Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Dia útil, só para os ladrões

Terça, 3 de janeiro de 2012
Por Ivan de Carvalho
Que coisa mais inútil foi ontem, o primeiro dia útil de 2012. Esse ano de 2012 se anunciou arrepiante, entre outras coisas por causa do fim do calendário maia em 21 de dezembro, o que para alguns significaria o fim do mundo. Para outros, o início de uma nova Era, que nasceria de um terrível drama: como a Fénix que ressurge das próprias cinzas, a nova Era, muito melhor que a que finda, emergiria das ruínas da atual civilização que seria destruída. 

Essas previsões assustadoras se fundamenta, em parte, a um apavorante “alinhamento dos planetas” previsto por videntes antigos e contemporâneos, entre os primeiros Nostradamus – “e os planetas se reúnem para uma revolução”. Alinhados o Sol e os planetas, a Terra seria “esticada” e isso produziria depois, gradualmente, mas com uma força incrível, movimentos na massa do planeta. Terremotos imensos, erupções vulcânicas. Um profeta bíblico, Isaías, fala do futuro pondo o verbo no passado: “E a Terra balançou como rede de dormir”. Nostradamus sugere que a órbita terrestre será alterada. 

E Jesus afirma que “as potestades do céu serão abaladas”, o que significa, evidentemente, que as forças celestes serão abaladas. Não necessariamente em 2012, mas em anos seguintes. 

Outras perturbações astronômicas se somariam às catástrofes e hecatombes que a própria humanidade ou suas elites políticas, econômicas militares e intelectuais cuidariam – ou cuidarão – de providenciar. Ontem o Irã brindou o primeiro dia útil do ano com o lançamento de três mísseis no Estreito de Ormuz, que já ameaçou fechar caso o grande ayatollah Ali Khamenei acorde mais invocado pouquinha coisa qualquer dia desses. 

Israel, é claro, reagiu, com seu ministro da Defesa e ex-primeiro- ministro, Ehud Barak sugerindo que deixem os foguetes iranianos pra lá no momento, pois a ameça não é pra valer, já que colocaria toda a comunidade internacional contra o Irã, mas apenas uma pressão na tentativa de evitar que o Conselho de Segurança da ONU agrave as sanções econômicas contra o governo iraniano. 

Reagiu com a mesma firmeza o secretário de governo da prefeitura de Salvador, deputado João Leão (com esse sobrenome, é fácil), quando lhe foi sugerido que há rumores de que o prefeito João Henrique, como ele, do PP, pode apoiar o petista Nelson Pelegrino para prefeito. Após argumentar que tem todas as condições para ser candidato à sucessão de João Henrique, Leão rugiu: 

“Dizem que Wagner quer é me apoiar. Tudo na vida é possível, possa ser que ele deixe de apoiar o dele. Eu fiz a proposta para Pelegrino que quem se sair melhor nas pesquisas, daqui para as convenções, sai candidato. Eu estou esperando a resposta dele, mas eu não aceito ser vice”. 

Resposta mais chata – aos rumores – essa do secretário João Leão. 

A coisa mais grave de 2012, por enquanto, até porque já está consumada, foi o roubo do carro oficial da Assembleia Legislativa que serve (melhor, servia) à deputada Maria Del Carmen. Roubaram na porta da casa dela, em Brotas, mas ela felizmente ainda estava dentro da casa e os ladrões não se interessaram pelo motorista. 

De qualquer modo, foi um desplante, uma falta de respeito dos ladrões, como é que não respeitam mais sequer os carros chapa-preta, que até há um pouco de tempo desfrutavam de uma certa reverência dos ladrões. 

E o cúmulo do desaforo é que nem uma deputada oposicionista é Maria Del Carmen. Ela é governista e, ainda por cima, não é de um partido qualquer da base, é do PT. 

Do PT, gente, do PT! Que malfeitores esses malfeitores!