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(Millôr Fernandes)
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sábado, 16 de junho de 2018

Escravismo é o pecado capital da história que alimenta a violência de hoje

Sábado, 16 de junho de 2018

Do IHU
Instituto Humanitas Unisinos
Por: João Vitor Santos | 16 Junho 2018
Nesta semana, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública - FBSP lançaram a edição 2018 do Mapa da Violência. Segundo a professora Maria Palma Wolff, doutora em Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, os dados reforçam uma tendência dos últimos anos: aumento da violência. “Tínhamos os homicídios estagnados por dois anos, mas, agora, têm crescido de forma significativa”, destaca. Crescimento esse que se dá de forma muito específica, pois quem morre são mulheresjovens negros. “Observando os índices, vemos que há uma seletividade nisso. Há algo por trás, uma raiz comum que alimenta isso. Penso que essa raiz é nossa herança escravista”, analisa.
A conferência de Maria Palma, realizada na quinta-feira, 14-6, encerrou o ciclo Violências no Mundo Contemporâneo – Interfaces, resistências e enfrentamentos, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Para ela, antes de sustentar a ideia de combate à violência, é preciso conceituar essa violência, pois a compreende como algo inserido numa totalidade social, e não como um fenômeno isolado ou individual. “Por isso precisamos olhar para a violência à luz do contexto social. Determinadas sociedades promovem respostas para o lugar em que estão inseridas”, esclarece. É nessa perspectiva que traz alguns dados do Mapa da Violência 2018, propondo que se reflita além dos números. Afinal, o dado de que a cada sete horasuma pessoa é morta no Brasil é muito mais do que só um número. “Perdemos o equivalente a um Boeing cheio de pessoas por semana no país. Acidentes aéreos nos impactam quando ocorrem, mas vejo que temos o equivalente a um acidente como esses por semana”, detalha. 
Maria Palma:  "É, como diz Nilo Batista, no artigo Pena Pública e Escravismo: ‘a escravidão é nosso pecado capital’” (Foto: João Vitor Santos/IHU)

sábado, 10 de março de 2018

Crise política e fragilidade das instituições agravam a violência. Entrevista especial com Sérgio Adorno

Sábado, 10 de março de 2018



Do IHU
Instituto Humanitas Unisinos

Por: Ricardo Machado | Edição: Vitor Necchi | 10 Março 2018

Não há respostas simples para explicar a gênese da violência no Brasil, entende o cientista social Sérgio Adorno. “As raízes devem ser buscadas na colonização e em seus modos cruéis e rudes de dominação. No entanto, convém lembrar que a condenação da violência, em suas múltiplas formas, é um fenômeno moderno”, afirma.
violência, em grande parte, pode ser atribuída ao Estado, “que é justamente a comunidade política que detém o monopólio legítimo do poder coercitivo”. O fenômeno, no entanto, é amplo. Adorno salienta que “mais recentemente historiadores e sociólogos estão identificando, nas sociedades contemporâneas, um processo descivilizatório, marcado pela ruptura das regras de cortesia nas relações interpessoais [...] e pelo enfraquecimento do Estado-nação por força do processo de globalização”.
Ainda não há consenso entre pesquisadores acerca do que sejam sociedades seguras. “Muitos de nós sustentam que, naquelas sociedades onde são menores as desigualdades sociais e há maior solidez institucional e reconhecimento das autoridades encarregadas de aplicar lei e ordem, as taxas de crimes, especialmente os violentos, são menores e não constituem uma preocupação exacerbada na agenda pública”, explica Adorno em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Adorno garante que a crise política e a fragilidade das instituições agravam o problema da violência porque desorganizam os serviços públicos, geram incertezas entre profissionais e impedem a alocação de recursos, modernização de equipamentos e de infraestrutura em geral. “O resultado é sempre o enfraquecimento do poder institucional e o apelo, mais e mais, a medidas extralegais, à violência abusiva e a precipitação de medidas como a intervenção federal no Rio de Janeiro”, afirma. “Temos visto, não apenas no campo da segurança pública, uma certa atitude de desprezo pela vida dos mais pobres, daqueles não alcançados pelas políticas públicas sociais distributivas”, o que evidencia uma espécie de “anestesia moral” em grupos socialmente privilegiados.