Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Não podemos ter medo de reinventar a UnB

Quinta, 23 de julho de 2020
Por
Professora Fátima Sousa*

Em tão pouco tempo de uso, já virou jargão a expressão o “novo normal”, usada e cabível para o que estamos sendo direcionados a reformular, independente das esferas da nossa vida cotidiana. Parece que buscamos um normal, para aceitarmos o que precisa ser transformado, ignorando a ideia de ver o novo como possibilidade incalculável de avanço, num talvez “novo diferente”, alinhado ao benefício que ele pode nos proporcionar. A própria palavra é a prova viva das rápidas transformações sociais. Ela nos acompanha e escancara o quanto as mudanças são necessárias para acompanhar as evoluções do mundo, as quais, muitas vezes, são involuntárias. Assim como as palavras - e com elas – mudam também os nossos objetivos de vida, as pessoas com as quais convivemos, as relações interpessoais, perspectivas, ambientes, entre muitos outros.
A Universidade de Brasília não pode ter medo de se reinventar também. Não há mais espaço para o tradicional TER, voltado para o resultado final, associado sempre à técnica, como já o é esperado em tempos previsíveis: os aclamados tempos normais. Fugindo do jargão, sem desconsiderarmos a sua efervescência e teor, estamos aqui nos referindo a um movimento planetário e coletivo, como o nosso, que nos leva ao desenvolvimento de estratégias inovadoras orientadas ao nível do SER.
Instituições como a UnB são seres vivos. Possuem cérebro, sangue, coração e esqueleto, os quais podemos considerar como uma espécie de representação que deve se adaptar ao seu crescimento nestes quase 60 anos. Mas, o que vemos, é um ser engessado, atado e envolto nas amarras da burocracia, da inércia cuja modernidade e inovação pública esperadas em momentos como o que vivemos hoje, considerados líquidos à luz de Zygmun Bauman, clamam por uma capacidade adaptativa e ousada.
Lentidões processuais, decisórias e que travam o funcionamento deste ser público não se sustentam. Se de um lado devemos acompanhar uma talvez denominada “pós pós-modernidade”, de outro não podemos perder a conexão com a essência da casa criada para criar, por Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro.
Darcy Ribeiro sim, deveria ser um novo normal todos os dias, se vamos usar o jargão. Ele conseguiu materializar o coração da sua ideia criativa e criadora, o imaginar e o agir, e é, até hoje, a centelha para ação de quem prima pela educação que inova e agrega, respeitando espaço e tempo. Logo, devemos nos provocar para que este organismo seja vivo, para além de sua estrutura. E nesse sentido, a metáfora do corpo humano que usamos aplica-se bem ao que viemos provocar a toda comunidade da nossa Universidade de Brasília.
Em nome da grandeza dos nossos fundadores, aos quais não cabiam a mediocridade, devemos buscar celeridade, novos desafios, precisão, sem perder a humanidade do SER. Oxigenar as nossas células para alcançarmos um novo pulsar deste corpo rico e mantê-lo em perfeito equilíbrio, para realmente devolvermos à sociedade o que dela recebemos nesta troca de saberes.

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*Fátima Sousa
Paraibana, 57 anos de vida, 40 anos dedicados a saúde e a gestão pública; 
Professora e pesquisadora da Universidade de Brasília;
Enfermeira Sanitarista, Doutora em Ciências da Saúde, Mestre em Ciências Sociais; 
Doutora Honoris Causa;
Implantou o ‘Saúde da Família’ no Brasil, depois do sucesso na Paraíba e em São Paulo capital; 
Implantou os Agentes Comunitários de Saúde;
Dirigiu a Faculdade de Saúde da UnB: 5 cursos avaliados com nota máxima;
Lutou pela criação do SUS na constituinte de 1988;
Premiada pela Organização Panamericana de Saúde, pelo Ministério da Saúde e pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde.