Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Pacificação? A violência recrudesce na cidade maravilhosa

Segunda, 5 de maio de 2014
Jornal do Brasil
Davison Coutinho*
As comunidades do Rio de Janeiro estão vivendo uma verdadeira guerra. Enquanto a cidade está voltada para a Copa do Mundo, estamos perdendo a cada dia muitas vidas inocentes dos moradores de favelas. A cada dia perdemos um trabalhador que perde sua vida graças à violência que recrudesce nas favelas ditas “pacificadas”. 
Estamos vivendo com o terror e a insegurança, já não podemos andar pela nossa comunidade sem o medo de a qualquer momento vivenciar um tiroteio, ou até mesmo ser vítima de uma bala perdida. Nossas crianças precisam ficar em casa e sofrem com medo e falta de lazer.

Com toda essa guerra, ainda continuamos vivendo com os mesmos problemas da Rocinha de quarenta anos atrás. Vivemos em um subdesenvolvimento, as margens dos direitos básicos de qualquer cidadão. Enquanto isso, a cidade está sendo vendida como palco para os grandes eventos internacionais.
Antigamente, nenhum morador queria sair da Rocinha. Hoje a situação é diferente. Tiroteios diários, especulação imobiliária, falta de lazer e segurança fazem com que a maioria das pessoas sonhe em morar em outro lugar. A pacificação nunca será verdadeira enquanto for permitido que as pessoas convivam em um lugar com tanta pobreza e descaso, e enquanto o Governo não fizer ao papel dele com seriedade nas comunidades. Nunca haverá paz enquanto pessoas viverem com tanta desigualdade.
   A maquiagem não dura para sempre, e no caso da pacificação, ela já acabou. O problema está sendo revelado e intensificado a cada dia. Um verdadeiro absurdo o que se tem feito com tantas vidas, inclusive com as dos policiais que são jogados sem nenhum preparo dentro dos labirintos das favelas. E como resultado tiram a vida de muitos inocentes. 
   Quantas vidas se perdendo, quantos sonhos deixando de acontecer, quantos filhos perdendo seus pais e quantos pais enterrando seus filhos. 
    Isso é pacificação?
*Davison Coutinho, 24 anos, morador da Rocinha desde o nascimento. Bacharel em desenho industrial pela PUC-Rio, Mestrando em Design pela PUC-Rio, membro da comissão de moradores da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu, professor, escritor, designer e liderança comunitária na Comunidade, funcionário da PUC-Rio