Sábado, 25 de janeiro de 2014
Matheus Gomes*, especial para o Jornalismo B
O ano de
2014 iniciou na tarde desta quinta do ponto de vista das lutas populares
em Porto Alegre. A manifestação convocada pelo Bloco de Lutas foi uma
importante demonstração de força dos movimentos sociais e confirmou a
tendência de grandes mobilizações nesse ano, que já se expressou em
outras capitais como o Rio de Janeiro e Natal. Foram cerca de duas mil
pessoas que participaram do ato, ainda longe das dezenas de milhares de
junho, mas também muito distante dos 300 que iniciaram as manifestações
em 2013.
Foto: Ramiro Furquim / Sul 21
O
transporte público e as injustiças da Copa do Mundo foram os motores da
mobilização. Diante do provável reajuste no valor das tarifas exigido
pelos empresários o movimento deu uma resposta contundente e afirmou:
não vai ter aumento! Além disso, o Bloco de Lutas reacendeu o debate
sobre o passe livre municipal para estudantes, desempregados, indígenas e
quilombolas e também questionou a nova licitação que visa manter o
controle do transporte nas mãos dos empresários com a pauta do
“transporte 100% público”. Novamente ouvimos palavras de ordem como “se a
passagem aumentar, Porto Alegre vai parar”, “Fortunati ladrão, mais um
aumento não” e “somos o povo e o passe livre os ricos vão pagar”. Mas
existe outra semelhança com as lutas de 2013: a mobilização da categoria
dos rodoviários. Enquanto estávamos nas ruas do Centro, motoristas e
cobradores realizavam uma grande assembleia no Ginásio Tesourinha, que
deliberou pelo início de greve na próxima segunda-feira, em defesa do
reajuste salarial de 14% e outras pautas históricas como a redução da
jornada de trabalho, aumento do ticket refeição e a manutenção do plano
de saúde. A unidade entre o Bloco e os rodoviários deve se desenvolver
novamente.
A
mobilização também demonstrou um crescimento do questionamento à
realização da Copa do Mundo no Brasil. Está claro para a população que o
legado do megaevento não passará das grandes arenas, pois as obras de
mobilidade urbana e os benefícios prometidos até agora não saíram do
papel. A rejeição à transferência de verba pública para a construção de
estádios se expressou na palavra de ordem “quero transporte, saúde e
educação, da Copa eu abro mão”. Com relação ao problema da moradia e das
remoções forçadas, o ato contou com a presença importante dos moradores
da Comunidade 7 de Setembro, da zona norte da capital. Por diversas
vezes a marcha entoou os gritos “não vai ter Copa, vai ter luta” ou
“foda-se a Copa”.
Mas, um
dos efeitos da Copa do Mundo foi sentido ao final da marcha: o aumento
da criminalização dos movimentos sociais. A Brigada Militar optou por
não intervir durante o protesto, nem diante da ação de alguns grupos
adeptos da tática Black Block. Mas, no momento da dispersão, dezenas de
manifestantes que saíam de forma organizada foram abordados
ostensivamente pela BM. Mochilas no chão, jovens na parede e muita
intimidação por parte da BM. Até o momento não temos o número exato das
detenções que ocorreram no ato, mas segundo o relato de manifestantes
que estavam próximos ao cruzamento das ruas José do Patrocínio com
Borges de Medeiros, jovens que estavam caminhando na calçada foram
abordados e levados ao camburão. Essa é a tendência por parte dos
governos: reprimir para derrotar os movimentos sociais. Alguns deputados
e senadores começaram a defender penas de 15 a 30 anos para quem se
manifestar durante a Copa. As novas legislações já começaram a vigorar e
dão respaldo a ações truculentas da Brigada Militar.
O
movimento terá novo encontro na terça-feira (28) na assembleia do Bloco,
com local a ser definido e divulgado. Na próxima sexta-feira (31), a
presidenta Dilma estará em Porto Alegre inaugurando o Estádio Beira-Rio,
como foi anunciado nesta quinta. Existe a possibilidade de uma nova
manifestação nessa data.
*Militante da Anel e integrante do Bloco de Lutas.