Segunda, 19 de maio de 2014
Do excelente site blog Bahia em Pauta,editado pelo jornalista Vitor Hugo
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CRÔNICA
Diabo Futebol Clube
Gilson Nogueira
A terra e a grama não são mais as mesmas. Resta o formato
da ferradura, como se o passado estivesse ali dando um coice na idéia de chamar
o velho Estádio Octávio Mangabeira, a Fonte Nova, de Arena.
Naquele chão, que continua no mesmo lugar, desafiando os
terremotos da insensatez, pisei várias vezes, como repórter esportivo. Em uma
delas, vestido de jogador de futebol, com direito a torcida ao pé do ouvido,
gritando, “Cruza, porra, para a grande área!”, e, de quebra, “ Vá para a …, com
tanta moleza!”
A solidão do vestiário acompanhou-me naquela tarde, quando
tentava encurtar a língua, após 45 minutos a sonhar com um gol embaixo de um
sol de rachar pote de barro. Do silêncio, voltei a campo, ao apito final do
juiz.
Aquela preliminar da preliminar de um Bahia e Vitória, na
década de 1970, entre profissionais de jornal contra os de rádio, baianos, está
no armário do tempo de uma Salvador gostosa de viver. E de ver de perto bom
futebol.
Não lembro o placar final. Recordo, com exatidão, mais que tudo, a companhia de colegas que não estão mais aqui embaixo, para dar-nos a alegria do encontro e acompanhar mais uma Copa do Mundo.
Se estivessem, veriam uma Copa sem povo. Não mais a geral, lotada de gente suando paixão, com rádio de pilha colado no ouvido, para não perder nada, e o coração na boca, para gritar Brasil, com alma. Como se não houvesse pecado na terra de Baiaco.
Não lembro o placar final. Recordo, com exatidão, mais que tudo, a companhia de colegas que não estão mais aqui embaixo, para dar-nos a alegria do encontro e acompanhar mais uma Copa do Mundo.
Se estivessem, veriam uma Copa sem povo. Não mais a geral, lotada de gente suando paixão, com rádio de pilha colado no ouvido, para não perder nada, e o coração na boca, para gritar Brasil, com alma. Como se não houvesse pecado na terra de Baiaco.
Os torcedores que vivem de salário mínimo não poderão
torcer, ao vivo, nos estádios da Copa, por culpa da valor dos ingressos
vendidos pela Fifa, a entidade que se considera acima do bem e do mal no mundo
da bola e fora dele.
Imprevisível como um drible de Garrincha, pintado de verde
e amarelo, vou lembrar, na tela da Globo, a melhor seleção da história do
futebol, os companheiros que partiram e, talvez, chorar, novamente, o fracasso
de 1950. O Diabo também é brasileiro. Que Deus Esteja Lá!
Gilson Nogueira, jornalista, é colaborador da primeira
hora do BP [Bahia em Pauta]