QUEM FAZ LOBBY PARA OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS?
É preciso muita ingenuidade ou profunda ignorância para acreditar nas informações e análises de “O Globo”. No domingo, 9 de novembro de 2025, na primeira página lê-se a chamada para coluna de Míriam Leitão, à página 18, com os dizeres “Mundo deve se liberar do lobby fóssil”.
Quais são os combustíveis fósseis, quando surgiram e teriam ou precisariam de algum lobista?
Os combustíveis fósseis são o carvão mineral e o petróleo, este último é encontrado na forma líquida, óleo, e na forma gasosa, gás natural, em rochas permeáveis e porosas de reservatórios. É preciso distingui-lo do petróleo, ou seja, do óleo e do gás obtidos de folhelhos betuminosos. O processo de obtenção já é distinto; para petróleo perfuram-se poços, para o betume realiza-se o fracking (fraturamento hidráulico).
O uso episódico de carvão mineral ou as exsudações de óleo remontam à antiguidade, mas, em larga escala, o uso do carvão mineral começa com a Revolução Industrial, no século XVIII, principalmente na Inglaterra, devido à escassez de lenha, ou seja, pela falta de carvão vegetal.
Desde o início da Idade Moderna, meados do século XV, o combustível que movia a Europa era resultado da destruição das florestas. Quando o caro leitor viaja pela Europa, atravessando florestas pela Alemanha, França, Espanha, Áustria, Suíça, não imagina que parte considerável, quase integralmente, são compostas por plantações, estabelecidas artificialmente, e geridas intensivamente para fins como produção de madeira. As florestas naturais representam cerca de 0,3%, e se concentram na Bósnia e Herzegovina, no Parque Nacional Sutjeska, perto da fronteira com Montenegro.
Esta agressão ecológica perdurou até meados do século XVIII, quando foi substituída pelo carvão mineral, abundante na Grã-Bretanha. O petróleo foi descoberto cerca de cem anos depois, quase simultaneamente, no Azerbaijão (1846), pelos irmãos mais velhos de Alfred Nobel, criador do Prêmio Nobel, das mais ricas famílias da Europa, e nos Estados Unidos da América (EUA), em 1859, pelo minerador Edwin Drake, procurando extrair sal do subsolo.
O carvão mineral é mais eficiente que o carvão vegetal devido ao seu maior poder calorífico e capacidade de produzir mais energia por unidade de peso. Em comparação com o petróleo, ambos são combustíveis fósseis com alta eficiência, mas o petróleo tende a ser mais denso em energia e versátil em suas aplicações, além de ser mais barato para idêntica quantidade de energia obtida.
Se fossem coerentes na defesa do liberalismo, nem a jornalista nem seus editores defenderiam o uso das “energias alternativas”, que têm levado os EUA e a Europa da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) à desindustrialização e ao desemprego. Se estiverem tão preocupados com a poluição das fontes energéticas fósseis, deveriam incentivar a pesquisa da energia nuclear, como vem realizando a China, o único país que já obteve, ainda que por pouquíssimo tempo, a produção da energia pela fusão nuclear, a mais possante e limpa energia conhecida.
Porém a questão é outra. E decorre da batalha travada, desde a I Grande Guerra (1914-1918), pelo poder mundial, entre o poder financeiro e o poder industrial.
A HISTÓRIA DE MAIS DE UM SÉCULO QUE CONTINUA FORA DAS MÍDIAS
A aristocracia inglesa teve a sabedoria de construir sua marinha não apenas para guerra, conquista e comércio, mas para se enriquecer. E obteve sucesso, apropriando-se de descobertas: portuguesas, na América; italianas e espanholas, na África; e ampliando suas próprias aventuras pelos mares bravios. Quando tem início a industrialização, ao contrário de outros países, não deixa que se constitua uma nova e poderosa classe, os industriais, mas os submete aos empréstimos, deixa-os serem conduzidos pela aristocracia. E é esta aristocracia que dominará o século XIX como o Império onde o Sol nunca se põe.
Mas o petróleo, que passa a ser o motor do mundo, ao contrário do carvão mineral, não existia no Reino Unido, mas deu até 1922 autossuficiência aos EUA.
Ao fim da I Grande Guerra (I GG), com as perdas britânicas com a Revolução Russa de outubro de 1918, a aristocracia inglesa já não desfrutava do mesmo poder que no século XIX, mas não se conformava e partiu para confrontar a industrialização e seu motor, o petróleo. A princípio não agressivamente, até porque o Reino Unido tinha uma das cinco irmãs que dominavam o mundo do petróleo: a Royal Dutch Shell. Porém a criação da Organização dos Países Exportadores do Petróleo (OPEP), as independências das colônias na África, e o protagonismo estadunidense obrigaram a construir uma narrativa onde o petróleo era o mal para humanidade e sua substituição, por outras produtoras de energia, verdadeira obrigação para preservação da vida do homem e da natureza no planeta.
