Domingo, 18 de maio de 2014
DANIEL MAZOLA
A
“república dos banqueiros”, mais conhecido como Brasil, está a poucos dias da
“Copa das Copas”, e mesmo com 12 estádios dados de bandeja para alimentar a
corrupção e negócios eleitoreiros, nossos “dedicados e honestos” empreiteiros
ignoram todos os prazos firmados com a organização do megaevento. Nunca se viu
tanta corrupção, desorganização e descompromisso na história das Copas como
nessa de 2014. Essa “gente” se julga intocável, e talvez realmente seja. Nada
menos que dois terços da receita do PMDB em 2013 foi “doada” pelo maior grupo
transnacional privado do Brasil, a Odebrecht.
Na
nossa “economia de mercado” burguesa, a empreiteira Norberto Odebrecht, em três
parcelas, mandou R$ 11 milhões para os cofrinhos peemedebistas. Revelado na
prestação de contas do partido à Justiça Eleitoral, o valor chamou a atenção
porque supera, em muito, os R$ 6,1 milhões (ou R$ 7,5 milhões em números
corrigidos pela inflação) doados na campanha de 2010. A segunda maior
contribuição de empreiteiras para o PMDB foi de “apenas” R$ 500 milhões da
Andrade Gutierrez (que tem antigas e fortíssimas relações com Wellington
Moreira Franco, hoje “ministro” da Aviação). Não bastasse o nefasto
financiamento privado de campanhas eleitorais, (uma das aberrações
‘democráticas’ mais conhecidas na “república dos banqueiros”, ou seria
“república das empreiteiras”), também existe esse financiamento privado para os
“partidos” políticos.
Falar
em reforma política (VERDADEIRA) no Brasil é algo inimaginável, os partidos
hegemônicos NUNCA farão NADA. Esse estreito laço do PMDB com os maiores
fazedores de obras públicas confirma por que o partido será o grande fiel na
balança da campanha eleitoral deste ano. Taticamente, o partido ensaia uma
providencial traição, caso se confirmem as possibilidades concretas de derrota
do PT (cuja precária hegemonia depende dos peemedebistas). Por isso, alguns
caciques do partido já costeiam o alambrado para pular a cerca em favor de
Aécio Neves, no momento oportuno, claro.
Os
maiores ‘boquinhas’ da política são peemedebistas. Líderes, como o
vice-presidente da República (?), Michel Temer, apenas teatralizam o apoio aos
petistas. A pobre “gerentona” Dilma Rousseff não será uma noiva abandonada no
altar. Será a companheira traída quando a lua de mel for cancelada pela falência
de votos (mesmo sob risco de fraude eleitoral, no dogmático processo eletrônico
que não pode ser contestado via recontagem de votos impressos).
Nesse
frágil jogo de interesses da governabilidade, mentiras e aparências, o chefão
Lula, grande sogrão que patrocina o conflituoso matrimônio entre infiéis, tem
duas cartas na manga para conter a debandada do PMDB. Trata-se do risco de mega
escândalos, como os da Petrobras, na Eletrobras ou nos Correios, atingirem o
PMDB (o que forçaria o partido a não abandonar os petistas). O risco de todos
morrerem afogados é altíssimo.
Outra cartada de Lula é que, tanto quanto o PMDB, ele também tem grande prestígio junto aos dirigentes da Odebrecht. Se valer a lógica do manda quem pode (porque tem grana para financiar o partido) e obedece quem tem juízo, Lula tem poder de convencimento de sobra para manter os peemedebistas no seu barco. O problema (ou solução!) é estarem todos juntos na hora da fatal pancada contra o iceberg da História.
Outra cartada de Lula é que, tanto quanto o PMDB, ele também tem grande prestígio junto aos dirigentes da Odebrecht. Se valer a lógica do manda quem pode (porque tem grana para financiar o partido) e obedece quem tem juízo, Lula tem poder de convencimento de sobra para manter os peemedebistas no seu barco. O problema (ou solução!) é estarem todos juntos na hora da fatal pancada contra o iceberg da História.
