Sábado, 4 de maio de 2019
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti
Esta foi a imagem vendida na campanha...
Talvez por não ter mentalidade religiosa, eu sou incapaz de negar outros méritos em meus adversários ideológicos, quando eles os têm.
Reconheço, p. ex., que o conservador Winston Churchill fez o que bem poucos fariam, ao conseguir mobilizar os britânicos para a resistência à aparentemente invencível máquina de guerra alemã, quando tantos outros dirigentes defendiam a abertura de negociações em posição de fraqueza, admitindo implicitamente a entrega da Europa para salvarem sua ilha.
Principalmente sendo brasileiro e sabendo da pusilanimidade da grande maioria dos mandatários de meu país em situações mais dramáticas, gostaria que eles tivessem um milésimo da coragem de Charles de Gaulle (que depois, infelizmente, estaria do outro lado das barricadas de 1968): ao ser alvo de atentados terroristas de extrema-direita, permanecia imperturbável, indiferente às balas que zumbiam ao seu redor, deixando aos seguranças a tarefa de evitarem que ele fosse atingido.
...e este o seu comportamento real.
Lembro-me do Ulysses Guimarães (que chegou a apoiar o golpe de 1964 antes de passar à oposição) num ato público das diretas-já em que a ditadura militar encheu de policiais com cães a praça que os oradores deveriam atravessar, no trajeto entre o hotel e o palanque.
Enquanto os jovens amarelavam, o velho avançou sem medo da cachorrada, exigindo que abrissem passagem para um deputado da República. O outros, heróis só no gogó, foram obrigados a controlar a paúra e ir atrás dele.
E mesmo um Fernando Collor, com tantos e tão graves defeitos, não se acovardou quando os simpatizantes de Leonel Brizola ameaçavam partir para a violência contra uma carreata de campanha dele em Niterói: foi em frente, mostrando o punho para os manifestantes adversários. Tal demonstração de firmeza convenceu os donos do Brasil de que ele era a melhor aposta da direita contra Lula.
Já o Jair Bolsonaro consegue ser um exemplo de pessoa em que absolutamente nada se aproveita. Não só suas convicções politico-ideológicas são abomináveis, como foge como um garotinho de todas as batalhas que têm de travar e, cúmulo dos cúmulos, deixa que sua propaganda o promova como o mito que não é nem nunca foi.
Será para sempre lembrado como o oficial encrenqueiro que aceitou pedir baixa do Exército para escapar de retaliações dos superiores, o candidato a uma eleição presidencial que fugiu vergonhosamente de debates eleitorais dos quais estava em condições de participar e o presidente que desmarcou viagem oficial por não ousar pisar em Nova York para receber um título de personalidade do ano depois que alguns civilizados deram declarações contrárias à homenagem (vide aqui).