Desde meados do século XVII, as águas do rio Tâmisa não eram consideradas potáveis, porém, no quente verão de 1858, o odor emanado causou o “Grande Fedor”, que mobilizou a sociedade e obrigou o Governo a adotar medidas para criar um sistema de saneamento para a cidade. Muitas destas iniciativas populares ganharam apoio de cientistas, transformando uma questão circunscrita a Londres numa preocupação nacional. Assim, a aristocracia assimilou a questão ambiental, logo ampliada para climática e global para o combate aos combustíveis fósseis, esquecida do carvão mineral, que, por questão de eficiência e custo, fora substituído pelo petróleo.
Após a II Grande Guerra, os EUA e sua indústria tomam conta do Planeta, tendo como opositora a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), constituída em dezembro de 1922. Denominada Guerra Fria, a disputa entre os EUA e a URSS toma o mundo pós 1945, quando, desde meados da década de 1920, a aristocracia inglesa combatia a industrialização estadunidense. Na disputa finanças vs indústria muitos eventos foram ocorrendo, ora favorecendo as finanças ora a industrialização, quando em 1980 as finanças obtêm a grande vitória da desregulação financeira nos dois maiores mercados do planeta: Londres e Nova Iorque, logo se espalhando pelos demais.
O que se sucede a seguir pode ser considerado consequência, sendo mais notável a verdadeira constituição mundial na forma de um decálogo, em 1989, denominado Consenso de Washington. Com a falência do sistema socialista russo, burocratizado e corrupto desde 1964, Mikhail Gorbachev dá por finda a URSS que é substituída pela Comunidade dos Estados Independentes (CEI), em dezembro de 1991.
Vencedoras da industrialização e da governança socialista impuseram um fantoche na Rússia — a China, desde o fracasso da Revolução Cultural, era governada por Deng Xiao Ping (1978.1989), adepto do capitalismo — e passaram a emitir títulos sem lastro que deram grandes lucros aos financistas, até a crise de 2008/2010. Também constituíam novas organizações para gestão, com mais flexibilidade do que os bancos, cerceados por legislações e regulamentos, que se denominaram gestores de ativos: BlackRock, Vanguard, Fidelity Investments, State Street Global Advisors, J.P. Morgan Asset Management, Capital Group, Nuveen, UBS Asset Management, Goldman Sachs Asset Management e Amundi. Também criaram gestores de maior risco, denominados Hedge Funds, que elevaram as especulações no mercado das finanças. Consolidaram as finanças seu poder.
Mas se subjugaram a industrialização, não conseguiram eliminar o petróleo pela simples racionalidade administrativa que não substitui um produto melhor e mais barato por outro menos eficiente e mais oneroso. Daí as campanhas midiatizadas, subsidiadas das transições energéticas.
O TERRÍVEL FUTURO DE UM MUNDO SEM EMPREGO E SÓ PARA RICOS
Míriam Leitão cita, na sua coluna “Belém e o futuro da humanidade” (O Globo, Ano CI, Nº 33.697), o secretário-geral da ONU, António Guterres: “terrível futuro se o mundo continuar prisioneiro do lobby fóssil”. Examinemos as alternativas.
O grande lobby deste século XXI está nos donos e CEOs das plataformas e mídias virtuais. Apenas como exemplos: Mark Zuckerberg, da META; Elon Musk, da Space X; Jeff Bezos, da Amazon; Bill Gates, da Microsoft; Jensen Hung, da NVidia; Larry Page e Sergey Brin, da Alphabet, entre tantos outros que informam e desinformam todos que têm um aparelho celular.
A transição energética não leva a energia para maior eficiência e menores custos, muito ao contrário.
O ex-presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates (26/1/2023-21/5/2024), firmou uma parceria com a WEG para investir R$ 130 milhões na produção de 7 MW em energia eólica offshore. Todas as variáveis desta equivalência por barris de petróleo são muito relativas, entre outros fatores estão a qualidade do petróleo, a eficiência da usina geradora e o período analisado. Porém pode-se estipular que um barril de petróleo equivalente (BOE) contém aproximadamente 1,7 MWh (megawatt-hora) de energia. Considerando o período de Prates a frente da Petrobrás, podemos estipular a US$ 74 o preço do barril de petróleo e a conversão cambial US$/R$ de um para 2,38. Péssimo negócio para a Petrobrás e para o Brasil: uma energia cara e intermitente ao invés de um bem de múltiplos usos e produtor de energia estocável.
Na verdade, quando se refere a transição ninguém pensa no retorno ao passado, mas numa conquista para o futuro. O Sol e o vento estão no primórdio da energia utilizada pelo homem. Só falta a destruição das florestas como fez a Europa antes de descobrir o carvão mineral.
E considerando a COP30, o que poderia fazer o Brasil numa Amazônia governada por mais de cem mil Organizações Não Governamentais (ONGs) com interesses tão distintos que vão a catequese de índios ao tráfico de drogas.
Porém temos que reconhecer que a governança das finanças desde 1980 já produziu menos instrução para o povo e muito mais misticismo, acreditando mais em milagres do que na ciência, a ponto de ter Ministro da Saúde combatendo a vacinação.
Realmente a jornalista deve ficar se iludindo e a seus leitores com valores de investimentos, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) e suas avaliações de risco, taxas de retorno, controle das aplicações e outras fantasias para que as ONGs prossigam com seus trabalhos e o Brasil não tenha controle da Amazônia Brasileira, dos espaços de menores salários no País.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
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