Babaquice carimbada
Nesses
tempos de babaquice, a notícia mais importante nos foi dada depois do jantar
festivo da nata dos cronistas esportivos com a Presidente, no Palácio da
Alvorada, pelo jornalista Renato Maurício Prado.
Textual:
“Dilma Rousseff já completou seu álbum de figurinhas da Copa... Já pensou se
ela conseguir concluir, com a mesma velocidade e competência, as obras que seu
desgoverno começa, mas nunca acaba?”. Genial!
AS INJUSTIÇAS DA COPA NO BRASIL
Em
recente comunicado, a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa
(ANCOP), coletivo que reúne de modo particular as populações mais pobres,
atingidas pelas injustiças geradas pela Copa do Mundo de 2014, afirmou que a
Lei Geral da Copa é INCONSTITUCIONAL e autoritária.
Com
essa lei não resta dúvidas, fica escancarado que o Estado (Autoritário de
Direito) funciona a serviço das corporações e das empreiteiras. Abaixo um
pequeno resumo do comunicado, e das dimensões do sofrimento do nosso povo,
potencializados pelos dois megaeventos mais badalados do planeta, a Copa e as Olimpíadas.
Moradia
A
Copa intensificou aumento dos despejos e remoções violentas nas cidades
brasileiras. Duzentos e cinquenta mil pessoas com suas famílias estão sendo
desestruturadas, levadas para longe de seus lugares de origem, causando
impactos na saúde, na educação, no transporte público, além da violência física
e psicológica. Tem gente com depressão, se endividando, esperando por soluções
que nunca chegam. São vítimas da especulação imobiliária que expulsa os pobres
das áreas do seu interesse.
Histórias
semelhantes de violências contra populações ocorrem em todo o território
brasileiro. Não pedimos essa Copa da Fifa. Mais do que barrar a Copa, queremos
barrar os despejos e remoções no Brasil. Nossa luta é antes, durante e depois
da Copa, para que nenhuma família brasileira sofra a violência e humilhação de
um despejo ou remoção forçada. Decidimos sair deste encontro com uma grande
união para barrar os despejos e remoções no Brasil. Sairemos juntos daqui numa
articulação permanente, e assim estaremos mais fortes. Por um Brasil sem
despejos! Brasil sem remoção! Respeito ao cidadão!
Trabalhadores e trabalhadoras ambulantes, catadores e da
construção civil
Defendemos
e valorizamos os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras ambulantes vítimas
das arbitrariedades da Fifa e do governo, como a imposição da Lei Geral da Copa
que proíbe o comércio de produtos nas proximidades dos estádios. Enfrentamos a
repressão por parte das prefeituras municipais que estão “higienizando” as
cidades licitando para que grandes empresas controlem as ruas. A Lei Geral da
Copa estabelece zonas de exclusão de 2 quilômetros no entorno das áreas da
Fifa, estádios e áreas oficiais de torcedores com telões, onde apenas os
patrocinadores oficiais poderão comercializar. É necessário fortalecer canais
de comunicação para denunciar os casos de impedimento de trabalho e violações
ao direito dos ambulantes. Também propomos um boicote aos patrocinadores da
Copa, em solidariedade aos ambulantes.
Denunciamos
também que as prefeituras tem dificultado o trabalho de catadores e catadoras
de resíduos sólidos nas cidades-sede da Copa. Na construção civil a velocidade
da execução das obras produziu 8 mortes nas arenas da Copa e mais 3 em outros
estádios, e uma infinidade de acidentes graves. Exigimos que se intensifique o
controle sobre a segurança dos operários nos canteiros de obra e a garantia
plena de seus direitos trabalhistas, como o direito à greve.
