Quinta, 11 de fevereiro de 2010
PorIvan de Carvalho

Os jornalistas ou meios de comunicação estrangeiros estão autorizados a cobrir apenas o discurso que o presidente Ahmadinejad (aquele que nega, declarando ser mito e mentira, a matança de seis milhões de judeus pelo nazismo durante a Segunda Guerra Mundial) fará na manhã de hoje na praça de Azadi. Azadi significa liberdade e a escolha do local para o discurso parece mais uma ironia do que qualquer outra coisa.
O governo prevê a presença de centenas de milhares de pessoas nos sete desfiles. Ocorre que a oposição convocou o povo para protestar, nesses desfiles oficiais, contra o regime e a eleição por ela não aceita de Ahmadinejad. Explicando: a oposição está proibida de fazer manifestações de rua. Nas últimas que fez, no dia 27 de dezembro, nas grandes cidades do Irã, em comemoração à luta religiosa de Ashura, foram reprimidas pelas forças de segurança. Houve oito mortos, centenas de feridos e mais de mil presos. Daí que agora a oposição resolveu usar as manifestações oficiais para misturar-se a elas e protestar, na esperança de embaraçar a repressão e se fazer ouvir.
Enquanto isso, o governo brasileiro, um dos primeiros em todo o mundo a reconhecer a duvidosa vitória eleitoral de Ahmadinejad e um dos poucos a receber a visita oficial do suposto presidente reeleito, divulga sua posição contrária a novas sanções contra o Irã pelo anúncio do governo iraniano de que vai enriquecer urânio a 20%, um passo importante na direção da construção de armas nucleares.
O governo brasileiro sugere que a proposta de novas sanções não seria aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU e, sendo, seria ineficaz, pois não conduz ao diálogo. Ora, as sanções visam a forçar o Irã ao diálogo, evitando a perigosa alternativa, de desdobramentos imprevisíveis – um ataque militar “preventivo” ocidental ou israelense às instalações nucleares iranianas. A galera da “esquerda” do PT e outras galeras “esquerdistas” adjacentes devem estar exultantes. Como o governo Lula quer.
Aparentemente, apenas. Porque que ele quer é entusiasmar a “esquerda” no ano eleitoral, mesmo à custa de ajudar no avanço do programa atômico militar do Irã.
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.