Quinta, 16 de janeiro de 2014
Por Ivan de Carvalho

Os
especialistas explicam – mas nem seria preciso, na atual conjuntura, que dessem
tal explicação – que o Copom vem, com os sete aumentos consecutivos da taxa,
tentando conter a inflação, que vem apresentando resistência a um
arrefecimento.
Imagem da internet
A elevação da Selic
foi avantajada, 0,5 por cento. Isto sugere certo nervosismo da autoridade
monetária. Parece que os “nervosinhos” a que se referiu o ministro da Fazenda,
Guido Mantega, ao gabar-se de que o governo alcançou o superavit primário que
fixara e o ultrapassou em R$ 2 bilhões, não estavam no “mercado” nem entre os
adversários políticos do governo, mas dentro do próprio Banco Central.
A gabolice do
ministro Mantega se revela um tanto ridícula, não só porque os “nervosinhos” de
que falou pejorativamente, apareceram afinal dentro da própria estrutura do
governo – embora em área relativamente autônoma, e bota relatividade nisso, o
Banco Central – como porque, como todos se recordam, o superavit previsto foi
alcançado graças à “contabilidade criativa”, ou mais do que isto, graças a
manobras como as feitas com as plataformas de petróleo “exportadas” que não
saíram do país e a emissão de ordens de pagamento tão no final de 2013 que o
desembolso só poderia ocorrer no início de 2014. Assim, o dinheiro “virou o
ano” no caixa do governo, embora já não fosse dele. Mais do que criativa,
contabilidade enganosa para fazer propaganda idem.
Voltando à razão do
aumento de ontem, de 0,5 ponto percentual na Selic, tenta-se com tal elevação
conter o consumo, provocando uma elevação dos juros ao consumidor e assim
reduzindo a demanda de produtos e também de certos serviços, o que faria cair o
preço deles, ou melhor, reduzindo a intensidade do aumento de preços. O futuro
dirá de essa redução da escalada dos preços acontecerá e será efetiva. Isto
porque o Executivo federal dificilmente conterá seus gastos em ano de eleições
presidenciais, para o Congresso e para os governos e Assembléias Legislativas
estaduais. E, quando o governo gasta mais do que tem, fabrica inflação.
De qualquer modo, é
certo que a economia já está com um crescimento miudinho e que o aumento da
Selic, reduzindo o consumo e elevando os juros para as atividades econômicas,
tende a desacelerar ainda mais esse crescimento que assumiu a velocidade dos
quelônios terrestres, ou, no popular, dos jabutis.
Quanto à Selic, os
especialistas se dividem. Uns acreditam que o percentual se manterá em 10,5 por
cento até o fim de 2014 e outros preveem que são prováveis novas altas –
concentradas no primeiro semestre –, podendo chegar a 11,25 por cento. Ninguém
está fazendo previsão de qualquer redução da Selic este ano.
DE VERDADE
– Bem perto do final do seu pontificado, que terminou pela renúncia, o papa
Bento XVI resolveu higienizar o Instituto de Obras da Religião, IOR, também conhecido
como o Banco Vaticano e do qual havia suspeitas de ocorrência de graves
irregularidades altamente patrocinadas. Então, em 16 de fevereiro de 2013,
mudou a direção do IOR e nomeou uma comissão de cinco cardeais para supervisionar
o instituto e propor reformas que julguem adequadas. Ontem, o Vaticano informou
que o papa Francisco substituiu quatro dos cardeais da comissão, entre eles o
cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, o italiano Tarcisio Bertone,
ex-secretário de Estado do Vaticano, maior autoridade no Vaticano depois do
papa e muito criticado por sua gestão na Cúria romana, o indiano Telesphore
Toppo e o italiano Domenico Calcagno. Dos cinco só ficou o francês Jean-Louis
Tauran. Quatro cardeais foram nomeados para as vagas: o atual secretário de
Estado do Vaticano, o italiano Pietro Parolin e um austríaco, um espanhol e um
canadense.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna de Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.