2025
Do TJDF
No caso, a concessionária incluiu parcelas referentes a dívidas antigas na mesma conta de consumo do mês. A empresa alegou que diversos acordos foram firmados para quitar o valor pendente e argumentou que o corte estava previsto no termo de confissão de dívida, caso a consumidora descumprisse o pagamento. A consumidora, por sua vez, pediu o cancelamento da cobrança conjunta e a manutenção do fornecimento de energia.
Lançamento “Memórias de um Cidadão Brasileiro” de Frederico Salles
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Trump e Europa: o futuro incerto
Velho Continente atravessa momentos conturbados, para além da guerra. A extrema direita avança. Governos de França e Alemanha estão frágeis. E até o acordo UE-Mercosul gera desavenças. E Trump, que volta à Casa Branca com mais poder, pode aprofundar o caos
Nos últimos anos duas preocupações cresceram entre a maioria dos governantes na Europa, na União e fora dela. A primeira foi a tensão com a Rússia, provocada pela guerra na Ucrânia. Na esteira dos Estados Unidos e da Otan, a maioria dos países europeus alinhou-se ao apoio financeiro e militar do governo de Kiev.
A segunda foi a de que, com o crescimento dos partidos de extrema-direita, a pauta de quase todos os governantes e partidos europeus, da centro-esquerda à direita tradicional, passou a assimilar de modo mais orgânico o repúdio a imigrantes e refugiados, sobretudo àqueles que vêm do antigo Terceiro Mundo, hoje Sul Global, e aos oriundos dos países muçulmanos.
A Rússia, a “invasão” do espaço europeu por aqueles considerados como estranhos a seu universo cultural e até religioso, o suposto terrorismo importado dos países árabes: eis um coquetel explosivo que alimenta alguns dos pesadelos mais aterrorizantes de governantes e governados preocupados em preservar os valores tidos por eles como autenticamente europeus, em torno da democracia liberal e do liberalismo econômico.
Agora um novo pesadelo veio se juntar aos já mencionados: a posse de Donald Trump em seu segundo mandato na Casa Branca. Jamais um presidente norte-americano acumulou tantos poderes. Ele tem a seu lado a maioria nas duas casas do Congresso em Washington, uma sólida maioria na Suprema Corte (que lhe garantiu imunidade criminal) enquanto estiver no cargo e o alinhamento explícito de duas das maiores Big Techs mundiais, lideradas por Elon Musk e Mark Zuckerberg. Outras devem aderir a este verdadeiro consórcio digital, informativo ou des-informativo, conforme o ponto de vista favorável ou crítico a elas. Elon Musk já apontou suas baterias para a Europa, aliando-se explicitamente aos partidos de extrema-direita em alguns países, como o Reino Unido e a Alemanha. Zuckerberg promete suspender o sistema de verificação da credibilidade das informações que circularem na sua Big Tech.
Os problemas europeus, entretanto, não têm raízes apenas em fontes definidas como externas. A própria Europa navega num mar de turbulências e incertezas. Os governos da dupla principal da União Europeia, França e Alemanha, estão fragilizados. Em 2024 a França teve quatro primeiros-ministros. O atual, François Bayrou, escapou de um voto de desconfiança na Assembleia Nacional fazendo concessões ao Partido Socialista, entre elas a de rediscutir a proposta de reforma de Previdência Social defendida pelo presidente Emmanuel Macron.
DR com Demori entrevista nesta terça autor do livro O Pobre de Direita
Diplomata dos EUA é chamado ao Itamaraty para esclarecimentos
A secretária de Comunidades Brasileiras no Exterior e Assuntos Consulares e Jurídicos do Ministério das Relações Exteriores, Márcia Loureiro, reuniu-se na tarde desta segunda-feira (27), em Brasília, com o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, para tratar sobre a deportação de brasileiros no último fim de semana.
A convocação pelo Palácio do Itamaraty é um gesto diplomático que expressa descontentamento de um país com outro. A realização da reunião foi confirmada à Agência Brasil por fontes do governo brasileiro e também pela diplomacia norte-americana.
Segundo os relatos, durante a reunião, o Itamaraty solicitou esclarecimentos do governo americano sobre o tratamento dispensado a brasileiros deportados em um voo fretado pelos Estados Unidos, que chegou ao país na última sexta-feira (24).
Os cidadãos brasileiros estavam detidos nos Estados Unidos por não possuírem a documentação de imigração exigida, e alegaram que, durante a viagem, permaneceram algemados, foram agredidos e tiveram privação de banheiro e alimentação. Brasil e EUA têm acordo vigente de deportação, mas o tratado prevê tratamento digno e humanitário, o que não ocorreu.