Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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quinta-feira, 3 de abril de 2025

Genocídio Israelita e russofobia europeia são sentimentos universais?

Quinta, 3 de abril de 2025

PÁTRIA LATINA - PAPO DO DIA - Quarta-feira 2 de abril de 2025
Compartilhado

Netanyahu e Bolsonaro, em foto de dezembro de 2018 no BrasilL.Correa (AFP)

Pedro Augusto Pinho*

UM PAÍS GENOCIDA

“Israel rompe unilateralmente o cessar-fogo e mata mais de 400 pessoas em novo ataque contra Gaza” noticiam agências de notícia em 18/03/2025.

Notícia de ontem: “O Crescente Vermelho Palestino informou, neste domingo (30), que encontrou os corpos de 14 pessoas, entre elas médicos e socorristas que foram mortos a tiros pelo Exército israelense, há uma semana, em ataque a ambulâncias no sul da Faixa de Gaza.”

“A reportagem é publicada por Radio France Internacional – RFI, 30-03-2025.”

“O número de corpos recuperados até agora é de 14, incluindo oito paramédicos das equipes do Crescente Vermelho Palestino, cinco membros da Defesa Civil e um funcionário da agência da ONU”, afirmou a organização médica em um comunicado, sem especificar a qual agência da ONU estava se referindo.

Como se explica que tal selvageria ainda receba visita de líderes políticos, sem que eles percam seus eleitores, e auxílio de países que se dizem democracias e de povos que se professam cristãos?

Estariam os povos ocidentais anestesiados pelas farsas informacionais?

O caso de Israel, no entanto, é uma história muito antiga. Ela mistura a etnia com a religião há mais de quatro mil anos.

Como sabemos o “homo sapiens” foi a última etapa da evolução dos australopitecos surgidos na depressão de Afar, no leste da África, onde hoje existem os estados da Eritreia, Etiópia e Djibuti. É o lugar onde ocorre o encontro de três placas tectônicas (Arábica, Africana e Somaliana), que estão se separando ao ritmo entre um e dois centímetros por ano.

Durante milhares de anos os “homo sapiens” vagaram pela África, antes de atravessarem o Mar Vermelho e ocuparem o Oriente Médio: sumérios, assírios, babilônios, fenícios e hebreus.

Egípcios, sumérios, fenícios formaram as mais antigas civilizações e os hebreus não se sentiram capazes de as enfrentar, quer nas trocas comerciais quer nas disputas territoriais. Para sua própria autoestima e unidade étnica criaram um deus só para eles, Jeová, e a religião que se mistura com a própria história dos judeus, o Velho Testamento da Bíblia, que atende a judeus e cristãos.

Porém frágeis para manterem-se territorialmente, foram se espalhando pelas áreas conquistadas por outros povos, ao norte (Europa) e na Ásia (Oriente Médio), principalmente. Mas sem se miscigenarem; sem se misturar com outros povos e, eventualmente, perderem a religião e as características físicas e culturais.

E assim viveram os judeus por mais de 3.000 anos, até que, vítimas do holocausto nazista, ganharam a compaixão e o interesse geopolítico da Inglaterra para criação do Estado de Israel, no meio do mundo árabe.

Surge então o pretexto da guerra, que Israel contará com o apoio e recursos do Reino Unido e da sua projeção nas Américas, os Estados Unidos da América (EUA).

Assim, desde 1949 há perpétua guerra dos israelenses contra os palestinos e árabes. Tendo Israel sempre o apoio do Reino Unido, dos EUA e dos países que estes colonizam: politica, econômica, cultural e financeiramente, como o Brasil.

Parte deste apoio são expressões midiáticas como ocorre em muitas referências nos veículos de comunicação: os militantes do Hamas, que defendem o direito dos palestinos a ocupar a terra de seus ancestrais são denominados “terroristas”; já os assassinos dos médicos e crianças das milícias e mesmo do exército israelenses são “defensores”, “soldados”, “combatentes”.

O Brasil importando de Israel ajuda aquele país a prosseguir com o genocídio e ampliar a guerra contra o mundo árabe e os palestinos.

MEDO DE UM BENFEITOR!

A Rússia é um país relativamente novo. Surge no século XIII na luta contra os mongóis, com personagens quase míticos como Alexandre Nievski. Pelo século XIV, os Danilovitchs fundam Moscóvia, um novo Estado. Além do poder político e do militar, o cristianismo forma, com a Igreja Ortodoxa, a base espiritual desta nova nação.

Nancy S. Kollmann (“A Rússia moscovita 1459-1598”), Hans-Joachim Torke (“Da Moscóvia a Sampetersburgo 1598-1689”), e John T. Alexander (“A era petrina e depois 1689-1740”) todos em “História da Rússia” (organizada por Gregory L. Freeze, traduzidos por Pedro Elói Duarte para Edições 70, Lisboa, 2022) escrevem sobre a formação da Rússia, onde se encontram: “para governar este império em expansão, os soberanos de Moscou elaboraram estratégias de governação que eram flexíveis, integradoras e minimalistas; raramente usavam a coerção, mas eram implacáveis”. “O resultado foi um sistema político vagamente centralizado, rico em ambição, pobre em recursos e resistente perante as crises”.

Pedro I (1672-1725) foi o primeiro soberano a ter seu nome em russo e línguas europeias. Foi importante na modernização e ocidentalização da Rússia, país que estava muito defasado nos costumes e tecnologias em relação às potências ocidentais. Sua chegada ao poder, derrotando turcos, suecos e russos antagônicos à ocidentalização, se aliando a Dinamarca, Polônia e Saxônia e buscando construir uma frota russa foi denominada Paz Eterna.

A Rússia Soviética. Poucos imaginaram que, após três séculos de domínio, a dinastia Romanov pudesse desaparecer em poucos dias. Mas a Revolução de Fevereiro, começando em São Petersburgo, contra escassez de alimentos, rapidamente leva à abdicação do czar Nicolau II (2 de março de 1917) e à formação do governo provisório de Alexander Kerenski. No entanto, a chegada de Vladimir Lenine e o aumento da influência bolchevique levaram à Revolução de Outubro e à deposição de Kerenski, que foge para França e, por influência de Woodrow Wilson, se refugia e acaba por falecer nos EUA.

