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(Millôr Fernandes)

domingo, 10 de maio de 2020

O que foi a Aliança para o Progresso?

Domingo, 10 de mai de 2020
Do porbrasilia
Por Salin Siddartha



Por Salin Siddartha
A “Aliança para o Progresso” foi um instrumento criado pelo Presidente John Kennedy com o intuito de conter o avanço do comunismo. Era um programa cooperativo destinado a acelerar o desenvolvimento econômico e social da América Latina, enquanto visava frear a possibilidade de insurreições socialistas, mormente depois que a Revolução Cubana passou a desagradar o capitalismo, com a cooperação que Cuba recebeu da URSS, a partir de 1961.
A “Aliança para o Progresso” delineou-se a partir da “Carta de Punta del Este”, conclamando os governantes latino-americanos a estabelecer planos de desenvolvimento nacional nos quais Washington auxiliaria. Foi fruto do reconhecimento estadunidense dos projetos nacionais para tornar possível o crescimento econômico da América Latina.
Ela visava a dois alvos: suprir as carências cotidianas das populações com moradias, roupas, alimentos, educação e saúde, em curto prazo; elevar o padrão de vida da região com desenvolvimento, integração econômica, contenção de custos das matérias-primas e saneamento financeiro, em longo prazo. Como instrumento de fomento, administrava o Fundo Especial Interamericano de Desenvolvimento, em projetos de reforma agrária, habitação, educação, saúde e saneamento básico.
O Brasil foi dos primeiros signatários do acordo da “Aliança para o Progresso”, juntamente com Honduras, Panamá, Haiti, Costa Rica, Estados Unidos, Uruguai, El Salvador, Chile e Nicarágua. Cuba não quis assinar o acordo. Durante o tempo em que a Aliança existiu, concedeu recursos às nações coparticipantes.
O braço operacional da “Aliança para o Progresso”, a United States Agency for Internacional Development-USAID, privilegiava as relações entre os agentes dos Estados Unidos e os organismos burocráticos dos governos que com eles trabalhavam. Entre 1961 e 1969, a USAID destinou bilhões de dólares para assistência econômica e militar, que colaboraram para instaurar governos que ajudaram a aplicação de políticas definidas pelos Estados Unidos.
A Aliança amparou múltiplas ações militares norte-americanas em nosso continente, nos processos políticos locais. Para barrar as explosões nacionalistas na América Latina, os Estados Unidos se valeram dela para contrapor os “Peace Corps”, que aplainaram uma situação para, mais tarde, organizar o Plano Colômbia, depor o Presidente do Equador, derrubar Victor Haya de La Torre, no Peru, materializar um golpe de Estado na Guatemala, na República Dominicana, na Bolívia e no Brasil (contra João Goulart).
Os EUA também utilizaram os recursos do projeto para constituir, na Colômbia, a “American Secutity Operation” (chamado de Plano LASO), a fim de manter sob seu controle revoltas populares originadas em Maquetalia e sabotar a candidatura de Salvador Allende, no Chile. A “Aliança para o Progresso” financiou e prestou ajuda militar em todos esses episódios.
O Brasil foi o parceiro latino-americano que mais recebeu ajuda da Aliança na década de 1960, porém o programa foi rechaçado durante o Governo de Jango, que, apesar de, certas vezes, dele se utilizar, também o confrontava. Os Estados Unidos consideravam que o Nordeste era a região brasileira em que o comunismo mais chance tinha de propagar-se, até mesmo por ser a localidade em que a miséria se mostrava presente com mais latência. Essa foi a causa de o Nordeste ter sido o principal foco de aplicação assistencial da “Aliança para o Progresso”.
Várias missões norte-americanas ancoraram na costa brasileira, ofertando, por exemplo, leite em pó, construindo bairros com moradias populares, escolas públicas, hospitais etc. Demagogicamente, o Presidente John Kennedy costumava clamar para que a Aliança pontuasse um projeto decenal para o hemisfério, o qual transformasse aqueles anos em um período de desenvolvimento.
Ela colaborou para a implementação da Ditadura Militar no Brasil, chegando, no Governo do Marechal Castello Branco, ao seu ponto mais alto de atuação.
Enquanto durou, “Aliança para o Progresso” catalisou investimentos de muitas organizações internacionais, países europeus e empresas privadas, além dos Estados Unidos. O Governo de Richard Nixon encerrou o projeto em 1969, fundamentando-se na proposta do Relatório Rockefeller de alterar a política estadunidense para a América Latina.
Cruzeiro-DF, 9 de maio de 2020
SALIN SIDDARTHA