Terça, 20 de maio de 2014
Presidente
do Instituto Lula confirma que conversou com Rosemary Noronha sobre
investigações do governo, mas diz que não ajudou financeiramente a ex-chefe de
gabinete da Presidência: “A Rose me procura para reclamar”, diz
Robson
Bonin, de Brasília
Revista Veja — 20/5/2014
O
CARA - Paulo Okamotto, Presidente do Instituto Lula (Eduardo Knapp/Folhapress)
O
sindicalista Paulo Okamotto ocupa um papel central no organograma de poder do
petismo. Diretor-presidente do Instituto Lula, Okamotto é uma espécie de anjo
da guarda e faz tudo do ex-presidente, o responsável por manter a vida de Lula
em ordem e longe dos holofotes da imprensa. Tudo que se passa no gabinete mais
movimentado do país – depois da sala da presidente Dilma Rousseff, em Brasília
– diz respeito a Okamotto. Comandar os assuntos que giram em torno de Lula é
sem dúvida uma grande demonstração de poder. Mas toda posição de prestígio tem
seu preço. E Okamotto tem sentido na pele nos últimos meses os dissabores de
ser o porta-voz de Lula para assuntos mais, pessoais, para assim dizer. Entre
tantos assuntos caros a Lula, Okamotto é o responsável por administrar o
temperamento explosivo da ex-chefe de gabinete da Presidência da República
Rosemary Noronha. Na impossibilidade de manter contato direto com o
ex-presidente, de quem se diz amiga, Rose não hesita em importunar Okamotto.
Quando se sente infeliz ou amedrontada pelos processos na justiça, ela aplaca
seus fantasmas discando o número de celular do “P.O.”, como se refere ao
auxiliar de Lula.
Revelado na edição de VEJA desta semana, um dos contatos de Okamotto
com Rose ocorreu no ano passado. Sentindo-se abandonada pelo PT, depois de ser
apanhada pela Polícia Federal ajudando uma quadrilha que vendia facilidades no
governo, Rose ameaçou envolver figuras importantes do governo no escândalo,
incluindo a própria presidente Dilma Rousseff. A revolta da ex-secretária só
não foi adiante porque Paulo Okamotto interveio. Quem acompanhou os bastidores
da crise, conta que o braço-direito de Lula teve participação direta na
garantia do bem-estar da ex-secretária. Rose não ficou mais desamparada depois
das ameaças. Além de conseguir ajuda para bancar um exército de quase quarenta
juristas das melhores e mais caras bancas de advocacia do país, a ex-secretária
reformou a cobertura onde mora em São Paulo e conseguiu concretizar o antigo
projeto de ingressar no mundo dos negócios, adquirindo uma franquia da rede de
escolas de inglês Red Balloon.
Mas
por que Okamotto, um alto dirigente do partido, teve de parar seus compromissos
na gestão do Instituto Lula para abafar os chiliques de Rosemary? Ela é amiga
de longa data de Lula e justamente por isso nunca foi uma qualquer no universo
petista. Em entrevista a VEJA na semana passada, Okamotto tentou explicar sua
relação com a ex-secretária. “A Rose me procura para reclamar, dizer que é um
absurdo (os processos), que ela é inocente e dizer que não fez nada”, diz
Okamotto. Apesar de confirmar a relação estreita, ele nega que tenha socorrido
financeiramente a amiga do ex-presidente. “Quando eu preciso contratar
advogados também é difícil. O dia que você for processado você vai ver que a
vida é dura. E, às vezes, custa caro se defender... Ela me procura porque eu
conheço a Rose há muitos anos. Ela não é desconhecida de mim”, diz. Perguntado
se estaria apenas cumprindo ordens de Lula ao atender aos pleitos de Rosemary,
Okamotto é direto: “A Rose não precisa falar comigo para chegar no Lula.”