A História da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tem muitas versões, mas nenhuma nega que foram os soldados russos que derrotaram a Alemanha Nazifascista de Adolf Hitler, permitindo que a Europa, sobretudo a Ocidental, mantivesse seus reis, sistemas de governo, como se habituaram desde os Romanov.

Destacam o período de Joseph Stalin como representativo não de um governo mas de todo o povo russo, esquecendo-se do extraordinário avanço na industrialização, no desenvolvimento tecnológico, na educação e saúde para todo povo, não só da Rússia mas de todas as Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Inquirida uma senhora, nascida na Bósnia Herzegovina, sobre a memória que tem dos relatos de sua mãe, que viveu todo tempo do comunismo, ela respondeu a solidariedade de todos diante de qualquer problema. Foi uma conquista só possível pela eliminação da competição capitalista que coloca irmão contra irmão, na busca do lucro, do enriquecimento.

PAÍS DA MENTIRA E DA ESCRAVIDÃO

A Constituição dos EUA entrou em vigor há 236 anos, quinze meses após sua aprovação por 55 delegados de 12 Estados, a saber: Carolina do Norte (cinco delegados), Carolina do Sul (quatro), Connecticut (três), Delaware (cinco), Geórgia (quatro), Maryland (cinco), Massachusetts (quatro), Nova Hampshire (dois), Nova Iorque (três), Nova Jersey (cinco), Pensilvânia (oito) e Virgínia (sete).

Charles L. Mee Jr (1938) é historiador e dramaturgo estadunidense, nascido em Illinois, que, entre outros trabalhos, escreveu em 1987 “A História da Constituição Americana” (traduzida por Octávio A. Velho, para Expressão e Cultura, RJ, 1993).

Assim Mee Jr inicia o Prólogo deste seu livro. “Há duzentos anos, em maio de 1787, algumas dezenas de delegados — todos homens, todos brancos, todos membros de boa reputação da instituição política americana, todos homens de posse — donos de escravos e de plantações, fazendeiros, negociantes, advogados, banqueiros e armadores — reuniram-se na Assembleia Legislativa, na Filadélfia, onde, nos vários meses subsequentes, redigiram a Constituição dos Estados Unidos, que serviu desde então como alicerce do país”.

Estes homens formaram a sociedade dominada pelos ricos e poderosos, uma plutocracia, cuja Constituição, com somente 27 emendas, prevalece até hoje.

“Ao término da Convenção, nenhum dos delegados, nem um sequer, estava inteiramente satisfeito com a constituição que haviam elaborado”. “Eles dissiparam a aura de virtude pública dos Pais Fundadores, a fim de desvendar homens bastante humanos, visando a suas próprias fortunas tanto quanto à sua fama”. James Madison, da Virgínia, buscava na Constituição resolver a disputa local pela criação de ostras, os nova-iorquinos, cidade nada salubre, sentiam-se aristocratas saudosos da Inglaterra, assim, cada delegado pensava egoisticamente, nenhuma ideia para o País que surgia, senão a manutenção dos privilégios dos que ali se encontravam.

Não admira que destes homens acabaria por surgir uma Guerra Civil, a Guerra da Secessão, entre 1861 e 1865, que para muitos, como o escritor Isaac Asimov (“The Golden Door – The United State from 1865 to 1918”), a União sobrevivera, cada centímetro do território estadunidense estava intacto.

Começam a se incorporar à União, por guerras, aquisições, extermínio dos povos indígenas, pelo Destino Manifesto (1845): Oregon (1859), Nevada (1864), Washington (1889), Dakota do Norte e do Sul (1889), Montana (1889), Idaho (1890), Wyoming (1890), Utah (1896), Oklahoma (1907), Novo México (1912), Arizona (1912), Alaska e Havaí (1959).

Este país cuja própria história é uma farsa que se apresenta como exemplo, como terra da liberdade e da democracia (sic) que pretende agora manter o genocídio israelita e a destruição da Federação Russa.

Como o jornal “O Globo”, na quarta-feira, 1º de abril de 1964, no editorial com título “Ressurge a Democracia!”, não se acanha ao escrever: “Vive a Nação dias gloriosos, Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem”.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Desvendando o toque de reunir para o fim do mundo ocidental

Sexta, 31 de janeiro de 2025

Pedro Pinho*

O fim da civilização ocidental, descrito há pouco mais de um século (1923) por Oswald Spengler (1889-1936), já estrebucha como organismo vivo, tal qual previa este filósofo alemão. Quais são os sintomas? Há como escapar desta morte? O que virá depois?

É óbvio que não temos as respostas, nem conhecemos quem as tenha.

Mas temos reflexões sobre o fim do ocidente, que o início de governo Donald Trump faz a caricatura, uma charge grotesca e triste do que fizemos conosco mesmo nestes últimos cinquenta anos.

É claro que se compararmos com o “direito” à primeira noite das virgens, residentes em suas terras, pelos senhores feudais já demos grande passo. Porém os movimentos de empoderamento feminino mostram que não fomos tão longe nesta pretensa democracia sexual. A perseguição aos não binários por Trump é um exemplo.

Para facilitar a exposição, dividiremos estas reflexões em três grupos: aqueles relativos à economia, ao convívio humano e ao meio ambiente.

A CONTRIBUIÇÃO DA ECONOMIA

Dois segmentos podem ser destacados como fundamentais para economia, que também são considerados básicos para soberania das nações: controle da moeda e das fontes primárias de energia.

Mas, o que aconteceu com a moeda? Simplesmente desapareceu sem deixar nem mesmo o escambo para substituí-la.

Afinal o que são as criptomoedas? Nada, rigorosamente nada. Nem mesmo um papel pintado pois são virtuais. E é sobre o nada que iremos erigir nosso sistema econômico? Realmente é o “fim do mundo”.

O “meme coin” do Donald Trump, recém-lançado, já proporcionou “lucro” imenso em somente uma semana. Pessoas, que não estão em asilos ou interditadas por incapacidade mental, colocam seus haveres em criptomoeda, ou seja, em nuvens. Minha falecida mãe diria com toda razão que este mundo está louco!

