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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Administradores Regionais: Proposta do GDF não atraiu a atenção dos brasilienses; O PSOL tem sérias críticas sobre esta iniciativa do GDF

Sexta, 17 de junho de 2016
Do Diretório Regional do Psol/DF e Blog do Sombra
Regiões Administrativas

O Partido Socialismo e Liberdade do Distrito Federal - PSOL tem sérias críticas sobre esta iniciativa do GDF

foto: r7
Terminou no dia 15/6 o prazo para que os moradores de Brasília fizessem suas sugestões e criticas ao Projeto de Lei, de autoria do GDF, que dispõe sobre o processo de escolha dos administradores regionais e conselhos comunitários nas Regiões Administrativas. A proposta, embora disponível na internet para análise preliminar no portal do GDF, parece não ter atraído muito a atenção dos brasilienses. ...
 
Preliminarmente, é bom ter-se em mente que o Distrito Federal é uma unidade da Federação, conforme os preceitos da Constituição de 1988, que não permite a sua divisão em Municípios e nem prevê eleição para escolha dos Administradores das cidades que integram o seu território.
 
A população foi chamada a opinar sem nem se saber quais serão as administrações regionais que continuarão a existir no Distrito Federal. Desde o início do atual governo, regiões administrativas foram fundidas. Continuarão fundidas? Voltaremos ao quadro anterior? Haverá uma nova fusão, mais restritiva. A divisão geopolítica administrativa do Distrito Federal precisa ser definida antes de qualquer coisa.
 
O Partido Socialismo e Liberdade do Distrito Federal - PSOL tem sérias críticas sobre esta iniciativa do GDF.
 
Leitura feita pelo Diretório Regional do PSOL, reunido em 22 de maio de 2016, conclui que esse projeto não atende as reivindicações históricas dos cidadãos de Brasília e dos movimentos sociais. A proposta oficial introduz dispositivos questionáveis sobre a escolha e nomeação dos administradores regionais.
 
O que pode parecer ao cidadão não atento um avanço democrático, por falar em participação popular direta na escolha do Administrador Regional e na constituição dos Conselhos de Representantes Comunitários pela via indireta, na verdade, traz uma enorme confusão sobre essas escolhas, suas competências e autonomia.
 
O PSOL–DF entende que antes de se falar em eleição direta, deve-se assegurar autonomia administrativa às administrações regionais. Autonomia significa ter orçamento próprio, gerido pelo administrador, e quadro de servidores próprios. Atualmente, a maioria das administrações regionais conta com quadros quase que exclusivamente de servidores comissionados, os chamados cargos de confiança. E a nomeação desses servidores é competência do governador.
 
No projeto, fica claro que não existirá autonomia, nem financeira, nem administrativa, nem funcional do “administrador eleito”. Será uma espécie de “prefeito” completamente atrelado às vontades do governador. Na pratica, o atual atrelamento aos deputados distritais e líderes empresariais faz com que o escolhido pela vontade dos eleitores de sua comunidade venha ser um joguete, uma marionete comandada pelas mãos do chefe do Executivo. Quem não seguir a cartilha do Buriti poderá ser sufocado pela falta de verbas e de profissionais.
 
O projeto do Executivo não trata em nenhum momento de como dar-se-á a construção dos orçamentos das administrações regionais. Atualmente, a maior parte dos recursos para Saúde, Educação, Obras, Segurança, Urbanização, Mobilidade, etc., fica sob a tutela do governador e seus secretários. O projeto não explica como se daria a liberação e os percentuais de recursos do orçamento anual do Distrito Federal para as respectivas administrações regionais, não fala em valores e, tampouco, como dar-se-ia o preenchimento dos cargos efetivos. 
 
Haverá concurso público exclusivo para as administrações?
 
O processo eleitoral sugerido no projeto não disciplina as formas de publicização, debates, enfim, a forma como os candidatos poderão se fazer conhecidos da sociedade.
 
Outro ponto falho é o que prevê que o Administrador pode ser “destituído de seu mandato” pela maioria simples dos membros da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Isso é uma clara ingerência e intervenção sobre a soberania popular aludida no projeto. Não se define em que circunstâncias o administrador poderá ser destituído do cargo. As regras como estão definidas no projeto permitem que o povo venha escolher de forma direta o seu administrador e os deputados distritais venham a “cassar” o eleito! É um absurdo este dispositivo. A medida como está, favorece a criação de um clientelismo "administrador – deputado distrital". Tudo o que a população de Brasília não deseja.
 
Outra confusão criada pelo projeto é o de associar a eleição do Administrador Regional com a eleição dos Conselhos de Representantes Comunitários. Essa matéria poderia ser tratada em separado, em outro projeto de lei, a ser amplamente discutido com as entidades representativas dos movimentos populares, sindicais, religiosos, entidades patronais, etc. Pelo o que está colocado, este conselho seria na verdade um fórum de entidades comunitárias, sem que sejam definidos critérios de representatividade, evitando-se proliferação de entidades fantasmas. Não dá para misturar assuntos tão diferenciados.
 
Por fim, se o governo quiser mesmo realizar um debate sério, democrático e aprofundado sobre o projeto, tem que reabrir o prazo para a realização de debates públicos e apresentação de emendas e sugestões.
 
No mínimo, deveria contar a partir da presente data, 180 dias para que o debate fosse feito em todas as cidades do Distrito Federal, com a presença de representantes dos movimentos sociais, especialistas na área do Direito Eleitoral, constitucionalistas, parlamentares, que dentro desse prazo, elaborassem um novo projeto para ampliar o alcance de uma matéria tão complexa e que mexe com a vida de milhões de brasilienses. 
 
* Antônio Carlos de Andrade - Presidente do PSOL
* Chico Sant'Anna - Membro do Diretório Regional do PSOL-DF