Terça, 13 de maio de 2014
Atos serão realizados em 15 cidades brasileiras e em sete no exterior
A próxima
quinta-feira (15) promete ser um dia emblemático na resistência de
grupos populares contra a Copa do Mundo 2014. A data foi batizada como o
"Dia Internacional de Lutas contra a Copa do Mundo" e contará com atos
em 15 cidades no Brasil e em sete no exterior, segundo o Comitê Popular
da Copa SP. As manifestações estariam confirmadas em São
Paulo, Brasília, Porto Alegre, Salvador, Vitória, Cuiabá, Curitiba, Belo
Horizonte, Rio de Janeiro, Recife, Belém, Fortaleza, São Carlos,
Sorocaba, Campinas, Buenos Aires, Santiago, Bogotá, Barcelona, Paris,
Londres e Berlim.
Alguns eventos já foram divulgados no
Facebook. Em São Paulo, a concentração será na Praça do Ciclista, às
17h, e a passeata seguirá até o Estádio do Pacaembu. Em Salvador, o
protesto terá início às 17h, na Praça da Piedade. Em Brasília, às 16h30,
na Rodoviária Plano Piloto. Na cidade de Porto Alegre, o ato será às
18h, em frente à Prefeitura. Em Belo Horizonte, acontecerá na Praça Raul
Soares, às 17h.
De acordo com o Comitê Popular da Copa de São Paulo, a articulação
dos movimentos sociais, coletivos e ativistas protesta contra as nove
mortes de trabalhadores na construção das arenas do Mundial, a remoção
forçada de 250 mil pessoas por conta de obras, a proibição do trabalho
ambulante e de artistas independentes pela Lei Geral da Copa, a
violência cometida contra a população em situação de rua, a elitização
dos estádios e a privatização do espaço público. Entretanto, a principal
bandeira de luta do dia será a garantia da liberdade de manifestação
antes, durante e depois da Copa. Segundo os organizadores, este direito
constitucional está ameaçado por uma série de leis anti-manifestação e
pelo recrudescimento das forças policiais. Somente na área da
“segurança”, 2 bilhões de reais teriam sido gastos em
armamentos, treinamentos e equipamentos de vigilância.
O lema do
ato é "Copa sem Povo, tô na rua de novo!". Segundo Juliana Machado,
membro do comitê, a expressão está ligada à frente de Resistência Urbana
e ao ato que teve início no dia 8 de maio em São Paulo e que
terá continuidade na própria quinta-feira, durante o dia, com ações do
MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e de outros grupos.
Nem
a Embaixada do Brasil em Berlim escapou da ira contra o Mundial. Na
madrugada de segunda-feira (12), o prédio foi apedrejado por pelo menos
quatro pessoas encapuzadas. Por volta das 11h, um grupo divulgou um
manifesto na internet, em alemão, assumindo a autoria do ataque e o
atribuindo a uma ação contra os gastos excessivos com o evento. O texto
foi finalizado com o mote "Não vai ter Copa".
No dia 8 de maio,
movimentos sociais integrantes do grupo Resistência Urbana ocuparam
sedes das construtoras OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez, denunciando o
enriquecimento destas empresas em detrimento do trabalhador médio. As
remoções e a crescente especulação imobiliária também foram criticados
no ato. "As empreiteiras ficam com grande parte do recurso público, são
grandes negócios do capitalismo. A construção das obras é para a elite. O
governo precisa controlar a intervenção delas, porque essas empresas
causam especulação imobiliária", declarou Natália Szermeta, da
coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), à reportagem
do JB. Ela garantiu que este foi somente o primeiro ato da
campanha "Copa sem Povo, tô na rua de novo!", uma jornada para
reivindicar que "os bilhões que estão sendo distribuídos para a
construção do megaevento sejam utilizados para os trabalhadores".
Mais protestos à vista
De
fato, parece que a Copa do Mundo não será recebida com tranquilidade.
