Quinta, 13 de julho de 2017
que todos os outros políticos, muitos deles acusados e réus de crimes ainda maiores, acabem, como Lula, condenados por essa mesma Justiça, algo que não parece ser o que a sociedade sente, pois a mesma diligência que o juiz Moro usou contra Lula o Supremo Tribunal Federal (STF) já deveria ter usado com dúzias de políticos de primeiro plano da vida nacional de partidos que governaram com a esquerda do PT, e que parecem ser tratados com outros metros e medidas.
Do Blog Bahia em Pauta
DO EL PAÍS
JUAN ARIAS
Hoje, o Brasil é notícia mundial pela condenação de Lula a nove anos e
meio de prisão por corrupção, já que o ex-sindicalista foi o presidente
mais popular e carismático da democracia. Lula tinha conseguido que o
gigante americano saísse de seu complexo de vira-lata para se projetar
no futuro como uma peça importante do xadrez mundial. Foi, além do mais,
o presidente mais amado, quase adorado, pelo mundo dos mais pobres.
A notícia de sua condenação, porém, que chega em um momento crucial
da política brasileira, com um presidente como Michel Temer em vésperas
de poder ser deposto por corrupção e uma sociedade dividida e tensa,
atemorizada com os 14 milhões de desempregados do país, não pode ser um
momento de alegria.
Sem entrar no julgamento sobre a sentença emitida contra Lula pelo
mítico juiz Sérgio Moro, algo que ainda terá de ser analisado e decidido
em outra instância judicial, o certo é que, deixando de lado as ideias
políticas de cada um, o dia de hoje não deveria ser um dia de júbilo.
Não pode ser um momento de alegria porque a notícia encerra uma
infinidade de simbolismos, a queda do ídolo da esquerda brasileira e com
ele a esperança da refundação do Partido dos Trabalhadores (PT), que
chegou a ser o mais importante da esquerda latino-americana.
Sempre se disse que o PT não existia sem Lula nem Lula sem o PT.
Hoje, com Lula condenado pela Justiça à prisão por um crime de
corrupção, de algum modo a democracia sofre e se despedaçam muitas
esperanças. Haverá quem diga que a sentença contra Lula, o primeiro
presidente do país condenado por motivos criminais, significa, ao mesmo
tempo, a esperança de que, por fim, neste país a justiça seja igual para
todos.
Poderia até ser verdade, mas com uma condição: que todos os outros
políticos, muitos deles acusados e réus de crimes ainda maiores, acabem,
como Lula, condenados por essa mesma Justiça, algo que não parece ser o
que a sociedade sente, pois a mesma diligência que o juiz Moro usou
contra Lula o Supremo Tribunal Federal (STF) já deveria ter usado com
dúzias de políticos de primeiro plano da vida nacional de partidos que
governaram com a esquerda do PT, e que parecem ser tratados com outros
metros e medidas.
Se a condenação infligida por Moro a Lula, à qual se poderiam seguir
outras mais, quer ser vista como um triunfo da Justiça em um país onde
somente iam para a prisão os pobres, os negros e as prostitutas, será
necessário que a sociedade possa ver claramente, sem esperar mais, que
sejam condenados os outros líderes políticos cujas denúncias, não menos
graves que as de Lula, se arrastam durante anos, aparecendo como
intocáveis.
Se se trata de limpar a corrompida vida política de um país para dar
lugar a uma nova era de esperança onde a impunidade com os poderosos
seja algo do passado e não existam privilegiados perante a Justiça,
então que a condenação de Lula à prisão seja seguida pela dos demais
políticos corruptos. E isso sem esperar mais, para que a grave decisão
tomada com Lula não pareça mais uma forma de impedir que se candidate de
novo às presidenciais.
Hoje, mais do que ontem, a Justiça vai ser analisada
perante os olhos abertos de uma sociedade mais madura e mais incrédula
que no passado para saber se se trata de realizar uma verdadeira catarse
contra a praga da corrupção político-empresarial ou o que há são
somente de fogos de artifício e interesses pouco confessáveis.