Quinta, 22 de maio de 2014

A vontade social é o motor que plasma a realidade resultante de um “acordo” não registrado em papel, mas que, de forma tácita, organiza a ética das reflexões do imaginário coletivo. A vontade geral não é alheia às vontades individuais, haja vista o bem geral ter elementos constitutivos de cada interesse particular.
Quando a democracia traduz-se
na possibilidade de privilegiar a politização dos indivíduos por meio da
participação direta no poder em prol da comunidade, ao contrário do que possa
parecer, a individualidade é a maior contemplada pelo simples aspecto de que,
ao inverso da forma representativa, a expressão participativa inclui mais a
singularidade do que a forma organicista centralizada no “representante”
coletivo que, em vez de defender os direitos de cada indivíduo contra a
ingerência do Estado, arrouba-se como representante geral, muitas vezes em
sacrifício do cidadão comum, que se vê esmagado pela “maioria” ou pelo
“consenso”.
Aí repousa a singela diferença rousseauriana entre vontade geral e vontade de todos, assumindo aquela a intersecção dos interesses individuais, enquanto esta se mostra como o somatório de interesses reunidos. A vontade geral transcende a todas as vontades individuais.
Aí repousa a singela diferença rousseauriana entre vontade geral e vontade de todos, assumindo aquela a intersecção dos interesses individuais, enquanto esta se mostra como o somatório de interesses reunidos. A vontade geral transcende a todas as vontades individuais.
O convênio da personalidade
pública é um corpo moral e coletivo conformado ao Estado que irradia da vontade
social. Isso não significa unanimidade, motivo pelo qual pode ser contrariado,
reformado e até transformado, no decorrer da história, pela capacidade
desempenhada pelos sujeitos sociais com competência suficiente para arrebatar
vontades vitoriosas no contexto de luta social. Isso quer dizer um concerto de
posições capaz de modificar a vontade social e salvar o destino de uma
população.
Nesse sentido, cabe ao
exercício pedagógico do poder local, em prol do desenvolvimento, o papel de
mobilizador das vontades para atuar na busca de um propósito comum, oferecendo
à comunidade uma oportunidade de escolha do seu destino e vocação histórica.
Aliás, quando uma comunidade assume que tem nas mãos o seu destino e descobre
que a construção da sociedade depende de sua vontade e escolha, a democracia
torna-se real.
Existe em toda sociedade um
sistema de base plural mobilizador de vontades individuais e coletivas que um
pacto social pode agregar. Esse sistema evolui com a demografia, definindo a
qualidade racional do futuro. É a vontade coletiva e inconsciente de poder que
se determina como vontade social a partir de circunstâncias ônticas e
ontológicas.
A vontade de poder da sociedade
constitui-se através da dinâmica de realização do imaginário coletivo local ou,
até mesmo, nacional, que “realiza” o “real” pela sucessão cultural criadora de
tradições. É uma categoria socialmente organizadora, estruturadora do processo
de decisões que acontecem no seio da sociedade em pauta.
A vontade social que emerge da
vontade de poder é uma força que funciona como princípio sintético de
conformação do “real” para a sociedade. Os diversos arranjos engendrados pela
complexidade sistêmica do processo de identidade de uma determinada sociedade
com seus imaginários e, ao mesmo tempo, de diferença entre as vertentes de
opções históricas que se lhe oferecem deflagram uma hierarquia espelhada pela
influência das elites mediante as escolhas que elas fazem.
Há lugares e épocas em que
elites esclarecidas se sobressaem, às vezes, às intuições do povo, e conseguem
levá-lo a novas etapas de desenvolvimento, que ele só mais tarde materializa; e
há lugares e épocas em que a população impulsiona a sociedade, sem direção
definida, mas buscando a renovação. (Ao relembrar as manifestações que
ocorreram nos meses de junho e julho de 2013, vê-se que este é, hoje, o caso do
Distrito Federal, no contexto do Brasil.) Esse tipo de escolha,
cumulativamente, determinará a vontade de poder da sociedade ao longo de sua
história.
A intersubjetividade é o ducto
que conduz as determinantes da vontade social. É uma superfície fenomênica que
se pontua volitivamente na configuração do real para dada sociedade.
Assumir o devir é, assim,
influenciar no desenvolvimento da sociedade para que ela venha a ser o que já
estabeleceu para si ou venha a ser as mudanças optadas pela modificação da
vontade social. Daí a necessidade de sensatez política dos dirigentes
conscientes de que suas escolhas serão exemplos determinantes para a formação
da vontade de poder da sociedade.
(Cruzeiro-DF, 21 de maio de 2014)