Sábado, 28 de janeiro de 2012
Por Ivan de Carvalho

É também uma maneira de manifestar solidariedade ao
povo que, na época do Holocausto, não tinha um país e desde o ano 70 da era
cristã, com a Diáspora, vinha e continua sendo com freqüência alvo de
perseguições de diversas intensidades e amplitudes, variando do preconceito ao
genocídio, como ocorreu no caso do Holocausto, que um celerado como o
presidente-ditador do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, declara ser “uma fraude” e “um
mito”, que segundo ele teve o objetivo de fundamentar a criação do Estado de
Israel.
A presidente aceitou o convite da Sociedade
Israelita da Bahia para estar presente no encontro que ocorrerá no Forum Ruy
Barbosa em memória da “fraude” que produziu a morte de seis milhões de judeus
em campos de concentração nazistas.
Uma outra atitude favorável à preservação e
valorização dos direitos humanos acaba de ser adotada pelo governo brasileiro,
por intermédio do Itamaraty, mas evidentemente por decisão da presidente da
República. O governo atendeu a um pedido de visto de entrada no Brasil da
blogueira cubana Yoani Sánchez, detentora de dez prêmios internacionais, que
vem à Bahia para o lançamento, em Jequié, de um documentário sobre a “Conexão
Cuba-Honduras”, no qual Yoani dá um depoimento.
Ela também encaminhou à presidente Dilma
Rousseff, por intermédio da embaixada brasileira, uma carta em que pede a
interferência da chefe de Estado junto ao governo cubano para que a licença de
saída de Cuba – um documento apelidado no país dos Castro de “carta branca”.
Isto porque sair de Cuba não é considerado um direito, mas algum tipo de
concessão que o regime faz às pessoas, quando acha que convém. Ou que negar não
convém, como é agora o caso.
Não há dúvida de que o Itamaraty, antes de dar o
visto de entrada, e considerando o relacionamento idílico que os governos
brasileiro e cubano têm mantido há anos (daqui a poucos dias a presidente Dilma
vai a Cuba), fez contato com o governo da ilha e certificou-se de que a “carta
branca” será concedida. A negativa, evidentemente, chamaria muito mais atenção
para o caso do que a vinda de Yoani ao Brasil. Seria mais desagradável para o
governo cubano, que já negou, antes, todos os 20 pedidos de Yoani para viajar
ao exterior.
Mas desta vez a viagem é para o Brasil, cujo
governo tem prestigiado muito, nos últimos nove anos, a ditadura dos irmãos
Castro, e a presidente Dilma estaria numa situação muito incômoda se Yoani
fosse impedida de sair de lá para respirar um pouco de ar livre. É que existe a
carta (não divulgada) de Yoani a Dilma e esta seria colocada ante duas
interpretações alternativas: ou atendeu ao pedido de interferência de Yoani e
não teve a influência necessária ou não quis interferir. Qualquer das
alternativas seria ruim. A presidente naturalmente compreendeu isto tão bem
quanto os irmãos Castro.
Quem anda indignado com a sinuca de bico da qual
não conseguiu desvencilhar-se é o assessor especial da Presidência para
Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, aquele incapaz de falar duas
coisas sem dizer três bobagens. Já disse que se Yoani pedir asilo político
dificilmente poderia manter seu blog (ela não pediu nem vai pedir asilo
nenhum), vai voltar para Cuba porque quer ficar lutando de dentro, só o “assessor”
parece não entender isso. Ele disse também que o Brasil deu o visto de entrada
e que para sair de Cuba, Yoani que se vire, o que, em tese, exclui do jogo a
hipótese de a presidente Dilma ter influenciado para a saída ser permitida.
Devia ter ficado calado. Quem tem um assessor
desses não precisa de inimigo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.