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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 19 de abril de 2019

O dia 19 de abril não é dia do indígena. Não há sentimento de pertencimento do povo indígena a esta data comemorativa

Sexta, 19 de abril de 2019
Neste dia, o Gama Livre reproduz excelente artigo aqui mesmo publicado no dia 19 de abril do ano passado (2018).

Por 
Rita Teixeira (Capotira)*
O dia 19/04 não é dia do indígena. Não há sentimento de pertencimento do povo indígena a esta data comemorativa criada no governo do Presidente Getúlio Vargas.

Não é reconhecido por vários motivos...

Primeiro porque o termo índio foi criado pelo colonizador e reflete uma identidade que está completamente equivocada.

Segundo, porque dia de indígena é todo dia. Vocês educadores de Salvador-Ba, nunca foram passar uma tarde em ITAPUÃ? Nunca tomaram picolé de ITÚ na sorveteria de PIATÃ? Já comeram BEIJÚ em PITUAÇÚ? Tomam banho todos os dias? Já brincaram de PETECA, PICULA e PIQUE ESCONDE? 

Enfim...poderia falar de várias situações na nossa cultura que tem as marcas ancestrais indígenas. Por isso, penso que seja muito menos equivocado tratar das questões indígenas somente uma vez no ano.

Quando trazem uma etnia para visitar a escola, muitas vezes os tratam com sentimento paternalista, pagando estes artistas e promotores de cultura apenas com doação de alimentos e permitindo eles venderem artesanato. Pensar em uma contribuição financeira nem pensar...

Vocês educadores recebem suas crianças no “dia do índio” com musiquinhas como “Brincar de Índio, de Xuxa”, fantasiam suas crianças de índio...enfim toda uma construção pedagógica que foge da realidade dos povos indígenas atuais.

Não falam de genocídio...falam de desbravamento.

Não falam de invasão...falam de descobrimento.

Não falam de etnocídio...falam em civilização...

Não falam que indígena não se define pela condição física e sim pela cultura. Por isso, temos hoje indígenas brancos e negros.

Não falam que tem indígena na universidade, indígena com doutorado e mestrado.

Não falam que indígena hoje veste roupas, usa celular e tem carro importado. Basta trabalhar pra isso, e que é um ato de preconceito achar que se ele usufruir disso vai estar deixando de ser indígena. 

Continuam na maioria dos materiais didáticos apresentando ÍNDIOS que andam nus e são canibais.

Penso que se nós educadores desconstruirmos essa visão colonizadora, iremos indiretamente ajudar a combater o genocídio e etnocídio de indígenas.

Muito complicado descolonizar o pensamento dentro das unidades escolares não indígenas.

Mas como educadora sou uma sonhadora.

E muitos podem me dizer pra seguir sem olhar para essas questões, mas essa é minha missão...é minha escolha.

Cada educador não indígena que eu conseguir ajudar a desconstruir esse pensamento medíocre e preconceituoso, será como se eu ajudasse a reparar o mal que fizeram aos meus antepassados e ainda fazem aos povos indígenas.

Copyright Rita Teixeira (Capotira)

19/04/18

*Pedagoga pela UFBa, Comunicóloga pela Unifacs, Ativista do movimento indígena e negro e idealizadora do Programa raízes dessa terra

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