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

TRUMP: PETRÓLEO, DIREITA MUNDIAL, RETROCESSO NA GLOBALIZAÇÃO E FAKE NEW

Terça, 21 de janeiro de 2025

Pedro Augusto Pinho*

Neste dia de São Sebastião, 20 de janeiro, protetor da cidade do Rio de Janeiro, os Estados Unidos da América (EUA) dão posse ao presidente Donald Trump, 47º estadunidense.

Algumas mensagens foram emitidas, mais ou menos veladas. Outras para intimidar e se impor interna e externamente como liderança ocidental ou mesmo mundial. Porém a “Era de Ouro” prometida será das “fake news”, para o que se cercou dos “donos das mídias”: Elon Musk (proprietário do X e “Ministro” do Departamento de Eficiência Governamental), Mark Zuckerberg (Meta), Jeff Bezos (Amazon), Tim Cook (Apple), Sundar Pichai (Google) e, em negociação, a aproximação com Zhang Yiming da TikTok.

Doravante as notícias que recebermos das redes sociais, dos sites de relacionamento e mesmo nas manchetes de jornais e revistas devem merecer a maior atenção pois vem aí o quadriênio da empulhação.

O Brasil já foi vítima no caso do imposto sobre o Pix que uma “fake new” obrigou o governo a revogar o que não fora aprovado.

Chama-se também a atenção para o comunicado do governo chinês, que não mais importará petróleo dos EUA, concentrando suas necessidades nas disponibilidades da Rússia, da Venezuela e do Irã. Seria o recado que não acataria as decisões visando à união das direitas sob as asas estadunidenses? Entre os convidados para posse de Trump está o larápio Juan Guaidó, que se apresenta como “presidente interino da Venezuela, de 2019 a 2023”, mera fantasia. Porém, no discurso de posse, Trump declarou que iria mandar às favas as questões ambientais e climáticas e incentivar a produção de petróleo, inclusive pelo fraturamento hidráulico dos folhelhos betuminosos (fracking), reconhecido como a mais poluidora.

O petróleo é verdadeiro problema estadunidense quando Trump divulga a nova era industrial, para qual o petróleo ainda é insubstituível.

Porém o discurso de posse de Trump, dirigido a Guaidó e Edmundo González, este último reconhecido membro da extrema direita venezuelana, fica óbvio que a maior reserva de petróleo em um único país, como se situa a Venezuela, será o petróleo o que mais pressionará o novo presidente estadunidense. E para controlar sua produção está disposto à guerra.

Todo discurso concentrado nas questões internas dos EUA demonstra a importância da Rússia e da China para reconquista do status perdido nos quase meio século de governos estadunidenses submissos às finanças apátridas.

E a expatriação de venezuelanos residentes nos EUA, qualificados por Trump de marginais e doentes, mostra a pressão que se exercerá para apropriação do petróleo venezuelano.

Os homens das plataformas de comunicação que cercam Trump podem fazer submergir a verdade, mas não ocultam a falta de petróleo para quem propõe voltar às cadeias de produção para colocar os EUA em posição de poder mundial.

Outra referência explícita de combate à China foi o Canal do Panamá. O advogado de direita José Raúl Mulino, vencedor das eleições presidenciais de 2024, chegou a emitir Comunicado – “Com Paso Firme” – afirmando que o Canal continuará sendo do Panamá, ainda que mantendo as relações “entre países aliados e amigos, como demonstram a história e nossas atuações com os EUA”. Ou seja, far-se-á a transferência sem barulho nem substituição de Mulino.

A globalização serviu ao domínio das finanças apátridas. Agora elas terão endereço e não mais servirão ao Império. A retirada dos EUA da Organização Mundial de Saúde (OMS), e do Acordo de Paris de 2015, sobre as mudanças climáticas, mostram que a confiança na desinformação supera os relacionamentos com o mundo OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). O fim da guerra na Ucrânia torna-se possível.

Muitas vezes no discurso a palavra “democracia” foi pronunciada. No entanto, a Constituição de 1787 deu à democracia o significado de plutocracia. E o que se viu naquele salão da posse foram os 300 estadunidenses mais ricos e poderosos do País. Trump, com os dois únicos gêneros – masculino e feminino – os representa e cita o Destino Manifesto (1845).

Os EUA realmente estão mudando. E com olhos no passado invoca a Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 e o governo do presidente William McKinley (1897-1901) como medidas “para libertarmos nossa nação”.

Voltados para seus problemas internos, Trump imagina os EUA depois da Guerra de Secessão (1861-1865), quando a descoberta do petróleo na Pensilvânia (1859) alavancou a industrialização e o desenvolvimento do país.

E Trump também acredita que a direita cairá no colo dos EUA por falta de apoio em qualquer outro lugar no mundo. Como os 21 parlamentares (18 do PL bolsonarista) brasileiros que foram ficar ao relento pois jamais seriam convidados para festa de bilionários.

Agora resta se prevenir das fake news que serão constantes e abundantes e ter o projeto de nação nacional trabalhista para reconstrução do Brasil.

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A INTENTONA BOLSONARISTA E A URGENTE REVOLUÇÃO NACIONAL TRABALHISTA

Quarta, 20 de novembro de 2024

     Pedro Augusto Pinho

A INTENTONA BOLSONARISTA E A URGENTE REVOLUÇÃO NACIONAL TRABALHISTA

O tiro no peito do Estadista Brasileiro prorrogou o 24 de agosto de 1954 até 15 de março de 1979, quase um quarto de século, quando o poder financeiro inicia a desinstitucionalização do Brasil. E, desde então, a cada dia, nossa Pátria vai sendo privatizada e os brasileiros escravizados.

Esta intentona que envolveu o Exército Brasileiro mostrou a urgente necessidade de promover a Revolução Nacional Trabalhista, ou seja, dos brasileiros retomarem o controle do Estado Nacional, para que o trabalho de nossa gente e não as finanças apátridas sejam os beneficiários das riquezas do Brasil.

Getúlio Vargas deixou seu testamento na forma de carta aos brasileiros. Recordemo-la sempre para imortaliza-la.

“Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente”.

Que síntese maravilhosa da nossa história, das farsas, das mentiras, das ferozes razões que nos persuadem a aceitar a dominação estrangeira!

