Sexta, 24 de janeiro de 2014
Por Ivan de Carvalho

O
grande reforço para Eduardo Campos representado pela aliança com Marina (20
milhões de votos no primeiro turno das eleições de 2010) e sua Rede
Sustentabilidade, especialmente se for confirmada a expectativa de que a
ex-senadora figure na chapa do PSB como candidata a vice- presidente da
República, se revela principalmente em dois aspectos.
Um
deles é o de que, até a união Campos-Marina, a candidatura do primeiro parecia
não ter o impulso necessário para decolar, seja por ter origem em um Estado do
Nordeste que não é um grande colégio eleitoral, seja pela ainda modesta
dimensão política do PSB, um partido em franco crescimento, mas que ainda não
atingira o tamanho adulto para encarar com chances amplas uma campanha
eleitoral.
A
aliança com Marina e a Rede projetou amplamente o PSB e Campos na mídia,
dando-lhes um destaque que, até o momento, se mantém. E isto vai dando a
Eduardo Campos uma coisa que ele tinha em reduzida escala, o conhecimento do
eleitorado. Apesar de o governo e o PT estarem fazendo tudo que podem para
limitar o destaque conquistado pela dupla Campos-Marina no debate político e na
mídia, o destaque persiste e ganha características de permanência.
O
outro dos aspectos em que se revela o reforço a Campos e ao PSB representada
pela aliança com Marina Silva está exatamente no excelente desempenho desta nas
eleições de 2010, quando ficou em um terceiro lugar com votação muito acima da
imaginada pelos políticos e obrigou Dilma Rousseff a ir lutar por sua eleição em
um incômodo segundo turno, enfrentando novamente José Serra.
No
entanto, a aliança com Marina e a Rede não tem oferecido apenas bônus ao PSB e
a Eduardo Campos. A Rede e a própria Marina têm providenciado também alguns
ônus. O primeiro deles foi acabar com o apoio que Campos já havia praticamente
obtido de setores importantes do agronegócio, que seriam uma fonte importante
de meios financeiros e apoios políticos para a candidatura do PSB. Marina
atacou imediatamente esse apoio do agronegócio, o que foi suficiente para que,
também imediatamente, ele fosse retirado.
O
outro ônus está na formação dos palanques regionais. A Rede (supõe-se que com a
anuência de Marina) está se opondo abertamente ao apoio do PSB paulista à
reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin e pretende que os socialistas
lancem candidatura própria ao governo. Ocorre que essa candidatura não teria
chance de vitória, seria mesmo somente para que não seja dado apoio ao
governador do PSDB, uma preocupação de evitar tal “mistura”.
Mas o PSB paulista
há anos participa do governo de Geraldo Alckmin e a seção estadual quer fazer a
aliança eleitoral. E o PSB nacional, à frente seu presidente e candidato
Eduardo Campos, quer uma aproximação com o PSDB, tanto para facilitar a
formação de alguns palanques regionais como para um acerto segundo o qual, se
Campos for ao segundo turno com Dilma, o socialista ter o apoio do tucano Aécio
Neves e vice-versa. Isso interessa, é vital aos dois principais candidatos das
oposições ao governo e à sucessão de Dilma Rousseff.
Mas, por incrível que
pareça, essa lógica política, válida e praticada em qualquer país democrático
do mundo, descontenta a Rede, que parece querer afastar o PSB do PSDB,
beneficiando indireta e exatamente o governo, o PT e a candidata Dilma
Rousseff.
As dificuldades
criadas em São Paulo também estão sendo intensamente ensaiadas em Minas Gerais,
estado do candidato tucano a presidente, Aécio Neves, bem como no Rio Grande do
Sul, outro colégio eleitoral importante.
Parece que a Rede
não sabe ainda o que é prioridade e o que é secundário em política. Se não
descobrir, acaba. E não adiantará chorar sobre o leite derramado.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.