Diversos protestos devem continuar sendo organizados até o final do
evento. Nos dias 23 e 24 de maio, está agendado no Rio de Janeiro e em
São Paulo, respectivamente, o ato "Não vai ter Copa!". A reunião será
contra as remoções forçadas, os gastos indevidos do dinheiro público, a
elitização dos estádios e a repressão dos movimentos. Esta será a 7º
manifestação em São Paulo contra o Mundial. Por sua vez, a
Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) e outros
movimentos sociais como o Passe Livre e a Central dos Movimentos
Populares articulam mobilizações que devem começar antes da Copa.
Greves pressionam o governo
Além
das manifestações, o governo enfrenta um forte conjunto de greves.
Nesta terça-feira (13), no Rio de Janeiro, rodoviários, engenheiros da
Prefeitura e professores das redes municipal e estadual estão
paralisados. Além destes grupos, também estão em greve servidores do
Ministério da Cultura e funcionários de diversas embaixadas brasileiras
no exterior. Ainda há ameaça de paralisação durante a Copa por parte da
Polícia Federal.
Os rodoviários grevistas pedem aumento de 40%, R$
400 de auxílio-alimentação e fim da dupla função de motorista e
cobrador. A greve continuará até o fim desta quarta-feira (14). Segundo o
secretário municipal de Transportes do Rio de Janeiro, somente 18% da
frota dos 8.749 ônibus urbanos está em circulação nesta terça-feira.
Além disso, Pelo menos 75 ônibus foram apedrejados e 12 pessoas presas
em atos de vandalismo, segundo a assessoria de imprensa da Rio Ônibus,
que representa a classe patronal.
Os professores paralisados
requerem que os acordos estabelecidos durante a última paralisação, que
durou 70 dias, sejam cumpridos. O Sindicato Estadual dos Profissionais
de Educação (Sepe) garante que ainda não há 1/3 de atividades
extra-classe, que não houve redução de 40 para 30 horas semanais,
controle quantitativo dos alunos, nem revisão da matriz curricular.
Outra reclamação é a diferença salarial entre professores da rede
municipal, que estariam recebendo entre 18 e 25 reais por hora/aula.
Segundo Gesa Linhares, uma das coordenadoras do sindicato, será
realizada uma passeata após a assembleia unificada dos profissionais
da educação, que acontecerá nesta quinta-feira, às 11h, no clube
municipal da Tijuca. De acordo com ela, a adesão ao movimento até a
noite desta segunda-feira foi de 50% na rede municipal do Rio de Janeiro
e 30% na rede estadual.
Os funcionários dos consulados do Brasil
em Nova York e de outras representações diplomáticas nos Estados
Unidos, como Houston, Atlanta, Los Angeles, São Francisco, no Canadá e
na Europa entraram nesta terça em uma greve de 48 horas. Eles pedem o
aumento de salários que estão sem reajustes, dependendo do caso, entre
três e oito anos. Outra paralisação iniciada hoje foi a dos servidores o
Ministério da Cultura, que buscam reivindicar a negociação de
gratificações por titularidade e igualdade salarial com servidores da
Agência Nacional de Cinema e da Fundação Casa Ruy Barbosa, entre outras
reivindicações. No Rio de Janeiro, 18 museus, institutos e escritórios
do Ministério da Cultura estão parados pela greve, que foi deflagrada
por tempo indeterminado. A paralisação se deu justamente com a
inauguração da 12ª Semana Nacional de Museus. Por sua vez, cerca de
1.200 engenheiros da Prefeitura do Rio também entraram em greve nesta
terça-feira, anunciando três dias de paralisação por melhorias
salariais.
Ao mesmo tempo em que o técnico da Seleção, Luís
Felipe Scolari, divulgava os jogadores convocados para a Copa, no dia 7
de maio, o Sindicato da Polícia Federal do Rio protestava por melhores
condições de trabalho e aumento salarial. As autoridades federais
ameaçam entrar em greve durante o Mundial caso não tenham suas
reivindicações atendidas. Os manifestantes reclamam que o governo tem
dinheiro para promover o evento, mas não para reestruturar a polícia.
*Programa de Estágio Jornal do Brasil