E a intentona bolsonarista pretendia colocar o Exército Brasileiro a serviço da ideologia neoliberal, de austríacos, ingleses, estadunidenses, usando a bandeira brasileira como fosse uma fantasia carnavalesca.

Quem cumpriria a missão de defender o Brasil? Apenas seu povo, tomando consciência do que nos roubavam, como marginais perigosos que verdadeiramente são “as aves de rapina (que) querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro”.

E estes inimigos da Pátria dominam as comunicações, impedem o ensino, reduzem as verbas da saúde, tiram nossas casas, alienam as construções para nossa cidadania em favor de um abstrato “mercado”.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Contra apagões de-se-lhes o ”plantão Brizola”, a defesa da soberania

Quinta, 17 de outubro de 2024
© Família Brizola/Arquivo Pessoal

Pedro Augusto Pinho*
O engenheiro Leonel de Moura Brizola (22/01/1922-21/06/2004), maior líder trabalhista depois de Getúlio Vargas, foi o único brasileiro a governar, pelo voto popular, dois diferentes Estados do Brasil. O Rio Grande do Sul, de 1959 a 1963, e o Rio de Janeiro, de 1983 a 1987 e de 1991 a 1994.

Entre seus feitos, como governador dos gaúchos, ressaltam-se as encampações de duas empresas norte-americanas. A Companhia de Energia Elétrica Riograndense, da Bond and Share e dona do monopólio da energia elétrica na Região Metropolitana, nacionalizada em maio de 1959, e a Companhia Telefônica Riograndense, de propriedade da International Telephone and Telegraph, em fevereiro de 1962.

E não se diga que Brizola era comunista, pois recusou o apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB), na eleição de 1958, e teve sempre os comunistas na oposição a seus governos e a suas iniciativas políticas.

Também não se afirme que Brizola era um seguidor de Fidel Castro, pois a Revolução Cubana se tornou vitoriosa em 1º de janeiro de 1959, e foi a Lei de Reforma Agrária, de maio de 1959, que permitiu a expropriação das 75% melhores terras cultiváveis de Cuba, que eram de propriedade de indivíduos estrangeiros ou de companhias estrangeiras (principalmente estadunidenses).

Brizola também foi extraordinariamente dedicado à educação, como deve ser a instrução: pública, laica, universal e gratuita. O que levou a ter contra ele a Igreja Católica, que desde os jesuítas, que vieram com Tomé de Sousa, em 29 de março de 1549, tiveram verdadeiro monopólio da educação no Brasil, fazendo-nos um país de analfabetos, porém crentes, melhor se diria, supersticiosos.

Este grande político brasileiro é a inspiração do Portal que tem por principal missão a reconquista da soberania brasileira, hoje entregue a empresas que são verdadeiras hidras, oligopólios bancários que se ocultam numa miríade de empresas, estabelecidas em paraísos fiscais e países onde o financismo exerça seu poder na política local.

Temos, neste momento em que o partido que sempre foi de Leonel Brizola e, por artifício político normativo, lhe foi arrebatado no momento que o Brasil recuperava o direito de eleger seus presidentes, o Partido de Getúlio e de Jango, o maior partido em 1964, o Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB, e agora reconquistado, entra em processo de refundação, pelas mãos do Secretário de Justiça do Governador Leonel Brizola e Deputado Constituinte trabalhista, Vivaldo Barbosa.

A INVASÃO NEOLIBERAL E SEUS MALES PARA O BRASIL

Com o golpe de 31 de março de 1964, a ideologia neoliberal entra no Brasil pelas mãos de seu maior impulsionador, Roberto de Oliveira Campos, e de instituições que, pela comunicação e pela corrupção, iludiam o povo brasileiro: o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), fundado em 29 de novembro de 1961, por Augusto Trajano de Azevedo Antunes e Antônio Gallotti, para preparar o Golpe de 1964, e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), uma organização anticomunista, fundada em maio de 1959, por Ivan Hasslocher. Com este, estiveram vários empresários — Gilbert Huber Jr., Glycon de Paiva e Paulo Ayres Filho — que viriam a constituir o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), dois anos e meio depois. Em entrevista à Folha de S.Paulo, em 1998, o general reformado Hélio Ibiapina revelou que o IBAD possuía ligações com a Agência Central de Inteligência (CIA) estadunidense. O Instituto acabou sendo extinto em dezembro de 1963, por ordem judicial, sendo integrado ao Serviço Nacional de Informações (SNI).

Simultaneamente, intelectuais liberais e neoliberais brasileiros, passaram a ministrar aulas e conferências nas Escolas de Comando e Estado Maior, das três forças, para fazer crer aos futuros comandantes e membros dos Estados Maior, que o futuro estava entregue à ideologia do mercado e eles fariam melhor apoiá-la do que a combater. Pela disciplina hierarquizada das Forças Armadas (FFAA), esta doutrinação fluía pelos oficiais de menor patente, que nos cursos e academias militares também recebiam o reforço de conferencistas e professores neoliberais.

sexta-feira, 4 de outubro de 2024

ELEIÇÕES, GUERRAS, FINANÇAS, MÍDIA ESTUPIDIFICANTE E O FIM DE UMA ERA

Sexta, 4 de outubro de 2024

ELEIÇÕES, GUERRAS, FINANÇAS, MÍDIA ESTUPIDIFICANTE E O FIM DE UMA ERA


Pedro Augusto Pinho*


Este mês de outubro, como lembrou o escritor Ruben Naveira, em artigo no Viomundo (03/10/2024), revelará diferente “october surprise”, que vem acompanhando as eleições estadunidenses.

O mundo ocidental conduzido desde 1980 pelas finanças — sempre é bom lembrar a divulgação do “Consenso de Washington”, em 1989, como a bíblia dos governos pelo mundo afora, que no Brasil foi traduzido pelo controle fiscal — provocou os endividamentos públicos e privados e as guerras, que a farsa do 11 de setembro de 2001, em Nova Iorque, nos mostrou com clareza.

Este mundo ocidental, aí incluído o Japão que nele se insere politicamente e com dados de 2020, tem a dívida impagável que corresponde, de acordo com o Gabinete de Estatísticas da União Europeia (EUROSTAT), a quase duas vezes seu Produto Interno Bruto (PIB). Não se computando aí aquela formada por títulos sem lastro, acolhidos como investimentos pelo sistema financeiro.