Conforme
revelou VEJA, em 2013, no auge das investigações, quando ainda lutava para provar
sua inocência, a ex-secretária Rosemary procurou ajuda entre os antigos
companheiros do PT. Desempregada, precisando de dinheiro para pagar bons
advogados e com medo da prisão, ela temia ser abandonada. Lula não atendia suas
ligações. O ex-ministro José Dirceu também não se comovia com seus dramas. No
Palácio do Planalto, a ordem era aprofundar as investigações. Em busca de
amparo, Rose concluiu que a única maneira de chamar a atenção dos antigos
parceiros era ameaçar envolver figuras importantes do governo no escândalo. Ela
arrolou como testemunhas no processo que tramitava na Controladoria Geral da
União (CGU) o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o
atual chefe de gabinete de Dilma, Beto Vasconcelos, e a ex-ministra da Casa
Civil Erenice Guerra. Na conversa em que definiu os nomes dos alvos, um
interlocutor confere as intenções da ex-secretária: “Você quer estremecer o
chão deles?”, questiona. “Sim”, confirma Rose. Para além do ataque ao governo
Dilma, Rosemary também queria se reaproximar de um ex-amigo em especial. Ao
tentar “estremecer” o chão de Gilberto Carvalho, o homem de confiança de Lula,
Rose tinha o propósito de restabelecer suas ligações com “Deus”, como ela
costuma se referir ao ex-presidente Lula. Sobre a ofensiva de Rose sobre “Deus”
e seus discípulos, Okamotto foi cauteloso: “O que eu posso esclarecer é se ela
me procura. E aí os assuntos que ela trata comigo eu expliquei por cima. O que
você quer é uma entrevista e eu não vou ficar aqui falando mais do que eu
devo.” A seguir, a entrevista de Okamotto:
Qual é a relação do senhor com a Rose? A Rose me procura
para reclamar, dizer que é um absurdo (os processos), que ela é inocente e
dizer que não fez nada. Ela diz que alguém precisa ouvir o que ela tem a dizer.
Ela reclama mais pelo fato de que acha que é uma injustiça essa perseguição da
imprensa, porque ela não tem a importância que as pessoas querem dar. Ela fica
revoltada porque perseguem ela, a família dela, atacam ela como pessoa, como
mãe, como mulher, enfim, perseguem as filhas dela, perseguem o marido dela. E
eu sou obrigado a concordar com ela. Uma coisa é você destruir uma pessoa que
fez algum tipo de opção política, outra coisa é destruir a família. Mas, fazer
o que, a democracia pressupõe isso. E acho que no Brasil tem pouca gente que é
tão perseguida quanto ela.
Ela procurou o senhor porque queria falar com o Lula? Isso eu não sei. O
presidente Lula tem agenda, tem secretárias, um monte de coisa, a Rose não
precisa falar comigo para chegar no Lula. O que ela me procura é para dizer
essas coisas (da defesa), que alguém precisa saber, porque ela iria contar para
mais gente.
O senhor deu alguma ajuda financeira para a Rose pagar
advogados? Eu não. Quem falou isso?
A própria Rose disse a pessoas próximas que o advogado Luiz
Bueno de Aguiar, coordenador da defesa dela, se reportava ao senhor. Que eu saiba o
advogado que cuida do caso dela não é o Lulinha (apelido de Luiz Bueno), mas
não me recordo. Por que você diz que ela me procurou?
Porque ela estava com dificuldades financeiras. É, mas quando eu
preciso contratar advogados também é difícil. O dia que você for processado
você vai ver que a vida é dura. E, às vezes, custa caro se defender.
Mas por que ela procurava o senhor? Ela me procura porque
eu conheço a Rose há muitos anos. Ela não é desconhecida de mim. Conheço dos
tempos de PT, quando ela foi secretária do Dirceu, porque eu sou uma pessoa do
partido. E também quando ela estava na Presidência eu fui algumas vezes lá,
então é uma pessoa que eu conheço e tenho relações. Quando eu precisava de
coisas no governo eu procurava ela então eu tenho a obrigação de atender uma
companheira que a gente conhece.
Ela estava magoada com o próprio partido, se dizia abandonada
e queria prejudicar o governo? O que eu posso esclarecer é se ela me
procura. E aí os assuntos que ela trata comigo eu expliquei por cima. O que
você quer é uma entrevista e eu não vou ficar aqui falando mais do que eu devo.