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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 23 de março de 2017

Posição do Psol sobre mudanças na atenção básica de saúde do DF

Quinta, 23 de março de 2017

'É necessário rever a portaria 78 e a portaria 94'


Do Setorial de Saúde do Psol-DF

O Governo do Distrito Federal (GDF) propôs a reorganização de seu sistema de saúde que passaria a funcionar no modelo da Estratégia Saúde da Família (ESF) com a publicação das portarias 77 e 78 de 14/02/2017. Apesar de esse modelo ser prioritário no Brasil desde 1994, o GDF ainda convive com o modelo tradicional. A ESF baseia-se na atuação da equipe de saúde da família, composta por um médico de família e comunidade, que é médico especialista em Atenção Primária, um enfermeiro, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde. Vale ressaltar que países como Reino Unido, Cuba, França, Espanha, Portugal, Canadá e Austrália têm seus sistemas de saúde organizados a partir da APS e da atuação do médico de família e comunidade e que esse modelo é mais custo-efetivo e traz melhores indicadores de saúde.

O programa Saúde em Casa, criado em 1997 e coordenado pela então secretária de saúde Maninha, hoje no PSOL, teve uma estrutura semelhante com a que está sendo proposta, com uma lógica muito próxima da ESF. Em menos de 2 anos atingiu 70% da população do DF, conseguiu se organizar como porta de entrada da rede de saúde, a cobertura vacinal aumentou e a mortalidade infantil caiu, deixando o DF como 2º melhor estado nesse quesito (atualmente é o 6º). As doações de leite e sangue cresceram, as filas nos hospitais diminuíram e o que é mais importante: a saúde e a qualidade de vida dos brasilienses melhoraram. Infelizmente foi interrompido no inicio do governo Roriz.

A atual portaria 77 regulamenta as mudanças anunciadas e traz avanços indiscutíveis. De acordo com a Secretaria de Saúde, a cobertura dessa modalidade vai mais do que dobrar de tamanho, passando dos atuais 30% para 75% em 2018. Ainda de acordo com o GDF, 70% dos problemas de saúde podem ser resolvidos na atenção básica, (especialistas afirmam poder resolver 85% dos problemas), o que ajudaria a desafogar os prontos-socorros e hospitais lotados.

No entanto, apesar de defendido por especialistas e militantes e de sua semelhança com uma experiência bem sucedida existente no GDF, profissionais e usuários vêm se manifestando contrariamente à proposta. Pessoas relatam temer fechamento de postos de saúde, ter seu acesso ainda mais dificultado e perder os poucos médicos especialistas disponíveis. Profissionais de saúde tem se posicionado contrariamente à portaria 78 que trata das regras de transição e da portaria 94 que reorganiza suas gratificações e que também foi publicada no mesmo dia, por temerem perder gratificações no salário ou serem arbitrariamente realocados em outros serviços e locais. Também não está claro como as visitas domiciliares previstas serão garantidas, se existem regiões que podem ficar de fora do planejamento territorial e, portanto, sem cobertura, e se a capacitação oferecida aos profissionais no processo de transição será suficiente para garantir assistência adequada à população.

O setorial de saúde do PSOL-DF defende o modelo da Estratégia de Saúde da Família por avaliar que ele pode resolver melhor os problemas da população e organizar todo o sistema de saúde no DF. Entretanto é necessário rever a portaria 78 e a portaria 94. A Secretaria de Saúde do DF precisa dialogar de fato com trabalhadores e usuários para construir alternativas e aprimoramentos ao processo de transição, garantindo o direito à saúde pública e de qualidade.