Porém, o século XXI trouxe também a conclusão de processos de transformação política, social, econômica, tecnológica que se desenvolviam, desde vinte ou trinta anos antes de 2000, em países continentais como a Rússia e a China, principalmente pelo Oriente, que se pode sintetizar nos BRIC, de 2001, onde apenas o Brasil foi exceção. Hoje, no BRICS ampliado, ainda prevalece a ampla maioria oriental e se lhe pode atribuir, então, ser a voz do “Sul Global”.

De certo modo, exceto para quem se deixa conduzir pela mídia colonizante, lembra o fim da Idade Média, quando o Oriente forneceu tecnologia e produtos para o Ocidente, possibilitando seu enriquecimento com a dominação das Américas. Ver, como exemplo, a trajetória de Marco Polo e sua família.

A mais significativa diferença deste “Sul Global” para os seguidores do Consenso de Washington é a proposta transformadora, inovadora, que mais uma vez vem do Oriente, e a reação bélica, truculenta, para manutenção da riqueza construída por guerras e pela escravidão.

Nas eleições nos Estados Unidos da América (EUA), em novembro deste ano, como nestas municipais, em 05 de outubro, no Brasil, não existe, efetiva e praticamente, uma escolha, uma opção, apenas se configura a intensidade da aplicação do Consenso de Washington, os limites de gastos destinados a atender a população, e na truculência, que a desinformação é parte, e as agressões físicas são as mais visíveis, para manutenção deste sistema excludente e concentrador vigente.

Esta truculência está, por exemplo, nas sanções, embargos, bloqueios, medidas coercitivas unilaterais que o poder financeiro, principalmente mas não apenas pelos EUA, impõe contra os que ousam contestar sua dominação.

Isso se constata flagrantemente em Cuba, Venezuela, Nicarágua, Irã, Síria, República Popular Democrática da Coreia, Burundi, República Democrática do Congo, República Centro-Africana, Rússia, Belarus ou Bielorrússia, e muitos outros, prejudicando fortemente os países menos desenvolvidos e acarretando verdadeiro tiro no pé, quando o país agredido é uma potência como a Rússia.

Há diversas guerras e tentativas de golpes de estado em andamento pelo mundo, viu-se, faz pouco tempo, na vizinha Bolívia e, mais recentemente, na eleição venezuelana, não por mero acaso onde estão as maiores reservas mundiais de lítio e de petróleo num só país, patrocinados principalmente pelos dois países que mais representam o poder financeiro: EUA e Reino Unido (UK).

Porém, aqueles que podem provocar o conflito nuclear, de incalculáveis consequências, acontecem em três agressões. No genocídio do Estado de Israel ao povo palestino e, dentro do projeto sionista subsidiado pelo UK, para domínio de todo Oriente Médio. Na provocação à República Popular da China (China), com uso da ilha de Taiwan, estão os EUA e este traidor da cultura oriental que é o Japão. E na desmoralização europeia, revelando a fragilidade operacional da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como consequência da Euromaidan ou Revolta de Maidan, há cerca de dez anos, que a mídia estupidificante noticia como invasão da Rússia à Ucrânia, sendo Putin, ditador, e Zelensky, continuando no governo, mesmo tendo encerrado seu mandato e sem previsão de promover eleição, presidente.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

SAGA MEXICANA EM TRÊS ARTIGOS NO MONITOR MERCANTIL

Quinta, 18 de de julho de 2024

Textos de Pedro Augusto Pinho publicados originalmente no Monitor Mercantil*

Por Pedro Augusto Pinho*

1º Artigo: Do primeiro núcleo civilizacional nas Américas à República (2 e 3/julho/2024)

O HOMEM AMERICANO

O surgimento do homem, com as características físicas e intelectuais do atual, deu-se no território onde hoje se encontra a Etiópia, há mais de 30 mil anos, e a primeira organização foi aquela que se desenvolveu nas margens do rio Nilo, a nilótica.


As seguintes organizações humanas também se formaram, naqueles remotos tempos, junto aos rios: na Mesopotâmia, nos rios Tigre e Eufrates, e no extremo oriental da Ásia, a civilização Zhou, ao longo e na foz do rio Amarelo, onde hoje estão as atuais províncias chinesas de Hebei e Shandong.


O tempo e a diversidade de obstáculos que enfrentaram os homens, caminhando da África ao leste da Ásia, fez com que a civilização Zhou se distinguisse da nilótica, pelo acúmulo cultural.


Este homem mais preparado atravessou a ponte de gelo, formada na glaciação Würn, ligando a Ásia à América para vir ocupar o “Novo Mundo”. E o primeiro lugar acolhedor encontrado foi no território do atual México, formando a cultura asteca no Platô Mexicano.


Enrique Peregalli (“A América que os Europeus Encontraram”, Editora Atual e Editora da UNICAMP, Campinas, 1986) descreve as “Altas Culturas” pré-colombianas aquelas que compreendem a “Confederação Asteca, as Cidades-estado Maias e o Império Inca”.


A prova mais evidente do nível de desenvolvimento da Confederação Asteca são seus textos em língua nauatle, salvos da destruição promovida pelo rei Felipe II, da Espanha, por padres franciscanos, e que foram traduzidos e anotados por Georges Baudot (G. Baudot e Tzvetan Todorov, organizadores, “Relatos Astecas da Conquista”, tradução para o português por Luiz Antonio Oliveira de Araújo, Editora UNESP, SP, 2019). Do Códice Florentino, destes “Relatos” retiramos “Os oito presságios funestos”, sinteticamente, como seguem:


“Apareceu, dez anos antes dos estrangeiros, um presságio de desgraça como chama de fogo, uma língua de fogo, como aurora. E se mostrou durante um ano inteiro”.


“Em Tlacateccan surgiu um fogo que ardeu com rapidez extrema devorando toda casa e quanto mais se jogava água, mais o fogo ardia”.


“Um templo foi ferido por um raio. Não era uma chuva torrencial, mas um leve chuvisco que caiu sobre a casa de palha”.


“O sol brilhava quando caiu um cometa, de cauda muito comprida, dividido em três partes”.


“A água se pôs a borbulhar e redemoinhar engolido as casas”.


