Sábado, 12 de outubro de 2024
Para cientista político, o partido 'fracassou politicamente no seu projeto de construir uma direita ultraliberal'
Igor Carvalho
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 12 de outubro de 2024
João Amoedo em encontro do Novo - Foto: Rosa Rovena/Agência Brasil
Às portas de completar dez anos de registro, o Novo não se confirmou como o partido representativo da direita e da elite financeira do país. Nas eleições deste ano, os números tímidos contrastam com o tamanho das pretensões da legenda que já disputou duas eleições presidenciais, mas tem patinado nas urnas com candidaturas pouco competitivas, cujos anseios e bandeiras dialogam com uma parcela ínfima da população.
Dos 58,4 mil vereadores eleitos do Brasil, apenas 263 são filiados ao Novo, ou seja, 0,5%. O partido que representa uma parte do empresariado brasileiro ficou atrás de duas legendas tidas como nanicas da política nacional, o Agir e Mobiliza.
Nas 26 capitais brasileiras, o Novo elegeu apenas 13 vereadores, sendo que 11 estão concentrados nos sete estados do Sul e Sudeste. Apenas dois parlamentares foram eleitos fora dessas regiões, ambos em Recife.
O partido elegeu apenas 18 prefeitos nos 5.569 municípios brasileiros. PCdoB (19), Mobiliza (20) e PRD (76) são alguns dos partidos com melhor desempenho. O PSD foi a legenda com mais prefeituras conquistadas, 877.
Expectativa x realidade
Na noite de 15 de setembro de 2015, um eufórico João Amoedo, banqueiro com passagem pelo Itaú e Citibank, fundador do Novo, deu uma entusiasmada entrevista à revista Época, celebrando o registro do partido no Tribunal Superior Eleitoral.
"Uma vez, eu dei uma carona para uma conhecida e ela me disse: 'João, você é tão inteligente. Por que foi se meter nesse negócio?'. A resposta estava pronta: 'A gente precisa se envolver na política para poder melhorar as coisas'", disse Amoedo.
O partido surgia como alternativa das elites à ascensão e domínio petista, que ganhara as eleições presidenciais de 2002, 2006, 2010 e 2014. Três anos depois, justamente Amoedo se lançou candidato à presidência da República.
Quando as urnas se fecharam, a surpresa: João Amoedo terminou no quinto lugar, com apenas 2,50% dos votos. No segundo turno daquele ano, o Novo fez a escolha que determinou seu futuro político: apoiou Jair Bolsonaro, então no PSL, contra Fernando Haddad (PT).
Ainda em 2018, veio a maior vitória na década de história do partido. Romeu Zema, herdeiro do Grupo Zema, foi eleito governador de Minas Gerais, cargo para o qual foi reeleito em 2022. Até hoje, é o único quadro do Novo a governar um estado do país e o nome mais forte da legenda, cotado para disputar a presidência em 2026.
Em 2022, o empresário Felipe D’avila foi o candidato do Novo à presidência e o resultado foi pior ainda: apenas 0,47% dos votos. Em 2018, o partido elegeu oito deputados federais. Quatro anos depois, apenas três.
Fracasso
Cientista político Josué Medeiros, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Observatório Político e Eleitoral (OPEL), explica que o Novo teve sua trajetória limitada por sua subordinação ao bolsonarismo.
"Podemos dizer que o Novo fracassou politicamente no seu projeto de construir uma direita ultraliberal, foi atropelado pelo Jair Bolsonaro. Embora o Novo não tivesse uma dimensão autoritária em sua origem, hoje eles fazem parte desse campo autoritário liderado pelo bolsonarismo. Por isso, eles não têm votos, esses votos estão com os candidatos do Bolsonaro", explica Medeiros.
O PSDB, partido que encolheu violentamente no cenário político, está próximo de anunciar que comporá uma federação com o PDT e o Solidariedade, outras duas legendas que encolheram nessa eleição.
Embora haja uma tendência de aliança entre partidos que perdem espaço, para ganhar fôlego no cenário nacional, Medeiros acredito que o caminho do partido de Zema pode ser outro.
"A tendência natural do Novo seria formar uma federação, isso é o mais viável para partidos com baixa representatividade. Mas não sei se isso acontecerá com o Novo. Como é um partido de gente rica, talvez não faça sentido para eles não ter representação política", finalizou o cientista político.
Este texto faz parte da coluna Nota Política, produzida pelo jornalista Igor Carvalho. Clique aqui para acessar.
Edição: Nicolau Soares