Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Fundo de População da ONU pede valorização das enfermeiras obstétricas no Brasil

Segunda, 6 de maio de 2019
Da
ONU no Brasil
Parteiras profissionais ajudam a garantir gestações e partos seguros. Foto: UNFPA Brasil/Fernando Ribeiro
Parteiras profissionais ajudam a garantir gestações e partos seguros. Foto: UNFPA Brasil/Fernando Ribeiro
No mês em que o mundo celebra o Dia Internacional da Parteira, lembrado em 5 de maio, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil pede a valorização e o reconhecimento das enfermeiras obstétricas — as parteiras profissionais do país. Agência da ONU ressalta o papel dessas trabalhadoras na promoção da dignidade e da segurança de gestantes e recém-nascidos.

“É importante valorizar e empoderar os diversos profissionais envolvidos na assistência ao parto, inclusive enfermeiras obstétricas e obstetrizes. No Brasil, a organização de assistência ao parto tende a ser centralizada na atuação de obstetras individuais, em oposição a uma abordagem multidisciplinar e de equipe”, explica a oficial de saúde sexual e reprodutiva do UNFPA, Anna Cunha.
Conforme o último Relatório sobre a Situação da População Mundial, o Brasil teve redução de 50% no número de mortes maternas, que caiu de 88 para cada 100 mil nascidos, em 1994, para 44, em 2015. Mas segundo Anna Cunha, é preciso lembrar que o país é o segundo do mundo que mais realiza cesarianas — em 2016, mais da metade de todos os partos (55%) foram cesáreas. O cenário, de acordo com a especialista, tende a sinalizar um emprego excessivo de intervenções obstétricas.
Parteira há 20 anos, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), Camilla Søndre Schneck, defende mais estímulos à formação das enfermeiras obstétricas, bem como ao aumento dos cursos de especialização e graduação no país. Para a docente, o número de profissionais ainda não é suficiente para atender à demanda da população brasileira.
“A gente encontra as parteiras no sistema de saúde, mas, como temos um país com dimensões continentais, a inserção é desigual e varia muito”, explica a docente, que faz parte do Conselho Permanente de Educação da Confederação Internacional de Parteiras.
Camilla ressalta que as parteiras atuam em todas as fases da gravidez, não apenas durante o parto, contribuindo para ampliar a capacidade de decisão das mulheres e, com isso, aumentar a igualdade de gênero.
“As parteiras compõem as equipes de saúde para o provimento de atenção à saúde, seja no atendimento ao parto ou em outro âmbito e em conjunto com outros profissionais. Elas conferem segurança e aproximam as mulheres da experiência do parto enquanto protagonistas, de forma que passam a ter mais controle de seu corpo, o que evita intervenções desnecessárias e impacta nos indicadores de saúde. Promover o parto como esse momento, respeitando escolhas, deixa as mulheres mais felizes e satisfeitas, reduzindo momentos adversos”, enfatiza a pesquisadora.

UNFPA: parteiras são ‘heroínas da saúde pública’

Em mensagem para lembrar o dia internacional, a diretora-executiva do UNFPA, Natalia Kanem, destacou que as parteiras são “heroínas da saúde pública, assegurando que uma mulher possa ter uma gravidez saudável, um parto seguro e cuidados essenciais para o recém-nascido”. Com isso, segundo a dirigente, essas profissionais garantem alguns dos direitos humanos mais básicos.
“Ponte entre as comunidades e os centros de saúde tradicionais, as parteiras prestam serviços vitais de saúde materna que são essenciais para reduzir as mortes maternas e tornar o parto mais seguro em áreas remotas e carentes e em crises humanitárias. As parteiras não só salvam vidas, como também capacitam as mulheres e os casais a fazerem escolhas informadas e saudáveis”, afirmou a chefe da agência da ONU.
Natalia explicou que, em mais de 120 países, o organismo internacional apoia as autoridades a alinhar o currículo de formação das parteiras a padrões globais. A instituição também atua no fortalecimento das escolas de obstetrícia.
“Ao mesmo tempo, trabalhamos com parteiras e associações médicas para criar um ambiente em que as parteiras complementem os serviços formais de saúde e sejam vistas, tanto pelas mães quanto pelos médicos, como uma parte crucial dos cuidados de saúde materna”, explicou a dirigente.
Com auxílio do UNFPA, programas de capacitação já formaram 115 mil parteiras em diferentes regiões do mundo. Essas profissionais foram posteriormente integradas às redes de saúde materna das suas comunidades.
“Neste Dia Internacional da Parteira, peço a todos os governos, parceiros e cidadãos que se unam ao UNFPA no apoio às parteiras. Vamos mostrar o nosso maior apreço pelo trabalho incansável que elas exercem, ajudando-as a garantir direitos e escolhas reprodutivas e preservando a saúde e o bem-estar de mulheres e bebês em todo o mundo. As parteiras salvam vidas”, completou Natalia.