“A mulher chorava, gemia e dizia: meus filhos amados, chegou a hora de nossa partida”.


“Pescaram um pássaro como um grou com a rede, no lago. Havia um espelho redondo na cabeça do pássaro, e mostrava um céu com estrelas. Quando Montezuma olhou pela segunda vez, viu as pessoas correndo como se preparassem para guerra”.


“E muitas vezes apareciam homens deformados com duas cabeças e um só corpo”.


O religioso Diego Muñoz Camargo (1529-1599), nascido no México, filho de pai espanhol e mãe nativa, foi também cronista de destaque, pertencente a um grupo de cronistas mestiços. Sua “História de Tlaxcala” permanece como fonte importante para história do México. E nela encontra-se, em síntese, sua interpretação desses presságios como segue.


Dez anos antes da chegada dos espanhóis, houve imenso incêndio que se considerou um mau agouro. Os quatro últimos podem ser assim considerados: os vários cometas a agressão que colocou as pessoas clamando, gritando e gemendo; o vento e a água subindo cobrindo mais da metade das casas e as desmoronando; a mulher que chorava pensava como esconder os filhos das catástrofes; na cabeça da estranha ave pescada, Montezuma viu esquadrões marchando para o combate e, por fim, um corpo de duas cabeças indicava o fim dos indígenas e os novos habitantes.


O que Enrique Peregalli, citado, chama “Confederação Asteca” constituía um conjunto de 38 províncias, onde povos de língua, religião e costumes diferentes conviviam. Eram os zapotecas e os mixtecas, da costa do Pacífico, e os totonacas, do golfo do México.


Os zapotecas tinham a liderança religiosa de um sacerdote celibatário. Seus conhecimentos astronômicos, seu calendário, a fonética, a escrita ideográfica (ainda não decifrada), além do artesanato em barro, cristal e pedra, e confecções têxteis são mostras do grau civilizatório.


Quanto aos mixtecas, suas lendas e tradições constituem importante fonte de reconstrução histórica. Havia unidade religiosa, que convivia com a divisão política em pequenas cidades-estado. Lamentavelmente a ignorância e a ambição do poder dos espanhóis queimaram os pergaminhos mixtecas, por motivos “religiosos”. Mixtecas e totonacas se uniram contra os zapotecas.


Totonacas eram comerciantes e produtores de instrumentos; deles ficou o jogo do voador, “realizado com quatro participantes amarrados nos tornozelos por longas cordas, ligadas a um pequeno tambor giratório, colocado na extremidade superior de um poste de 25 metros de altura” (apud E. Peregalli).


GENOCÍDIO EUROPEU


No México, como ocorreu em todas as Américas, a presença europeia resultou no genocídio que atingiu aproximadamente 90% da população nativa. Foi o resultado da transformação da Europa das dinastias familiares para Europa dos Estados, na passagem dos séculos XV e XVI, e em nova economia, da extração mineral, da apropriação dos recursos agrícolas, do comércio e da expansão marítima.


Portugal deu partida circundando a África, sendo seguido pela Espanha, Holanda, França e Inglaterra, os grandes estados colonizadores, com pequenas migrações irlandesas e suecas para América do Norte. As cidades italianas mediterrâneas perderam expressão a partir dos “descobrimentos marítimos portugueses”.


O Tratado de Tordesilhas, celebrado, em 07 de junho de 1494, entre o Reino de Portugal e a Coroa de Castela, entregou quase toda América aos espanhóis. Estes transplantaram sua estrutura burocrática-administrativa, hierarquizada e solidamente assentada, para o além mar.


De norte para sul, constituíram quatro vice-reinados:

a) Nova Espanha, em 1535, compreendendo o México, e partes dos Estados Unidos da América (EUA) atuais, quais sejam, totais ou parcialmente, os estados do Arizona, Califórnia, Colorado, Nevada, Novo México, Texas e Utah;


b) Nova Granada, em 1717, compreendendo os atuais países Panamá, Colômbia, Equador e Venezuela;


c) Peru, em 1542, que originalmente continha o atual Peru e a maior parte da América do Sul; e


d) Rio da Prata, em 1783, compreendendo os atuais Estados Nacionais da Argentina, Paraguai e Uruguai.


Além dos vice-reinados, constituíram também as seguintes Capitanias Gerais: Cuba (1777), Guatemala (1542), compreendendo Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Guatemala; Venezuela (1777), para conceder a este território maior autonomia, retirando-o do Vice-Reinado da Nova Granada; e do Chile (1798), correspondendo ao Chile e às regiões ocidentais da Argentina.


Existia além do Rei, autoridade suprema, o Conselho das Índias e a Casa de Contratação, esta em Sevilha, para coadjuvarem as decisões reais.


De maior interesse para este artigo, tem-se o Vice-Reinado da Nova Espanha. A Nova Espanha não só administrava as terras compreendidas na América, mas o arquipélago das Filipinas, na Ásia.

segunda-feira, 20 de maio de 2024

A FINANÇA INTERNACIONAL E AS SUCESSÕES DE GEISEL E CAMPOS NETO

Segunda, 20 de maio de 2024
Pedro Augusto Pinho*

A FINANÇA INTERNACIONAL E AS SUCESSÕES DE GEISEL E CAMPOS NETO


INTRÓITO: A IGNORÂNCIA QUE ATRAVANCA O PROGRESSO (Odorico Paraguaçu, personagem de Dias Gomes em “O Bem-amado”).


A ignorância, no Brasil, faz parte do projeto de poder que nos domina desde o descobrimento. Quantos sabem da viagem e do propósito que trouxe Américo Vespúcio ao Brasil, em 1501, encomendada pelo mesmo D. Manuel, o Venturoso?

Alguns esclarecimentos, sempre úteis.


Portugal já surge como Estado Nacional, no fim da Idade Média, quando reis e senhores feudais dominavam a Europa. Em 1.080, Henrique de Borgonha, nobre francês, vem em auxílio do rei de Leão, D. Afonso VI, para expulsar os mouros da península ibérica, especificamente de Leão. Seus feitos levaram a dar a mão de sua filha Teresa e um pedaço da terra já reconquistada ao francês, bisneto de rei de França, que funda a primeira dinastia, “henriquina”, que dura até 1.383, quando é substituída pela do Mestre de Avis (1.383-1.580).


