Almejar uma sociedade que ainda não existe, mas que é uma possibilidade
real. Assim o filósofo alemão Ernest Bloch definiu a utopia concreta.
Não é uma fantasia, mas sim uma busca das possibilidades efetivas que
estão latentes e ainda não foram realizadas. Não é uma mera idealização
por que é vinculada a uma ação que aponta para o futuro.
É com esta concepção que encarei o desafio de ser candidata à
Presidência da República e de defender e lutar por esta utopia concreta.
Acredito firmemente que o que há hoje não é o todo possível. O que hoje
ainda não é, amanhã é o que ainda pode ser. Otimismo? Sim, vivo entre o
pessimismo da razão e otimismo da vontade, como escreveu Gramsci. Os
sonhos podem ser uma tentativa de transcendência da realidade dada, e a
esperança uma racionalidade antecipadora. Se juntos, sonho e esperança,
forem os motores da ação.
No dia a dia, os interesses dos de cima são sempre apresentados como
interesses universais. Discurso feito para justificar a dominação oculta
que tenta banir o pensamento crítico. Me nego a aceitar a exploração e o
abismo entre ricos e pobres como um dado natural e imutável. Me nego a
aceitar este simulacro de democracia que vivemos como o máximo
alcançável. Não aceito como natural a opressão aos LGBTs, às mulheres,
às negras e aos negros.
Às vezes o pessimismo da razão toma conta e quase fraquejo. Quando leio
absurdos ou vejo jovens já velhos e acomodados. Alguns até com raiva de
quem ainda sonha. Mas logo o otimismo da vontade me contagia novamente,
pois a realidade é muito mais rica do que aparece na superfície. Uma
alternativa de poder não surge espontaneamente. O processo é longo,
cheio de idas e vindas, contradições e impasses. O mundo árabe que o
diga. Mas, Podemos na Espanha e Syriza na Grécia fortalecem a esperança
de que é possível avançar. Tudo o que ocorreu no Brasil desde junho de
2013 até hoje evidencia as contradições do processo mas também as
possibilidades abertas.
A luta está apenas começando. O possível é uma construção humana. Nada
está pronto. Nossa enorme responsabilidade é negar o dado, dando forma e
conteúdo ao novo.
Muito obrigada a todos e todas que nos ajudaram a continuar, nas pegadas
dos corajosos e corajosas que nos antecederam e abriram caminhos, na
árdua mas gratificante tarefa de construção deste novo. Vamos continuar!
Boas Festas! Feliz 2015!
Um abraço,
Luciana Genro
Luciana Genro
PS.: A foto é com a Luna, durante a campanha eleitoral, em Porto Alegre.