Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Esopo e os políticos ontem e hoje

Quarta, 23 de dezembro de 2014
Por
Siro Darlan
, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Coordenador Rio da Associação Juízes para a democracia.

Esopo foi um pensador grego que escreveu no século VII antes de Cristo fábulas de caráter moral e alegórico que permanece aplicável até os tempos atuais. Uma delas me chama muita atenção pelo seu caráter pedagógico e a prevalência do instinto animal da força sobre a razão.
 
Conta Esopo que um Lobo estava bebendo água num riacho, logo mais abaixo um cordeiro começou a beber. O Lobo, fazendo uso de sua superioridade, de sua força e de sua arbitrariedade reclamou arreganhando os dentes: Como você tem a ousadia de vir sujar a água que estou bebendo? O Cordeiro, com subserviência e humildade respondeu: Como sujar? A água corre daí para cá, logo não posso estar sujando sua água.
 
O Lobo, autoritário, replicou: Não me responda. Pois sei que você estragou o meu pasto. O Cordeiro humilde respondeu: Como posso ter estragado seu pasto, se nem dentes tenho? Ao que emendou o Lobo, fiquei sabendo que você andou falando mal de mim há um ano. O Cordeiro, inocente, respondeu: Como poderia falar mal do senhor há um ano se sequer completei um ano? E o Lobo arrogante não tendo mais argumentos, atacando o Cordeiro, ainda disse: Se não foi você, foi seu pai, sua mãe, algum parente. Devorando o mais fraco.
 
A história é a mesma. O Lobo reformou um estádio com superfaturamento e entregou para seus amigos construtores, destruiu o parque aquático e a pista de atletismo às vésperas de uma olímpiada. Expulsou os índios, aumentou a tarifa dos transportes, colocou o helicóptero oficial para transportar animais de estimação e contratou a esposa para administrar as concessionárias públicas responsáveis pela má prestação do serviço e alto custo para o rebanho.
 
O Cordeiro oprimido pelo alto custo de vida e entristecido pelo uso feito das taxas e impostos cobrados pelo Lobo foi às ruas reclamar contra essa exploração exigindo respeito aos mais humildes e oprimidos. O Lobo, tal como no século VII A/C, deu ordens a seus guardas para que prendessem os Cordeiros e os levassem para as masmorras acusando-os de incendiarem a Casa das Leis, que nunca foi incendiada; quebrarem as vidraças dos banqueiros, que nunca reclamaram qualquer dano.
 
Enfim, mais uma vez, o autoritarismo e a força venceram a razão e os argumentos disponíveis dos mais frágeis. Os cordeiros estão nas masmorras. Mas, quem se importa?