Nesta condição política de Estado, Portugal se adianta no desenvolvimento da navegação, com recursos tecnológicos proporcionados pelos chineses, onde se inclui a bússola e a impressão em papel. E inicia navegando em torno da África, até chegar à Índia, entre 1497 e 1499.


Toda esta capacitação tecnológica e experiências dão margem a que se considere a viagem de Cabral ao Brasil intencional. Mas se esperava encontrar uma ilha.


Américo Vespúcio vem conhecer a descoberta e navega desde o Cabo de São Roque, no litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte — o ponto da costa brasileira mais próximo do continente africano, até o Cabo de Santa Maria, no Rio da Prata, Uruguai. E seu relatório decepciona o rei português.


Na terra descoberta não havia vestígio de ouro, de prata, nem das especiarias do oriente. O povo que a habitava era primitivo, inculto, incapaz de estabelecer sistemático tráfico de mercadorias com o exterior, nem mesmo ser adestrado para produzir bens de interesse de Portugal. E assim, o Brasil fica sem despertar interesse até 1530, quando se estabelecem as 14 capitanias hereditárias, para que nobres portugueses viessem se apossar da terra descoberta.


Porém em 33 anos apenas a região de Pernambuco, de São Vicente e de Piratininga, no interior paulista, mereceram a criação de feitorias.


As visitas de piratas franceses, ingleses, holandeses, às costas do Brasil, obrigaram o rei D. João III, sucessor de D. Manuel, a constituir o governo geral no Brasil. Assim, em março de 1549, chega a Salvador, na Bahia, Tomé de Sousa que cria as primeiras instituições para administrar a colônia.


E estas instituições foram as que o Brasil teve como as únicas ações do Estado não só no período colonial, mas, acrescidas pelas Relações Exteriores, e pelos desmembramentos devidos ao aumento de atividades, até a República; por 400 anos. São elas: a defesa contra os estrangeiros, à época, o Capitão-Mor da Costa, daí a senioridade da Marinha no conjunto das Forças Armadas; o encarregado da repressão interna e justiça, o Ouvidor-Mor; e o encarregado das finanças, não confundir com a economia, pois cabia ao Provedor-Mor arrecadar impostos e cuidar das finanças da Coroa.


Para todas as demais atividades, o Governo-Geral agia como o Estado Mínimo, entregava à iniciativa privada. No campo da educação vieram, na comitiva de Tomé de Sousa, seis padres jesuítas para cuidar das almas e da educação dos filhos dos potentados locais, ou seja, manter a distância cognitiva da elite em relação ao povo em geral.


Assim construímos a nação de analfabetos, de ignorantes que, malgrado projetos e ações de grandes educadores que teve o Brasil, continuamos até o século XXI acreditando em milagres e magias, como demonstra o crescimento das igrejas neopentecostais, aquelas dos cofrinhos, em nosso País.

A mais recente prova de ignorância que demonstramos foi o processo denominado “redemocratização”. Primeiro porque o Brasil jamais chegou a ser democracia, no sentido do povo escolher conscientemente seus representantes. Logo o processo, se fosse o caso, pois não o era, dever-se-ia intitular “democratização”. Depois deveríamos separar o joio do trigo, pois durante os períodos de governo de Médici e Geisel, como veremos, o Brasil se construiu como Estado Nacional Soberano, investiu no desenvolvimento nacional quer em áreas econômica e tecnológica, quer nas áreas culturais e sociais, como da previdência social.


Portanto, este embrulho mal feito apenas nos retirou avanços e poder nacional para que reinasse a finança internacional.


SUCESSÃO DO PRESIDENTE GEISEL


O Presidente Ernesto Geisel (1907-1996) saiu da presidência da Petrobrás (1969-1973), a maior empresa brasileira, para a Presidência do Brasil (1974-1979).


Desde o golpe de 1967, quando os tenentistas de 1930 e 1932, já generais, dirigiram a Nação, o Brasil conhecia o desenvolvimento que tomou o nome de “milagre brasileiro” (1968-1973). Não foi apenas um aumento do Produto Interno Bruto (PIB).


Houve crescimento social com a previdência rural, no campo cultural e institucional.

Apenas no período de governo de Geisel, houve inovações institucionais, como a criação da Computadores Brasileiros (COBRA), da Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV), da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMBRATER), das Empresas Nucleares Brasileiras (NUCLEBRÁS), das holdings Empresa de Portos do Brasil (PORTOBRÁS) e Empresa Brasileira de Radiodifusão (RADIOBRÁS), da Empresa Brasileira de Transportes Urbanos (EBTU) etc.


Como acontecera nos governos Vargas, o Brasil ganhava novas instituições para poder crescer com disciplina organizacional, planejada e harmonicamente. Exemplificando: Conselho de Desenvolvimento Social (CDS), Fundação Nacional de Artes (FUNARTE), Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) entre outras (apud Felipe Maruf Quintas, “Regime Militar A Construção do Brasil”, Editora Clube de Autores, Niterói, 2024).


O Brasil sofria, no entanto, da falta de petróleo, o insumo energético por excelência do mundo industrializado. Geisel já conduzira a Petrobrás para exploração na plataforma continental brasileira, criara a Petrobrás Internacional (BRASPETRO) para buscar petróleo no exterior, aumentara o âmbito de ação da Petrobrás com subsidiárias para distribuição de derivados em todo território nacional, produzir fertilizantes, explorar minerais para adubo químico, usar o poder de compra de petróleo para desenvolver o comércio internacional. Porém o Brasil tinha esta fragilidade: produzia 200 mil barris por dia (b/d) para o consumo que chegava a um milhão b/d.


Esta carência envolvia a necessidade de crédito em bancos internacionais de primeira linha, o que onerava o Tesouro Nacional com taxas de juros e custos operacionais. Lembrar que, entre 1972 e 1974, o Federal Reserve (FED) aumentou as taxas de juros nos Estados Unidos da América (EUA) que chegou a 13,55% a.a., em 1980. Nesta última reunião, em 1º de maio de 2024, o FED manteve a taxa de juros entre 5,25% e 5,50% a.a., alarmando os analistas por ser o nível mais alto dos juros, em cerca de 22 anos.