Comunicação e Cultura
A
comunicação é um direito humano, desrespeitado pela mídia hegemônica e pelo
Estado. O oligopólio dos meios de comunicação invisibiliza e tenta calar as
lutas populares. Os mesmos que detêm o poder político e econômico, utilizam a
mídia para fomentar uma sociedade mercantilizada, excludente, cheia de
preconceitos e opressões. Reforçando o extermínio da população negra com a
criminalização da pobreza e a esteriotipação da mesma. Enquanto as reais
consequências da Copa da Fifa no Brasil são ocultadas.
Reivindicamos
a democratização dos meios de comunicação, a partir da revisão do marco
regulatório da mídia, incluindo uma revisão da atual regulação das rádios
comunitárias para que de fato a comunicação seja um direito humano, que
vocalize a realidade do povo brasileiro e que seja diversa, popular e
emancipadora. Defendemos o respeito aos midiativistas e à imprensa popular e
independente.
Mulheres
As
violações históricas sofridas pelas mulheres são acirradas com a Copa.
Denunciamos o aumento da exploração sexual e do tráfico de mulheres, o
acirramento da mercantilização do corpo feminino - exposto como disponível em
diversas campanhas publicitárias, como a da Adidas, tornando-as mais
vulneráveis a estupros e assédios de diversas ordens. Atingindo
majoritariamente à mulher negra, através da precarização do trabalho e
estereótipos mantidos pela mídia e todos os aparatos institucionais.
Pessoas
em situação de prostituição também são alvo da violência do Estado, que se
intensifica no período da Copa do Mundo com a higienização forçada das ruas,
principalmente nas cidades-sede. Ademais, as experiências das Copas da África
do Sul e da Alemanha demonstram que os megaeventos mercantilizam as vidas e os
corpos das mulheres. O Brasil não pode fazer parte da rota! As mulheres
trabalhadoras continuam a ser exploradas e mesmo nas falas críticas às péssimas
condições de trabalho, as companheiras são invisibilizadas. Continuaremos na
luta por melhores serviços públicos e equipamentos urbanos de qualidade –
políticas universais de mobilidade, saúde, moradia e educação são pautas
feministas e merecem total atenção.
Diversidade Sexual
Pretendemos
também estreitar os laços com os movimentos LGBTT, para somar espaços na luta
pelo respeito à diversidade sexual antes, durante e depois da Copa.
Desmilitarização
A
repressão do Estado às manifestações populares que questionaram a Copa
intensificou o caráter de militarização da segurança pública pautada na
identificação dos movimentos sociais como “inimigos internos”. Isto contribuiu
também para dar mais força ao processo histórico de extermínio da juventude negra
e da periferia pela polícia. A juventude deve ser respeitados em seu direito a
se manifestar. O Brasil está vivendo uma escalada autoritária, onde governo e
Congresso buscam criminalizar movimentos sociais. Devemos promover lutas contra
as leis antiterrorista e anti-manifestações. Defender a anistia dos processados
e uma Campanha Nacional pela desmilitarização da Polícia Militar e desarmamento
das Guardas Municipais.
O
povo palestino foi atingido diretamente pela Copa do Mundo no Brasil, uma vez
que há um fluxo importante de financiamento saídos dos cofres públicos para o
complexo industrial-militar israelense, sustentando a política do genocídio e o
apartheid contra os palestinos.
Comunidades Tradicionais
Entendemos
que as injustiças aplicadas aos povos originários e tradicionais se agravam com
os megaeventos. O projeto de desenvolvimento trazido com esses eventos impede a
demarcação e titulação de nossas terras. O número de lideranças das comunidades
tradicionais que estão sendo exterminadas e a intensificação dos conflitos
entre indígenas e ruralistas são exemplos disso. A mesma situação enfrenta
os/as pescadores/as de áreas extrativistas de pesca que perdem seus territórios
de vida ameaçados pela especulação imobiliárias, hotéis, construção de portos,
etc.
