Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Enem, para quem?

Quinta, 14 de maio de 2020


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Mais uma vez o desgoverno quer prejudicar os mais desfavorecidos do nosso povo. Desta vez, suas ações irresponsáveis e desumanas podem prejudicar quase metade de jovens estudantes que sonham com a aprovação no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para concorrer a uma vaga no Ensino Superior. Sem o adiamento da realização das provas, agendadas para novembro deste ano, metade dos(as) candidatos(as) mais pobres podem ser prejudicados(as).
A ilusão de que disponibilizar conteúdo na internet é dar aulas, além das questões pedagógicas que dificultam o ensino e a aprendizagem, ignora o fato que a exclusão tecnológica no pais ainda é gigantesca. Muitos não dispõem de acesso à internet, tão pouco a computadores, item que não está na lista básica de consumo nas casas das pessoas mais vulneráveis.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua sobre Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua TIC, 2018), divulgada este ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Em números totais, isso representa cerca de 46 milhões de brasileiros(as) que não acessam a rede mundial de computadores.
O acesso, realizado por aparelhos celulares, como ocorre com a maioria das pessoas, não permite aprendizado e preparo para a realização dos exames, fora o fato de que, em diversas localidades, especialmente das regiões Norte e Nordeste, mesmo com um mínimo de recurso pessoal, não há acesso. Além disso, essa juventude excluída tecnologicamente, ainda padece com a ausência de material de leitura atualizada, diálogos e ambientes favoráveis aos estudos e ainda ânimo para seguir aplicada nos estudos que se tornam caros diante de outra parcela de estudantes que estão na dianteira do Exame frente aos mais vulneráveis.
Como, mais uma vez, será permitido que as iniquidades prejudiquem nossa juventude para que ela, pelo menos, tente acessar a educação superior? Não podemos deixar que isso aconteça. Dia 13, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou o pedido de adiamento solicitado por entidades estudantis, todavia, não podemos nos aquietar diante da possibilidade de que o sonho em ingressar na universidade seja tolhido da vida de milhares de jovens brasileiros(as), ainda mais no contexto de pandemia em que vivemos.
O Brasil não pode dar as costas para a juventude da periferia, onde as desigualdades imperam de ponto a ponto. A banda é curta, o celular é coletivo, as paredes não possuem prateleiras de livros, o reforço no estudo é o silêncio do cansaço de um dia de trabalho e onde o diálogo sobre os temas contemporâneos versam sobre a fome e a possibilidade de pagamento das contas do mês com o auxílio financeiro que ainda não chegou para muitos. Precisamos garantir a igualdade na realização do Enem para todos(as), afinal, ele não é para alguns. Ele é para toda juventude brasileira.
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*Professora Fátima Sousa
Paraibana, 40 anos dedicados a saúde e a gestão pública; 
Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília;
Enfermeira Sanitarista, Doutora em Ciências da Saúde, Mestre em Ciências Sociais; 
Doutora Honoris Causa;
Implantou o ‘Saúde da Família’ no Brasil, depois do sucesso na Paraíba e em São Paulo capital; 
Implantou os Agentes Comunitários de Saúde;
Dirigiu a Faculdade de Saúde da UnB: 5 cursos avaliados com nota máxima;
Lutou pela criação do SUS na constituinte de 1988;
Premiada pela Organização Panamericana de Saúde, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.