As finanças ameaçaram Ernesto Geisel, que se empenhara em construir o Brasil soberano, altivo, independente, como dava mostrar não só a construção nacional como nas relações internacionais, com a colocação do País no rol dos inadimplentes, mal pagador, cortando as fontes de suprimento de petróleo, que seria verdadeiro desastre para o povo brasileiro.


Geisel se curvou e aceitou designar para sucedê-lo o filho de quem derrotara na contrarrevolução de 1932, general Euclides de Figueiredo. E foi assim que o general João Baptista de Oliveira Figueiredo se tornou o último general dos governos militares.


A área da informática surgia na preocupação soberanista do Governo Geisel e dos profissionais da área, como disserta o Presidente da COBRA, de agosto de 1986 a julho de 1990, Ivan da Costa Marques, em “Minicomputadores brasileiros nos anos 1970: uma reserva de mercado democrática em meio ao autoritarismo” (História, Ciência, Saúde – Manguinhos, vol. 10 (2):657-81, maio-agosto, 2003) de onde retiramos:


“no começo da década de 1980, o Brasil foi um dos poucos países em que empresas sob controle local conseguiram suprir uma parte significativa do mercado interno de minicomputadores com marcas e tecnologias próprias ... com sucesso econômico e técnico”.


“Tão logo seu antigo chefe foi indicado para comandar a nação, a “comunidade de informações” do SNI formou a Comissão Cotrim (nome do informante Embaixador Paulo Augusto Cotrim Rodrigues Pereira), com a finalidade de investigar o setor de informática”. “Sem constrangimento, os coronéis do SNI interrogaram de forma intimidante um grande número de profissionais de informática e grampearam seus telefones. E, logo, instalou-se entre estes um tal clima de medo que aos mais irônicos inspirou até brincadeiras de autêntico humor negro”.


E, assim, o Brasil saiu da pequena lista de produtores de “hardware” e “software” para a de importador até de equipamentos periféricos de baixa tecnologia. Um dos retrocessos trazidos pela “redemocratização” que tomou conta do Brasil a partir de 1980, década do “Consenso de Washington” (1989).


O golpe na sucessão do Presidente Geisel, trouxe ao primeiro plano da governança pessoas mais despreparadas, vivendo o mundo da guerra fria para obter vantagens pessoais. Foram presas fáceis das finanças apátridas, que ganhavam, na década de 1980, a desregulação financeira, decuplicando em uma década o número de paraísos fiscais no mundo, ampliando a corrupção e reduzindo a educação pública.


CAMPOS NETO PREPARA SUA CONTINUIDADE


O Estado de S. Paulo, sábado, 18 de maio de 2024, manchete tomando um quarto da primeira página:


“Campos Neto diz que não tem de avisar o governo ao mudar orientação para juro”. (Matéria às páginas B1 e B2).


Roberto de Oliveira Campos Neto (1969) é formado em economia na Universidade da Califórnia (EUA) e trabalhou no mercado financeiro entre 1996 e 2019 quando, nomeado pelo Presidente Jair Bolsonaro, assumiu a presidência do Banco Central do Brasil.


Sua única credencial é ser neto do ministro de Castelo Branco, Roberto de Oliveira Campos (1917-2001), que jamais se destacou pelo brilho intelectual. Sua candidatura à Academia Brasileira de Letras (1999) sofreu forte oposição dos acadêmicos e só se impôs pelo patrocínio do dono da mídia, milionário e influente político, Roberto Marinho. Campos denominou seu livro de memórias “A lanterna na popa”, realmente jamais soube ver à frente e, muito menos, a favor do Brasil, daí seu apelido “Bobby Fields”.


Mas ele e muitos outros, incapazes de perceber os fatos em sua complexidade, apelam para as polaridades. No caso político de esquerda ou direita.


Esta não é a postura de pessoas que prezam a compreensão das situações e buscam a melhor solução pelo mais competente executor. Veja-se o caso de Hélio Marcos Pena Beltrão (1916-1997). Um ano separa seus nascimentos. Enquanto Roberto Campos cursava seminário católico, Hélio Beltrão buscava o serviço público e a formação jurídica.


Em 1953, Campos trabalhava junto aos estadunidenses, embora representando o Brasil, e Beltrão, com visão prospectiva redigia o Plano Básico de Organização da Petrobrás.


Campos serviu como Ministro do Planejamento de Castelo Branco e Beltrão ocupou a mesma pasta com Costa e Silva.


Mas Beltrão, embora homem conservador, nunca enfrentou uma polêmica como direitista ou contra os interesses nacionais, ao contrário de Campos que se refugiava na direita e no exemplo estadunidense, a falta de argumentos.


Acompanhando a vida de Beltrão na Petrobrás, jamais ouviu-se, de pessoa alguma, a mais leve insinuação de entreguista, que sempre acompanhou Roberto Campos, que seu filho, pai do atual Presidente do Banco Central, no tradicional e conservador Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro, tinha dos colegas o apelido “americano”.


Se o avô não era dos mais iluminados e se mantinha em destaque na mídia pelo fervor entreguista com que defendia os interesses estadunidenses, o neto, menos preparado e experiente nada mais representa do que as finanças apátridas, as mesmas que deram o golpe na sucessão de Geisel, que hoje, como desde 1990, dominam o governo brasileiro.


Elas levam o Brasil às tragédias, devidas principalmente à falta do Estado, às privatizações, como as de Brumadinho, Mariana, Petrópolis e do Rio Grande do Sul. Estas finanças também eliminaram a tranquilidade do futuro, na forma de empregos e da previdência social, cuidados por Geisel, fornecendo um número nunca visto no País de casos de ansiedade às portas de psicólogos e psiquiatras.


Para não apontar o que está à vista de todos, nas grandes cidades: moradores de rua, desemprego ou uberização, epidemias, assaltos, insegurança, e, em consequência, medo e ódio.


Tudo isso se cristaliza na campanha de Campos Neto para se manter, tratando da moeda nacional, fora dos controles do Estado e dos eleitos pelo povo para os representar.


Lula trocará, como na presidência da Petrobrás, seis por meia dúzia, ou reverterá a dominação estrangeira no Banco Central do Brasil?

 

*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.