Vivemos
hoje um contexto urbano, onde as lutas das cidades ganham muito mais pauta, mas
entendemos que a mesma força que tira o direito à moradia é a que não deixa
demarcar os territórios. Repudiamos a PEC 215/00 e outros mecanismos que visam
impedir novas demarcações e titulações e abrem precedente para a revisão dos
territórios já legalizados. Para enfrentar esta violência, os povos se
organizam em mobilização nacional como forma de resistência, numa agenda de
luta conjunta que culminará no Encontro Nacional Indígena e Quilombola, entre
25 e 29 de maio, em Brasília. Pela soberania dos povos aos territórios!
Megaeventos e a financeirização da Natureza
A
Copa de 2014 está sendo apresentada como copa sustentável, gol verde, parques
da copa, copa orgânica, carbono zero, enfim, uma maquiagem verde que busca
invisibilizar as violações de direitos, colocando a compensação como fato
consumado e validando a economia verde e a mercantilização da natureza como
mais uma falsa solução. Haja visto a quantidade de árvores que estão cortadas
nas cidades da Copa, defendemos a campanha “Quantas copas por uma Copa? Nem
mais uma árvore cortada!”
Crianças e adolescentes
Crianças
e adolescentes estarão em situação de extrema vulnerabilidade durante a Copa em
virtude das férias escolares, associadas à ausência de políticas públicas.
Destaca-se a desvirtuação do papel do esporte, que passa por um duplo processo
de elitização. Primeiro, como mercadoria pouco acessível, com ingressos e
produtos caros. Segundo, como prática restrita a espaços privados e a setores
privilegiados da sociedade. Neste contexto, as grandes máfias da exploração e
do tráfico de pessoas poderão atuar com muita facilidade. É necessário e
urgente criar campanhas de combate à exploração sexual e ao tráfico de pessoas
nas escolas da rede pública, rede hoteleira, proximidades dos estádios e nas
regiões turísticas. Deve ser incluída a capacitação dos profissionais do
turismo e da rede hoteleira, o fortalecimento e ampliação das políticas de
promoção dos direitos das mulheres e crianças e adolescentes. Não à redução da
idade penal.
Mobilidade Urbana
Diante
do cenário de modelo mercadológico de gestão da cidade, é fundamental
reconhecer a bandeira da Tarifa Zero e da PEC 90 (transporte como direito social)
como passos para se criar condições para efetivação do direito à cidade e da
participação popular na gestão das cidades. Combatemos o modelo de mobilidade
urbana que privilegia o transporte rodoviário em detrimento do transporte de
massa, ciclovias, etc. Combatemos também a privatização das cidades e de seus
espaços públicos como praças, ruas, etc.
População de Rua
População de Rua
A
organização da Copa do Mundo tem uma política social para a população de rua:
abandono das políticas integradas, fechamento de equipamentos de assistência
social (albergues e abrigos) e o aumento da violência e repressão das forças da
segurança pública (Guarda Civil, Polícia Militar, etc.). O intuito é expulsar e
coibir a população de rua das regiões centrais das cidades-sede da Copa do Mundo,
gerando clima de insegurança e medo do que pode ocorrer antes, durante e depois
dos jogos. Pelo fim do recolhimento e internação compulsórios.
Copa das Mobilizações
Diante de todo este cenário de violações e demandas concretas
das comunidades e populações atingidas, é necessário fazer desta a Copa das
Mobilizações. Não queremos a violência do Estado, mas a garantia e o
fortalecimento dos direitos. Estar nas ruas durante a Copa do Mundo é um ato de
fortalecimento da democracia e de avanço de um novo modelo de país que avance
na participação direta do povo e na construção de políticas públicas efetivas
em favor da justiça e igualdade social. Conclamamos a população a fazer desta a
Copa das Mobilizações, mostrando ao mundo a força e a alegria do povo brasileiro
em luta!
“Copa sem povo! Tô na rua de novo!”.
Só a
luta transforma!! #copapraquem