Sábado, 14 de outubro de 2023
Reprodução
Eventos são do grupo Yes Brazil USA, que cuidou da agenda do ex-presidente em Orlando após eleição
13 de outubro de 2023
Por Laura Scofield*
Em setembro e outubro deste ano, o grupo dos seminários e palestras Veritas Liberat, realizados com o apoio do grupo Yes Brazil USA em cidades europeias, estão sendo parcialmente pagos pelo contribuinte brasileiro.
Apuração da Agência Pública revela que deputados e senadores gastaram mais de R$ 127 mil reais de dinheiro público para ir a eventos bolsonaristas, onde a disseminação de desinformação é comum – em uma delas, o general Pazuello questionou a apuração dos votos nas eleições presidenciais. Segundo organizadores, os eventos servem para aproximar parlamentares brasileiros de congressistas conservadores de outros países.
O último seminário Veritas Liberat nos países europeus ocorrerá amanhã (14), em Madrid, capital espanhola. O evento terá entre seus convidados o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), a deputada federal Bia Kicis (PL-SP) e a deputada estadual de Santa Catarina, Ana Campagnolo (PL-SC). Este ano ainda ocorreram outros quatro seminários promovidos pelo Yes Brazil USA e pelo Institutum Veritas Liberat. Em setembro, os eventos foram realizados nas cidades italianas de Novara e Roma, e em Zurique, na Suíça. No último dia 10 de outubro houve ainda um evento em Lisboa.
Além deles, o Coronel Alberto Feitosa (PL-PE), da Assembleia Legislativa do Estado de Pernambuco (Alepe), também participou dos eventos.
Flávio Bolsonaro gastou mais de R$ 11 mil em passagens para a Espanha e R$ 9 mil em diárias no país. Ele viajou em 11 de outubro e volta ao Brasil no dia 16. O senador foi autorizado a viajar com dinheiro público pelo presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), como determina o regimento do Senado para viagens em missão oficial.
O deputado federal e ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, General Pazuello (PL-RJ) gastou mais de R$ 27 mil com passagens e diárias, pagas pela Câmara dos Deputados. Pazuello compareceu aos seminários nas cidades de Roma e Novara, na Itália, e Zurique, na Suíça, entre os dias 20 e 26 de setembro.
Em sua fala em Zurique, em 24 de setembro, Pazuello questionou a apuração dos votos feita pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e afirmou que “é importantíssimo o voto impresso”, rejeitado pela Câmara dos Deputados em 2021. “A Constituição é clara: o voto é secreto, mas a apuração é pública. Será que a apuração está sendo pública? Será que estamos cumprindo a Constituição no que prescreve a apuração pública dos votos? A contabilização e apuração pública?”, perguntou.
De acordo com o TSE, o resultado de cada urna é impresso e colado nas seções eleitorais. “Ele pode ser facilmente confrontado, por qualquer eleitor, com os dados divulgados pelo TSE na internet, após a conclusão da totalização”, explica o tribunal.
Participante de uma das edições do seminário Veritas Liberat.
Pazuello dividiu a mesa com os deputados estaduais Ana Campagnolo e Coronel Alberto Feitosa, que também pagaram suas idas com dinheiro público. Feitosa gastou R$ 14,8 mil em diárias entre 20 e 25 de setembro, quando compareceu aos congressos na Itália e Suíça.
Na cidade italiana de Novara, Feitosa reproduziu a fake news que afirmava que a sigla “CPX”, usada por Lula em um boné, era ligada a uma facção criminosa. Na verdade, o termo significa “complexo” e se refere a grupos de favelas, como o Complexo do Alemão – onde o presidente estava em campanha quando usou o boné.
No ano passado, a Pública mostrou que a campanha de Bolsonaro tentou ligar o atual presidente ao crime organizado usando desinformação como estratégia política.
Já Campagnolo viajou para a Suíça no dia 20 de setembro acompanhada de seu assessor, Douglas Pereira Lopes. Os dois gastaram mais de R$ 36 mil com diárias e passagens. No relatório de viagem, descreveram o seminário como um “evento oficial” onde haveria “reunião/visita com lideranças/entidades”. Voltaram ao Brasil em 26 de setembro, e no dia 5 do mês seguinte, a deputada foi novamente à Europa para comparecer aos seminários de Lisboa e Madrid. A segunda ida de Campagnolo custou ao todo mais de R$ 28 mil aos cofres do estado de Santa Catarina. No total, Campagnolo gastou R$ 65 mil para comparecer aos eventos.