Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Murro ou palmada?

Sexta, 12 de fevereiro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (agora sem partido) foi preso preventivamente e, até o momento em que escrevo estas linhas, a prisão não foi relaxada. Em São Paulo (capital) as chuvas fizeram grandes estragos nos últimos dias e o calor matou 50 pessoas em Santos.
Mesmo assim, a ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff, do PT e o governador paulista José Serra, do PSDB, se mantêm na disposição de vir ao carnaval de Salvador em óbvios atos de campanha eleitoral para a sucessão de Lula. Querem mostrar que prezam os baianos, ou, melhor dizendo, os votos dos baianos.
Mas os dois juntos – ainda que separados – no carnaval de Salvador nos dão uma boa oportunidade para algumas observações. A primeira é a de que, salvo algum terremoto haitiano na política brasileira, um dos dois será presidente da República a partir de 1º de janeiro de 2011. Dos dois, sabe-se que gostam de mandar, têm estilo dominador e ânimo controlador. Serra exercita esses dotes com discrição e calma, com o que nele não se nota arrogância, embora seu estilo não lhe altere a essência. Mas basta lembrar – para confirmar a essência – que, embora seu governo inclua políticos de relevo, a exemplo de Afif Domingos e Geraldo Alckmin, entre outros, só Serra aparece.
Dilma não tinha a menor preocupação com aparências e não se importava de parecer o que tanto já se afirmou que ela é – um trator a passar por cima de tudo que a contraria, e a passar com arrogância. Mas a partir do momento em que foi lançada do nada eleitoral a candidata a presidente por seu chefe, cuidou de vestir uma fantasia apropriada para quem disputa votos e – quem sabe? – para se apresentar no carnaval.
Mas é diáfano o véu da fantasia. A Folha de S. Paulo, em sua coluna Painel (também publicada neste jornal), assinada pela jornalista Renata Lo Prete, informa: “Dilma chegou a bater na mesa ontem (quarta, 10) ao saber que foi convocada para explicar o Programa Nacional de Direitos Humanos no Senado”. Sensível, o jornalista Ricardo Noblat reproduziu ontem a nota em seu blog e deu-lhe o título ideal: “Coitada da mesa”.
É. E também de Dilma, caso não consiga driblar (não sei bem se deveria escrever fugir) à convocação do Senado. O PNDH-3, que ela deverá “explicar”, teve sua aprovação e pela Casa Civil foi levado à assinatura do presidente Lula. Deu aquela crise da Comissão da Verdade, já contornada em relação aos militares, numa solução redacional que vem provocando protestos na “esquerda” e em outras áreas, a exemplo da OAB. Mas o PNDH-3 defende a liberação do aborto, a união civil entre pessoas do mesmo sexo (casamento homossexual), a adoção de crianças por casais homossexuais e um trem (diriam os mineiros) de debate antes de se cumprirem decisões judiciais de reintegração de posse de terras invadidas, o que inquieta e indigna os agricultores. No Senado, vão perguntar a Dilma (se ela for mesmo) qual sua posição sobre tudo isso.
Um inferno. Merecedor daquele murro na mesa. Ou terá sido apenas uma palmada, encarnando o estilo de fantasia?

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.