Quinta, 18 de abril de 2019
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Dizer basta significa entender que a perseguição aos servidores, expondo-os a situações de humilhação e constrangimento, por vezes repetidas e prolongadas, seja no espaço do seu trabalho ou no exercício de suas funções, retira de cada um(a) a disposição, dedicação, amor por seus ofícios e mais grave, a dignidade, a integridade e a liberdade de bem servir.
Dizer basta é também compreender que difamações; abusos verbais; agressões; tratamentos frios e impessoais; perseguições políticas; trocas de função; excesso de carga horária; alterações e transferências injustificadas de local de trabalho, são exemplos de assédio moral que alguns servidores públicos sofrem no exercício de suas funções e desequilibram sua energia vital para seguir suas jornadas de trabalho.
Além disso, em situações mais extremas, tais abusos ocorrem, inclusive, nos processos disciplinares instaurados contra servidores, desrespeitando até mesmo o direito ao contraditório e ampla defesa. Assédios esses que muitas vezes vêm de quem já foi assediado, numa perversa reprodução das doenças da linha de comando: de superiores, “autoridades”, para subordinados, obedientes.
Dizer basta é ter conhecimento do que a Organização Mundial do Trabalho (OIT) classifica como assédio moral no ambiente de trabalho: humilhação, gritos, imposição de metas acima de sua capacidade física e mental de seguir no trabalho. Essas práticas são mais comuns em relações hierárquicas autoritárias, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e não éticas de longa duração, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho, forçando-a a desistir do emprego.
A prática se dá, habitualmente, pelo isolamento da pessoa, sem explicações. A vítima passa a ser hostilizada, ridicularizada, inferiorizada, culpabilizada e desacreditada diante dos seus colegas. A OIT alerta, sobretudo, que seja caracterizada como crime de assédio moral a prática de “ofensa reiterada da dignidade de alguém com prejuízos psicológicos e físicos no exercício do emprego, cargo ou função”.
Dizer basta é ter a capacidade de ouvir os relatos de servidores que são destinados para funções sem qualquer relação ou importância com o cargo ou ainda, aqueles que são alocados em setores, prédios ou anexos muitas vezes utilizados para se “descartar” servidores, subaproveitando e afastando esses de suas funções rotineiras. Ambas ações possuem claro objetivo de ferir a moral dos servidores e situações dessa natureza rumam para degradação da dignidade humana.
Dizer basta é permanecer alerta diante dos riscos dos tempos atuais, cuja conduta, fruto do discurso conservador – de menos direitos e de inconsciência política a intolerância, desvalorização das relações saudáveis no mundo do trabalho, pior das ideias da ultradireita – possa agravar ainda mais o assédio moral.
Nesse ambiente, essas práticas cruéis podem se naturalizar, fincar raízes nas instituições e criar uma cultura que gera outros algozes, como se fosse uma atitude heroica do gestor em nome da eficiência e produção de metas, ao invés de estabelecer relações acolhedoras, amistosas e corresponsáveis com os processos de trabalhos humanos e felizes.
Dizer basta é tomar consciência que nós, mulheres, sofremos muito mais desse mal, pois, por medo do desemprego, dos baixos salários e das piores condições materiais de trabalho, somos tratadas como apenas mais uma peça na engenharia da linha de produção, do pensamento competitivo de um mercado que visa somente o lucro, às custas de nosso suor, lágrimas e vidas. Vidas que escorregam pelos dedos dos “gestores públicos” quando os primeiros sinais e sintomas de adoecimento psíquico como tristeza, ansiedade, depressão – às vezes suicídios – são ignorados, perdendo de vez o significado e a relevância das inter-relações respeitosas, seguras e maduras no mundo do trabalho.
Por tanto, é preciso dizer basta em nome da dignidade entre os servidores e os dirigentes “porta vozes” dos governantes “patrões”, que trocam o diálogo pela “chibata” como forma de impor seu poder de chefe. E muitos colegas de trabalho acabam rompendo os laços afetivos com a vítima e, frequentemente, reproduzem atos do agressor, instaurando o ‘pacto da tolerância e do silêncio’ no coletivo. A vítima vai, gradativamente, se desestabilizando e ‘perdendo’ sua vontade de trabalhar, pior ainda, sua autoestima.
Assédio moral faz mal à saúde porque o Estado democrático de direitos e os governantes, que deveriam proteger os servidores, são seus algozes ao lhes retirar o bem mais precioso: a dignidade no trabalho. A nova Portaria 272/2019 da SES/DF, que visa humanizar o atendimento e respeitar a individualidade do paciente, se utiliza dos conceitos corretos à qualidade do atendimento e cuidado com os pacientes, para punir os servidores com advertências, suspensão, demissão e destituição do cargo em comissão e cassação de aposentadorias ou de disponibilidade. Por tudo isso e muito mais, é preciso dizer BASTA e inverter essa doença por atitudes saudáveis de CUIDAR DE QUEM CUIDA.
Fonte: http://www.fatimasousa.com/