Sábado, 4 de março de 2017
Gravações feitas no gabinete do
distrital Cristiano Araújo mencionam o suposto envolvimento de funcionário do
deputado evangélico no esquema de cobrança de propina para liberação de
recursos para UTIs
Fontes:
Por
HELENA MADER/Correio Braziliense
Blog do Sombra
Defesa
de Bispo Renato: conversas "desprovidas de base empírica"
A
Polícia Civil e o Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) tiveram
problemas técnicos para instalar as escutas ambientais no gabinete do deputado
Bispo Renato (PR), mas ele não escapou de menções em diálogos protagonizados
por outros distritais. Em uma gravação realizada no gabinete de Cristiano
Araújo (PSD), o parlamentar conversa com servidores sobre a Operação Drácon. No
diálogo, mencionam o suposto envolvimento de Donizete dos Santos, chefe de
gabinete de Bispo Renato, no esquema de cobrança de propina para liberação de
recursos para UTIs. “Quanto a isso, não tenho a menor dúvida”, diz um dos
interlocutores. Donizete é citado em depoimentos do empresário Luiz Afonso
Assad, uma das principais testemunhas da Drácon.
No fim
do ano passado, o chefe de gabinete de Bispo Renato virou réu por crime contra
a Lei de Licitações por causa de um episódio que gerou repercussão. Como
administrador do Itapoã, ele gastou R$ 1 milhão com cachês para a festa de
aniversário da cidade, em 2013. Só o cantor Amado Batista recebeu R$ 400 mil. O
tema entrou na conversa entre Cristiano Araújo e servidores de seu gabinete. No
diálogo, eles se referem a Donizete como um personagem poderoso no caso. “Ele é
ou era ligado ao bispo Ronaldo Fonseca, que é deputado federal. Por indicação
dele, foi administrador do Itapoã e teve aquele problema com a emenda do Amado
Batista”, comenta um interlocutor.
Outra
pessoa faz menção à carreira política de Donizete, que chegou a ser candidato à
Prefeitura de Águas Lindas e, de acordo com participantes da conversa, é dono
de uma rádio evangélica. O nome dele teria surgido no escândalo por meio do
então secretário executivo da 3ª Secretaria da Câmara Legislativa, Alexandre
Cerqueira, também indicado por Bispo Renato. “Quem fez as ilações foi o
Alexandre (Cerqueira), que, para não cair sozinho, como emissário da propina,
começou a dizer aqui nos corredores que não foi sozinho, que não teria ido
sozinho”, comenta um dos interlocutores. “Quanto a isso, não tenho a menor
dúvida”, reforça outro.
Um dos
envolvidos na conversa declara que “Donizete tem outros problemas com a
Justiça, problemas mais graves que esse negócio de Itapoã”. Segundo o diálogo,
travado na presença de Cristiano Araújo, o chefe de gabinete de Bispo Renato
teria participado “de desvios no começo da década de 1990”. Na época, acho que
foi preso, teve inquérito”, diz um interlocutor.
Uma das
principais testemunhas contra o deputado Bispo Renato na Drácon é o empresário
Luiz Afonso Assad. Em diferentes depoimentos ao MPDFT, ele relatou encontros
com Bispo Renato e com o distrital Julio Cesar. Em 13 de outubro, por exemplo,
ele declarou “que ambos os distritais relataram que estavam sofrendo pressão do
deputado Cristiano Araújo e do governo para pagamento de dívidas na área da
saúde e queriam que fosse definida, o mais rápido possível, a alocação de tais
recursos”.
Segundo
Assad, nesses encontros, os parlamentares relataram “dificuldades com dívidas
de campanha” e que, de tais relatos, “já se podia perceber que os deputados
distritais Bispo Renato e Julio Cesar buscavam receber uma contrapartida
financeira em decorrência dessa atuação”. O empresário declarou ter participado
“em torno de 10 ou 12 encontros” com Donizete dos Santos. Segundo ele, “esses
contatos pessoais com Donizete tinham como objetivo discutir a destinação de
emendas parlamentares em obras no DF”. Ainda segundo o empresário, ele teve
também “diversos contatos telefônicos com Donizete, inclusive no ano de 2016”.
O
advogado de Bispo Renato, Ticiano Figueiredo, disse que “não tem como comentar
conversas de terceiros, completamente desprovidas de base empírica e que se
referem a comportamentos escusos não condizentes com o deputado e seus servidores”.
O deputado é fundador da Igreja Episcopal Apocalipse. O Correio não conseguiu
localizar os advogados de Donizete dos Santos.
Memória
Cortina
de fumaça
Áudios
captados nos gabinetes de deputados distritais mostram detalhes e bastidores
nos 10 dias que se seguiram à deflagração da Operação Drácon. As gravações,
pedidas pelo MPDFT e autorizadas pela Justiça, revelam como os distritais
contrataram um batalhão de advogados para tentar se livrar da denúncia e como
se articularam para acusar adversários e montar dossiês, criando uma cortina de
fumaça para tirá-los do foco. Os parlamentares também se mobilizaram para
arquivar os pedidos de cassação dos mandatos e, principalmente, para tentar
reduzir os impactos na opinião pública. Foram gravados Celina Leão,
ex-presidente da Câmara Legislativa, Cristiano Araújo e Julio Cesar.