Quarta, 8 de janeiro
de 2014
Por Ivan de Carvalho

Ante
a negativa do TSE de conceder o registro de partido à Rede, este cenário marchava
para um embate de apenas dois contendores – a presidente Dilma Rousseff, do PT,
pleiteando a reeleição, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB e
ex-governador de Minas Gerais, como um dos desafiantes e talvez o presidente do
PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, como o segundo desafiante, mas,
em princípio, numa posição político-eleitoral fraca.
A
surpreendente aliança com a Rede e principalmente, claro, com Marina Silva, que
se filiou ao PSB, encorpou a candidatura de Eduardo Campos, embora inicialmente
instalando uma dúvida sobre se afinal seria ele ou Marina a disputar pela
legenda socialista a presidência da República.
Hoje,
no entanto, está ficando muito claro que o candidato socialista será mesmo
Eduardo Campos, bem como está se delineando cada vez mais fortemente que Marina
Silva vai figurar na chapa como candidata a vice-presidente. Esta é, aliás, a
formulação ideal para o PSB e, de um modo geral, para as oposições, que
precisam montar para o primeiro turno das eleições um cenário que leve as
eleições para o segundo turno, quando então se juntariam o PSB e o PSDB, além
de outros partidos oposicionistas, em um esforço final de produzir uma
alternância que já tarda no quase todo poderoso Executivo federal. O PT no
final de 2014 já completará 12 anos na presidência da República e se conseguir
a reeleição de Dilma Rousseff partirá para 16 anos ininterruptos de poder
federal.
Note-se
que Dilma Rousseff, em termos de cumprir certas propostas do programa do PT,
está sendo razoávelmente moderada e que isto se explica facilmente pela
necessidade de não entrar em conflito mais vivo com importantes setores da
sociedade que poderiam dificultar seriamente sua reeleição.
No
entanto, conquistado o segundo mandato presidencial e na impossibilidade
constitucional de obter o terceiro, a presidente Dilma Rousseff estará muito mais
liberada politicamente para cumprir certos pontos mais ousados do programa do
PT e de suas ideias – exemplo de um desses pontos de adoção conjunta PT/Dilma é
a da descriminalização total do aborto, isto é, da permissão para que se matem
inconsequentemente as pessoas que, ainda não tendo nascido, estão vivas, ao
abrigo (que se tornaria câmara da morte) do ventre de suas mães.
Isto
sob o incrível argumento de que a mulher tem o direito de fazer o que quiser
com o corpo dela. Não sei se tem, talvez não lhe seja reconhecido o direito ao
suicídio (afinal, sempre que possível tentam de tudo, incluindo a força, não
raro praticada por agentes do Estado, para impedi-lo) e ninguém de bom senso
protesta contra esse embaraço. Mas, como dizia Genoíno, “uma coisa é uma coisa
e outra coisa é outra coisa”. No suicídio, a mulher (ou o homem) atenta contra
o próprio corpo e a própria vida. No aborto, o atentado é contra o corpo e a
vida de outra pessoa, não da mulher adulta que a carrega provisoriamente no
ventre.
Bem,
após essa digressão sobre um dos pontos de concordância notórios entre o
programa do PT e as ideias da presidente Dilma, retomemos o fio da meada.
Marina dá toda ênfase ao fato de que a Rede é “programática”, mas alianças
eleitorais, o PSB sabe como qualquer outro partido, devem ter, sim, o máximo
possível de coerência programática, mas sem perder de vista que essas alianças
têm que ser pragmáticas também, já que, se limitadas a serem “sonháticas”, sem
atenção ao um pragmatismo sadio, correto, mandarão para o lixo o sonho de
ganharem eleições e produzirem um fenômeno que toda democracia e a liberdade
precisam tanto quanto nós precisamos do ar que respiramos – a alternância no
poder. Sem esta, toda democracia, em algum momento, resvalará para um regime
autoritário, ditatorial, ainda quando preserve uma máscara democrática.
Está
claro que Marina precisa, se quer prestar um serviço ao país, equilibrar os
pratos da balança em que põe suas ações.
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Este artigo foi
publicado na Tribuna da Bahia desta quarta e tem como autor o jornalista baiano Ivan de Carvalho.