Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Tucanos atrapalhados

Terça, 10 de janeiro de 2012 
Por Ivan de Carvalho 
A prioridade máxima do PT nas eleições municipais deste ano é eleger o prefeito de São Paulo. A mão forte do ex-presidente Lula limpou o cenário petista preexistente, afastando os companheiros aspirantes ao cargo, principalmente a senadora e ex-prefeita Marta Suplicy e praticamente inviabilizando a teimosia de forçar uma prévia que o ex-marido dela vinha exigindo.
 
       Para quem estiver com alzheimer, lembro que o ex-marido de Marta é o simpático, honesto, sincero, franco e abilolado senador Eduardo Suplicy, aquele que veste cuecão vermelho por cima do terno escuro e vai para a tribuna do Senado fazer discurso. 

        Aliás, aqui na Bahia temos algo semelhante, um deputado, o Pastor Sargento Isidório (porque é sargento aposentado e pastor da ativa, ele já incorporou formalmente o pastor e o sargento no nome parlamentar, de modo que é provido desses adereços que ele se apresenta nas notícias que o Diário Oficial do Legislativo publica a seu respeito. E não é só ele que usa esse tipo de adereços nominais, vários colegas também o fazem).
 
       Jamais o Pastor Sargento Isidório assomou à tribuna da Assembléia com um reluzente cuecão vermelho ou de qualquer outra cor sobre a roupa, embora há quem considere que perdeu a chance de ouro na inesquecível sessão em que discursou sobre o exame de toque retal (pouco após haver se submetido a esse procedimento diagnóstico), que praticamente amaldiçoou da tribuna, considerando-o humilhante e até uma espécie de desaforo à condição humana, mas finalmente declarando-o tão desagradável quanto indispensável. Se não usou o esfuziante cuecão externo exibido pelo senador Suplicy, Pastor Sargento Isidório já foi várias vezes à tribuna da Assembléia (e a muitos outros lugares) carregando um botijão de gás azul, tamanho natural. Examinado de perto, percebe-se, no entanto, que não é de aço, mas de isopor. Onde está a autenticidade, afinal?
 
        Bem, volto a São Paulo antes que o espaço acabe. Lula (com pequena ajuda de Dilma) deu um peteleco em todo mundo e impôs a candidatura do atual ministro da Educação, Fernando Haddad. E, bem ou mal, está unido o PT. E o PMDB, com Gabriel Chalita. Nos demais setores que contam, uma bagunça geral. José Serra poderia ser o candidato tucano, com apoio do PSD e seu presidente, o prefeito Gilberto Kassab. Mas Serra não diz nada, não dá o menor sinal. Está passando, queira ou não, a impressão de que não topa, preferindo resguardar-se para a hipótese (outra vez, Meu Deus?!) de disputar a presidência da República.
       
       Diante disso, Kassab, que é amigo de Serra, mas tem o vice-governador Afif Domingos em seu partido, passou a propor ao PSDB que o candidato a prefeito seja Afif (bom de voto) e o PSDB entre na coligação e na chapa, indicando o candidato a vice-prefeito (Kassab se comprometeria a apoiar a reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin). Para os analistas, seria uma excelente articulação, mas Alckmin não quer Afif, inclusive por achar que ele tem ligações com Serra, com quem Alckmin não se bica.
     
      Enfim, é o inferno tucano, que está marchando para uma prévia na qual disputarão quatro candidatos nada expressivos: José Aníbal, Bruno Covas (deputado filho do ex-governador Mário Covas), Andrea Matarazzo e Ricardo Tripoli. Time de várzea. E para levar a oposição a perder, até parece que deliberadamente, a prefeitura de São Paulo. Aliás, enquanto os tucanos se bicam em cima do muro, Kassab, vendo a doideira, sugere a Lula uma aliança em que a chapa seria encabeçada pelo petista Haddad e completada por um vice que Lula escolha dentro do PSD.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.