Quinta, 30 de junho de 2016
Da Auditoria Cidadã da Dívida
Com o governo de olho nos recursos destinados à Previdência Social, o
 tema está na pauta de debate também das principais entidades de classe.
 Na última terça-feira (28), a Confederação Nacional dos Profissionais 
Liberais (CNPL) organizou um seminário, que faz parte do programa de 
formação da entidade.
Intitulado “A questão da dívida pública, os dilemas previdenciários e
 seus impactos junto aos trabalhadores brasileiros”, o encontro teve a 
presença de dois especialistas no assunto da dívida pública e 
previdência social, a coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da 
Dívida e auditora fiscal aposentada, Maria Lucia Fattorelli e o 
economista do IPEA e ex-secretário de Política Fiscal e Tributária do 
Ministério da Fazenda, Sérgio Wulff Gobetti.
O presidente da CNPL, Carlos Azevedo, explicou a importância da 
entidade sindical como protetora e fiscalizadora de abusos trabalhistas,
 como excesso da jornada e descumprimento de leis trabalhistas. “Essas 
várias formas de trabalho, análogas ao escravo, podem ocorrer até dentro
 de escritórios, são os escravos contemporâneos”, explicou.
Durante as apresentações, o subprocurador do Ministério Público do 
Trabalho (MPT), Luís Antônio Camargo de Melo relatou casos de doenças e 
mortes de trabalhadores durante suas funções laborais e enfatizou a 
necessidade de cobrarmos dos poderes públicos punições a esses setores. 
“Estima-se que 100 bilhões de reais são investidos todos os anos no 
sistema de saúde pública da previdência”, contou. Segundo o magistrado, 
as entidades sindicais e os trabalhadores precisam exigir e acionar o 
poder público para que sejam feitas intervenções no sentido de cobrar o 
ressarcimento dos cofres do sistema de saúde previdenciária. “O que 
acontece hoje é que as empresas optam por pagar a multa imposta pelos 
fiscais do trabalho e seguem descumprindo os acordos e explorando esses 
trabalhadores”, denunciou.
PREVIDÊNCIA
A coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lucia Fattorelli 
iniciou criticando o desmonte do Ministério da Previdência Social, feito
 pelo governo interino e as milhares de propostas que estão em vigor, 
com vistas a surrupiar os recursos destinados exclusivamente à 
sustentação da Seguridade Social, que inclui Saúde, Previdência e 
Assistência Social. “A Previdência Social não existe isoladamente. 
Quando foi criado esse conjunto de políticas sociais, também foi 
apontado os recursos que iriam financiá-lo”, lembrou.
Ela ressaltou que a Constituição Federal brasileira trabalhou o 
conceito de Seguridade Social e definiu uma série de tributos para 
custear seus três pilares criando o Orçamento da Seguridade Social.
Fattorelli acrescentou que quando se fala em déficit, os cálculos 
abrangem apenas as contribuições do INSS e comparadas às despesas da 
Previdência Social, omitindo-se uma série de fontes próprias que foram 
criadas para seu custeio.
“O que deveríamos estar discutindo é como ampliar a rede de saúde, ou
 como melhorar as condições dos aposentados. Mas não é essa a pauta. O 
que se fala agora é sobre reformas e a desvinculação das receitas da 
União, para usar esses recursos a critério de cada governante”, 
criticou.
Ela explicou como funcionam os mecanismos de transferência de renda 
do setor público para o privado, como swap cambial e operações 
compromissadas e como o sistema da dívida atua nas diversas esferas. 
Apontou que alguns fundos de pensão estão fazendo aplicações de risco em
 derivativos, colocando em risco o futuro de diversos trabalhadores.
A exploração predatória dos nossos recursos naturais, como minério de
 ferro e o nióbio, metal estratégico que está sendo levado do país sem 
que a população receba nada em troca, também foi levantada pela 
coordenadora.
Reforçou a necessidade de conscientização e mobilização social 
entorno da auditoria da dívida pública, e finalizou com uma frase de 
Karl Marx.
“ A emancipação dos oprimidos será obra deles mesmos”.
CRISE ECONÔMICA E FISCAL
O economista do IPEA, Sérgio Wulff Gobetti, defendeu que a crise 
fiscal tem raízes estruturais, com problemas antigos e que levarão o 
país a terminar o ano com um PIB de 7 a 8% menos que há 2 anos. “O país 
vive hoje uma combinação de crise estrutural das finanças públicas com 
uma brutal recessão econômica”, destacou.
Gobetti apontou que quando a economia entra em crise, afeta 
diretamente as receitas públicas tributárias, já que a indústria deixa 
de crescer, a população perde emprego e o consumo fica comprometido. No 
quadro de receitas e despesas primárias (que exclui as financeiras, como
 dívida pública) apresentado, mais da metade dos gastos do governo são 
com pagamentos de benefícios sociais, seguro desemprego, bolsa família, 
deixando uma margem muito pequena para investimentos em infraestrutura, 
que estão comprometendo o país.
“Chama a atenção do ponto de vista agregado que não há diferença na 
taxa real de despesa nos últimos 16 anos, mas a taxa de expansão das 
receitas, ao contrário, vem caindo consideravelmente, muito em função da
 política de desoneração tributária”, analisou.
Na avaliação do economista, o crescimento das despesas, seja com 
benefícios sociais, seja com investimentos públicos, foi importante para
 impulsionar o crescimento da economia e reduzir a pobreza, mas o uso 
crescente de subsídios e desonerações tributárias a partir de 2009 se 
mostrou ineficiente e custoso. Segundo ele, uma aposta de altíssimo 
custo e que não rendeu frutos.
RGPS
“O debate sobre a questão previdenciária envolve mais que o Regime 
Geral de Previdência Social (RGPS). Com ou sem reformas, as despesas com
 a previdência irão crescer muito em relação ao PIB e isso tem a ver com
 a transição demográfica que estamos passando”.
Ele explica que o sistema previdenciário brasileiro não é apenas um 
sistema de poupança individual, mas um sistema de seguridade em que os 
benefícios não correspondem às contribuições. Alguns pagaram mais do que
 ganham e outros ganham mais do que pagaram.
“É preciso pensar numa solução pactuada e equilibrada e não apenas 
políticas que compromete os mais pobres. Essas, têm efeitos econômicos 
deletérios”, frisou.
 
 
 
